12 - GURI
— O que foi isso? — Eleonor pergunta a si mesma depois do término do capítulo. — Como pode ser isso?
O segundo questionamento é devido o tempo dos acontecimentos. O narrador começa dizendo que matou alguém, como se fosse naquele dia ou no dia anterior, e depois conta a horripilante história da vida dele, numa época onde cita o Jack, o estripador.
A sua cabeça fica a ponto de explodir. Fora que ela fica imaginando todo aquele sangue e como o tempo passa, mas, certas coisas não mudam.
É como se a humanidade não evoluísse e isso é comentado pelo tal Yvi Sorrento, que se dizia ser um vampiro.
Ele dizia ou diz? E o tal do professor existe? Haja vista, o tal homem que parecia com o pai dele tinha um nome secular e não do século XIX.
Eleonor fecha o livro e o abraça. Sente as dores do Yvi Sorrento, mas também lembra-se de todo escárnio, humor negro e desapontamento que foi passado pela leitura.
Seus olhos juntamente com seu cérebro não param quietos. Foi muita informação dentro de uma leitura que Eleonor jugou que seria despretensiosa.
A vontade de ler novamente aquela história vem de forma impetuosa e ao pensar em abrir novamente o livro para lê-lo escuta alguém lhe chamando por um apelido que ela detesta.
— Favo de mel. Boa tarde... perdida por aqui?
Era o Victor Nabuco quem fez a pergunta, parado na frente da mesa que Eleonor está sentada, os dois amigos que estão com ele gargalham com os olhos.
— O que você quer Victor? Vai importunar outra pessoa. Não vê que estou ocupada?
— O que você está lendo?
— Nada que te interessa.
Com a voz provocativamente melosa, porque ele sabia que isso deixava Eleonor irritada, Victor continua o inquérito:
— Você não me suporta não é mesmo, favo de mel?
— É sério que você vai querer continuar falando desse jeito? Não tenho nada contra você só não quero sua amizade. — Eleonor foi taxativa, embora não tenha sido mal-educada.
— Você mija em pé ou sentada?
A pergunta pega Eleonor totalmente despreparada. A jovem fica sem ação. Sua vontade é partir para cima do rapaz e o comentário a deixa presa na cadeira. Como se fossem uma só coisa... Exatamente isso, coisa.
Interiormente Eleonor sabia que o herdeiro da família Nabuco iria sair com alguma pergunta ou comentário nojento... "Por que as pessoas são assim?" Essa era a pergunta que não descolava da sua cabeça naquele exato momento.
Ele sempre faz isso. O rapaz sempre é detestável com Eleonor e faz questão de não passar desapercebido, porém a maldade com a qual ele faz vai além de qualquer outra coisa.
— Não sei o motivo dessa sua cara. — Comenta Victor. — Eu pelo menos mijo em pé ou sentado. Tanto faz. — A dissimulação da resposta sempre quebra qualquer ação jurídica que Eleonor possa vir pensar. Fora que, a maldade disfarçada na ingenuidade faz com que pessoas iguais ao Victor continuem fazendo o que fazem.
— Se você já falou tudo que tinha para falar, pode ir. — Eleonor fala sem alterar o tom da voz. Por dentro, a vontade era de esgana-lo, mas, Victor não merecia que ela o matasse. Suas mãos eram preciosas demais para tocar num lixo igual a ele. — Ou vai querer continuar destilando ódio transfóbico porque tem o pau pequeno ou por qualquer outra desculpa que esse seu mau-caráter deseja usar para machucar as pessoas?
Num rompente de ira controlada, o herdeiro da família Nabuco se debruça sobre a mesa e diz:
— Escolha muito bem suas palavras seu doutor de merda.
— Doutora de merda... não erre o gênero por favor. — Eleonor mesmo moída por dentro defende-se com palavras. — E se vai ficar aí me ofendendo, como é do seu feitio, não perca seu tempo guri. — O "guri" pega Victor de jeito.
Não é o que significa a palavra "guri", no sentido de menino, infantil... mas, em qual contexto o termo é usado em Pernambuco que mexe com o brio daqueles que se acham superiores.
Uma mulher quando deixa a palavra "guri" no final da frase é um tiro a queima-roupa para um "machão".
O rapaz volta vagarosamente à sua postura ereta. Eleonor sente que Victor virou uma chave de maldade dentro do cérebro dele... como se algo terrivelmente tenebroso tivesse entrado pelas suas costas, fazendo-o arquear a postura.
— Eleonor, consegui fazer a matrícula!
A interrupção de Rafael só faz o ambiente ficar com a energia ainda mais carregada.
Não foi por causa do rapaz que falou com alegria de quem passou no ENEM, mas, porque Rafael interrompeu momentaneamente a resposta de Victor para Eleonor.
Victor olhando para Rafael, entende que o rapaz não havia percebido que eles estavam ali.
Sem qualquer expressão na sua face, Victor pede licença para Eleonor e Rafael, vira-se para os dois amigos e faz um gesto com a cabeça para que venham logo em seguida.
Os dois rapazes seguem o herdeiro da Família Nabuco sabendo que o silêncio do rapaz explicou tudo.
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