10 - INTRIGADA
Eleonor, pega o livro velho e acaricia sua capa. Algo a convida para abrir, haja vista seu coração bate loucamente acelerado... como quem está prestes a ler a carta do seu amor. E quem sabe não seria isso mesmo?
Colocando o livro pesado junto ao coração, Eleonor sai do segundo andar da biblioteca de medicina, subindo para o terceiro piso, que tem um espaço maior para leitura e que também fica virada para uma grande área verde.
Eleonor, escolhe a mesa mais afastada, que lhe dá a percepção de todos os ângulos e de quem chega ou quem sai daquele andar. Ela sempre faz essa escolha, mais por sentir-se bem ali, do que por preocupação ou qualquer outro sentimento de preservação.
Porém, vale a observação que a mesa mais afastada se torna também a mais necessitada de luz ambiente, porque com a chegada do por-do-sol é o primeiro lugar a ficar mais escuro.
Já sabendo disso, Eleonor tira da sua bolsa um leitor de livro, fixando-o nas últimas páginas. Como o livro é gigante, as páginas são feitas do que parece ser um papiro antigo e o leitor de livro só consegue abraçar a capa e mais duas páginas.
Logicamente isso não impede Eleonor de desejar começar a ler, haja vista ela arruma a bolsa para ser um apoio confortável para o livro, tirando o peso dos seus braços.
O cheiro do livro é também diferente. Agora, com ele mais perto dela, Eleonor sente um agradável odor cítrico amadeirado, deixando-a confortavelmente tranquila para ler.
Porém, Eleonor observa uma coisa estranha. Ela percebe que as páginas em si exalam um leve odor de animal campestre, e não o aroma cítrico amadeirado. As páginas são velhas, porém, o papel é denso e só escrito na parte da frente, digo, não tem letras na frente e no verso.
O risco feito pela linda caligrafia tem força. Não foi qualquer um quem escreveu ali, naquelas páginas. Eleonor sente a marcação da força da caligrafia no verso da página, fazendo uma leve ranhura... lembrando a escrita tática utilizada para pessoas cegas ou com pouca visão, chamada Braille.
Mas, tem uma coisa que a deixou intrigada desde que pegou o livro para ler... o idioma usado pelo autor é o Português brasileiro.
Eleonor Medeiros, minutos atrás, já havia procurado qual era a edição ou qual a primeira datação do livro, porém, não achados nada... Só havia a capa, a primeira introdução narrada por uma terceira pessoa e depois a história que ela lerá, e nada a mais.
Eleonor lembra-se do fone de ouvido guardado dentro da sua bolsa, mexe rapidamente dentro dela para começar a leitura do livro. Fazia muito tempo que Eleonor não se empolgava com algo.
Antes de começar a leitura, Eleonor vê um rapaz vestindo uma camisa branca lisa com uma calça jeans desbotada, que tem em sua mão um papel da universidade. Parece um calouro perdido.
A jovem aluna de medicina do terceiro ano, escuta alguns "shhh" — Silêncio — para o rapaz de cor parda, cabelos crespos, que estão arrumados e presos para trás.
Colocando as mãos para frente, Eleonor pensa que fazendo isso conseguirá ficar invisível para o rapaz, que vendo a movimentação da moça, vem na direção dela.
— Boa tarde! Me chamo Rafael Torres.
— Boa tarde, sou Eleonor.
— As pessoas aqui são estranhas. — O sotaque do rapaz era diferente. Na verdade, não havia um sotaque. E ela acha engraçado ele dizer aquilo, porque é exatamente isso que ela pensa dele: estranho. — Estou de transferência da Universidade de Medicina de São Paulo e estou literalmente perdido. Aonde fica a Secretaria da Universidade?
— Você chegou quando? — Eleonor pergunta desconfiada.
— Cheguei a pouco tempo... Guardei minhas coisas na republica e vim direto pra cá.
— Rafael, quando você sair da biblioteca, à sua esquerda verá uma casa azul com portas de vidro... lembra um consultório médico...
— Então é lá! — Fala Rafael interrompendo Eleonor.
— Não! É passando pelo lado dela. A estrutura lembra um "L", sendo a secretaria a haste de cima da letra. Vixe, como compliquei. Meu Deus.
— Que nada! Foi sussa! Tranquilidade total. Já sei para onde vou... — Novos "shhhs" são ouvidos. — Porra, hoje tô incomodando geral.
Eleonor sorrir.
— Pelo menos valeu a pena.
— O que foi que valeu a pena? — Eleonor sabe o que Rafael vai dizer. Mas, mesmo assim fez a pergunta.
— O fato de ter sorrido do meu desespero está incomodando todo mundo. Foi um prazer te conhecer Eleonor e muito obrigado pelas informações.
Mais pedidos de silêncio.
— Já tô indo cambada.
Eleonor observa o rapaz de quase um metro de oitenta indo embora. Ela gostou do que viu, mas, algo puxou novamente sua atenção para dentro do livro... E Eleonor começou a devorá-lo.
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