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Uma vida quase perfeita...


A casa em que morei por boa parte da vida, mantém o gosto de lar e ignora os dois anos que passei longe dali. As grades do portão recém pintado não sabem o que é ferrugem; as paredes mudaram de cor mais vezes do que me lembro e jamais foram apresentadas ao lodo. Em tantos anos de existência, talvez a única mudança significativa tenha se dado no quintal, algumas plantas não resistiram ao tempo, o que não impediu de outras tantas virem as substituir.

Cruzo o quintal. A risada da Maia me recebe no portão. Instintivo, eu verifico os bolsos da calça, mesmo com a certeza de ter deixado todos os cigarros trancados no carro.

Maia, vá para o seu quarto — a voz familiar ecoa da sala.

Estou vendo desenho, pai — Maia responde.

Você assiste depois.

O desenho vai acabar.

Então veja o maldito desenho outro dia e faça o que eu estou mandando, Maiara.

A rotina da casa é familiar e não preciso pedir explicações para entender o que ocorre: a conversa repetida ao longo dos anos e nem as palavras de uma médica, foram capazes de mudar os hábitos nocivos de nosso pai.

— Por que não tira esse traseiro do sofá e deixa a sala você, velho?

— Porque os meus filhos só irão mandar nesta casa no dia em que eu e a sua mãe partimos dessa pra melhor.

O homem de meia idade sorri refestelado no sofá. Diferente do resto do mundo, ser chamado de velho pelo próprio filho faz ele se sentir jovem, é como se fosse um amigo e não pai. O que ele não notou, é que não é o peso acima do ideal que o envelhece e, sim, as manchas que o tabaco deixou em sua pele.

— Oscar! — A caçula salta do sofá e corre até mim; os braços magros se esforçam para contornar o meu corpo. Pelo bem dela, eu deveria chamar a atenção do velho e, se aquela não fosse uma conversa repetida a exaustão, era o que faria.

— Você cresceu? — Acaricio os longos cabelos encaracolados. — Está com quantos anos? Nove?

— Sabe que é doze. — A cabeça da menina se eleva, ela me mostra que sorri, e tudo o que eu desejo é ver aquela felicidade refletida nos olhos castanhos. — Você não se esquece do meu aniversário.

— Foda-se. Sempre será a Caçula.

O sorriso infantil é pequeno. Eu me mantenho esperançoso de que ele cresça e desperte algum tipo de emoção maior, e acabo sendo presenteado com uma careta incomodada.

— Porra, pai! — A fumaça cria desenhos abstratos no ar. — Não dava pra esperar?

— Vocês falam demais.

Maia se move. Eu a encontro com os dedos presos ao nariz e os lábios finos fendidos em uma fraca tentativa de evitar uma crise.

— Pode ir, Maia. Depois a gente troca uma ideia. — Não é preciso uma segunda ordem para que a caçula corra para o quarto e se tranque lá. — Quantas vezes falamos pra você não fumar perto da Maia, pai? A menina é asmática.

— A casa é tem muitos cômodos. Ela pode se manter bem longe da fumaça.

— O cheiro impregna em tudo.

— Ah! — ele desenha. — Isso não vai matar ninguém.

O maldito desconforto domina o meu corpo, e eu sei porque o velho não tenta resistir ao hábito. O desejo é um alarme de incêndio berrando em nossa cabeça, até que, vencidos, o entorpecemos com tabaco e conseguimos algumas horas de sossego.

"Nem fodendo que eu vou fumar perto da Maia."

Outro conjunto de cabelos ondulados, curtos desta vez, invadem a sala. Bruno e Maia são uma espécie de versão jovem de nossa mãe.

— Qual é, cuzão? — O ombro do garoto se choca contra o meu e, pela primeira vez, noto que o tempo resolveu nos assemelhar em algo: os músculos, antes franzinos, começam a preencher a camiseta longa, que cobre parte de suas coxas.

— Bruno, almoça antes de ir, filho. — Dona Mercedes o persegue. — Depois você passa a tarde toda fumando aquela porcaria de estômago vazio.

— Nem é, mãe.

— Fume cigarro como um homem, moleque.

— Isso aí é nojento, velho.

— Nojenta é essa mangueirinha que vocês passam de um pro outro. Vai acabar pegando boqueira.

— Que moral você acha que tem pra me dizer qualquer coisa? — Bruno segue em direção à porta e deixa a casa sem se importar com nenhum de nossos pais.

— Esse moleque está cada vez mais desaforado — o velho reclama. — Isso é falta de uma boa surra. Avisei você, Mercedes.

A pequena mulher encara o esposo, desafiadora.

— Surra resolve alguma coisa, Laerte?

— O Oscar não me responde. Criei ele como se deve.

— Você não bateu no Oscar.

— Porque não precisei fazer isso.

— Ah, vá! Quem vê pensa que você faz outra coisa que não seja ensinar os seus filhos a fumar. — Dona Mercedes deixa a sala, tempestiva. Estudo à porta da cozinha, a rota de fuga que ela usou, e não descubro o paradeiro da mulher doce e sorridente que me criou cercado de carinho.

O cheiro de tabaco que domina o ambiente, ao invés de diminuir, aumenta. Em algum momento de toda a confusão, o velho terminou o primeiro cigarro e acendeu o segundo.

— Você anda fodendo com a paciência da mãe?

O homem sopra a fumaça no ar com toda a calma, e apanha o controle da televisão.

— Deve ser a menopausa. — Indiferente, ele troca de canal seguida vezes. — Sua mãe precisa se tratar.

— Não me convenceu, velho. — Sigo a rota de fuga traçada por Dona Mercedes. — Mas eu vou descobrir que merda tá rolando.

— Traz uma cerveja — ele pede, antes que eu consiga deixar a sala.

Sobre a pia de lavar louça, a mulher tortura uma tábua de corte com sucessivos golpes de faca. O maço de folhas verdes, que teoricamente é cortado, não compreende porque apanha de tal forma.

— Não vai falar comigo? — Eu me aproximo dela.

— Me desculpe, filho. — Minha mãe deixa a faca sobre a madeira e aperta os braços ao meu redor. As palmas úmidas pressionam as costas; a cabeça repousa sobre o peito e inala o ar com profundidade.

— Sabe que eu não passo perfume nos dias em que visito vocês.

— Sua roupa cheira a amaciante e não a cigarro.

"Isso porque eu não fumei hoje."

Prendo ela contra o meu corpo e, por algum motivo, eu sou invadido pela incômoda sensação de que a dona Mercedes, já magra, perdeu peso nos últimos dias. Ergo o queixo dela até que possa a encarar... Tão parecida com a própria filha, se não fosse as profundas olheiras.

— A senhora tem dormido?

— Se o sono viesse, filho, eu dormiria com prazer.

— O que tá pegando?

— O seu irmão e o seu pai não me dão paz. — O acesso de tosse ecoa da sala e interrompe a nossa conversa. — Viu o que disse? — Irritada, a mulher volta para junto da pia.

— Desde quando o pai tosse? Desde que eu nasci?

— E isso é um bom sinal? — Ela apanha a faca e torna a descontar a raiva no maço de folhas verdes. — Como se não bastasse o seu pai, agora o Bruno não larga o Naquile.

— Narguilé.

— Ele e os amigos compraram um daqueles vasos colorido e se reúnem nos fins de semana pra fumar. Não importa que o vaso seja bonito, eu não gosto daquilo.

— O narguilé é meio que um encontro social, mãe. Tem um lado bacana nisso.

A faca estala contra a tábua. Dona Mercedes se coloca novamente de frente para mim.

— Eu não sei o que tem naquela porcaria, mas sei que nada bom vem de onde há fumaça. — O olhar sério me pede para pensar sobre assunto: ela sabe que nenhum dos homens de sua vida se preocupa com o quanto custa para a saúde o hábito de fumar, o pouco conhecimento que temos veio através da médica da Maia. É duro descobrir que somos o principal agente causador das tantas crises de asma que a caçula teve anos atrás. Na época nós sequer suspeitávamos que existisse o tal do fumante passivo... Aquilo doeu. Ao menos em mim doeu.

O acesso de tosse aumenta de volume como quem nos avisa que está ali.

— Não percebeu... que preciso beber? — o velho reclama por detrás de um lenço de papel. — Por que toda essa demora?

— Cerveja cura tosse? — A esposa o provoca. — Essa eu não sabia.

— Não é a cerveja... — O homem escancara a geladeira rendido a um novo acesso de tosse, abri uma lata de bebida e deixa incontáveis goles descer pela garganta. — É o líquido gelado. Viu?

— A tosse passou porque tinha que passar, Laerte.

O velho me encara.

— Sua mãe está se tornando uma rabugenta. — Ele volta a beber. O papel preso entre os seus dedos ganha vida própria e atrai a atenção para si.

— Que merda marrom é essa aí? — Eu aponto para lenço.

— Catarro — a esposa responde, antes que homem possa dar uma desculpa qualquer.

— Como que essa coisa ficou dessa cor?

— Deve ser algum alimentando que a sua mãe anda cozinhando. — O velho amassa a lata de cerveja e a descarta com o papel no lixo da cozinha.

— Ah, claro. A culpa é minha.

— Não disse que é culpa sua, Mercedes, são os agrotóxicos. Tudo o que comemos hoje em dia está coberto de agrotóxico.

— Não acredito que agrotóxico provoque catarro — dona Mercedes insiste.

— Eu vou sair daqui antes que a sua mãe comece outra droga de briga.

O velho segue em direção a sala, e a mulher volta a torturar a tábua de corte: se fosse possível, as folhas verdes seriam reduzidas a pó.

— É um dia ruim, mãe. — A superficialidade da discussão não me engana, eu sei que existe uma bomba armada prestes a explodir, o que não sei é a localização do maldito artefato. — Amanhã tudo volta ao normal.

A mulher endireita a postura, o girar de corpo revela a sua intenção de se colocar de frente para mim, mas, indecisa, ela para antes que eu possa ver o seu rosto com clareza.

— Volta?



***

#pratodosverem vídeos com música do capítulo

https://youtu.be/PUdyuKaGQd4

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