Capítulo 1 🖋️
Dias atuais
Mia Gallardo
Um pandemônio estava formado no quatro da minha melhor amiga, Paola, a loira mais linda que eu tive a sorte de conhecer e passar a conviver. Tínhamos feito faculdade de gastronomia juntas e resolvemos morar no mesmo apartamento.
Não era lá um apartamento de luxo, mas tinha dois quartos, sala, cozinha, banheiro e uma área de serviço. O suficiente para duas amigas que passaram quatro anos estudando para formar em algo e passar os outros cinco anos trabalhando em empregos nada a ver com nossa formação e que pagavam mal.
Quer dizer, essa era a minha realidade, Paola tinha acabado de ser promovida a gerente em uma loja chique de roupas feminina e que ganhava o suficiente por nós duas. Obviamente eu não ia parar de trabalhar, mas tinha que comemorar a promoção dela, com toda certeza, e por isso me encontro entrando no pandemônio que está seu quarto de tanta bagunça de roupas e outros objetos pra todo lado.
— Você pode me contratar como sua faxineira, o que acha? — piso descalça em algumas peças jogadas pelo chão, pois realmente não tem um pedaço de chão a mostra para eu pisar.
— Ai, amiga, isso seria horrível! Eu não tenho coragem de contratar uma amiga para ser uma empregada minha!
Paola era uma pessoa rica de bondade, também era rica de corpo (uma coisa que acabei de inventar), já que minha amiga não deixava a desejar em nada. Ela tinha coxas grossas, uma bunda imensa, seios que provavelmente eram de tamanho 56, além de ter um rosto de boneca. Muitos a chamaria de gorda, mas ela se autodemina gostosa, e eu assino embaixo!
— Horrível? Se você me pagar bem, eu vou dar cambalhotas pela casa. Vou ter tempo de ser sua faxineira e de fazer tantas outras coisas com o resto do meu dia — gargalho e me jogo na sua cama quando consigo chegar nela. Era bem mais fofa que a minha, pois seus pais tinham dado de presente para ela. Isso e mais um monte de outras coisas, eles tinham dinheiro e gostavam de presentea-la.
— É sério que você quer fazer isso, amiga? — Paola para de se maquiar na frente do espelho que tem roupas penduradas para se virar e me olhar, esperando uma resposta sincera.
— Não, só estou brincando, gosto do meu emprego no quiosque. — infelizmente ou felizmente, eu era atendente em um quiosque na beira da praia. Falava muito e ganhava pouco, mas pagava as minhas contas. E me divertia com o pessoal lá também.
— Depois que sair da boutique, na segunda-feira, vou passar lá e dar um lucro, prometo!
— Claro! — sorrio. Apesar de não ser, Paola tem alma de rica, ela gosta de frequentar lugares luxuosos e bem frequentados. Se vestia muito bem, sabia se maquiar como ninguém e seus cabelos loiros e ondulados pareciam de boneca de tão sedosos. Ao contrário dos meus cachos que estavam sempre rebeldes e que precisavam de produtos muito bons e bastante tempo para conseguir domar.
— E aquele cliente, o racista?
— Ah, foi detido e levado para a delegacia, eu fui junto com meu gerente no carro dele e depois fomos liberados, ele permaneceu lá, mas não sei o que vai acontecer com ele.
— Espero que nunca mais precise vê-lo, imbecil!
— Pois é, eu achava que com mais informações , as coisas iam mudar... Mas é como diz na Bíblia: Por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará. — dou de ombros. Sei que não deveria ligar pouco para esse tipo de coisas, mas realmente não cansava minhas energias com certos tipos de pessoas. Tinha aprendido isso desde pequena, desde que aprendi que você não ia agradar a todos, independente da raça, jeito, gênero e do seu modo de pensar.
— Você é tão zem, eu ia pular no pescoço de quem tentasse me por pra baixo, ainda mais um complemento desconhecido.
— E o pior, eu acho, ele também é negro.
Minha amiga bufou e jogou o pincel longe, ela tomava mesmo minhas dores. Sempre tomou, desde a faculdade, era uma boa amiga e não me julgou em nada, nem a cor, as marcas e toda minha bagagem mental. Enquanto eu era treva, ela era luz, me puxando gradativamente para a luz dela, conseguindo uma boa parte de mim lá, em todos esses anos de amizade.
— Você vai com isso?
Aponta com desdém para a minha jardineira jeans.
— É nova, você que me deu de presente! — protestei.
— Amiga, isso é para você andar em casa, ou em um passeio no jardim. Pelo amor de Deus, vamos a um clube noturno!
— Tem algo melhor?
— Nada que tenho cabe em você, magérrima, mas podemos dar um jeito.
Um par de horas depois eu estava com um vestido rosa e muito alegre para o meu gosto, preso com prendedores de folha por dentro na cintura para o pano ficar mais justo no meu corpo. Eu não tinha gostado nada, mas a senhorita da moda disse que eu estava linda, então foi assim que saí com ela para encontrar suas outras amigas e podermos comemorar a promoção da minha querida e amada amiga Paola.
O clube noturno que estávamos fedia a bebida alcoólica forte e maconha, eu acho que estava mais drogada do que os próprios usuários. Paola e suas duas amigas estavam na pista de dança sensualizando enquanto eu fiquei na mesa bebendo minha água. Se tivesse um chá ou café, eu ficaria até mais à vontade neste lugar, me sentiria em casa. Mas não tinha, e como eu não gostava de beber por ser muito fraca com bebida, resolvi ficar na minha e não atrapalhar a noite das meninas.
Estava enjoada com o cheiro da droga e bebida, embrulhava o meu estômago, comecei a pesquisar farmácias locais que pudessem estar abertas ainda para pedir Dramin quando um cara alto, forte, com a pele de chocolate suada e olhos claros parou bem na minha frente, apoiando as mãos na mesa.
— Oi, você é a Mia, certo? — ele perguntou, sorrindo de modo galante que me fez gaguejar.
— É, si-sim e você?
— Sua amiga não quer ir embora comigo pra não te deixar sozinha, eu posso chamar um carro de aplicativo pra você?
— Paola? — franzi o cenho, tinha acabado de vê-la dançando sozinha. Ou ela era rápida em flertar, ou eles já se conheciam. Olhei pra minha amiga que sorria e dançava, mas não vi sinal das outras garotas.
— Isso! — ele meio que gritava por causa do som alto, e seus olhos não saíram dos meus, pra soar convincente, devia estar louco pra levar Paola pra sua casa.
— Ah, vocês podem ir, eu vou ficar bem.
— Não, por favor, aceite que eu pague a sua carona!
— Não, isso é desnecessário, ainda vou curtir um pouco aqui — sorrindo, levantei minha garrafa de água como se fosse uma taça de marguerita.
— Merda — o cara deu uma risada e coçou a nuca. Ele percebeu que eu estava com medo de ir embora com um motorista de aplicativo qualquer a essa hora da madrugada, e eu não iria mesmo sozinha. Mas também não queria atrapalhar a noite da minha amiga, então nem eu sabia o que fazer. — Espera um instante.
O rapaz bem arrumado e com glúteos que me deram inveja, voltou até Paola e cochichou no ouvido dela. Então eles começaram uma discussão acalorada, pareciam em dúvida sobre algo, ela fez beicinho pra ele e assentiu. Vi o exato momento que o rapaz abriu um grande sorriso e pegou o celular caro do bolso, parecia ser um iPhone. O negro alto e bem vestido saiu entre as pessoas que dançam e sumiu de vista. Paola se desvencilhou de um rapaz que caiu em cima dela logo que o outro saiu e voltou para a mesa em que eu estava.
— Vamos resolver sua volta pra casa, não se preocupe! — ela se sentou ao meu lado.
— Quando diz assim, aí é que eu me preocupo.
— Meu amigo tem um amigo de confiança e ele vai te dar uma carona, eu sinto muito por tentar te persuadir a voltar sozinha com um motorista estranho, me sinto mal por isso.
— Ah, não se preocupe com isso! E realmente é estranho ter que ir embora com um amigo do seu amigo que eu não conheço, isso não me soa legal — digo, sendo o mais sincera possível. Se bobear eu espero amanhecer para ir embora com o dia claro, isso é bem mais seguro.
— Conheço ele a muito tempo! Se diz que tem alguém de confiança, eu confio nele. Você confia em mim?
— Não — gargalhei junto com ela e precisei me afastar pro lado e cuspir no chão que já estava mais que sujo. Não dava pra ir ao banheiro, a essa altura a fila devia estar lotada de mais.
— Oi, o meu amigo já está chegando! — o peguete da noite de Paola volta e nós duas o seguimos pra fora da boate.
— Qualquer coisa você me liga — Paola me puxa para um abraço quando chegamos do lado de fora. Estava ventando e a rua estava vazia, só tinha alguns carros estacionados do lado direito, onde ficamos esperando o amigo do amigo de Paola.
— Ah, olha ele aí!
Giramos todos na mesma direção quando o ronco de um motor se aproximava, um conversível preto parou bem na nossa frente e eu fiquei de boca aberta que iria pra casa em um carro tão caro daquele. Eu devia pedir permissão pra tirar uma foto antes, quem sabe o cara permitiria?
------------------||------------------
Iiih, gente, quem será o amigo do amigo da amiga dela? 🤭
Alguém do passado... alguém do presente? 😏
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro