[08] Palavras tomadas pelo desespero
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Quando as portas do trem se fecharam e Jimin caminhou até sua cabine às pressas, apenas para ver Nari uma última vez antes de partir. Pela grande janela era possível ver a criança chorando enquanto tentava descer do colo de Aquiles. Seu rosto vermelho e suas mãozinhas chamando em direção ao trem, na expectativa de seu pai voltar para pegá-la. Jimin sentiu o aperto em seu peito se intensificar, mesmo que fosse apenas por um curto período de tempo, ele precisava ser forte e não deixar sua vontade maior de descer daquele trem e acalmar sua filhote.
Desde que acordaram, Nari ainda estava alheia sobre a partida do ômega e somente quando chegaram na estação e Jimin passou-a para o irmão depois de várias palavras doces, foi quando a garotinha viu o progenitor se afastar e ela ficar. Eles nunca haviam se separado por muito tempo e essa seria a primeira vez que fariam isso, nenhum dos dois sabiam como lidar com isso.
Aquiles tenta seu melhor para acalmar a sobrinha, que se agarrou em seu ombro molhando sua blusa enquanto chorava. Jimin enxugava seus olhos, querendo que a neblina de lágrimas sumisse e conseguisse olhar melhor para os dois do lado de fora. Aquiles viu o irmão e acenou para ele, como se dissesse que tudo ficaria bem.
Jimin repetiu para si mesmo que essa seria a primeira e última vez que ele e sua filhote ficariam longe um do outro. Tudo estaria resolvido em breve, ele não precisaria mais se preocupar com Hyunki e poderia viver como se ele nunca tivesse existido.
Quando o trem deu partida, ele encostou-se contra a janela e deixou que seus pensamentos começassem a se perder junto da paisagem do lado de fora. Essa seria sua segunda viagem para Fairbanks e era engraçado pensar que a primeira ele foi obrigado a se casar e agora estava indo se divorciar. O sentimento que sentiu em ambas viagens eram distintos ao mesmo tempo que semelhantes. O medo que sentiu ao deixar tudo que conhecia e a pessoa que havia depositado todo seu amor, sem saber algum dia se o encontraria novamente. Jimin queria que Jungkook fosse tanto a primeira quanto a última pessoa que teria que entregar seu coração e corpo, mas no fim apenas seu coração permaneceu intacto dessa vontade.
Mesmo depois que se casou e todas as noites que passou com Hyunki, ele não conseguiu deixar de pensar em nenhuma delas na vez que foi Jungkook ali com ele. Mesmo que fosse outro alfa em cima de si, o único em seus pensamentos era o seu primeiro. Não houve um dia de culpa por pensar nisso, apenas lamentações. Mesmo quando Jimin tentou deixar Hyunki entrar em seu coração, o estrago que fez ali foi doloroso o suficiente para que carregasse o arrependimento.
Seu ômega havia se fechado em uma concha, onde o tempo havia parado nas lembranças com o único alfa que amou, então quando Jimin deixou que aquela concha fosse aberta, ele expôs sua segunda metade ao caos que não teve como não pingar por toda a casca depois.
Mergulhado em letargia, tudo ao redor perdeu seu som e forma. Seus pensamentos sempre o torturava com as lembranças do passado, por mais que fossem um jeito de se agarrar a bons momentos, nada mais era do que uma ferramenta de tortura. Lembrar do que teve e que não poderia ter mais. Para muitos isso é um ponto de se manter são, pois tem um ponto de esperança de voltar a acontecer. Para poucos, isso nada mais é do que sua tortura diária, lembrando-o que aquilo nunca poderia ser de fato seu.
Mergulhando em seu desânimo e cansaço mental, Jimin permitiu-se torturar um pouco mais em sonhos. Nas memórias que seriam apenas isso, vagas memórias.
Quando finalmente conseguiu estudar na mesma escola que Aquiles e Jungkook estudavam, Jimin lamentou apenas que seria o último ano dos dois mais velhos, antes de se formarem. Sua ilusão, foi pensar que ele conseguiria ficar ao lado do irmão sempre que pudesse, mas foi bem diferente do que imaginou.
Aquiles e Jungkook pertenciam a uma série maior, com uma grade de estudos mais extensa que a sua, os poucos momentos que poderiam se dar ao luxo de ficarem perto era o intervalo. Mesmo assim, era complicado se aproximar de ambos.
- Veja só, eles são algum tipo de famosos e não sabemos disso? - Taehyung revirou os olhos reclamando. - Parecem urubus em cima da carniça.
- Deixe Aquiles saber que você o compara com carniça - Jimin rebateu dando de ombros. Ele, assim como Taehyung, não entendia o porquê de tantos ômegas e alfas circularem Aquiles e Jungkook no intervalo, mas a resposta para essa dúvida sempre vinha quando Jimin não era tão diferente dessas pessoas.
Por mais que ele morasse com Aquiles e agora eles se dessem melhor, ele gostava de ter a atenção máxima do irmão. Quanto à Jungkook, fora as poucas vezes que ele e Aquiles fazem trabalho em sua casa, a escola é o único lugar que poderia passar mais tempo admirando o alfa.
- Olhe para nós, Jimin, somos ignorados como se fôssemos moscas - Taehyung prosseguiu reclamando. Mesmo indignado com a atenção que os outros dois ganhavam, o ômega mais atrevido mastigava seu almoço com força de mais. - Eu sou Kim Taehyung, não uma mosca?
- Você sabe que não seria tão ignorado se ficasse menos tempo comigo...
- É melhor você calar sua boca, antes que eu fique com raiva de você - Taehyung advertiu o amigo com um olhar sério e bravo.
Jimin optou por seguir a ordem, mas isso ainda não o faria pensar diferente. Ele seria grato eternamente por Taehyung sempre estar com ele, dessa forma nunca se sentiria sozinho na escola, mesmo que isso significasse que Taehyung também seria ignorado por causa dele. O ômega já pensou várias vezes para que o amigo tentasse se enturmar mais, mas uma parte egoísta de si não queria que Taehyung tivesse outros amigos.
Enquanto divagava sobre esses pensamentos, seu celular vibrou no bolso da calça. Era uma mensagem de Aquiles. Ao ler o que o irmão mandou, Jimin olhou na direção que estava o mesmo e seus olhos se encontraram com o do outro ômega, sinalizando por ajuda. Jimin suspirou, pois essa situação já era bem comum de acontecer.
- Aquiles está nos chamando - Jimin comunicou Taehyung, enquanto o olhava na expectativa. Tudo que seu amigo fez foi bufar alto demais e formar uma careta.
- Ele não se toca que isso sempre pega mal para o nosso lado? - Taehyung se queixou, enfiando mais comida na boca.
Jimin sabia o que seu amigo se referia. Toda vez que Aquiles se cansava das pessoas ao seu redor, ele mandava uma mensagem para Jimin, pedindo para que ele e Taehyung fossem até eles e inventassem qualquer coisa, assim criava uma oportunidade para sair daquela situação. Isso pegou mal, pois as pessoas se irritavam com ele e Taehyung, por atrapalhar o momento que estavam tendo.
Para Jimin isso não fazia muita diferença, já que para os outros ele sempre foi uma pessoa inconveniente e irritante. Taehyung terminou de comer seu almoço, Jimin no entanto mal havia tocado no seu. Os dois ômegas se levantaram e foram ao encontro do grupo de pessoas. Quando estavam próximos o suficiente, Aquiles brandou: - Irmão!
Ao ouvir esse chamado, as pessoas olharam para Jimin e Taehyung, algumas já reviraram os olhos sem se importar dos dois amigos perceberem.
- Desculpa pessoal, agora que me lembrei, eu fiquei de ajudar meu irmão e seu amiguinho com algo - Aquiles lamentou falsamente. Seu braço direito agarrando o ombro de Jimin, o trazendo para mais perto. - Podemos continuar essa reunião depois.
Algumas pessoas resmungaram, outras fizeram cara feia reclamando.
- Sempre esse garoto inconveniente - um garoto ômega ralhou, descontente.
- Inconveniente é você urubu, tá fazendo o que aqui ainda? - Taehyung esbravejou pegando o outro garoto de surpresa. - Vai procurar outra carniça pra ficar em cima.
- Garoto sem educação, nunca te deram educação não? - A beta ao lado do ômega chiou em defesa do amigo. - Você e esse seu amigo sempre vem atormentar os dois.
- Amiga, como um deles vai ter educação se nem mãe tem e quando tinha a reputação não era das melhores - O ômega ousou dizer essas palavras e Jimin que até o momento não disse uma palavra, não esperava ser atacado tão direto assim.
- Você tem algum problema com quem não tem mãe? - Foi Jungkook quem perguntou, ele detestava se meter em discussões e se não era seu assunto, gostava menos ainda. Ouvir aquilo foi suficiente para deixá-lo indignado.
- Bem, a falta de uma mãe faz muita diferença na educação de um filho, meus pais sempre dizem que um filho sem pais, não são boas companhias, pois não terão educação - o garoto ridicularizou, sua voz carregando uma verdade conhecida apenas por si.
- Sendo assim, creio que não somos uma boa companhia para você e quem pensa igual. Afinal, Aquiles também não tem mãe e isso não o incomodou nem um pouco enquanto você tentava ter sua atenção - Jungkook tinha um olhar frio direcionado às duas pessoas que ainda insistiam em ficar ali. - No fim, todos também não teremos um dia e isso não quer dizer nada. Pelo jeito, mesmo com pais, você não recebeu uma educação apropriada, então todo seu argumento é descartado.
Sem esperar uma resposta, o alfa levantou-se e direcionou Aquiles que estava agarrado em Jimin para que tomasse a sua frente, puxando Taehyung logo atrás. Ele era o único alfa entre os três amigos e isso o fazia ser muito cauteloso e protetor. Jungkook nunca se importou das pessoas ficarem ao seu redor, por muitas vezes que somente sua presença estava ali, mas seus pensamentos muito longe.
- Não sei como vocês conseguem aturar esse tipo de pessoa em cima todos os dias - Taehyung reclamou, tomando o braço de Jimin ao seu lado.
Aquiles estava quieto do outro lado de Jimin, seus ombros estavam tensos. Foi a primeira vez que sentiu-se atacado indiretamente pelo comentário do ômega. Muitos sabiam que sua mãe havia morrido, mas nunca fizeram comentários como esse antes. Seus olhos vagou discretamente para Jimin, que estava rindo de algo que Taehyung falava. Seu estômago se contorceu, como se uma mão tivesse subido até sua garganta apertando seu pescoço.
Seus pensamentos se nublam à medida que se lembra de vários momentos que Jimin era atacado dessa forma diretamente. Ele se perguntava como o loiro podia estar rindo nesse momento depois de ouvir aquilo, talvez Aquiles fosse fraco demais? Não. Jimin que era forte demais.
Ele queria se desculpar com Jimin, por nunca ter saído em sua defesa quando vários comentários como esse eram despejados em si todos os dias, mas essas desculpas não era o que o irmão precisava.
Quando eles chegaram em um canto mais reservado do enorme colégio, Taehyung tentou pegar um pacote de bala do bolso de Jungkook. O alfa afastava o ômega atrevido, se negando a dividir, Jimin sentou no banco maior e balançou as pernas enquanto observava a situação. Aquiles apenas os observou por alguns segundos, suas mãos suavam dentro dos seus bolsos. Perdido em pensamentos nada agradáveis, o moreno só se dispersou quando olhos violetas se encontraram com seus olhos, que pareciam um oceano agitado. Jimin balançou sua mão para que o irmão se aproximasse, Aquiles foi quase que automaticamente.
Como estava no banco maior, Jimin conseguia ficar do tamanho de Aquiles, já que o irmão era alguns centímetros maior. O mais velho esperou pelo que o mais novo diria, mas Jimin apenas bagunçou seu cabelo que já era bastante rebelde. Aquiles estava pronto para repreendê-lo por bagunçar todo o seu trabalho feito pela manhã, mas se conteve ao sentir o polegar menor que o seu massagear entre suas sobrancelhas, suavizando sua expressão. Isso dispersou todos os pensamentos do moreno, o deixando confuso momentaneamente.
- Assim é melhor - Jimin sorriu após dizer. Aquiles soltou um baixo resmungo e se afastou para se aproximar de Taehyung.
O ômega que ainda tentava pegar as balas do boldo do alfa, teve seu pescoço enlaçado pelo braço maior de Aquiles. O moreno puxou o outro, enquanto ouvia seus protestos, no fim para evitar seu constrangimento, Aquiles levou Taehyung até sua sala para pegar umas balas que estavam em sua bolsa.
- Não deixe Aquiles pensar muito sobre o que aqueles dois disseram - Jungkook diz, aproximando o suficiente para ficar ao lado das pernas do ômega.
- Como se ele fosse consciente o suficiente para me deixar atravessar aquela casca - Jimin suspirou pelo pedido difícil.
Jungkook descansou sua mão ao lado do ômega, estando a centímetros dos dedos gordinhos e pequenos do loiro. Propositalmente, o alfa deixou dois dedos descansar por cima dos de Jimin. Aquilo atraiu a atenção do mais novo, que olhou primeiro para sua mão e depois para os olhos amêndoas do moreno.
- E você? - Jungkook perguntou baixo, e Jimin pode sentir o hálito quente do alfa chegar até seu rosto. - Você pensa?
- Penso em que? - Jimin diz desnorteado, focando apenas na forma como o alfa deixou uma risada fraca escapar pelos lábios bem contornados. - Do que está rindo?
- De nada que seja realmente engraçado.
Jimin que tinha pensado que suas mãos se tocarem foi um acidente de aproximação, dessa vez não teve uma desculpa quando os longos dedos do alfa entrelaçaram os seus. Ele ficou tão nervoso, que nem percebeu que deixou seu cheiro vazar por eles. Foi a primeira vez que Jungkook sentiu aquele aroma e isso lhe causou uma reação cedo demais. Suas sobrancelhas formaram dois arcos lutando para não deixar perceptível o quanto aquilo o afetou.
Suave e fresco, esse era o aroma que exalava do ômega. Um cheiro que seria facilmente lembrado em pequenas atividades do dia, principalmente com café.
Sentindo o aperto forte em sua mão, Jimin percebeu como o mínimo toque do alfa era capaz de fazer seu coração se acelerar. Ele temia que o outro pudesse ouvir, mas toda essa preocupação dissipou-se quando dedos gentis deslizaram afastando os fios de cabelo de sua testa.
Jungkook já havia estipulado um limite consigo quando estivesse perto de Jimin. Ele jamais permitiria ser desrespeitoso com o ômega. Ele nunca deixaria suas vontades estar acima do seu caráter. Por esse motivo, ele apenas acolheu um lado do rosto de Jimin o trazendo em sua direção e deixou um selar na têmpora do loiro. Aquele gesto levou correntes elétricas por todos os nervos de Jimin, fazendo o ômega apertar sua mão contra a de Jungkook.
Sentir aquele calor momentâneo se afastar, causou um onde de ânsia e desespero ao ômega do mais novo. Ele queria agarrar a mão do alfa novamente, mas não conseguiu se mover e também não queria ser audacioso.
- Você não comeu nada no almoço, fique aqui que irei buscar algo que trouxe de casa - Foi a única coisa dita entre os dois depois dos minutos de silêncio e necessidades que exalavam.
Quando Jimin pensou que o alfa fosse se afastar para mais longe, ele caminhou novamente até estar em sua frente e puxou sua mão, deixando um pacote descansar ali. Jimin sentiu suas orelhas esquentar, como se pudessem queimar ali mesmo. Jungkook lhe deu um último sorriso antes de sair e só assim Jimin teve a certeza do que estava em sua palma.
Era o pacote fechado das balas que Jimin mais gostava. Esse era o pacote que ele não deixou Taehyung tocar, nem que fosse para pegar uma. Esse gesto poderia ser sem significado algum para qualquer um que visse, mas para Jimin aquilo foi uma confirmação silenciosa de que o alfa sempre prestou atenção mínima nos detalhes que o circulava.
Nesse dia, elas estavam mais doces do que nunca.
✧*。
Quando abriu os olhos novamente, percebeu que aquele sonho voltando ao passado, preencheu toda a viagem, pois já estava perto da estação de Fairbanks. Pelos anos que viveu nesse lugar, mesmo que seja poucas vezes que tenha saído de casa, Jimin conhecia bem alguns pontos da cidade. O clima frio que pouco se dispunha de sol, era como se tivesse nos tempos em que tudo era preto e branco além da televisão.
Saindo da estação, conseguiu pegar o primeiro táxi que viu à disposição. O conselho de Fairbanks não era muito longe, mas caminho suficiente para que Jimin pensasse sobre tudo que teria que dizer e enfrentar uma última vez. O ômega pegou o celular e mandou uma mensagem para o irmão o avisando que havia chegado, aproveitou e perguntou também sobre como Nari estava. A resposta não veio imediatamente, talvez ele estivesse ocupado.
Quando o carro parou em frente ao prédio, Jimin percebeu como a visão daquele lugar era completamente diferente da sua outra alcatéia. Era como se uma nuvem cinzenta pairasse sobre o prédio, como se apenas almas vazias vagassem por aquele lugar, onde nunca houve vida há muito tempo. Talvez, por seus dias naquele lugar ter sido igual a presença daquele lugar, ele nunca realmente percebeu em como pesado era o ar ali.
Muitas pessoas poderiam achar exagero seu pensamento sobre estar ali, mas poucas compreenderiam que aquele lugar era onde as piores decisões são tomadas, condenando quem não tivesse poder suficiente para uma explicação e quem sabe uma segunda chance. Jimin não estava muito envolvido nos assuntos ali quando estava em seu casamento com Hyunki, mas já ouviu muito através das paredes de sua casa e em vários jantares que precisou estar. Quem comandava aquela alcatéia era o pai de Hyunki, Andreas Lykaios. Seu sobrenome era mais utilizado que seu primeiro, por esse motivo era mais conhecido como Lykai.
Ele era um homem que mostrava ser o oposto de seu filho, era até engraçado se comparados. Jimin não conviveu muito com ele, apesar de começar a fazer parte de sua família na época. O líder sempre mostrou alguém respeitoso consigo, mas Jimin nunca teve seus dois pés no chão, pois era difícil de imaginar uma fruta cair distante da árvore. Há duas coisas que formam o ser humano, a família ou a vida. Jimin não acha que Hyunki seja um fruto da criação da vida, não tendo tudo do bom desde criança. Quanto à mãe de seu futuro ex-marido, ela era pouco vista. O ômega nesses anos casados com Hyunki, a viu somente cinco vezes, sendo em ocasiões importantes, que tanto ela quanto Jimin era solicitado para estar.
Nara era uma mulher fechada e para os mais curiosos, pode-se dizer de muitos mistérios. Hyunki havia puxado mais a aparência de sua mãe, do que a de seu pai. Uma coisa que deixou Jimin atento desde o dia que a viu pela primeira vez, foi no dia em que se casou. Nara não tinha qualquer emoção em seu rosto e poderia dizer que tanto Jimin quanto ela naquele dia, pareciam estar mais em um enterro do que em um dia de celebração. Talvez o olhar apático, mas que não pareciam tão tediosos, era o que fez Jimin querer se aproximar dela, mas nunca foi aberta essa possibilidade.
Quando cruzou as portas, o ar de dentro parecia mais congelante que o de fora. Tudo em cores opacas e frias, parecia mais um cemitério, mas Jimin até ousava pensar que um cemitério teria mais cor que aquele lugar.
- Senhor, posso ajudá-lo com algo? - A recepcionista perguntou assim que o loiro se aproximou. Jimin não sabia até onde a notícia do seu divórcio teria se espalhado por ali, mas até o momento tudo parecia igual a antes.
- Poderia avisar Hyunki que estou aqui.
Pegando o telefone, a mulher ligou para o andar da sala do alfa. Os poucos minutos que esteve ali em espera, congelou os dedos de Jimin e pareciam até anestesiados a qualquer toque. O ômega não gostava muito do frio, mas diferente do que muitos justificam como ser por causa da temperatura alta, Jimin detestava pois fazia seu corpo tremer e isso sempre confundia sua cabeça entre uma crise de ansiedade ou se era apenas seu corpo deixando o pouco calor que produzia.
Quando foi ordenado que subisse, o ômega não demorou a fazê-lo. Assim como no prédio de Ketchikan dias atrás, ele possuía óculos escuros tampando seus olhos, mas guardou-os antes da porta do elevador abrir-se.
Aquele era o segundo andar daquele enorme prédio. A sala de Hyunki e de alguns conselheiros ficava naquele mesmo andar, a cobertura era unicamente de seu pai. Dando alguns passos adentro, ele ficou surpreso pela primeira pessoa que encontrou ali. Jimin não se lembrava qual foi a última vez que tinha visto aquele homem. Seu rosto estava virado, mostrando apenas o perfil bem desenhado, a estatura de seu corpo era bem mais alta que a de Hyunki, como se fosse uma muralha resistente. O cabelo meio acinzentado estava bem penteado, não permitindo que nenhum fio deixasse seu lugar. A expressão séria foi desmanchada assim que aquele homem virou-se para ver Jimin.
- Jimin! - Sua saudação estava acompanhada de um sorriso, com direito a todos os dentes bem polidos. Um rosto pouco visto, mas que era marcante demais para ser esquecido. - Meu genro preferido.
O homem que parecia estar sendo repreendido pelo alfa mais velho, demonstrou um certo alívio quando sua atenção foi para outra pessoa. Ajeitando sua postura, Jimin esperou até que Lykaios caminhasse até que estivesse a centímetros de seu corpo. Sem permissão, ele apenas envolveu uma das mãos de Jimin e depositou um beijo em seus nós, para depois encaixá-la na concha de suas duas mãos.
- Pensei que demoraria a vê-lo novamente, depois do que meu filho estúpido fez.
- É um prazer vê-lo novamente, Senhor Lykaios - Jimin curvou um pouco a cabeça em respeito. Ele queria recolher sua mão, mas deixou para que o alfa decidisse soltá-la primeiro.
- Espero que o ressentimento do que ele fez não tenha se estendido a toda a família - Lykai lamenta, sem realmente o fazer de verdade.
- Como eu poderia condená-lo ao erro de seu filho, Senhor.
- E como está minha neta? Espero que vocês não tenham enfrentado qualquer dificuldade após aquele incidente.
Jimin tentou engolir o nó difícil que estava se formando em sua garganta. O ômega tinha ido preparado para enfrentar Hyunki, não seu pai e acima de tudo o líder daquele lugar. Ouvir o que o homem dizia, fez alarmes tocarem em sua cabeça, pois diferente do que Hyunki gritou com ele naquela noite, Lykai parecia ainda considerar Nari parte de sua família.
- Ela está bem. Estamos muito bem, meu irmão tem me ajudado muito. Obrigado por sua preocupação, Senhor.
Lykai deu um sorriso que para muitos soaria como carinho, mas Jimin podia sentir algo vindo a mais daquele gesto, principalmente pelo aperto forte que sua mão ganhou.
- Você e Nari deviam ter vindo até minha casa, eu e minha mulher ficaríamos felizes de recebê-lo - o alfa soltou a mão de Jimin e a descansou no ombro do ômega. - Amamos aquela garota, por favor, não a mantenha longe de nós.
Jimin não sabia se ria ou chorava. O homem mais velho nunca ousou saber da neta, mas agora lhe fazia esse pedido, que parecia um balde de tinta manchando todos seus planos.
- Eu agradeço pelo carinho por sua neta, mas depois do que Hyunki fez e falou, não sei se acho bom tê-lo por perto.
Jimin podia jurar ter visto algo passar pelo semblante do homem, mas tão rápido que veio foi embora. Estar na presença daquele homem lhe causava uma ânsia que não sabia explicar, das outras vezes não parecia tão sufocante como estava sendo agora.
- Aquele filho tolo, ele aprendeu sua lição - Lykai diz após um longo tempo apenas encarando Jimin após sua resposta. Os dedos do homem que descansavam no ombro, subiram agarrando alguns fios de cabelo de Jimin. - É uma pena que as coisas tenham acabado assim, eu ainda sonhava com um neto que tivesse seu cabelo e principalmente seus olhos. Acho características bem únicas, uma pena minha mulher não dispor de tais belezas, eu adoraria um filho tão único como você.
Nervoso por aquela conversa, Jimin deixou uma risada sem graça escapar e discretamente afastou a mão do homem, colocando a mecha atrás da orelha.
- Da onde venho, essas características trazem bastante vergonha, creio que o senhor não deva carregar mais uma na sua família, uma vez que seu filho atingiu essa cota - Jimin tentou ser engraçado, mas soou como um aviso irônico.
A mão de Lykai que estava suspensa no ar fechou em punho e era perceptível a pressão que seus dentes fizeram em sua mandíbula. Jimin esperou por mais algo que o alfa fosse dizer, ele temia que fosse algo difícil de engolir após sua fala. Para seu alívio, um beta chegou e sussurrou algo no ouvido do homem mais velho. Lykai fez um breve aceno com a cabeça e o dispensou.
- Tenho uma reunião agora, mas permita-me um dia ter sua presença em um jantar de desculpas - Jimin estava pronto para inventar uma desculpa para negar, mas foi interrompido antes que abrisse a boca. - Negar não é uma opção, apenas considere isso como uma família que fomos.
- É claro, senhor - Jimin curvou novamente sua cabeça em despedida, após o homem não dizer mais nada e se retirar.
Somente depois da saída do alfa, Jimin sentiu que podia respirar melhor. Como ele estava grato por hoje ser o dia que colocaria o fim de seus laços com aquela família. Voltando a caminhar até a sala de Hyunki, Jimin lamentou-se antecipadamente ao ômega que poderia fazer parte daquela família um dia.
Assim que se aproximou, a secretária imediatamente levantou-se e fez um gesto para que ele prosseguisse. Após bater e esperar alguns segundos, foi ordenado que entrasse.
Aquele lugar estava exatamente como Jimin se lembrava. A péssima decoração agora combinava perfeitamente com o dono daquela sala. Hyunki estava sentado na cadeira maior, seus olhos pregados em Jimin enquanto tamborilava os dedos no braço da cadeira, enquanto seu outro braço apoiava um lado de seu rosto com a mão. Havia mais uma pessoa naquela sala além deles, um homem que Jimin havia visto poucas vezes. O advogado da família.
Somente depois de se acomodar na cadeira que o advogado sinalizou, que o ômega conseguiu perceber após o caminho do rosto que Hyunki tampava estava livre, havia uma mancha rocha sob uma ferida causada com algo afiado, mas não o suficiente para levar pontos.
- Jimin, sou o advogado da família, estou representando Hyunki. Pelo que percebi, você não trouxe nenhum advogado.
- Não era necessário. Será bem rápido.
Hyunki ainda tinha os olhos pregados em Jimin, isso causava uma coceira imaginária no ômega.
- Aqui estão os papéis, você só precisa assinar aqui e aqui - O advogado colocou os papéis em frente a Jimin na mesa, apontando os lugares que pedia sua assinatura.
Jimin recolheu as folhas e começou a ler uma por uma, ainda no silêncio que recebia de Hyunki. O ômega achava até melhor que as coisas seguissem assim, era mais fácil de suportar.
Só depois de conferir cada palavra, que Jimin assinou. Nos campos acima já estava a assinatura de Hyunki, o rabisco feio que o loiro conhecia bem.
- Tendo ambas assinaturas, eu declaro hoje o fim da união dos dois - o advogado começou a dizer, enquanto conferia a assinatura que o ômega entregou. - Há algo que você gostaria de acrescentar, Jimin?
Buscando os papéis na bolsa que trouxe, Jimin estendeu eles para o advogado ao invés de Hyunki.
- Quero que ele assine isso, é tudo que peço.
Sem esperar que o advogado começasse a ler, Hyunki arrancou as folhas das mãos do outro homem. Um gesto brusco que assustou tanto o alfa que representava Hyunki, quanto Jimin.
- Não!
Ouvir aquela resposta foi um choque. A confiança de que receberia aquele documento assinado facilmente era a possibilidade mais certa que Jimin tinha. Ele não compreendia aquela mudança de atitude, já que no dia que foi despejado, o alfa deixou claro que não se responsabilizaria mais por Nari.
- Como assim não? Você mesmo deixou claro que não a considerava mais sua filha.
- Mudei de ideia, sei que ela é minha filha.
Aquilo fez o sangue de Jimin ferver. Uma revolta enlouquecedora subia por todos os seus nervos. As vezes ele desejava ser surdo, só por ser obrigado a ouvir as coisas que Hyunki dizia.
- Você está de brincadeira comigo? Como tem coragem de dizer isso depois de todas as atrocidades que fez comigo e disse naquela noite?!
- O que foi Jimin? Acabei com alguma esperança que você tinha de se livrar de mim? - Hyunki sorriu ao notar o estado que o ômega estava reagindo, mas diferente do que ele esperava ter, ver os lábios de Jimin curvar-se para cima não foi algo que estava em suas opções.
- Eu achei que sua reputação era algo que você mais prezava nessa sua vida, mas aceitar ser corno é realmente novidade para mim - Jimin zombou e isso tirou o sorriso do rosto de Hyunki. - Foi papai que pediu para você ser manso assim?
- Você enlouqueceu? - Hyunki bateu em sua mesa, o barulho foi tão alto que ecoou por toda a sala. - Se eu fosse você, tomaria cuidado com o que diz.
- Eu enlouqueci? Você que deve ser o único louco aqui - Jimin jogou suas costas contra o encosto da cadeira. Ele estava tão nervoso, que nesse momento todas as mentiras que inventava, pareciam verdades até para si. - Nari não é sua filha, você não é o pai dela. Talvez Jungkook seja o pai dela ou talvez outro alfa seja. Você não foi o meu primeiro alfa, na verdade você foi o mais fraco de todos que tive.
- Respirar o ar daquela alcatéia deve ter feito algo com seu cérebro - Hyunki riu incrédulo. Seus olhos soltavam faíscas e Jimin não imaginava o quanto aquele tolo parecia estar tentando segurar o resto de sua postura. - Quem iria querer um perdido como você. Você é apenas um resto que eu aproveitei daquele alfa estúpido.
- Se você soubesse o quanto foi broxante para mim na noite do nosso casamento. Um alfa que nem consegue marcar um ômega, isso já diz o quão inútil e falho você é! - Jimin gargalhou como se fosse a coisa mais engraçada que havia contado. - Eu tive que procurar fora, o que meu alfa não me dava em casa. Todas as vezes que você aproveitava esse resto aqui, era logo após eu estar na cama de outro. Você jogou na minha cara que sou igual a minha mãe, então não entendo sua surpresa agora. Você vai mesmo criar a filha de outro?
- Park Jimin! - Hyunki esbravejou e atravessou a mesa, isso fez Jimin levantar-se também. - Escolheu o dia para morrer?
- Estou mostrando apenas meu último gesto de bondade, ao não deixar você criar o filho de outro. Imagine bancar alguém que no fim do dia vai estar chamando outro de pai, isso é humilhante demais até para você.
Aquela foi a cereja do bolo para Hyunki. Foi rápido demais para Jimin desviar, o alfa havia agarrado a parte de trás de seu pescoço e o curvou dobrando seu outro braço para trás, isso fez Jimin gemer de dor. O advogado que estava sentado até o momento de toda discussão, levantou-se rapidamente.
- Vamos Hyunki, tá esperando o quê para agir como um moleque que você é? - Jimin murmurou pela posição difícil que estava. Todas as coisas que ele disse pesou cada célula dentro do seu corpo, a forma como descreveu como todos o viam, a forma como colocou sua filha no meio disso. Ele estava com tanta raiva disso e de si por ter descido ao nível do outro. - Está preparado para lidar com as consequências futuras? Acho que não está cansado de causar problemas e apanhar do seu pai.
- Hyunki, não faça nada precipitado. Não esqueça o que seu pai disse - o advogado interveio, parando ao lado do alfa. - Solte-o.
Demorou alguns minutos, mas Hyunki soltou. O impacto na força que usou fez Jimin bater seu braço solto na mesa. O ômega não sentiu a dor no mesmo momento, sua cabeça doía pelo sangue que escorreu até a mesma no tempo que ficou com a cabeça baixa.
Hyunki passou por Jimin e pegou a caneta que ele havia assinado os papéis antes. Pegando as folhas que Jimin trouxe, ele assinou com raiva em seu coração. Ao ver aquilo, o advogado tentou impedi-lo, mas foi empurrado para o lado.
- Seu estúpido! - o homem gritou. - Como você assina algo que eu não li?!
Jimin riu. Ele não queria, mas foi quase que involuntário aquele som sair. Seus olhos se encheram d'água, mas ele enxugou para que Hyunki não percebesse.
- Você é um tolo mesmo. Casamento arranjado é a única forma de você ter um ômega. Para aguentar o seu cheiro, seu toque e tudo mais que acompanhá-lo.
Recolhendo os papéis que Hyunki assinou, Jimin arrumou sua postura e encarou o alfa.
- Nunca mais se aproxime de mim ou de Nari - o ômega advertiu sério.
Sem dizer mais nada o ômega vira-se e caminha até a porta, escutando Hyunki zombar atrás.
- Você diz tudo isso, mas quando tinha eu dentro de você, até revirava os olhos. Você ainda vai rastejar até mim, implorando para ter meu perdão e nesse dia, prepare-se Jimin, pois vai ser seu primeiro dia no inferno.
Abrindo a porta Jimin estava pronto para sair, mas escolheu olhar para Hyunki de novo.
- Engano seu, hoje foi meu último nesse inferno de vida com você - ômega corrigiu, abrindo mais a porta para sair. - Todas as noites que passei com você, foram tão tediosas, que eu precisei pensar em outro para conseguir ficar excitado.
Quando a porta bateu atrás de si, Jimin conseguiu ouvir passos se aproximando de onde acabara de sair. Isso fez ele apressar os seus, alcançando o elevador e apertando o botão do térreo o mais forte e repetidas vezes que conseguia. Com Hyunki em seu encalço gritando palavras que não sabia distinguir o que era, pois estava mais preocupado daquela porta não abrir o mais rápido que precisava. Jimin já estava preparado para enfrentar a fúria atrás de si, mas o barulho do elevador abrindo, trouxe um suspiro de alívio. Entrou tão rápido que não percebeu que tinha alguém parado ali, fazendo-o colidir com o corpo firme e alto. Antes que pudesse tombar para trás pelo impacto, mãos grandes e fortes seguraram seus braços e então um cheiro que há muito tempo havia perdido em suas memórias preencheu seus sentidos.
Quando olhou atônito para cima, olhos escuros, mas que tinham um brilho escondido por trás, lhe encaravam. A pessoa de seus sonhos e desejos mais profundos o segurava. Jungkook estava ali. Ou era uma alucinação pelo desespero?
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Oi, meus amores!! Novamente gostaria de me desculpar se houver alguns erros, não consegui revisar o capítulo todo. Espero que gostem do capítulo.
Estou vendo quais datas seriam melhores para as atualizações, ao invés de escolher três diferentes a cada mês. Por enquanto, ainda não decidido, as próximas atualizações saíram nos dias 10, 20 e 30. Prometo resolver as datas fixas o mais rápido possível.
Até breve, minhas flores. Byebye! 🦋🧡
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