[05] Conselho com flores
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Dois dias após a conversa entre os irmão havia passado, Aquiles ainda não trouxe mais sobre o assunto, Jimin pensou que talvez ele ainda estivesse em busca de uma solução mais fácil.
— Papai! — Nari veio correndo até a cozinha, onde Jimin descascava algumas batatas. O ômega virou o rosto e enrijeceu o corpo pela forma que a pequena garota se jogou sobre ele agarrando suas pernas.
— Meu amor, se você correr dessa forma poderá cair — Jimin alertou, voltando a sua tarefa. — Qual o motivo de tanta euforia?
— O que é escola?
— Escola é um lugar onde você aprende muitas coisas novas e pode fazer novos amigos.
— Nari pode ir à escola? — a garota pergunta, após pensar por alguns segundos.
— Claro. Inclusive o Papai irá colocar Nari em uma escola, o que você acha? — Jimin joga as batatas em uma panela e enche d'água, colocando em seguida no fogão para ferver.
— Papai pode ir para escola com Nari?
— Papai já estudou, meu bebê — Jimin responde com um sorriso.
— Então não?
— Não, bebê.
Absorvendo as palavras do pai, Nari agarrou com mais força a perna de Jimin. Ela esfregou seu rosto no membro esquerdo de Jimin, negando repetidas vezes.
— Então, Nari não quer.
Jimin enxugou a mão após lavar. Com cuidado tirou sua filha de sua perna e abaixou-se até sua altura, optando depois por sentar de frente para ela no chão. Com o carinho que sempre dirigia para a filha, ele afastou sua franjinha partindo-a no meio.
— Bebê, nesse novo lugar que vamos viver, muitas coisas novas irão acontecer. O papai quer muito que Nari seja feliz, então ele acha que seria muito legal se Nari tentasse experimentar coisas novas — Jimin explicou, puxando a pequena alfa que olhava atentamente e ouvia cada palavra vindo de seu progenitor. — O papai sempre quer proteger Nari, para isso ele sempre aprende novas coisas que poderão mantê-la segura e continuar sendo uma boa garota.
— Nari também quer proteger o papai! — Jimin sorriu com a resposta. Apesar de Nari ser alguém pequena e tímida, ela nunca tinha controle sobre o tom de voz que usava.
— Fico feliz de saber que alguém como Nari quer me proteger, dessa forma não terei medo — Jimin embalou a garotinha em seu colo, enfiando seu nariz no pescoço da filhote. O cheiro de leite e talco ainda emanava de sua pequena, por mais que ela não fosse mais recém-nascida.
Ele se lembrava do cheiro de leite que começou emanar de si, mesclando com seus próprios feromônios quando ainda estava grávido de Nari. A junção dos dois deixava o ambiente onde sempre ia muito doce, muitas vezes isso incomodava Hyunki, pois se torna enjoativo. O alfa às vezes ordenava que Jimin ficasse o dia todo em seu quarto, apenas para ver se diminuía um pouco do cheiro pela casa.
Quando Nari nasceu o cheiro separou-se de si, então era mais fácil de suportar, mas Jimin nunca se importou com o quão doce podia ser. Ele sempre amou. Quando descobriu o gênero secundário da filha, ficou muito confuso, pois pensou que pelo odor adocicado que ela soltava, a pequenina fosse ômega.
Jimin nunca soube muito sobre maternidade, apesar de ser um ômega capaz de gerar outra vida. Perdeu sua mãe muito cedo e Héstia nunca entrou nesse assunto com ele ou Aquiles, pois eram muito novos na época. Mais tarde a ômega também morreu, então sobrou apenas seu pai, mas ele nunca entrou em detalhes, apenas comunicava aos seus dois filhos que ficassem longe de alfas, nunca mantendo um contato físico.
Na adolescência, com os hormônios à flor da pele, era natural pesquisar sobre algumas coisas do seu próprio gênero secundário. Aquiles nunca se importou com isso, mas Jimin sempre teve essa curiosidade, após ouvir a conversa entre outros ômegas. Na época, Taehyung o ajudou a pesquisar mais sobre. Sem um ômega adulto perto para auxiliar nessa descoberta, eles ficaram confusos com muitas informações.
A única pessoa que eles tentou perguntar sobre, foi Aquiles, pois na série dele era incluída educação sexual e mais sobre as raças. O ômega também era mais velho que eles, então presumiram que ele sabia mais.
O resultado não foi muito bom, pois o ômega mais velho ficou tão envergonhado com as perguntas que acabou brigando com os dois, proibindo eles de fazer mais pesquisas. Como Jimin não queria decepcionar seu irmão, ele não pesquisou mais sobre e isso acabou fazendo Taehyung fazer o mesmo. Eles se convenceram de que seria melhor esperar mais um pouco, até que fossem para a mesma série que Aquiles estava. Não demoraria tanto.
Como os adolescentes não se saciam facilmente, Taehyung abordou Jimin um dia, falando sobre sua nova descoberta. O ômega que havia ouvido uma conversa pela metade um dia no banheiro da escola, chegou com a informação que ômegas poderiam engravidar se beijassem alfas. Óbvio, que logo surgiram mais questionamentos sobre isso.
Um dia quando Jungkook e Taehyung foram à casa de Aquiles e Jimin, o garoto da idade de Jimin se juntou ao mesmo em seu quarto, enquanto Jungkook precisava fazer um trabalho de escola com Aquiles.
Como Aquiles não quis responder a pergunta dos dois ômegas, eles decidiram perguntar para Jungkook, afinal, um alfa também saberia responder esse questionamento. Os dois se escondiam no andar de cima, enquanto olhava para o alfa e o ômega no andar de baixo fazer atividades.
Após planejar um plano, eles tinham certeza que daria certo. A primeira parte dele era tirar Aquiles de perto de Jungkook, pois o irmão de Jimin não deixaria ele e Taehyung fazerem essa pergunta ao alfa. Com o plano em ação, Jimin corria para o andar de baixo dizendo de forma afobada que Taehyung havia ficado preso no banheiro e não conseguia sair.
Aquiles e Jungkook olharam assustados para o ômega loiro, processando a informação. Jungkook fez menção de levantar e ir ajudar, mas Jimin negou prontamente alegando que o amigo poderia estar em uma situação imprópria para que o alfa pudesse ver. Sendo assim, Jimin implorou ao irmão para ajudá-lo. Aquiles levantou bufando e subiu as escadas reclamando como os dois ômegas mais novos eram estúpidos.
Aliviado pelo plano dando certo, Jimin encarou Jungkook em expectativa. O alfa enfiou as mãos no bolso sem jeito pela forma que o outro o olhava. Ambos estavam em silêncio e para quebrá-lo o alfa voltou a sua posição anterior dizendo adiantar o trabalho, enquanto Aquiles não voltava.
Jimin abaixou-se ao lado de Jungkook com seus joelhos encostando em seu peitoral, o alfa estava de bruços segurando uma caneta enquanto escrevia. Incomodado pelo olhar pesado do ômega sobre si, Jungkook tentou fingir que não o via, mas em seu campo de visão apareceu uma mão aberta acenando em frente ao seu rosto. Confuso, ele olhou para cima e encontrou os olhos violetas que brilhavam em expectativa.
Naquele momento, Jungkook tinha certeza que aquelas duas orbes se pareciam como o universo que ele via nos desenhos. Brilhante e belo.
“Posso te perguntar algo?” Foi a pergunta que despertou o alfa de seus pensamentos. Percebendo a forma como estava encarando o outro, o moreno sentou-se de forma desajeitada, mantendo uma certa distância entre os dois. “É verdade que ômegas podem engravidar se beijarem alfas?”
Jungkook naquele momento sentiu seu rosto queimar e seus olhos se arregalaram com aquelas palavras. Com a idade que tinha, Jungkook já sabia que aquela pergunta era ridícula e impossível de ser verdade, mas Jimin era dois anos mais novo e sua ingenuidade foi o que deixou o alfa tão envergonhado.
“Não é assim que as coisas acontecem.” Foi a resposta mais rápida e simples que o alfa deu. Aquilo deixou Jimin confuso, pois para o garoto um beijo era algo muito íntimo entre duas pessoas, mas não o suficiente para que um ômega pudesse engravidar. Então como seria?
“Existe algo mais íntimo que um beijo?” Jimin perguntou dando passos de penguin ainda preso em sua posição abaixada, até o alfa.
Jungkook se afastou mais um pouco até suas costas baterem no sofá atrás deles. Suas orelhas queimavam e ele sabia que seu rosto poderia estar mais vermelho que as rosas que tinham no vaso ali perto. Aflito pela situação, o alfa olhou ao redor com receio que alguém mais tivesse ouvido aquela pergunta.
“Você também não sabe?” O ômega questionou e dessa vez apoiou suas duas mãos ao chão para se apoiar.
Vê Jimin tão perto, deixava Jungkook sem palavras. Seus dedos estavam fechados em punhos atrás de suas costas. Aquela reação passava despercebido até o momento por Jimin, mas quanto mais olhou e percebeu as íris inquietas de Jungkook, ele se afastou.
Então Jimin se lembrou, ele talvez esteja ultrapassando um limite que ele tinha esquecido. Jungkook nunca o tratou mal, mas isso não significava que ele pudesse gostar do ômega. Quando eles eram crianças, Jungkook se tornou seu amigo, mas talvez agora que cresceram, o sentimento pode ter sumido. E se Jimin estivesse sendo indevido em suas perguntas e isso fosse parecido com o que as pessoas chamavam sua mãe. Jimin não queria.
“Sinto muito… Eu não queria ser assanhado.” O ômega abaixou a cabeça envergonhado e com uma culpa crescendo.
Ver que sua reação gerou uma situação contrária do que Jungkook esperava o deixou atônito. O alfa ficou tão nervoso, que mal conseguiu controlar as reações em seu rosto e só podia ter passado a impressão errada para o ômega. Mas quando ouviu aquela palavra saindo da boca de Jimin, ele se chamou de idiota muitas vezes.
Curiosidade era algo normal e contanto que não seja desrespeitoso com o outro, não há problema em manifestá-la, mas de forma alguma Jungkook considerou aquelas perguntas desrespeitosas. Ele não era ômega, mas como alfa ele sabia aquelas respostas, pois a criação do seu gênero secundário além de saber mais sobre si, envolve saber mais sobre ômegas também.
“Você não é nada disso.” Jungkook segurou ambas as mãos do ômega afirmando aquela sentença.
Jimin olhou para aquelas mãos maiores que a sua e em como elas eram quentes, diferente das suas que pareciam sempre frias. Diferente do que pensou que as mãos de alfas fossem cheias de calos, Jungkook tinha uma mão macia.
“Um ômega não pode engravidar apenas com um beijo. Existe algo mais íntimo que isso, mas não é o que nos move a querer ter filhos. Apenas faz parte do processo… Um dia você irá descobrir isso quando encontrar alguém que goste.” Essa foi a forma mais tranquila que o alfa encontrou para responder o ômega. Dando um sorriso pequeno em direção ao loiro.
“E se eu não encontrar, então nunca poderei engravidar?” Jimin perguntou assustado. Ele não tinha certeza se um dia gostaria de ter filhos, ainda era muito novo para pensar, mas e se no futuro ele quisesse? As pessoas não gostavam dele, então isso significa que ele nunca poderá ter uma família? “E se ninguém quiser ser íntimo comigo?”
“Isso não vai acontecer.” Jungkook assegurou rapidamente. Em seus pensamentos, como alguém não poderia querer ser íntimo de Jimin, não em forma carnal, mas em algo mais profundo que isso.
“Como você sabe? As pessoas não gostam de mim e já me disseram que ficarei sozinho para sempre.”
“Não se importe com o que elas dizem. Meu pai uma vez me disse que há um alfa para cada ômega. Então você também terá o seu.” Jungkook comprimiu os lábios pelo absurdo que Jimin disse. Ele gostaria de poder encontrar quem disse aquilo ao ômega.
“Você já tem seu ômega?”
Jimin perguntou curioso. Ele queria saber se alguém como Jungkook já havia encontrado um ômega tão bom para ele, quem sabe Jimin pudesse aprender com ele e ser alguém mais cativante. O loiro só não conseguia entender do porquê seu coração do nada começou a bater tão forte em seu peito.
“Eu… Ainda não.” Jungkook respondeu seu olhar desviando de Jimin.
“Você acha que pode ser Aquiles?”
“O quê?!” Aquilo parecia o maior absurdo que Jungkook já tinha ouvido. Foi impossível não sentir-se ofendido. Será que isso era porque ele e Aquiles andavam muito juntos? Será que mais alguém pensava isso? “O que te leva a pensar isso?”
“Vocês parecem íntimos.”
“Não é dessa forma. Somos apenas amigos, também podemos ser íntimos de amigos, é apenas uma forma diferente da que queremos ter com alguém que queremos construir uma família.”
“Então o Aquiles não?” Jimin perguntou de novo para ter certeza.
“Não!”
“E o Taehyung? Ele é bem bonito e legal, vocês também se dão bem.”
Jungkook franziu as sobrancelhas negando veemente. Jimin então citou outros ômegas que Jungkook poderia ter como seu, ômegas que ele só sabia da existência porque ele prestava muita atenção no alfa. Jungkook estava tão preocupado em negar e em mostrar que não existia a menor possibilidade de formar casal com algum deles, que não percebeu esse detalhe.
“Não consigo pensar em mais ninguém… Talvez o seu ômega seja de outra alcatéia.”
Jimin suspirou sem mais ideias. Jungkook olhava para a expressão distante do ômega e ele quase engasgou quando deixou escapar o que estava pensando. “E você?”
“Eu o quê?” Jimin sentiu a ponta de suas orelhas começar a esquentar.
“Você se acha muito bom para colocar como opção de ser meu ômega?” Jungkook deu de ombros deixando algumas risadas escapar nervosamente. “Talvez, eu nem seja uma possibilidade para você…”
“Não é isso.” Jimin negou por cima da fala do alfa. Seu olhar preso no chão. “Como eu poderia ser uma opção para você? Não tenho nenhuma qualidade que mereça ser notada por você e nem sou alguém importante…”
“Quanta bobagem.” Jungkook interrompeu o ômega. Seus braços se cruzaram sob o peito e ele deixava um som acompanhado de um sorriso irônico e inconformado. “Você entre todos os que citou, teria mais chances. Eu acho você muito interessante.”
Jimin arregalou os olhos e Jungkook percebeu o quão descarado ele estava sendo e tentou se explicar atrapalhando-se todo. Ver o alfa gaguejar fez o ômega rir. Aquilo tranquilizou Jungkook, não que o que ele tenha dito seja alguma mentira.
Lembrar-se desse momento fez um sorriso carregado de saudade iluminar o rosto de Jimin. Como ele gostaria de voltar no tempo e feito as coisas diferentes. Ele nunca se arrependeria de ter Nari e nem dos outros dois bebês que perdeu, mas como ele amaria ter tido um filho de Jungkook. Compartilhar dessa intimidade com o alfa, era algo agora inimaginável.
Após o almoço e mais conversa com Nari, a garota agora estava sentada em frente a mesinha do centro da sala colorindo. Aquiles na noite anterior após chegar do trabalho, trouxe um kit de colorir para a alfa e isso fez Nari obrigar seu Papai e o tio a pintar junto com ela por uma hora.
Jimin estava no sofá com o notebook no colo buscando mais vagas, pois ainda não tinha recebido nenhum retorno das empresas para as quais enviou suas candidaturas. Seu celular começou a tocar e tentou se lembrar de onde havia o colocado, levantou-se e foi para a cozinha de onde o som parecia tocar mais alto.
Ao ver o nome do irmão, não hesitou em atender.
— Aquiles?
— Jimin, consegui uma reunião com Athena para hoje daqui uma hora, preciso que você venha já e traga seus documentos e de Nari. Também iremos aproveitar e matricular ela de uma vez — O ômega falou tudo de uma vez, sua voz parecia abafada, como se ele tivesse colocando a mão junto a boca para abafar o barulho no seu exterior. — Você ainda sabe o caminho para o prédio do conselho? Irei mandar um carro te buscar de toda forma, esteja pronto em meia hora.
— Você conseguiu uma forma de convencê-la? — Jimin perguntou esperançoso e andou apressadamente até a sala.
— Eu disse que daria um jeito. Apenas esteja pronto, em 20min o carro passará aí para buscá-los. Tenho que ir, até mais!
Após a despedida a ligação é encerrada. Jimin não perde tempo e pega Nari no colo, deixando a garota confusa, mas se agarrando ao pai à medida que o mesmo corre para o andar de cima.
— Vamos sair? — Nari pergunta, enquanto observa Jimin andar de um lado para o outro. O ômega abaixou-se em frente à filha e tirou a blusa e shorts de ficar em casa, colocando um vestido que batia sob os joelhos.
— Sim, vamos visitar o tio Aquiles no trabalho dele — Jimin explica, colocando uma meia calça branca sem pontas nos pés, batendo no meio das canelas. Calçando um tênis para finalizar seu look.
— Podemos comprar aqueles doces que o tio trouxe ontem? — Nari pergunta em expectativa, segurando na blusa de Jimin enquanto o ômega prende o curto cabelo da garota em duas chiquinhas.
— Podemos ver onde ele comprou — Jimin concorda e finaliza o cabelo de sua filha ajeitando a franja que batia um pouco acima das sobrancelhas da filha.
Pegando Nari no colo, Jimin caminha até o banheiro e coloca a alfa sentada em cima da pia e pega a escova de dentes da mesma. Como Jimin já havia ensinado ela há um tempo atrás, a pequena conseguia escovar sozinha.
— Fique quietinha, já volto — o ômega pede e corre até o seu quarto, pegando duas peças de roupa. Voltando na mesma velocidade, Nari ainda está quieta em cima da pia.
Enquanto a pequena escova os dentes, Jimin começa a trocar de roupa. Ele gostaria de se camuflar entre as pessoas, para que ninguém o reconhecesse. Talvez, ninguém se lembrasse dele, mas mesmo assim ele não pretendia chamar muita atenção hoje. Então só uma calça jeans escura e um moletom que facilita o movimento dos seus braços. Nari termina os dentes, então Jimin desce ela após ajudá-la a enxaguar a boca.
Deixando a alfa em seu quarto, entretida com seu celular, Jimin volta para o banheiro e começa a ajeitar seu cabelo. O pouco tempo que ele estava de volta, já podia notar que seu cabelo estava voltando com o brilho que tinha. No tempo que viveu em Fairbanks, Jimin depois do primeiro ano, até pensou que o seu loiro natural havia desbotado pela falta de cuidado que tinha consigo, mas agora ele parecia mais vivo.
Voltando para o cômodo de antes, Jimin pega um dos três tênis que tinha e calça. Buscando em uma bolsa, ele pescou seu óculos escuro. Não estava com um sol forte lá fora, mas o motivo era apenas esconder a cor de seus olhos. As únicas pessoas que possuíam aquela cor nos dias de hoje era Jimin e seus avós da parte de mãe. Eles tinham fios castanhos como sua mãe, Jimin foi o único da família que possuía os olhos violetas e um loiro brilhante. Então, todos sabiam quem era Jimin apenas por essas duas distinções.
Após escovar os próprios dentes e arrumar uma bolsa com todos os documentos que precisava, Jimin também guardou uma garrafa pequena de água para sua filhote. Vinte minutos mais tarde um carro buzinou em frente a casa, sinalizando que chegou.
Conferindo se fechou todas as janelas e a porta principal, o ômega ajeita Nari no banco traseiro ao seu lado, não havia uma cadeirinha própria para ela, então mesmo com o cinto de segurança, Jimin foi a viagem com o braço ao redor dos ombros da menina.
Depois de sair do bairro tranquilo em que Aquiles vivia, Jimin finalmente teve o vislumbre da cidade grande que cresceu. Muitas coisas haviam mudado, novas lojas foram abertas e novos rostos preenchiam as ruas. Talvez, ninguém realmente pudesse se lembrar de Jimin. Essa ideia começou a acalmá-lo um pouco mais.
Perdido nessa ideia, seus olhos se arregalaram quando passaram em frente a uma fachada que Jimin jamais esqueceria. Mesmo com o carro tomando distância, ele se virou para olhar pelo vidro de trás. As lembranças daquele lugar preenchendo seu peito e o fazendo suspirar.
O resto do trajeto foi mais rápido do que Jimin se lembrava. O prédio do conselho continuava tão alto quanto Jimin se lembrava. Algumas coisas na fachada mudaram um pouco, mas o que prendeu a atenção de Jimin quando ele desceu do carro e pegou Nari no colo, foi dois largos vasos de flores com lírios brancos. O ômega franziu as sobrancelhas com aquele pequeno detalhe. Ele no passado tinha vindo ao conselho apenas duas vezes e pelo que ele se lembrava não havia nenhuma flor na portaria.
A estranheza maior era que aquela era a flor preferida de Jimin e não era comum aquele tipo de flor enfeitar a fachada de um prédio tão importante. Há quanto tempo elas enfeitam aquele lugar? Será que faziam rodízio de flores e hoje coincidentemente Jimin se deparou com a suas preferidas?
Aquilo o deixou feliz. Isso poderia ser um sinal de que coisas boas viriam? As duas vezes que entrou naquele lugar, não lhe deu boas memórias e dessa vez ele se sentiu bem ao ver algo que gostava tanto.
A parte de dentro continuava com os mesmos detalhes, mudando que havia mais lírios espalhados em vasos por todos os lugares. Será que havia entrado no prédio certo?
O hall não estava cheio, mas costumava ficar aos fins de semana, pois eram sempre as datas que realizavam audições, reuniões e julgamentos. A recepcionista era diferente também, notou Jimin. Ele preferia assim, a mulher de seu passado que ocupava aquele lugar sempre foi desagradável com o ômega.
— Oi, boa tarde. Eu tenho um horário marcado com Aquiles Allen — Jimin comprimentou com um sorriso. Nari agarrava com as duas mãos o moletom de Jimin, enquanto seus olhos olhavam atentamente a mulher atrás do balcão.
— Boa tarde, só um segundo que irei confirmar — A mulher respondeu com um sorriso e começou a digitar algo no computador. — Seu nome está aqui, irei ligar e avisar que você chegou, só um momento.
— Claro.
Jimin suspirou e se virou para dar uma olhada melhor ao redor. Haviam alguns seguranças espalhados pelo hall, três mulheres estavam espalhadas limpando o chão, o vidro da janela e pequenos armários.
— O senhor Allen está terminando uma reunião e pede que você aguarde um momento — A mulher informa, atraindo a atenção de Jimin.
— Entendo, obrigado.
Jimin puxa o celular do bolso e confere as horas. Ainda faltavam alguns minutos para o horário que o irmão marcou, então tudo que Jimin podia fazer era sentar-se em dos sofás e esperar.
Nari sentou ao lado de Jimin e pediu para ver algum desenho no celular, o ômega concorda e entrega o aparelho para a criança. Ele detestava deixar Nari muito tempo na frente das telas, mas ele sabia que ela ficaria muito entediada enquanto ficassem ali e apenas dessa vez ele quebrou essa regra.
Enquanto se distraía olhando ao seu redor, uma mulher jovem entrou no ambiente. Ela era bem jovem. Pelo cheiro que exalava dela, com certeza era uma ômega. Seu cabelo tinha um castanho parecido com o de Taehyung e era um liso escorrido até o fim das costas. A garota conversava com a recepcionista e o loiro percebe a mulher entregar um papel e caneta para a jovem garota.
Quando a menina virou-se, Jimin ficou encantado. O rosto jovial acompanhado de sobrancelhas grossas e olhos âmbar eram duas coisas que destacavam em sua face. Ela veio caminhando na mesma direção que Jimin estava e sentou-se na poltrona que ficava um pouco virada na direção de Jimin.
A menina deu um sorriso gentil para o loiro, que retribuiu. Ela então começou a preencher a folha que ganhou da recepcionista. Passaram-se cinco minutos desde que ela começou e Jimin estava entretido assistindo o desenho com sua filhote.
— Ei, tudo bem? Desculpa incomodar, mas você poderia me dizer o que significa Classe DRC?
Jimin olha na direção da ômega e quando ela chama sua atenção.
— Esses formulários, porque eles não podem ser mais simples ao invés de apenas abreviar as palavras — a garota reclamou revirando os olhos e Jimin concordou com a cabeça.
— Posso dar uma olhada? — Jimin perguntou estendendo a mão e a menina estendeu a folha para o loiro.
Jimin leu algumas coisas para entender do que se tratava e a garota preenchia um formulário para se candidatar a uma vaga na área da limpeza do prédio.
— Está pedindo para que você diga se pertence à classe Dominante, Recessiva ou Comum — Jimin explicou e a garota olhou de forma estranha para o ômega.
— Existe isso? Eu não faço a mínima ideia do que seja.
Quem agora olha de forma estranha era Jimin. Ele nunca tinha encontrado alguém que não soubesse que eles além de serem divididos entre gêneros secundários, também possuíam classes. Na verdade, se uma criança não soubesse disso, ele entenderia, mas também não iria começar a fazer julgamentos precipitados.
— Seus pais nunca lhe contaram sobre isso? — Jimin perguntou.
— Não — A garota dá um sorriso torto e complementou: — Eu cresci em um orfanato, lá eles não tinham muitas aulas sobre isso.
Jimin balançou a cabeça compreendendo. Muitos orfanatos não tinham uma boa renda para que contratassem professores e financistas para uma melhor educação. O básico da educação que recebiam era dado por igrejas e Jimin sabia que eles não se aprofundaram nesses assuntos.
— Veja bem, eu não sei explicar muito sobre isso, mas posso te dizer a que classe você pertence — Jimin ofereceu gentilmente. Como ele era um ômega dominante, ele era sensível a odores e por isso facilitava adivinhar gêneros secundários e classes dos outros.
— Sério? Isso é incrível! — a garota falou entusiasmada. — Você precisa me cheirar? Devo soltar um pouco de feromônio?
A garota estendeu o pulso em frente a Jimin e o ômega rapidamente negou com a cabeça.
— Não é preciso. Você também não deveria soltar seus feromônios em qualquer lugar.
— Oh meu Deus, me desculpe. Eu sou bem leiga a esse tipo de coisa — A garota fica envergonhada e Jimin devolve a folha pra ela com um sorriso reconfortante.
— Não precisa se preocupar, não estou chamando sua atenção, apenas te alertando. Vejamos… Você é uma ômega recessiva.
— Isso é bom?
— Bem, eu acho que todas as classes são boas, o que torna ela ruim é só o caráter de quem porta ela.
— Você é tão inteligente! — os olhos da garota brilhavam e Jimin ficou sem jeito. Ele nunca foi muito elogiada e principalmente chamado de inteligente, mas cá estava ele sendo reconhecido por algo mínimo. — Eu nem me apresentei. Me chamo Calista, mas pode me chamar só de Lita.
— Prazer Lita, me chamo… Jimin.
— É um nome bonito… Ela é sua filha? — Calista pergunta apontando para Nari que tinha uma mão agarrada ao moletom de Jimin, enquanto assistia concentrada seu desenho.
— Sim, seu nome é Nari.
— Ei Nari! — Calista comprimentou, mas a alfa nem deu ideia e Jimin se desculpou em seguida. — Não precisa se preocupar, crianças quando estão distraídas com algo que gosta, não se importam com mais nada.
Jimin concordou sorrindo. Calista voltou a preencher sua filha e Jimin não pode deixar de ficar em dúvida sobre algo.
— Lita, essa folha que você está assinando é para concorrer a uma vaga aqui no prédio?
— Sim! Eles abriram algumas vagas para área da limpeza, auxiliar administrativo e auxiliar de cozinha — Calista explica. — Como não tenho nenhuma formação para o administrativo e não acho seguro eu ficar dentro de uma cozinha, estou me cadastrando para a limpeza.
— Entendo, você sabe se é muito concorrido?
— É sim. Todo mundo quer ter a chance de trabalhar no prédio do conselho e quem sabe crescer aqui dentro. Claro, também tem aquelas pessoas oferecidas.
— Como assim? — Jimin perguntou sem entender.
— Bem, você sabe, tem muitos ômegas que sonham em se acasalar com alguém poderoso e que lugar melhor para procurar se não aqui — Calista revira os olhos enojada com essa ideia. — Algumas meninas e meninos do meu orfanato tem esse plano. Então eles tentam conseguir uma vaga aqui e vão tentar de tudo para seduzir membros do conselho e até o próprio líder.
Jimin arqueia as sobrancelhas surpreso. Se esses ômegas soubessem o quão difícil era entrar no círculo que estão planejando, nem escolheriam tentar. Para o próprio Jimin que era filho de alguém desse círculo, não era fácil.
— O que tem de bom? Claro, eles são bonitos, devem cheirar super bem e com certeza devem ter a melhor classe… — Calista começou a divagar. — Talvez, eles estejam achando que são um Taehyung da vida.
— Por quê? — Jimin riu. O loiro até esquecia às vezes da classe do amigo e em como mesmo assim ele conseguiu se casar com um membro do conselho.
— Ele é denominado o ômega mais sortudo. Ele não faz parte do círculo de famílias que compõem o conselho e mesmo sua família não sendo tão rica quanto eles, ele conseguiu casar com um alfa de família super importante.
— É verdade. Talvez, ele tenha um charme que foi difícil de ignorar — Jimin comentou ao se lembrar da personalidade do melhor amigo.
— Outra que está prestes a se tornar a ômega mais importante é Naomi Fiori.
Quando aquele nome saiu da boca de Calista, Jimin parou de sorrir. Ele sentiu como se o tempo tivesse ficado em câmera lenta e sua boca secou. Para que Naomi seja citada como tal, só poderia haver uma explicação.
— Dizem que ela é a ômega número um escolhida para se casar com Jeon Jungkook. Ela é querida por muitos, para liderar ao seu lado — Calista explicou dando de ombros. — Costumo não gostar de pessoas que são muito bajuladas. E daí se ela é a ômega número um? Eu nem acho que ela combine com nosso líder.
— Por que você acha isso? — Jimin perguntou, seu olhar preso no chão. Ele não devia sentir-se assim, mas ouvir a opinião de Lita sobre aquilo, era… bom.
— Se eles a escolhem por beleza, tudo bem, ela não é feia. Uma coisa que eu aprendi crescendo em um orfanato é não confiar em quem parece ser bom a todo momento — Calista negou com a cabeça reforçando. Seus olhos então se fixaram em Jimin e ela cochichou inclinando-se na direção do loiro. — Uma vez ouvi umas tias no orfanato dizendo que Jungkook parecia não enxergá-la como uma companheira para toda a vida.
Jimin ergueu seus olhos encontrando com os de Calista. Naquele momento, o ômega agradeceu mentalmente por estar de óculos ainda, pois talvez em seu olhar ele não conseguisse esconder o que estava pensando.
— Existe uma história que as pessoas gostam de contar para apaziguar os rumores de Jungkook não querer acasalar com Naomi — Calista ergue a folha que preenchia, tampando o campo de visão que dava em direção da recepcionista e as grandes portas do saguão. A garota então fez um sinal para Jimin se aproximar mais. — Dizem que Jungkook foi marcado por um ômega há alguns anos. Por esse motivo ele não pode se relacionar com nenhum outro. Eu não acredito nesses rumores, mas todas as vezes que vi Jungkook, ele sempre usava roupas com golas altas e em seus momentos mais casuais seu cabelo sempre cobria sua nuca.
Os olhos de Jimin saltaram nervosamente e seu rosto empalideceu. Quando Calista se afastou ele ainda estava congelado na mesma posição. Isso eram apenas rumores, segundo a garota, mas foi o suficiente para abalar Jimin. O ômega vasculhou em sua mente algum momento que ele mesmo poderia ter cometido esse ato quando se entregou ao alfa pela primeira vez. Jimin jamais poderia esquecer os detalhes daquela noite, foi a mais especial e perfeita que ele já teve. Foi quando seu ômega sentiu-se realizado e onde entregou seu corpo, alma e coração. Mas ele nunca se lembrou de ter marcado Jungkook, ele saberia se tivesse feito tal coisa.
Mas… E se Jungkook foi marcado por outro ômega? E se isso aconteceu depois que Jimin foi embora, então… Mesmo que ele negasse a si, que seria errado eles ficarem juntos depois de muito tempo, ter essa possibilidade mínima ser arrancada dessa forma estilhaçou seu coração.
— São apenas rumores, as pessoas gostam de inventar coisas — Calista reforçou depois de um tempo. — Tudo que eu disse pode ser apenas coincidências. Seria impossível para um líder como Jungkook esconder um ômega, afinal, ele é o pilar dessa alcatéia.
— Sim… Você tem razão — Jimin limpou a garganta após concordar inquieto. De forma ansiosa ele abriu sua bolsa e pegou a garrafa de água de Nari e deu um grande gole, tentando acalmar seu corpo de alguma forma.
Mais minutos se passaram e os pensamentos de Jimin estavam acelerados o atormentando. Nari ao ver como seu pai balançava uma das pernas freneticamente com pequenos intervalos em pausa, ela estendeu sua pequena mão e colocou por cima. Quando Jimin percebeu a ação, ele encontrou olhos azuis ansiosos em sua direção. Nari vendo seu pai olha-lá, dá um pequeno sorriso. Jimin retribui e deixa um beijo demorado em cima da cabeça de sua filha.
— Terminei! — Calista diz após um longo suspiro. A garota levantou-se e antes de entregar a filha, parou em frente a Jimin estendendo sua mão. — Foi um prazer conhecê-lo Jimin, espero que nosso encontro não seja apenas um acaso. Obrigada por me ajudar e boa sorte com o que veio fazer aqui!
— O prazer foi meu. Espero que você consiga esse emprego, irei torcer por você — Jimin diz genuinamente e aperta a mão de Lita.
Calista se afastou e entregou sua folha a recepcionista e após dizer mais algumas coisas ela vai embora, mas antes dá um último aceno para Jimin. Segundos depois as portas do elevador se abrem e uma figura toda de preto caminha em sua direção esbanjando um sorriso grande.
— Deve estar fazendo um forte sol aqui dentro para que você use óculos escuros aqui — Aquiles diz, passando a mão em seu cabelo jogando os fios para trás.
O moreno estava vestido de forma diferente da que tinha quando saiu de casa. Uma jaqueta preta fechada com quatro botões que batia na metade do quadril que cobria uma blusa branca e uma gravata preta. A jaqueta possui quatro bolsos, sendo dois superiores e dois inferiores em ambos os lados. Uma pequena corda trançada dourada estava presa com uma ponta nos ombros e outra no primeiro botão da jaqueta. Um cinto grosso circulava a cintura do ômega com a fivela da mesma cor que a corda, marcando bem aquela região. Metade da calça estava presa dentro das botas que batiam no meio das canelas. Pareciam pesadas quando pisavam, mas brilhavam como se fossem delicadas.
— Você sabe o motivo pelo qual uso — Jimin respondeu entre dentes quando Aquiles ficou perto o suficiente. — Essa roupa cai bem em você.
— Você gostaria de experimentar? Tenho certeza que você ficaria bem melhor que eu — Aquiles piscou um olho e isso fez Jimin revirar os deles.
— Reunião muito importante?
— Apenas chatice — o ômega deu de ombros e se abaixou na altura de Nari. — Que tal eu levar essa princesa para uma área muito divertida, enquanto alguns adultos resolvem assuntos chatos?
Nari olhou desconfiada para Aquiles e depois para Jimin, que apenas acenou concordando com a cabeça.
Agarrando a mão da pequena alfa e entregando o celular de volta para Jimin, Aquiles caminhou até o elevador, mas percebeu que o irmão não estava atrás de si.
— Por que não está vindo?
Jimin olhou em direção a recepção e depois voltou a encarar o irmão.
— Vai na frente, preciso fazer algo antes.
Aquiles não entendeu, mas também não se importou. Pegou Nari no colo e foi até o elevador, enquanto apontava para alguns desenhos nas paredes explicando os significados errados deles. Jimin então, foi resolver o assunto que vagava em sua cabeça desde que conversou com Calista.
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Olá, meus queridos leitores!
Felizmente, conseguindo cumprir sem falta as datas das atualizações. Sei que muitos não gostam do espaço de demora, mas é apenas dessa forma que sempre vou conseguir trazer tudo certinho sem falta para vocês. Quero agradecer a compreensão também!
Sei que alguns leitores não gostam de ler com “aspas” nas falas, mas eu decidi utilizar esse formato apenas para falas do passado.
Sobre as próximas atualizações, elas serão nos dias 4, 14 e 24 de julho. Sei que para muitos vai parecer muito tempo, mas é o tempo que preciso, até porque também tenho que administrar minha vida pessoal em meio aos meus tempos de escrita.
E também, não se preocupem, Jungkook irá aparecer em breve, caso estejam se perguntando por onde ele anda. Espero encontrar muitos de vocês na próxima atualização. Um grande beijo e até mais!!
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