[01] Um fim, seguindo para um novo começo
⚠️ Aviso de conteúdo sensível no capítulo. ⚠️
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- Park Jimin! - uma voz rugiu do andar de baixo e o tom que foi usado arrepiou todo o corpo do ômega.
Jimin apertou com força o cobertor sobre Nari que dormia tranquilamente. Sem perceber quando os tremores em sua mão iniciaram, ele se levantou engolindo a seco. Sua vista começou a tremular como se tudo ao redor não fosse verdade.
Quando fechou a porta do quarto de sua filha, cada passo para o andar de baixo parecia como se pisasse em brasas e a qualquer momento pegaria fogo.
- Nari está dormindo, por favor fale baixo - Sua voz deu uma falhada que ele não queria, mas foi inevitável.
Quando Hyunki virou-se, seus olhos pareciam injetados em um vermelho sangue. Jimin sentiu sua respiração tropeçar a cada lufada que puxava e quando parou a poucos metros do seu alfa, antes que erguesse seus olhos uma bolinha de papel acertou sua cabeça caindo em seus pés.
- O que é isso?
- Dê uma olhada e se explique, quero ver o quão bom você consegue me convencer e continuar me enganando como fez durante todos esses anos - Hyunki rosnou fechando suas mãos em punhos.
Jimin pegou o papel e com dificuldade por conta da tremedeira ele desfez os amassados. Seu coração errou uma batida quando leu o conteúdo.
- Estou esperando e não tente mentir para mim, senão será pior - Hyunki esbravejou avançando em direção a Jimin.
- Quem lhe deu esse papel? - Jimin tentou não se abalar por quão perto estava da ira do seu alfa.
- Então é verdade? - Hyunki sacudiu os ombros em uma risada que não transmitia qualquer diversão. - Você me enganou esse tempo todo, desde o primeiro dia que você chegou nessa alcateia com esse sorriso inocente, mas de inocente só tinha a aparência.
- Hyunki... não é dessa forma que você está pensando, isso aconteceu muito antes de saber que me casaria com você-
- Jimin, isso não me interessa. Devia ter me contado antes que eu colocasse esse maldito anel na sua mão! - Hyunki agarrou ambos os braços do ômega apertando com toda sua força. Nesse momento seus feromônios saíam em massa, mas do contrário que seriam para acalmar seu parceiro, estava o aterrorizando. - Foi divertido me enganar todo esse tempo?!
- Está me machucando - Jimin engasgou quando sentiu seu corpo ser sacudido e Hyunki gritar a centímetros do seu rosto.
- Eu me casei com um ômega usado e ainda são os restos daquele maldito alfa! Você ainda tem se encontrado com ele?
- Não, eu juro que não - Jimin negou desesperadamente. - Não o vejo desde que mudei-me para cá.
- Eu não acredito em você - Hyunki pressionou sua testa contra a têmpora de Jimin causando uma forte fricção. O ômega sentia os lugares onde o alfa apertava queimar. - Você é igualzinho a sua mãe, a diferença é que ela morreu sendo uma vergonha enquanto você ainda continua vivo.
- Não fale da minha mãe - Jimin chorou no momento que Hyunki citou sua progenitora.
- Nari é minha filha? - Hyunki grunhiu e jogou Jimin contra o chão. - O que estou perguntando, é claro que ela não deve ser.
- Nari é sua filha!
- Eu não acredito! - Hyunki avançou e empurrou o ômega segurando seu pescoço sob suas mãos.
Jimin sentiu seu ar começar a ser privado e um desespero maior cresceu em seu peito. Ele não podia morrer e muito menos se machucar, tudo que estava acontecendo era demais para suportar. Suas mãos tentou aliviar o aperto de Hyunki, mas sua força não se comparava com a do alfa. O ar da sala estava infestado com os feromônios agressivos do outro e isso dificultava mais ainda o ômega conseguir revidar.
- Estou... Estou grávido... - Jimin tentou dizer com toda força que conseguiu reunir. Ao ouvir isso Hyunki arregalou os olhos e o aperto afrouxou.
- O quê? - Suas sobrancelhas se franzem em descrença. Jimin segurou a região afetada do seu pescoço tossindo.
- Descobri hoje... estou com duas semanas.
Desde as suspeitas da semana anterior até a manhã de hoje, Jimin desconfiava e decidiu ir ao médico. Quando confirmou seu corpo ficou tenso pelo resto do dia. Grávido novamente de Hyunki, esse seria seu terceiro filho. Após a gravidez complicada de Nari, ele conseguiu engravidar novamente, mas sofreu um aborto espontâneo com apenas três semanas. Esse acontecimento o deixou sem rumo e desestabilizado por muito tempo.
Seu relacionamento com Hyunki estava abalado desde a perda da segunda criança que crescia em seu ventre, o alfa não se conformou com essa perda e em uma discussão que tiveram culpou o ômega por ser uma farsa. Jimin era um ômega dominante, mas às vezes seu sistema parecia como o de um recessivo. Ele sabia o motivo do porquê tudo deu errado entre sua relação de alfa e ômega com Hyunki, mas ele não podia jamais dizer a verdade. Nari foi um milagre e por isso ele achava que estava tudo bem.
- A médica disse que se eu fizer tudo direitinho, podemos seguir com a gravidez com riscos menores - Jimin explicou ainda tremendo. Suas duas mãos seguravam sua barriga que não tinha qualquer volume que indicasse uma gravidez fisicamente.
- Como eu pude ser tão idiota - Hyunki divagou olhando fixamente para a barriga de Jimin. - Agora tudo faz sentido.
- Hyunki... - Jimin o chamou e tentou tocar seu braço, mas violentamente teve seu corpo virado sob o alfa.
- Nari é filha dele, não é? Por isso você conseguiu ir adiante com a gravidez, o segundo filho era meu e por isso você perdeu - Hyunki segurou a cabeça do ômega contra o assoalho frio e duro. - Não importa, se for dele ou meu essa criança não irá sobreviver.
- O quê você quer dizer com isso? - Jimin sentiu o medo cobrir todo o seu corpo, suas mãos foram puxadas para trás e presas sobre suas costas. - O quê você está fazendo?!
- Se você gritar sua filha vai te ouvir - Hyunki lembrou o ômega que apertou os lábios sentindo sua vista ficar cada vez mais embaçada com as lágrimas.
- Não faça isso... - Jimin implorou sentindo seu short rasgar e o terror preencher sua mente. - Por favor! Eu lhe imploro.
- Se não quiser que Nari acorde, sugiro que faça silêncio.
Jimin fechou seus olhos e começou a soluçar. Tudo estava acabado. Sua mente vagou para o dia em que seu pai chegou em casa e deu a notícia que arrumaria sua vida. Ele havia passado a melhor noite da sua vida com quem amava, mas a manhã foi seu maior pesadelo.
Crescido em um costume onde ômegas deveriam se casar virgens, Jimin quebrou esse ciclo aos dezoito anos. Em sua cabeça jovem estava tudo bem, já que a pessoa que ele amava pediria sua mão a sua família, mas então a notícia de que o ômega já estava comprometido com um alfa de outra alcatéia destruiu tudo. Tudo estaria perdido se seu pai ou o alfa que iria se casar descobrissem que ele não era mais virgem. Isso causaria uma vergonha enorme a sua família e poderia levar Jimin a uma miséria sem fim.
Estaria tudo bem desde que não descobrissem. Se ele soubesse que já estava prometido a outro ele nunca cometeria esse ato, mas tudo foram eventos casuais que teriam como consequências grandes tragédias. Talvez, seus sonhos tivessem sido fantasiosos demais. Ele não pode se despedir ou dar essa notícia ao alfa que amava, quando percebeu já estava a caminho de Fairbanks onde viveria o resto de sua vida. Sem um adeus ou uma última palavra de amor.
Coincidentemente após se casar com Hyunki ele engravidou em sua lua de mel. Jimin sabia que seu lobo havia desabrochado com seu antigo amor após passarem a noite juntos e que com isso todo seu corpo estava aberto a ser entregue a ele, mas a marca que recebeu foi de outro. O corpo e alma que estavam esperando por aquele que ama, foi tomado em um piscar de olhos. Apenas por esse motivo que Jimin conseguiu engravidar de Nari e que depois disso tudo se entenderia em ruínas.
Era tudo culpa sua, se ele não tivesse cedido ao amor que sentia naquela noite, não haveria tantas decepções hoje.
- Quero que pegue suas coisas e saia daqui agora - Hyunki exigiu após se levantar de cima do ômega e abotoar sua calça. - Leve sua prole.
- Não tenho para onde ir, dê-me um tempo. Nari não tem culpa de nada - Jimin murmurou sua voz rouca e sem emoção alguma. Ele sentia tudo doer da cintura pra baixo, mas a dor mais forte martelava em seu peito.
- Não me importo, Jimin. Não irei alimentar nem mais um dia o filho de outro e um perdido como você - Hyunki andou até o armário que estava no canto da sala e tirou de lá uma garrafa de whisky. - Caso essa criança que você espera nasça, apenas dê a outro trouxa para cuidar.
- Nari e essa criança é sua! - Jimin insistiu na verdade que apenas ele sabia. - Se sairmos por aquela porta, você nunca mais terá nenhum direito sobre eles.
- Você acha que ficarei triste com isso? - Hyunki zombou e tomou toda a bebida que havia depositado no copo. - A última vez que irei querer olhar para essa sua cara é quando assinarmos o divórcio. Você sabe que tudo que é seu passará a ser meu, certo?
Jimin se ajoelhou tentando se levantar, seu corpo estava fraco e machucado. A vergonha de seu estado lhe invadia como se sua pele estivesse completamente nua. Ouvir aquelas palavras foi outro golpe que ele havia esquecido e que o acertou novamente.
Todo o dinheiro e propriedade que tinha em seu nome não o pertencerá mais. A única coisa que ele teria consigo era o peso da humilhação.
- Hyunki... Nari não tem culpa de nada, ela não merece viver em amargura. Ela é sua filha.
- Ela é sua filha, Jimin. Ela não receberá nada meu, não terei o desprazer de ter uma filha perdida que provavelmente seguirá os passos do progenitor - Hyunki zombou enchendo novamente o copo. - Isso é de família.
Jimin apertou sua blusa para baixo tentando tampar sua intimidade, mas no fundo ele só queria se esconder de todas aquelas palavras. Seu erro estava trazendo mais vergonha para sua mãe e dessa forma como ela descansaria em paz.
- Te dou dez minutos da minha última gentileza para pegar suas coisas e sair daqui.
Jimin ergueu seus olhos e encarou o homem que viveu casado por bastante tempo. Ele havia errado, mas não queria passar por essa vergonha. Quando seus pés fincaram o chão, uma onda de dor atingiu seu ventre. Suas pernas falharam, mas ele segurou a parede próxima a si antes que pudesse cair. Seu primeiro passo parecia ter sido atingido por uma agulha enorme.
- O tempo está correndo, Jimin - Hyunki o alertou olhando para o relógio em seu pulso.
O ômega mesmo em meio a dor deu passos firmes subindo os degraus. Cada vez que seus pés pisavam ele sentia que seu corpo desabaria. Não havia tempo para ceder a sua situação. Ele entrou em seu quarto e pegou a primeira mochila que viu na frente jogando todas as roupas que cabia naquele espaço. Pegou sua bolsa e verificou todos seus documentos. Em seguida foi para o quarto de Nari que dormia serenamente. Seu coração sangrou pela forma que sairia dali com sua filha e em como ela ficaria confusa.
Pegando a mochila de Nari e fazendo o mesmo que a sua, seu último passo era acomodá-la em seus braços. Jimin pegou um casaco e começou a vestir a garota que ainda mantinha os olhos fechados.
- Papai?
- Continue dormindo, meu amor.
Mesmo com as palavras do ômega, Nari pareceu despertar mais e apenas abraçou fortemente seu pai quando o mesmo a agarrou. Com uma mochila nas costas e seus braços ocupados com Nari e sua bagagem, Jimin desceu as escadas sentindo cada vez mais forte uma fincada em seu ventre.
Hyunki estava sentado no sofá completamente esparramado e dessa vez um cigarro estava aceso em sua mão. Soltando a fumaça lentamente por seus lábios, ele encarou o ômega e a garotinha embrulhada em seus braços.
- Daqui um mês volte para assinar os papéis do divórcio - Hyunki comunicou antes que o ômega atravessasse a porta.
Jimin apertou a maçaneta da porta com força, seu interior se revirava com tudo que estava sentindo e passando. Seus olhos queimavam cada vez que piscava e somente voltou a si quando a brisa fria envolveu seu corpo. Olhando uma última vez para dentro da casa, onde passou longos dias de sua vida e anos que se perderam em apenas uma noite. As coisas nunca mais seriam como antes, sua vida estava fadada a vergonha e miséria assim que desse um passo para fora daquele lugar.
Hyunki não lhe deu um último olhar e nem voltou atrás em suas palavras, Jimin sentia-se aliviado por livrar-se daquela prisão que estava confinado por tanto tempo. Tudo que enfrentaria agora no futuro seria complicado, mas aquela escolha que nunca foi sua estava se encerrando hoje. De agora em diante todas as coisas que enfrentaria, teria que fazer por Nari. Sua filha nasceu em um casamento sem amor, a verdade foi que aquela relação nunca foi criada por esse sentimento e por isso chegava a esse fim fatídico.
•
O táxi parou em frente à estação de trem e o motorista ajudou Jimin com as duas mochilas pela dificuldade com a criança que dormia em seu colo. Essa era a única estação que funcionava tão tarde, mas o próximo trem que o levaria para sua cidade natal sairia apenas daqui duas horas. Embalando Nari em seu colo e tampando-a bem com o cobertor que conseguiu trazer, Jimin acomodou-se em um dos bancos vazios. A única luz que iluminava aquela noite que parecia ser eterna, eram lampiões suspensos no teto daquela pequena cabine.
Jimin mantinha seu olhar em um ponto fixo, enquanto sentia seu rosto congelar, ele esqueceu-se de pegar algo que ajudasse a cobrir a cabeça e seus lábios e nariz.
Mesmo com o intenso frio, o corpo do ômega suava lhe causando arrepios e enjoos. Seu interior do quadril para baixo latejava e ele sentia como se pequenas e afiadas agulhas espetassem seu útero. Era difícil dizer se suas roupas estavam molhadas por algo que escorria entre suas pernas ou se era apenas o banco frio e úmido pela temperatura baixa.
Agora era ele e duas crianças. Ele não tinha um lugar, não tinha dinheiro suficiente que os manteria vivos até Hyunki arrancar tudo de si. Ele nem sabia se quem ele procuraria quando chegasse em sua cidade natal ainda estaria no mesmo endereço. A ansiedade de não saber como estão as pessoas com quem cresceu e se elas ainda se lembravam dele.
Jimin sabia qual era a maior dúvida que martelava em seu peito. Ele só não sabia se queria torturar-se com a possível resposta para suas perguntas.
Nari mexeu-se em seus braços e isso fez o ômega a apertá-la mais em seus braços. O peso de ter pessoas que dependem de você por uma longa caminhada ainda o sufocava em desespero. Ele queria chorar, mas isso seria apenas uma perda de energia desnecessária.
Quando embarcou no trem, ainda faltavam algumas horas para que o sol aparecesse. Jimin acomodou Nari no banco ao seu lado, que seria mais confortável que seus braços na longa viagem que fariam. O ômega acomodou-se ao lado da janela enquanto uma de suas mãos segurava a pequena mão de sua filha. A paisagem que passava imperceptível na penumbra da noite, causava uma ansiedade maior no coração de Jimin. No mais tardar daquele novo dia ele teria que encarar o passado que deixou. Agarrar o celular no bolso de trás de sua calça, lhe tirou o fôlego, pois uma forte pontada atingiu todo o seu corpo. Curvando o corpo para frente ele abriu suas pernas e quando tocou perto da sua região íntima ele sentiu algo molhado. Como sua calça era escura não deixava a mostra, mas o vermelho que ficou em seu dedo após o toque deixava evidente o que estava acontecendo. Seu coração afundou em desespero.
Ele precisava ir ao banheiro, mas não podia deixar Nari sozinha e seria muito difícil levar sua criança consigo. Ele não sabia o que fazer. Tudo que podia fazer era esperar até seu destino sentado, sangrando e evitando ao máximo que seus olhos se fechassem.
A princípio ele estava pensando em fazer uma surpresa para seu irmão, mas agora ele não tinha mais tanta confiança se conseguiria chegar ao destino. Por mais que a exaustão e dor lhe deixasse desnorteado, ele agarrou o aparelho e buscou o contato que há muito tempo nunca se permitiu apagar. Não havia garantia de que essa pessoa ainda usava esse número ou se havia mudado, mas mesmo assim ele deixou uma mensagem na dúvida se haveria algum retorno.
Quanto mais desejava que aquela noite fosse embora, mais longa ela se tornava. Ele tinha que se manter são, mas era difícil quando tudo parecia piorar a cada segundo. A dor e sensação de que estava perdendo seu bebê e não podia fazer nada para impedir, lhe dilacerava. Havia três vidas que Jimin era responsável. Sua filha que dormia alheia a situação, seu filho que mal fez morada em si e já estava indo embora. E sua própria vida, que precisava deixá-la agarrada em qualquer coisa para que sobrevivesse.
Tudo que ele tinha era a vontade de viver, uma filha para cuidar e um passado deixado para trás, que teria que enfrentar no presente.
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