Cassandra respirou fundo algumas vezes antes de começar a andar de um lado para o outro na sala, em frente à mesa oval de vidro, apontando com o laser para todo o esquema que havia preparado para aquilo.

Ela sabia como vender ideias, trabalhava com isso há tanto tempo que deveria estar acostumada, mas, assim que terminou de falar, ergueu os olhos e encarou a cara de pouquíssimos amigos de Travis, a incredulidade de Lincoln e a devoção de Esteban - no caso, não por ela, e sim pelo homem a seu lado, Travis, já que ele estava literalmente com o queixo apoiado nas mãos, encarando o cara com tanta fixação que todos já estavam incomodados - ela notou que talvez fosse a pior ideia que já havia tido.

— Eu realmente não acredito que você no que você está me dizendo — Travis falou totalmente descrente. — Você está ficando louca?

Cass deu de ombros.

— Eu estou falando sério, eu já consigo juntar o útil ao agradável e ainda consigo provar que você é minimamente sociável. — Sorriu e ele ergueu as sobrancelhas sério. Lincoln franziu o narizinho de porco. — Confia em mim. — Apontou o laser para a cara dele e da garota loura nos painéis.

— Essa ideia é realmente ridícula — Lincoln pontuou um segundo depois, anuindo. Os ombros de Cass murcharam e ela se encolheu. — Acho que pode dar certo.

— O quê? — Cassandra e Travis questionaram ao mesmo tempo. A diferença era que ele estava estupefato e ela animadíssima.

— É, eu acho que pode dar certo — Lincoln continuou, observando Travis. — E será melhor ter uma loira bonita te encarando do que um cabeludo babão — respondeu, encarando Cass ao apontar para Esteban. — Quem é esse cara e por que ele não para de encarar?

— ¡Esteban, detenlo ahora! — Esteban, para com isso agora! Cass gritou, batendo na mesa e o rapaz piscou algumas vezes, se aprumando. Travis fez uma careta. — Desculpa, ele é meu irmão e está aqui para me ajudar. Esteban, leva essas coisas para outro lugar. — Apontou para o quadro e o rapaz se ergueu, forte e alto como só ele, e retirou os painéis de cabeça baixa.

— Adoro meus fãs — Havilliard afirmou e ela revirou os olhos.

Na verdade, ela sabia que nas duas últimas semanas praticamente todas as vezes que ela revirou os olhos foi por conta de Travis Havilliard. Desde que o pedido de desculpas para Fred Bones havia sido postado e ele, de forma bem imbecil, respondido, ela teve de aturar um ataque de pelanca que só um astro do rock era capaz de proporcionar.

Ela lembrava muito bem de quando apareceu a notificação de que Fred havia respondido e dito que iria lhe processar por danos morais e estéticos e Travis gritou um "PUTA QUE PARIU, QUE MOLEQUE DO CARALHO, EU VOU QUEBRAR O NARIZ DESSE FILHO DE UMA PUTA NA PAULADA JUNTO COM A CABEÇA DELE, VAI SE FODER!" tão alto que ela teve de colocar fones de ouvido enquanto ele xingava e xingava e xingava até se cansar enquanto ela desativava os comentários da publicação.

Ele falava bastante palavrão.

Mas a questão era que desde então ele havia "sumido".

Teoricamente, como uma profissional social media, ela tinha a missão de alavancar a carreira de Travis usando as redes sociais e internet e ela sabia muito bem que não tinha nada melhor para fazer isso do que com juras de amor eterno.

Então, eis a solução perfeita: porque não juntar um rock star não-tão-famoso-assim com problemas de socialização com uma pessoa nem um pouco talentosa e sociável-até-demais em um relacionamento amoroso tão verdadeiro quanto a melhora do comportamento de Travis?

Como ela gostava de rotular: camadas. Todas as pessoas precisavam de camadas e infelizmente Travis era totalmente capaz de ter as camadas sociais necessárias para ser minimamente agradável enquanto Kim Roxy tinha todas elas.

Ainda que, sendo bem sincera, se juntasse os dois não daria metade de uma pessoa realmente agradável. Não que ele precisasse saber o quanto ela era insuportável, mal-criada, mesquinha e desumildade logo de cara, mas, levando em consideração que ele virasse manchete por alguma coisa diferente do que ter jogado uma garrafa em alguém, isso já a deixava bem feliz.

— Ela é ótima — Cass mentiu quando Travis jogou a cabeça sobre a mesa, batendo a testa sobre o vidro de forma repetitiva. — Loira, alta, magra, linda demais! Com toda certeza vai dar notícia.

— Que notícia? — perguntou erguendo a cabeça com a testa avermelhada — Estrela do Rock é visto com loira desconhecida? Meu amor, daria notícia se eu estivesse saindo com a Scarlett Johansson, não com essa tão de Kim Possible.

— Kim Roxy — corrigiu. — Para de ser tão chorão, você não consegue ficar meia hora perto de alguém sem gritar e arremessar coisas, vai ser incrível saberem que você pode se relacionar com algum ser vivo. Ela pode não ser famosa, mas é uma pessoa.

Travis a encarou com as sobrancelhas em pé por um segundo e quando ela sorriu, pronta para ouvir sua argumentação contrária, Esteban bateu na porta e a abriu, sorridente.

— A Kim chegou — informou e Cassandra sorriu enquanto ele abriu a porta e Kim entrava.

Ah... Kim. Como descrever Kim? Bom, ela é basicamente perfeita, a Barbie só que de olhos verde-mel e uma cara enjoada. Bem enjoada, tão enjoada que dá vontade de dar uma tijolada na cara dela e Cass sempre tinha essa vontade, principalmente quando ela abria a boca e falava qualquer coisa, porque quase todas as vezes ela só falava abobrinha. Talvez dinheiro demais afetasse o cognitivo a tais níveis, pois sim, se além de beleza, se houvesse algo que Kim tinha, isso era dinheiro. Ela era tipo a Paris Hilton, uma socialite a fim de comprar fama, só que em um novo modelo.

Ela tinha o total de 0 de talento, 0 de carisma e 0 de graça.

O corpo perfeito, os peitos siliconados e uma cintura que era impossível ter conseguido de forma natural, o nariz arrebitado por uma rinoplastia, que era tão perfeito que ela só sabia que não era real pois tudo nela era perfeito demais. Os cabelos loiros iam até a altura dos seus seios e os saltos que usavam a deixavam mais alta que Cass, ainda que a latina fosse mais alta alguns poucos centímetros.

De repente a feição de Travis se tornou impressionantemente amigável.

Ela puxou uma cadeira e sentou-se sem olhar para a cara de ninguém e sorriu para Esteban de forma que fez Cassandra franzir o cenho, principalmente quando ele respondeu com um sorriso adulto demais, que por sinal também estava no rosto de Travis e Lincoln.

— Bom, essa é Kim Roxy — apresentou quando notou que a garota não faria isso. — Kim, esses são Travis Havilliard e Lincoln Ullmanov.

— Olá — respondeu com um aceno e seus olhos pararam por um segundo a mais em Lincoln antes de se voltar para Travis. — Então você é o Travis?

— É um prazer te conhecer — Travis disse e o sorriso de Kim se alargou. Seria Cass a responsável por juntar as pessoas mais insuportáveis que conhecia e torná-las toleráveis?

Kim estendeu a mão para ele e Travis beijou o dorso perfeitamente liso.

— O prazer é todo meu. — Seus olhos desceram por seu corpo, analisando a extensão das tatuagens que fechavam seu corpo até seu pescoço, então o sorriso perfeito que ele tinha. Kim jogou os cabelos para o lado, encarando Cass com a mesma cara de nojenta de sempre. — Então esse é meu novo namorado?

— Esse mesmo. — Kim pareceu ficar feliz. Travis ainda a encarava, assim como os dois outros homens na sala. Meu Deus, será que eles sabiam o quanto aquilo era nojento? — Travis? — Ele parou de secar Kim e encarou Cassandra com um sorriso. — E aí?

— Somos namorados — afirmou e Cass suspirou, sorridente e anuiu uma vez antes de sentar-se com eles a mesa e começar a mostrar qual era o plano e como todos ali iriam se sair extremamente beneficiados com aquilo.

Cass terminou a reunião com Lincoln e os demais e os levou até um café sofisticado não muito longe dali e, com a ajuda de Esteban, tirou fotos dos dois em um momento íntimo totalmente fabricado e, ao chegar em casa, as abriu no computador e observou a obra prima que havia feito.

Ela mordeu os lábios antes de puxar o celular e procurar quem queria na agenda, levando o celular até o ouvido, mordendo os dedos sentada no balanço do jardim. Demorou alguns instante antes de Patrick Wilson lhe atender, mas como sempre, sua saudação foi extremamente animada.

— Cassandra, mi amor! Como você está? — Cass sorriu dando impulso no balanço.

Patrick trabalhava basicamente vendendo fofoca. Eles haviam se conhecido quando ela vendeu uma foto "espontânea" de Nicki Minaj numa praia, proporcionando assunto por quase duas semanas. Desde então, eles mantinham contato e ela sabia muito bem que ele lhe devia um favor ou dois.

— Melhor agora por saber que eu tenho um amigo tão especial quando você, Pat. — O desânimo dele foi sentido mesmo por telefone. Pat suspirou do outro lado da linha e Cass sorriu. — Acho que não devo ficar enrolando para falar que preciso de um favor.

— Cass...

— Se eu te pedisse para publicar uma notícia sobre Travis Havilliard, você publicaria?

— Cass... — continou no mesmo tom, uma mistura de desânimo e súplica. — Esse cara tá afundado!

— Eu sei! Mas sério, eu preciso muito da sua ajuda exatamente para que ele saia desse poço. Eu juro que dou um furo sobre a Taylor Swift, eu sei que ela anda meio sumida.

— Ela sempre está meio sumida. — Não tinha como negar, de toda forma. Cass não respondeu, permaneceu em silêncio, aguardando a resposta de Pat. — Certo, me manda a foto e o tema da matéria, mas estaremos quites!

— Nós dois sabemos que falta muito para você ficar quite comigo, Pat, mas muito obrigada mesmo assim! — Ela o pode ouvir bufar novamente e desligou o celular animada, correndo para o computador para mandar o e-mail.

Se Pat tivesse lhe pedido uma matéria inteira, ela saberia o que escrever, mas ela jogou somente no assunto do e-mail a seguinte frase: "TRAVIS HAVILLIARD E KIM ROXY, ROCK STAR E INSTAGRAMER EM UM ROMANCE QUENTE" e ela sabia que aquilo seria distorcido de todas as formas possíveis, mas que Travis e Kim seria um assunto muito do comentado no dia seguinte quando aquilo vazasse.