8 - Nunca mais
Vamos em carros separados para um hotel próximo. Estou deitada no banco de trás com a cabeça apoiada no colo de Camila, ela acaricia meus cachos enquanto me explica como Luka a havia salvo da piscina logo depois de eu ter sido levada pelo helicóptero. E como Alex em apenas uma noite conseguiu um exército capaz de tomar uma cidade só para me resgatar da casa de Dante, algo que realmente deve ter sido difícil sem ter como me rastrear, e complicado já que Dante tinha mais de uma mansão.
Imagino o choque de Alex ao descobrir que seu iate havia sido roubado, sua puta sequestrada, DE NOVO , e que Dante, seu amigo de infância, havia feito tudo isso a mando de sabe-se lá quem (a velha escrota ou a vadia loira). E no fim que Dante gostava dele...
Não...
Esta última parte com certeza Alex já sabia. Ele viveu a vida toda ao lado de Dante seria impossível não notar ainda mais ele sendo tão observador.
Já no hotel eu tomo um banho, coloco um short e um top branco que provavelmente Alex havia comprado pra mim, pois estava como sempre dentro daquelas sacolas de compras típicas dele. Eu sinceramente não faço ideia do quanto ele está gastando comigo... Ou o dinheiro dele não tem fim ou ele simplesmente está querendo jogar tudo pelo ralo.
Eu estava sentada na cama ao lado de Camila quando escutamos ele chamar na porta:
-Ketlyn?
-Olha, esse cara só te meteu em problemas... Não é melhor acabar tudo e irmos embora? - Camila me diz com pesar no olhar.
Sim, era só ir embora.
Ele era só um cliente complicado.
Eu voltaria para casa, mesmo se ele não me pagasse aquela quantia enorme, afinal ele já gastou o suficiente por uma vida comigo. E continuaria a minha vida medíocre.
-Sim... Tem razão. - comento cabisbaixa.
-Ketlyn? - Alex ainda está na porta, mas não bate, apenas me chama.
-Deixe-me falar com ele. - peço.
-Juízo amiga... - ela se despede e abre a porta - Eu te odeio. - ela diz na cara de Alex, pois é eu não sou a única desbocada - Mesmo tendo salvo minha melhor amiga. - ela fala de cabeça erguida - Eu te odeio. - ela sai pelo corredor com passos firmes e entra na porta do quarto de hotel ao lado do meu batendo a porta com força.
Alex fica parado na porta com a cabeça baixa.
-É... Eu também me odeio, mocinha. - ele murmurou e eu não soube se era para Camila ou para ele mesmo - Não te culpo se também me odiar. - ele diz mais alto me lançando aquele olhar.
Aquele maldito olhar.
Em um flash na minha mente consigo me lembrar dele de joelhos na frente de casa no dia da festa.
Também lembro-me dele deitado na cama com a mão sobre o rosto falando sobre o que sua família controladora fazia.
E por fim, dele chorando quando Dante se suicidou.
Um nó se forma na minha garganta... Um sentimento de culpa.
-Você me odeia? - pergunto baixinho.
Alex arregala os olhos e entra no quarto devagar. Fecha a porta do quarto ainda parecendo incrédulo com o que eu perguntei.
-O que está dizendo? É lógico que não!
-Dante... - eu começo.
-Dante era um imbecil. - ele disse firmemente - E eu só fui perceber isso tarde demais. Isso foi tudo culpa minha. Prometi que nada iria acontecer e mesmo assim...
-Não pode confiar em mim perto de ninguém... Parece que sua família inteira me odeia. - digo cabisbaixa.
Ele se aproxima da cama e senta ao meu lado.
-Minha família é fodida Ketlyn... Acredite o problema não é você.
-Mas Dante... - começo novamente, eu não sei o que falar, mas sei que devo falar algo.
-Dante não tinha uma Ketlyn para fazê-lo enxergar além desse mundo podre que nós estamos presos. - ele acaricia uma mechinha do meu cabelo - Eu entendo se você me odiar, como a sua amiga...
Ele tinha razão, eu deveria odiá-lo.
Ele me usou, sua família me machucou, me sequestrou, machucaram minha amiga e tentaram me matar.
Era para eu xingar ele.
Jogar tudo isso na cara dele.
Mas no fundo eu sabia que nada disso era culpa dele... Eu simplesmente não conseguia...
-Já disse que entre nós você é quem comete os menores erros... Não foi sua culpa... - comento baixinho mais para mim mesma do que para ele.
-Diga que me odeia, Ketlyn. - ele sussurra - Por favor, torne isso mais fácil pra mim. - ele coloca um envelope em cima da cama e se levanta.
Não... Não...
NÃO.
De novo esse Alex abatido...
O que eu faço?
-Alex, o que é isso?
-Acho que só um de nós pode ter o que quer... - ele murmura ao abrir a porta e sair.
Eu estava paralisada na cama olhando desiludida para a porta fehada.
Eu estava... Triste?
Pego o envelope, nele havia 2 cartões de crédito pretos, um com o meu nome e o outro em nome da Camila. Havia também uma carta...
Mas que merda Alex!
Eu não queria ler PORRA NENHUMA.
Amassei a carta e joguei no chão.
Corro para a porta, quero sair correndo do quarto e abraçar Alex.
Quero dizer a ele que não estava fazendo aquilo por dinheiro e que realmente queria ficar com ele...
Não é mais por dinheiro...
Não é mais pelo sexo...
...
Eu estou apaixonada...
...
...
Pondero um pouco com a mão sobre a maçaneta.
Apaixonada por um cliente...?
Que besteira.
Ele vai apenas contratar outra puta pra fazer o que ele quer...
Largo a maçaneta, completamente derrotada.
Tento caminhar em direção a cama novamente, mas caio de joelhos chorando.
Sento no chão e abraço os joelhos.
Minutos depois Camila entra no quarto.
-Ketlyn o motorista está... - ela entra e me ve chorando. Não lembro qual a última vez que chorei de verdade. Eu não costumava chorar. Eu até lacrimejava, mas mantinha sempre a cabeça erguida. Porém, desta vez... Desta vez eu desmoronei - O que ele fez? - ela diz com raiva - Ketlyn o que houve? Está me assustando. Ele te machucou? O que ele disse?
-Cah, eu sou uma idiota...
-O quê? Por que isso amiga?
-Eu gosto dele. - confesso.
Eu estou irreconhecível. Derrotada, abatida, destroçada por dentro. Eu estou apaixonada por um playboyzinho filho da puta muito complicado.
-De verdade amiga? - Camila pergunta apreensiva.
-Você gosta do Luka? - perguntei esperando que ela soubesse o que eu estava sentindo.
-Bem... Ele foi um fofo... E salvou minha vida então... - ela olha para baixo tímida - Mas acho que eu não encaixo no mundo dele... Temos que ser realistas, amiga...
Suas palavras são doces, mas me acertaram como um tiro.
O tiro que Dante não me deu acaba de sair da boca de Camila e acertar direto dentro do meu peito dilacerando meu coração.
Desabo a chorar mais uma vez.
Era isso. Eu nunca mais iria vê-lo novamente. Eu não encaixo no mundo dele.
Pegamos os cartões, minha mochila me esperava no carro e o motorista de Alex nos deixou na rodovia perto de casa. Próximo ao ponto onde Alex me conheceu.
E eu me recuso a dizer que a viagem do hotel até a rodovia foram as piores 6 horas da minha vida unicamente porque havia passado a noite inteira sendo torturada por um viado psicopata.
Meus irmãos não estranharam que eu voltei mais cedo do estágio, foi só dizer que eu arranjei briga com o supervisor e eu e Camila fomos demitidas antes de sermos contratadas. Isso também explicava parte dos meus hematomas. Agradeço a melanina e ao estojo de maquiagem de Camila por cobrirem o resto.
Isso era a minha cara.
Ninguém suspeitou.
Não há motivos para suspeitar exceto pela minha expressão.
Sabe... Mesmo quando voltava de uma entrevista que não havia passado, ou quando era demitida, eu nunca voltava abatida. Mas dessa vez eu estava destruída.
-Ah minha filha, haverá outras chances. Você é tão jovem e inteligente... - meu pai diz estirado no sofá, babando e fedendo a álcool.
"Não pai, eu sou uma estúpida. Nenhum dos seus filhos é inteligente." refliti comigo mesma.
Eu ainda tinha o cartão que Alex me deu, mas, olha que gênio, EU NÃO SABIA A PORRA DA SENHA.
Provavelmente era isso que estava no caralho daquela carta maldita que a essa hora estava embaixo da cama de um hotel sabe-se lá onde.
QUE INFERNOOO.
Então é isso, volto para escola na quinta, porque quarta fiquei o dia todo na cama me martirizando, e não sabia o que fazer já que não fiquei também nem com o iPhone nem com o colar.
Estava pobre, cheia de hematomas, dolorida e triste. Acima de tudo, triste.
O que mais me doía era pensar nele.
-Amiga. Consegui nossos empregos de volta. - Camila falava animada comigo no intervalo, não havia nenhum conhecido por perto.
-Como assim?
-No dia que o bonitão do carro preto socou o Ricardo uns homens de preto levaram ele de lá e agora o ponto é nosso. A boate deve ter trocado de dono, o lucro da noite é sempre nosso agora. E tem muitos seguranças...
-Ah que beleza... Ele foi um bem feitor para o puteiro. - zombo.
-Que isso amiga. Vamos lá hoje ver como estão as coisas... A vida precisa voltar ao normal.
Eu era mesmo a mais velha? Camila era tão mais madura.
-Amiga me dê essa semana... Ainda estou cheia de hematomas, não to afim de apanhar de novo tão cedo. - brinco.
-Ok amiga.
Passo aquela noite chorando baixinho.
E a outra também.
E a outra...
...
...
O que você fez comigo Alex?
Essa não era eu.
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