18 - De castigo em Miami
Sei que vocês devem estar se perguntando o que eu vim faze em Miami. Bem, para começar isso não estava nos meus planos, e como vocês bem me conhecem eu não sou muito de agir pensando em plano... Mas deixe-me explicar.... Quando seu Ramón me tirou da cadeia... Espera vamos começar de novo... lembram-se quando eu fui levada do restaurante dentro de uma viatura?
Ok vamos começar daí:
-Espero que você saiba que está muito encrencada. – o gerente dizia no banco da frente.
E lá estava eu no banco de trás da viatura. Eu estava desmotivada a tretar, já havia descontado toda a raiva sem sentido na pobre da Ana Paula e só queria me martirizar por ter estragado as coisas com o Ramón, então eu só queria olhar pela janela como num vídeo clipe triste dos anos 2000 e pensar para quem meu faria a ligação quando chegasse na delegacia. E como caralhos eu iria explicar para Cintia o que estava acontecendo?
O policial me guia para fora da viatura pelo braço. O gerente do restaurante ainda está reclamando de algo que eu não estou prestando atenção. Sou guiada até o telefone enquanto o gerente vai preencher algo na recepção. Ele senta-se ao lado de um homem parrudo que também parece estar preenchendo algo. Eu fico parada em frente ao telefone sem saber o que fazer, quem chamar...?
-Ninguém tem o dia todo não mocinha. – a policial que me vigia diz com ar de autoridade.
-Nem precisa ligar para ninguém, acostume-se com esse lugar, pois é aqui que pessoas barraqueiras e sem classe como você devem ficar. – o gerente esbravejou enquanto terminava de preencher sua papelada.
Subitamente o senhor ao lado do gerente pergunta:
-Ketlyn? O que você faz aqui?
Bem, eu sou naturalmente um problema, a pergunta certa seria o que ELE faz aqui não é mesmo?
Todo os policiais do recinto olharam para nós e em seguida se entreolharam, pasmos. Visivelmente sentindo-se ameaçados.
-Ah tio... Bem eu tive um desentendimento no restaurante desse senhor... – eu gesticulei pro cara que já estava vermelho de ódio.
-Ah mocinha... Sempre arranjando problemas... – ele sorriu, levantou-se, ajeitou a papelada que estava preenchendo e entregou à moça no balcão à minha frente – Me informe a fiança dela e vamos embora.
-Sim, senhor Herrera. – a policial assentiu com a cabeça e recolheu os papeis.
-Espera isso não pode ficar assim!
-Aqui está, senhor Herrera. – outro policial surge do nada com alguns documentos e o seu Ramon rapidamente assina todos.
-Como assim? – o gerente ainda esbraveja – Pois eu vou pedir uma indenização de 20... não... de 50 mil por essa hipocrisia!
-Já esta liberada senhorita Ketlyn. Desculpe o transtorno.
Ah velho! Fala sério! Ser rico é jogar a vida no modo fácil... Tipo eu nem precisei falar nada, foi só ele aparecer com dinheiro que estava tudo resolvido. Ok eu entendo porque os ricos são tão arrogantes... Imagina o quão insuportável eu seria se tivesse vivido assim a minha vida toda?
-Vamos. – seu Ramón gesticulou para fora, em frente a delegacia um carro simples nos esperava, porém diferentemente de Alex, que possui um motorista para ir até na padaria, seu Ramón gostava de dirigir o próprio carro.
-Tio, o que o senhor tava fazendo aqui? – eu pergunto ao entrarmos no carro.
Ele se acomoda no banco do motorista, coloca o cinto de segurança e dá a partida em silêncio.
-Eu estava... – essa era a primeira vez que eu via o seu Ramon tão pensativo – Desfazendo uma coisa... Mas agora isso não importa, me diga... Onde você quer q eu te deixe?
-Ah bem longe daqui seu Ramon, longe de tudo. Eu não quero mais ver o Alex nem o primo dele, nem quero mais me envolver com nada disso. – Eu fico vendo o mundo passando pela janela e realmente não ligo para onde ele está me levando.
-Ai você me ganha no argumento. – ele sorri – Mas e a escola?
-A escola é uma droga, eu sei que eu sou uma sem futuro, acho que vou deixar para fazer o supletivo e pegar esse diploma depois e vou focar agora em trabalhar e sair de casa.
-E vai trabalhar onde com essa atitude? Vai voltar a se prostituir?
-É. – dei de ombros.
-E isso lá e vida, Ketlyn?
-O que você quer que eu faça?
-Tenha um trabalho honesto! E aquelas vagas que eu te coloquei?
-Sem chance... Não suporto os clientes das lojas, sempre mando eles tomar no cu, não consigo calcular as porcentagens dos descontos nem fazer o controle do caixa porque é número pra caralho e as supervisoras me xingavam o tempo todo. Aquela vaga de telemarketing também era outra bosta, clientes chatos, cálculos chatos... Se vai dar uma caralhada de desconto porque não coloca já um preço baixo nessa merda e me poupa de ter que ficar contando nessa porra! Aí me mandaram pro setor de registro e era só relatório o dia todo e reclamavam que eu não conseguia terminar de digitar a tempo. Enfim... Eu disse, eu sou inútil. Eu vou ficar onde eu faço o que eu sei fazer.
-E vai continuar apanhando e se metendo em encrenca pro resto da vida? E tem mais, se você trabalhar e não terminar a escola como você vai fazer faculdade?
Ele não podia ta falando sério.
-Primeiro que você ta doido se acha que eu passo numa faculdade.... E como eu vou pagar uma faculdade sem dinheiro? Primeiro eu tenho que trabalhar!
-Eu pago a sua faculdade se você terminar a escola.
Eu emudeci.
Não precisar me preocupar com dinheiro, sabendo que vem de uma fonte confiável do seu Ramon e que eu não precisaria mais me prostituir... Seria perfeito.
-Não conte aos seus irmãos, sei que cada um deles está batalhando de um jeito para alcançar seus objetivos. Todos estão em empregos honestos e a Hillary está estudando apesar de estar sempre fumando narguilé. Dona Cintia tem feito um bom trabalho com vocês. Logico que quando ela colocou DIU em você na sua irmã e na Camila eu fiquei com receio de vocês fazerem isso que você está fazendo agora... Mas é bem melhor do que ser expulso de casa como o Gerson não é?
-Seu dinheiro é para ajudar aqueles que prestam seu Ramón... Você não deveria perder seu tempo comigo... – eu disse cabisbaixa.
Ele estaciona na minha rua, posso ver minha casa daqui.
-Ok então você não me deixa outra escolha. – ele parece sério ao falar – Ou você termina a escola, ou eu conto tudo a sua família e deixo você apodrecer naquela prisão.
Eu dou risada.
-Mas você já pagou a fiança eu já estou livre, não estou?
-Eu te coloco de novo lá rapidinho e pelo tempo que eu quiser.
-Você não faria isso tio...
-Eu gosto muito de você e da sua família, não posso ver você destruindo sua vida desse jeito.
-Então você vai destruir a minha vida com suas próprias mãos? O que você acha que vai ter para mim dentro da cadeia?
-Eu vou te colocar em um presidio feminino de alta segurança onde você será obrigada a se comportar. Pelo menos sei que lá você não vai ser estuprada, não terá acesso a drogas e estará longe dos Druelli.
-Você não pode estar falando sério.
-É isso ou terminar a escola e ir para faculdade como uma pessoa sensata.
-Eu vou repetir de novo esse ano as provas finais estão chegando e eu não estudei para nada, é impossível eu passar esse ano! Mesmo se eu quisesse esse ano não dá mais tempo!
-Para tudo tem solução de você quiser Ketlyn. Só preciso que você faça essa escolha agora. Vamos contar a sua tia que você vai passar o resto da vida na cadeia ou podemos falar para ela que você vai para um intensivo de reforço em uma escola bem longe e só volta em dezembro para as provas finais.
-Resto da vida? Por ter arranjado uma briga no restaurante?
-Ketlyn você ainda não entendeu o quão sério eu estou falando aqui. Não me importo com o que você fez para ir pra cadeia. Eu posso te deixar apodrecendo lá mesmo sem ter feito nada. Você não esta vendo agora mas o que você esta fazendo está prejudicando não só você...
Afundei meu corpo no banco. Ele não podia fazer isso podia?
Porque ele não faz isso com a Hillary aquela noia filha da puta que vive fumando narguilé? De repente eu sou mais errada porque tava tentando trabalhar pra juntar uma grana?
ISSO É MUITO INJUSTO.
EU NÃO FIZ MAL A NINGUÉM!
Tirando claro a Ana Paula, as meninas do ponto q eu vivia brigando, os clientes com quem eu saia na porrada... Ricardo que provavelmente ta em uma vala (mas cai entre nós, ele bem que mereceu), a Camila que... Porra mano... A Camila quase morreu por minha culpa.
-E onde fica essa escola? – eu cruzei os braços e fiz um bico de criança mimada. Quem sabe de repente eu poderia convencer o seu Ramón de trazer a Camila comigo pra essa tal escola... Se bem que Camila já era muito inteligente, ela com certeza vai passar de ano.
-Não existe escola. Eu vou levar você comigo em minhas viagens de negócios enquanto contrato um professor particular e você vai estudar com ele em período integral.
Agora levar a Camila parece uma má ideia... Será que eu deveria contar pro Ramon que a Camila estava comigo esse tempo todo? Ela provavelmente vai voltar a se prostituir no ponto... mas sei que agora ela está segura. Ai que droga... que que eu faço agora...
-Ketlyn, você sabe qual é a melhor escolha. Não finja que é tão difícil.
E se eu fosse pra cadeia e o Alex me achasse?
Ele provavelmente tem tanto dinheiro quanto o Ramón e logo me tiraria de lá...
Essa ideia me motivou a querer mandar o seu Ramón a merda e falar "Me manda pra cadeia então, eu dou um jeito de sair de lá sem a sua ajuda!".
Mas... Depois do que eu fiz acho que Alex nem vai querer mais nada comigo, porque ele gastaria algum dinheiro com alguém que fez ele perder um contrato milionário...
Pois é, parabéns Ketlyn perdeu o bofe quando estava tudo bem de novo. Não pode ter um capitulo de paz na porra desse livro que já acontece alguma merda que separa eu e o Alex.
IMPRESSIONANTE!
Agora eu nem sei onde ele ta... E porque ele não veio atras de mim, e também não me tirou da cadeia, nem me ligou... Espera a bolsa nem ta comigo... Afez eu perdi a bolsa no restaurante? Eu não posso nem pedir conselhos pra Camila numa hora dessas? Eu estava tão estressada na delegacia pensando em pra quem ligar que eu nem percebi que estava sem o meu celular, se não fosse o seu Ramón lá eu nem teria como ligar para ninguém porque não sei o número de ninguém de cor.
-Por que está demorando tanto para responder Ketlyn?
-Porque eu sou uma imbecil que só vive estragando tudo. Eu estraguei tudo com o contrato com você, eu estraguei tudo com o Alex, eu estrago tudo na escola, fui presa... Eu não presto. E agora tem essa oportunidade e eu sinto que vou estragar tudo de novo e mesmo se eu conseguir... Mesmo se eu me formar e for pra faculdade... eu sinto que vai faltar algo. Porque o que eu queria... Eu...
-O que... O que você quer Ketlyn... Aquele bostinha do Druelli? Ah Ketlyn o que houve com você?
-Como assim tio?
-A Ketlyn que eu conheço não ia desistir do sonho por causa de macho não! – senti aquelas palavras como uma bofetada na minha cara, mesmo assim eu quis rir – Você se submeteu a prostituição para seguir seu sonho, você acha que eu não sei pra que você quer esse dinheiro? Você não é menina de fumar nem de beber como seus irmãos, e eu sei que o Gerson e o Wesley fumam maconha e aquela amiga de vocês Náthally é outra viciadinha de merda e sua irmã, a Hillary, logo vai cair na onda dela... Mas você Kety... Sei que mesmo deixando você nesse lugar você vai sair daqui sozinha, só que isso vai levar tempo e muito sofrimento, seria mais rápido se você focasse nos estudos e em controlar esse seu temperamento. É por isso que quero ajudar. – eu podia ver nos olhos do seu Ramón que ele dizia a verdade, ele era um pai pra mim - Agora... Você vai querer desistir disso por causa de um PAU? – ele enfatizou a palavra e eu cai na risada - SÉRIO KETLYN? – seu Ramón também falava gargalhando - De tanta bosta pra você se viciar nessa vida, nascendo nessa quebrada nos confins da favela você foi logo se viciar em macho? É o fundo do poço mesmo!
Rimos por mais algum tempo até ele se acalmar e dizer.
-Eu retirei a denuncia contra o seu namorado.
-Você o que? – eu perguntei sorrindo animada.
-Pelo visto realmente o cara é um bom rapaz. Mas é melhor se afastar dele pelo menos por enquanto. Foque nos estudos e passe nas provas. Depois conversamos sobre meu contrato com os Druelli. Ok?
-Ok. Definitivamente ok. Eu vou pra onde você quiser e vou estudar feito uma filha da puta até passar nessas provas. – eu disse alegremente.
-Ok então vamos pegar suas coisas, se despedir e você vai pra minha casa para estudar. – ele disse saindo do carro.
Não foi difícil convencer tia Cintia a me deixar ir para um internato, na verdade o difícil foi explicar para ela que não dava para internar a Hilary e o Wesley junto porque a escola era só para quem estava com notas extremamente baixas, e por mais que Wesley também fosse repetente as notas dele estavam altas esse ano pois ele estava motivado para finalmente passar (e não perder o estágio) (afinal ele não era repetente por ser burro ele era repetente por cabular pra fumar maconha).
Logo fiz minhas malas e fomos para a casa do seu Ramón, eu nunca tinha ido na casa dele, eu sempre o via pelo bairro e jamais imaginaria que a casa dos Herreras era grande e frondosa. Mas ele logo me explicou que a casa não era DELE, era da família dele.
Chegando lá ele diz:
-Tenho contato de muitos professores particulares, meus sobrinhos são bem mimados. Você pode estudar aqui em casa mesmo, eu tenho uma reunião de negócios e vou viajar por alguns dias.
-Ah eu não quero ficar nessa casa sozinha não senhor! Ta doido? Você disse que eu ia com você então eu vou com você!
Seu Ramón revirou os olhos. Um empregado logo me viu e comentou:
-Devo avisar a equipe de bordo para preparar mais um assento para a senhorita?
-É parece que sim... – seu Ramón disse com desaprovação no olhar – Vamos para Miami então... Vou receber investidores na minha casa de praia e você vem junto. Vou avisar o professor para nos encontrar no hangar em meia hora. Eu vou tomar um banho e encontro vocês depois. – seu Ramón disse ao se afastar de nós.
Logo minha barriga roncou.
Pois é eu não tomei café não almocei com o Alex, não comi nada com o Ramón... Tava o dia todo sem comer.
-Qual seu nome? – eu perguntei para o empregado de smoking muito chique, ele já era um senhor bem grisalho.
-É Genaro, senhorita.
-Oh seu Genaro a gente pode ir comer alguma coisa até o seu Ramón voltar?
-Claro senhorita, me acompanhe.
Depois de comer (muito) fomos para o jato particular da família Herrera.
-O primo do merdinha me ligou. Eu avisei que estamos indo pra Miami e que você não quer falar com ele.
-O que? Por que você falou isso? – Perguntei confusa.
-Porque você não quer. Você quer focar nos seus estudos mocinha. Depois você liga pra ele lá de Miami. Vamos entra logo. – estávamos na metade da escadinha pra entrar no jatinho.
Eu já estava começando a me acostumar com o luxo desse povo, mas nunca na minha vida eu tinha visto um avião de perto. Entrei deslumbrada, mas infelizmente não aproveitei nem um minuto da viagem e dormi na primeira poltrona que encostei. Dormi antes do avião levantar voo e acordei depois de já termos pousado.
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