Cupido Estúpido
❝A Change Is Gonna come ❞ part/10
Jason furtivamente sorria, com uma das mãos apoiadas na janela do motorista, e a outra no volante. A garota flamejante adentrava o Cadillac sem demonstrar afetação. Kiara não reagiu por conta do bilhete, ou tampouco pelo que ele disse a irmã.
Eles seguiram por todo o percurso até a escola, em silêncio. Sendo apenas distraídos pelo trânsito, a rádio local, e os pensamentos. Jason abria os lábios para dizer algo, mas sempre que via a ausência de interesse no rosto da garota, desistia de imediato. Estacionava na sua vaga habitual, ao lado dos carros dos amigos.
⎯ Podemos ter uma conversa, antes de você iniciar a sua jornada amedrontadora, com essa sua aparência de alma vagante? ⎯ falou em uma tentativa de atingi-la, colocando o carro em ponto morto.
⎯ Claro, que sim. Se o palhaço favorito pode atrasar o seu Show no circo escolar, eu posso concede-lo um pouco do meu tempo. ⎯ Devolveu a ofensa, deslizando a mão que já se encontrava na trava da porta. Ansiando para fugir, retirando por vez os olhos do lado de fora do carro, para finalmente fitar Jason ao seu lado.
A adolescente tinha facilidade em ignorar as pessoas, entretanto Jason aparentava odiar ser ignorado, apesar da sua conduta de tê-la ignorado por anos.
Jason afagou os cabelos, e fez uma careta que ela não sabia interpretar, se era um sorriso ou um sinal de condolências. Era quase como a face das pessoas que a visitavam na Holden.
⎯ Tenho uma confissão engraçada para fazer. Ela está me matando por dentro, como uma doença. ⎯ Ele se deu conta do que falou, e apertou os olhos repugnando as palavras. ⎯ Foi sem querer, não quis dizer isso.
Kiara fugou inabalável, continuando com a afeição de desinteresse, perscrutando o painel do carro. Aquilo era uma perda de tempo, Jason era uma perda de tempo.
⎯ Quando alguém quer confessar, elas normalmente vão a igreja, sabe? Lá tem reverendos que adoram ouvi histórias de adolescentes encrenqueiros como você. ⎯ Ela disse. ⎯ Eles podem até deixar você fazer um testemunho.
⎯ Não estou julgando você, mas quando pessoas querem morrer, elas não manipulam seus vizinhos, ou seus pais. Elas só morrem, sua sádica insensível. ⎯ Sua tonalidade era uma hostilidade de quem foi apunhalado.
⎯ Tá, faça sua confissão. Vou ser sua ouvinte fiel. ⎯ Diz de imediato, rendendo-se ao drama clássico de Jason por atenção. Não o suportando mais.
Ele respirou fundo, deu uma olhada pela vastidão de concreto do estacionamento. Pela sua visão periférica pode avaliar que a garota ao lado está muito impaciente, e apática em relação ao que ele tem a proferir.
⎯ Eu forcei o irmão mais novo do Dominic, o Troyie Bryant, para empurrar você na piscina. ⎯ Ele disse desenfreadamente, que fazera ela entender somente as frações de toda a frase. Kiara demorou apenas quatro segundos, para montar o quebra cabeça de palavras. Ela paralisou boquiaberta, e ele também paralisou.
⎯ Quê?! ⎯ Ela berrou.
⎯ Foi na festa dos veteranos, se lembra? ⎯ Jason tinha elaborado repentinamente uma inocência, forjada pela impotência, e o sentimento de culpa.
⎯ Não costumo ser afogada em muitas festas em que vou, Jason. Então sim, eu me lembro! ⎯ Disse o que era mais que óbvio, roubando a hostilidade que Jason possuía segundos antes.
Nos gramados alguns metros do estacionamento, os alunos passavam notando o clima negro no carro de Jason Resten.
⎯ Quando éramos amigos na infância, você não sabia nadar. Portanto, tendo conhecimento disso, pedi para Troyie afogar você. ⎯ Justificou ele, prendendo o ar temendo pela massiva e obscura atmosfera, que corrompia cada partícula de oxigênio, que habitava no carro.
⎯ Tentou me matar?⎯ gritou em um sorriso amargo, as suas mãos se exaltaram em um gesto de desequilíbrio.
⎯ Não, afogar. Existe uma diferença entre as duas. ⎯ replicou naturalmente, com quem explicava a diferença entre vermelho e azul.
⎯ Que diferença?! Eu poderia ter morrido. ⎯ Afirmou frustrada, sentido o horror passar por suas espinhas, pelo que a palavra Morte significava.
⎯ Você vive dizendo que quer morrer, não ia ser tão ruim. ⎯ Ele falha em amenizar a gravidade de tais palavras.
⎯ Mas, não antes de arrumar o funeral, idiota!
⎯ Você não ia morrer, esse não era o plano. O salva vidas do S.O.S Malibu estava lá. Nathan salvou sua vida, e fez uma respiração boca-a-boca. Contudo, de nada! ⎯ resmungou convencido de que era um ato benevolente, vociferando rispidez.
⎯ Fez isso para Nate me salvar? ⎯ ela sussurrou mansa, atónita.
⎯ Sim, você não ia falar com ele. ⎯ diz ele.
⎯ Eu poderia ter falado com ele, não precisava quase me matar para isso. ⎯ vociferou quase tão ríspida que ele, a poltrona rangeu com movimentos súbitos da garota.
⎯ Eu estava a poucos metros de você, não ia deixar você morrer. Quer dizer, não antes de dizer uma palavra com o amor da sua vida. ⎯ Jason falou debochado, vendo-a olhar como uma felina, pronta para arrancar todos os seus ossos.
⎯ Parabéns, Jason! Você é como todas as pessoas que eu desprezo nesse mundo. ⎯ disse baixinho repulsiva, controlando seus impulsos para não fazer algo do qual se arrependeria.
Kiara Anderson saiu do carro austera, batendo a porta do Cadillac. E aquela afetação que ela temia demonstrar dissipou-se, enquanto ela caminhava pelos gramados, rasgando o ar ao meio. Não dava para acreditar nele, Jason desconhecia o limite.
************
Aula de educação física, nunca fora uma das aulas favoritas da garota flamejante. Ela fazia questão de se sentar no gramado verdinho, fingindo alongar-se. Só para senti o cheiro da brisa, e observar a paisagem cheia de matizes.
Kiara tinha essa sensibilidade pela natureza, era umas das poucas coisas que fazia crer que estava viva.
Ela notava as garotas jogando futebol, distante de onde ela se alongava. Alyssa corria atrás da bola, como se sua vida dependesse dela, e talvez dependesse.
Os garotos do debate político disputando suas resistências, ao se lembrar de cada elemento periódico, quase sem ar nos pulmões, ao realizar os abdominais.
Ela encontrara Jason Resten no centro de um círculo, que os seus amigos formavam. Situado em uma grande distância dela, notando as garotas correrem pelo campo perseguindo a bola ⎯ Ou melhor dizendo, olhando as coxas das garotas.
Todos com a camisa do time, e diferente da metade que corriam, eles estavam ali. Gargalhando como um bando de canibais, sedentos por deboche e sarcasmo.
Jason falava algo e todos gargalhavam, afagava os cabelos, passava a língua no lábio inferior, e voltava a gargalhar. Não era atoa que Kiara o apelidava de Sereia da perdição, ele atraia as pessoas. Não precisava cantar, só precisava sorrir, e ele era um bom nesse departamento.
Andrew apontava o bastão de Hóquei para Jason, que obscenamente ergueu o dedo do meio em resposta.
Eles gargalharam, e Jason apanhou o bastão da mão de Andrew. O que eles faziam com um bastão de hóquei no meio do gramado?
Nesse momento Jason viu a garota flamejante sobre os gramados, o sorriso apagou-se no mesmo instante. Kiara desviou os olhos veloz, buscando por Alyssa em meio as garotas do futebol.
Ele parecia feliz para Kiara, não parecia ter se importado com a discursão que tiveram mais cedo, e isso fazia surgiu um ressentimento por parte dela.
⎯ Olá, Aisha Anderson. ⎯ disse Jason agachando-se ao lado da garota, apoiando o bastão no chão para se equilibrar.
Imprevisível, ela pensou.
⎯ Cansou do seu circo? ⎯ respondeu fria, observando Alyssa que implorava por algo ao Juiz ⎯ que era o professor Zackson da educação física. Kiara imaginou que antes do anoitecer, Alyssa irá ligar para ela fazendo alegações sobre o professor/juiz.
⎯ Eu dei uma olhada nos seus horários, e você tem uma aula a menos. Você pode me esperar, ou...⎯ falou o castanho com quem pedia uma desculpa tardia. Ele procurava por uma reconciliação, e o castanho tinha motivos para isso. Kiara é vingativa, e psicótica ao seu ver.
⎯ Sarah vem me buscar para irmos experimentar o meu vestido no casamento. Pelo visto, não é só você que tem um circo para orquestrar. ⎯ Ela continua se alongando, fingindo ter superado o afogamento induzido.
⎯ Desde quando Kiara Anderson experimenta vestido de casamento, com a irmã? ⎯ brincou, ainda equilibrando-se por meio do bastão. Ele viu a imagem dela se ajustar no meio daquele verde, que a inundava.
⎯ Desde quando prometi para minha família que seria uma boa garota, nessa época histórica na vida de Sarah. ⎯ Kiara virou a cabeça para um lado, e depois para o outro. Ela passa a mão nas gramas, alimentando a sensação aconchegante da natureza.
⎯ O que você vai fazer amanhã? ⎯ Perguntou ele. Sem nenhum interesse, perceptível.
⎯ Nada. ⎯ diz ela hesitante, franzindo os olhos desconfiados. Jason fica calado por um tempo, até determinar o que está prestes a dizer.
⎯ Tudo bem, amanhã resgatarei do seu tedio, e você me perdoa por ter agido como um cupido estúpido. ⎯ Sugere ele, seguro de que o segundo ato benevolente, é correto.
⎯ Sei que não devo falar um “Não” para os Resten, porque eles odeiam rejeição. ⎯ Kiara continua acrescentando uma mordacidade, retirando uns fios rosa do rosto, que dificultava sua visão. ⎯ Pode ir, e realizar todas suas piadas infames sobre meu comportamento, quem sabe eu consiga dormi com a sua conversa paralela.
⎯ É quem sabe, Lava Girl. ⎯ Jason efetuou uma piscadela, e sorriu. Forçou um impulso com o bastão, erguendo-se por completo. Estabelecendo uma posição empertigada, reluzindo a sua onipotência sobre a claridade do sol, que se estendia sobre Kiara e o campo. Fazendo uma sombra gradual cair sobre a garota.
A flamejante inclinou a cabeça, expandindo a pupila, fitando o sorriso singular, e o olhar castanho dele. Kiara abaixou a cabeça, continuando a passar as mãos na relva, recordando-se da frase que disse a sua governanta.
Ele é comum, não há nada de especial nele.
Talvez, houvesse algo de especial em Jason. Algo além de um físico atraente. Mas, ela não se daria o luxo de explorar.
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