Capítulo 4
Zombies descontrolados na cidade.
Lobisomens atacados por quererem defender os humanos.
A Patrulha Z de um lado para o outro a tentar conter os danos.
Os passos de Selene estava acelerados, quase tão acelerados como o seu batimento cardíaco. Ela só queria ir para casa e trancar-se para nunca mais sair. Detestava confusões. Detestava viver em Seabrook, onde os sarilhos pareciam brotar como ervas daninhas.
A personalidade calma e passiva de Selene fazia com que confusão e perigo a desnorteassem. Ansiosa, agarrou-se um pouco mais ao livro que trazia junto ao peito, como se aquilo a fosse escudar de algo.
Lá estava ela. Via-a pelo canto do olho, caminhando com presunção pela rua como se fosse tudo dela. De certa forma, era. Pensou em confrontá-la mas refreou-se, acelerando um pouco mais o passo até quase correr.
A ansiedade corroía-a. Sentia-se zonza quando se obrigou a parar antes que desmaiasse. Horas antes, estivera com Astra Wells na biblioteca. A loira estava transtornada e com razão. No treino de futebol, um dos zombies perdera o controlo... e atacara Wyatt. O lobisomem caíra e, apesar de afimar que estava intacto e ter falado com a namorada para assegurá-la que estava bem, acabara por desmaiar.
Ele estava no hospital e Astra mal conseguia respirar.
Selene não soubera exatamente o que fazer. Dera por ela na biblioteca, a um canto, os olhos fixos na estante em frente. Tinha os olhos inchados de choro e os lábios prensados numa linha fina. Quando erguera o rosto, Selene tivera vontade de se encolher.
- Não digas a ninguém que me viste neste estado. - dissera a Wells antes de lhe explicar o que acontecera.
Selene nada dissera. Limitara-se a sentar ao seu lado e ficar junto dela, mergulhadas em silêncio.
Horas depois, tudo o que queria era ir para casa.
Sentou-se à beira da estrada, ofegante. Estava com dificuldades em respirar e o peito ardia-lhe do esforço, o sangue fugindo lentamente do seu rosto à medida que o ar lhe faltava. Pestanejou fortemente, tentando focar-se, tentando afastar aquela sensação horrenda de que o mundo estava a desvanecer-se.
- Branwell. - ouviu chamar, ao longe - Branwell, respira.
- E-Eu não consigo...
- Selene.
As íris castanhas da jovem procuraram os da pessoa que a chamava. Focou-se nas mãos que lhe rodeavam os ombros, nos caracóis que lhe arrepiavam a pele do braço, no calor corporal que emanava na sua direção. Depois, focou-se no seu rosto e nos seus olhos.
- Respira. - repetiu Willa Lyckensen, encarando-a com seriedade, o rosto demasiado próximo do seu.
Levou alguns minutos mas conseguiu por fim acalmar-se, a respiração começando a fluir livremente. Encolheu os ombros junto ao peito e pousou a testa nos mesmos, sentindo o batimento cardíaco abrandar. Ao seu lado, a lobisomem sentou-se, observando-a num silêncio perturbador.
- Obrigada - agradeceu, educada - Estou bem agora.
- Ótimo. Parecia que ias morrer, Branwell.
Selene. Ouvira-a chamar pelo nome à poucos minutos. Não sonhara. Franziu o sobrolho, virando-se para encará-la.
- O meu nome é Selene.
- Branwell, certo? Selene Branwell.
- Prefiro que me tratem pelo nome próprio.
- Estou pouco importada com o que preferes.
A humana pestanejou. Depois, levantou-se, virando-lhe as costas. As sobrancelhas de Willa ergueram-se, o rosnado baixinho escapando-se dos seus lábios. Ao ouvi-la, Selene apressou o passo, um arrepio de medo percorrendo-lhe a coluna.
A lobisomem conseguia farejar o medo que dela emanava. Tentou refrear o impulso de segui-la e confrontá-la, incomodada. Ainda assim, o seu lado impulsivo sempre vencia e deixou-se levar por ele, correndo velozmente atrás da humana.
- Porque é que tens medo de mim? - questionou Willa, puxando-a pelo braço bruscamente.
O corpo magro de Selene cambaleou para trás com a força da lobisomem. Atrapalhada, soltou um gritinho, sentindo o chão aproximar-se à medida que caía.
Não caiu. Os braços de Willa seguraram-na com firmeza e Selene viu-se uma vez mais com o rosto demasiado próximo ao da outra.
- Porque é que tens medo de mim? - perguntou a Lyckensen novamente, arreganhando os dentes ao ver os olhos de Selene arregalarem-se.
- Andas a perseguir-me, nunca esboças um mísero sorriso e ages como se tivesses nojo de mim. - murmurou Selene em resposta, procurando soltar-se dela - Por favor, eu não quero incomodar-te, só quero ir para casa...
- Eu não... Não tenho nojo de ti.
Selene encarou-a, surpreendida. A forma como Willa se encolhera, os olhos fixos no chão, as mãos firmemente atrás das costas... As íris castanhas procuraram as dela, transtornadas.
- Não sou um monstro.
- Eu nunca disse que eras. - apressou-se Selene a dizer, abraçando-se ao livro que trazia na mão como uma boia salva-vidas- Nem tinha nada a ver com isso se fosses. És só...
- Assustadora. - rosnou Willa, de punhos cerrados - E aparentemente enojada.
- Tu sentes nojo de mim, já vi a tua expressão quando te aproximas de mim...
A jovem engasgou-se, a respiração prendendo-se na garganta. Em passos largos, Willa aproximara-se dela, fazendo-a recuar o mais que pode. Sentiu as costas embaterem na parede da casa mais próxima e engoliu em seco, observando a loba espalmar as mãos uma de cada lado da sua cabeça. As pupilas dilatadas encararam-na com uma intensidade assustadora, fazendo-a estremecer.
O que está a acontecer?
- O teu odor é doce demais, Branwell. - sibilou a Lyckensen, irritada - Doce como o mel e eu pareço uma estúpida abelha à tua volta.
As bochechas de Selene queimavam, o rubor assolando-lhe o rosto. Quando humedeceu os lábios, os olhos de Willa acompanharam-lhe o movimento, fazendo-a enrubescer mais ainda. As íris castanhas da lobisomem faiscaram, a fúria contida à medida que dizia:
- Pareço-te com nojo agora, Selene?
O silêncio instalou-se entre elas, tenso e palpável. Selene não era capaz de responder, a mente inundada do caos que Willa provocara.
Por breves segundos, a jovem tímida e reservada sentiu-se tentada em beija-la.
Depois, tão depressa como surgira, Willa afastara-se, virando-lhe as costas com um rosnado baixo...
E Selene viu-se sem coragem para a seguir.
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