Quentinho de felicidade
A atmosfera calma dentro do quarto de Selene contrastava com a agitação do lado de fora. Era estranho para ela estar, novamente, em uma espécie de prisão. Embora pudesse sair do quarto, não tinha autorização para ir além do palácio. Inspirou fundo, os dedos deslizando pelas penas de Aodh, admitindo que nem queria sair. Com seu pai atacando o povo e o rei de Eszter, permanecer ali era uma questão de segurança.
A chegada de Cedric a animou, fazendo-a sair da apatia e correr para recepciona-lo.
— Como você se sente? A ferida não dói? — questionou com um sorriso gentil que refletia o alívio de vê-lo bem e seguro.
— Estou bem. Não se preocupe! — respondeu deslizando o polegar pela boca macia, encantando-se com o tom rosado na face de Selene.
— Hoje você terá um longo dia antes do jantar no salão, em que a apresentarei aos cavaleiros da fortaleza.
— Hoje?! É necessário? A maioria me conhece... — Poupou-se de acrescentar que, com exceção de Tristan, os tais cavaleiros a desprezavam.
— De hoje em diante quero mantê-la ao meu lado o máximo que puder. — Inclinou-se para beija-la no rosto e manteve-se próximo ao dizer: — Também deseja isso?
— Sim... — sussurrou.
— Significa que passará a dormir no meu quarto, comigo?
Notando os olhos negros movendo-se dos seus olhos para sua boca, Selene engoliu em seco, também observando os lábios masculinos, um desejo novo e estranho revoando em seu ventre como pequenas e serelepes borboletas.
— Sim... — soltou baixinho, a palavra saindo sem controle, mas não se arrependendo dela. Gostava de adormecer com Cedric ao lado, do calor dos braços dele envolvendo-a em seu sono.
A boca dele aproximou-se mais e mais da sua, as respirações se mesclando, as línguas se tocando, macias, suaves.
Selene lançou os braços em volta do pescoço dele, puxando-o para baixo, enquanto se erguia na ponta dos pés. Toda vez que ele está perto, que a beijava, se sentia tão bem, com um calor irradiando a partir do seu centro elemental. Nunca sentiu nada do tipo preencher seu coração. Lembrava-se de quando sua mãe estava viva. O quentinho de felicidade, uma vontade de ficar sempre perto dele.
Ninguém era tão bom com ela a tanto tempo que não lembrava como é sentir amor, mas achava que era isso que sentia quando ele a abraçava e beijava. Abandonou de vez o desejo de sai da fortaleza, de morar longe do rei. Agora queria estar sempre ao lado dele, em seus braços.
~*~
A tarde um grupo de pessoas invadiu o quarto de Selene, que agradeceu mentalmente pelo ambiente conseguir comportar todos ali, circulando em volta dela como abelhas no mel, tranquilamente.
Além de empregados do castelo, que trouxeram caixas de joias para sua avaliação. Também havia o alfaiate real, Magnus, e seis de seus aprendizes, que tiraram suas medidas e apresentaram tecidos, rendas, botões e todo tipo de peça para produzir novos vestidos e peças íntimas.
— Cuidarei muito bem da senhora... Minha Rainha! — O alfaiate se corrigiu rápido, garantindo esfuziante: — Juro que todos no reino se curvaram a sua beleza! Cada aparição como esposa do rei e senhora de Eszter será memorável e sua beleza ficará eternizada na memória de todos os soldados.
— Trouxe os trajes prontos que pedi? A Rainha precisa de um traje para jantar no grande salão com os cavaleiros do Rei hoje — Patry indicou ansiosa, pois o rei só falou das peças prontas naquela tarde, após o almoço. Por pouco o alfaiate não tinha aparecido só com panos, o que faria Selene se apresentar com trapos.
— Sim, sim.
Magnus pediu que seus aprendizes abrissem o segundo baú que trouxe. De dentro tirou dois modelos.
— Sua dama de companhia indicou que, finalmente, iniciará suas apresentações ao povo. Então escolhi duas peças preciosas: Uma com as cores de Magdala e outra com as de Eszter — o homem soltou com um olhar especulativo. — O azul de seus olhos resplandecerá com essa peça.
Um rapaz esticou do baú uma longa túnica azul royal, todo tecido rendado com pequenas flores brancas na barra, bordas das mangas e marcando a cintura, os detalhes eram em um azul mais claro. Cores de Magdala.
— Combinará perfeitamente com joias e acessórios de safiras e ouro branco — Patry indicou.
De imediato dois empregados do palácio abriram apressados estojos com peças com as descrições dadas, apresentando-as para que Selene as escolhesse.
— Qual o outro vestido? — perguntou sem sequer prestar atenção nas joias reluzentes. Quando a aprendiz puxou a peça, antes mesmo de Patry dizer o que combinava, decidiu: — Irei com esse.
Pelo respiro alto e olhares aliviados, todos ali queriam o mesmo, só não tiveram coragem de impor que recusasse as cores de sua antiga casa. Se soubessem que desde sua infância Magdala deixou de ser seu lar, não teriam se surpreendido com sua decisão, Selene pensou com tristeza.
Deixando-se levar pela empolgação do alfaiate, depois pelas empregadas arrumando seu cabelo e escolhendo as joias para sua apresentação, Selene aos poucos foi dominada pela ansiedade. Queria agradar Cedric, parecer bonita. Mas, acima de tudo, queria que o povo gostasse um pouco dela, mesmo que fosse só por sua beleza e elegância.
Quando ficou pronta, se admirou no grande espelho colocado em seu quarto e não se reconheceu. Era estranho utilizar joias e trajes tão valiosos e elegantes. Essa estranheza aumentou seu receio de parecer uma boba da corte, sendo utilizada apenas para causar risadas de escarnio.
E a cada passo em direção ao salão real a sensação ruim, o revirar agonizante em seu estômago e o frio por seu corpo piorava.
Ao chegar à porta do grande salão parou para respirar fundo e tentar se tranquilizar. Insegura, lançou um olhar para o interior do recinto.
Estava iluminado por duas esferas e pela enorme lareira no canto, todas brilhando flamejantes. A iluminação resplandecia no traje e peças escolhidos por Selene, dando fulgor a longa túnica vermelha, de desenhos de rosas negras e detalhes em ouro, e as joias, o colar de ouro com um rubi ao centro, brincos e cinturão de gotas da mesma pedra.
Angustiada, estavaincerta se entrar no meio daquelas pessoas, que sempre rejeitou sua existênciae posição no reino, era o melhor a ser feito.
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