Não precisa ter medo
Selene piscou confusa, processando a informação.
— Impossível...! — balbuciou, olhando para as próprias mãos, pensando em quantas vezes tentou irradiar magia sem sucesso. — Desde a morte da minha mãe perdi a capacidade de curar...
Segurando o rosto de Selene entre suas mãos como se fosse algo precioso e frágil, a fez olhá-lo.
— Desde que chegou a Eszter tem emitido doses inconscientes de magia. Você me curou. Seu dom é extraordinário — indicou os dedos traçando os contornos suaves. — É por isso que insisto que deve ter aulas de magia. Para aprender a controlar e canalizar esse poder.
— Mas... eu... — engoliu em seco, sentindo um bolor crescente e lágrimas quentes se formarem no canto dos olhos. — Eu não consigo... A ideia de usar magia me assusta...
Foi atacada pelas lembranças dolorosas da morte de Myra, sua mãe, quando esta se negou o fornecer ao marido e ao feiticeiro o poder lunar que as duas possuíam. E da imediata e implacável pressão de seu pai e Mamba para obterem dela o poder, que esperavam ser tão forte quanto foi o de Myra. Só não tentaram extraí-lo a força porque a tentativa de fazer isso com Myra causou a morte precoce da rainha e, por consequência, a perda do que tanto desejavam.
Desde criança soube que seu dom, uma fonte de esperança e benevolência, era objeto de cobiça desmedida e morte. A magia que uma vez a envolveu com uma luz radiante agora a amedrontava.
— Não precisa ter medo — ele disse ao notar nos olhos e na voz dela que temia a magia que a tornava especial. — Ayala te ajudará a compreender e dominar seus dons. Seria uma bênção para Eszter e para você mesma.
— Não posso... ! — recusou trêmula.
Preparou-se para o semblante fechado e determinado, como todas as vezes que o enfrentou sobre aquele tema. E, no fundo de sua mente, também havia o receio de que agisse violentamente como seu pai.
— Não vou forçá-la a fazer nada que não queira — ele anunciou abraçando-a.
Recordando os comentários de Ayala a cerca do poder lunar, Cedric notou refletido no olhar dela o medo, a dor e o sofrimento. Sentimentos negativos que afastavam a magia presente nela. Era um erro insistir. E lhe devia consideração. Ela o curou e esteve ao seu lado após o ataque que sofreu.
A descoberta de que ela ficou ao seu lado durante horas o chocou e, somado ao fato que Selene tinha que pelo menos gostar dele para ajuda-lo, com magia e nos cuidados que vinha tomando nas últimas horas, percebeu que por muito tempo foi injusto com ela.
Mesmo com todos os motivos para desprezá-lo, ela o tratava com gentileza. Mesmo ele tendo colocado ela longe das acomodações reais, ela passou toda a noite ao seu lado para garantir que ficasse aquecido, protegido e cuidado. Tentaria ao máximo não errar novamente com ela.
— A decisão é sua, e eu a apoiarei, independentemente do caminho que escolher.
Sentindo-se acolhida, Selene o abraçou de volta. Pensou nos momentos em que esteve ao lado de Cedric, vendo impotente a ferida em seu peito, desejando ter de volta o poder da cura. Se fosse verdade, se o poder retornou, poderia usá-lo para ser aceita em Eszter.
Queria ter a força de espirito para tentar, mas o receio de falhar e ser punida eram mais fortes que suas boas intenções.
Ergueu a face, buscando o olhar de Cedric.
— Tem certeza... minha magia retornou...? — questionou hesitante.
— Nunca a perdeu — ele respondeu descendo as mãos pelas costas femininas, movendo-as até a cintura fina, por razão de: queria tocá-la um pouco mais. — E se treinasse adequadamente, poderia usar essa magia como uma eficiente armadura — indicou aproximando seu corpo do dela e inclinando-se para aspirar o perfume suave do cabelo loiro platinado.
— Tem certeza...? Faz muitos anos que a magia me abandonou... — Selene declarou baixinho, o coração acelerado, assim com a respiração, e os pensamentos vagos, afetada pela mão percorrendo devagar suas costas e cintura, enquanto a outra movia-se por sua nuca, emaranhando-se em seu cabelo.
— Garanto que você possui magia, Selene — declarou junto ao ouvido dela. — Um feitiço poderoso irradia de você, inebriante... abrasador... poderoso... — repediu acariciando o pescoço dela com o nariz, os braços apertando-a contra si.
Selene podia ouvir as batidas de seu coração nos ouvidos, sua respiração acelerada mesclar-se com a intensa dele. Observou os lábios dele. Ansiou que ele a beija-se e a fizesse esquecer as lembranças ruins, os temores em torno da magia que um dia a encheu de contentamento e risos compartilhados.
Deliciou-se ao ter o desejo atendido, quando ele inclinou-se e uniu seus lábios. Ergueu os braços, lançando-os em torno do pescoço dele, puxando-o para mais perto ao mesmo tempo em que se erguia nas pontas dos pés.
Gostava da sensação do corpo dele junto ao seu, da língua cálida de encontro a sua, dos braços envolvendo-a, das mãos tocando-a. Gostava de Cedric. Não sabia como, nem quando, mas ele tornou-se alguém especial, cativou seus olhos, infiltrou-se em seu mente, roubou-lhe o coração, fazia seu ventre se encher de pequeninas e brincalhonas borboletas.
Sendo dominado por sensações semelhantes, Cedric sentia os arrepios que a percorria, eriçando os mamilos contra seu peito, fazer o mesmo através do corpo dele. Queria torná-la sua por inteiro, beijá-la até necessitarem de ar, fazê-la gritar seu nome infinitamente. E nenhuma dessas vontades tinha qualquer relação com planos para seduzir e obter o poder dela, ou acordos políticos fadados ao fracasso. Queria Selene, puramente por desejo, simplesmente por ser ela.
Afastou-se o suficiente para olhar nos olhos dela, suas mãos ainda tocando-a com ternura.
— Selene... — Cedric sussurrou, a voz macia como uma carícia movendo-se no espaço entre suas bocas. — Venha comigo!
Encontrando o olhar intenso do rei e sendo envolvida em um abraço caloroso, como se ele quisesse protegê-la de qualquer mal que ousasse se aproximar, Selene não soube exatamente qual foi sua resposta ao comando. Mas seus pés o seguiram em direção a tapeçaria cobrindo a passagem que separava seu quarto das acomodações dele.
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