PRÓLOGO
I L I A N A
Fevereiro de 2012.
Disseram-me que naquela noite minha vida mudaria para sempre, e talvez isso fosse verdade.
Meu coração estava acelerado enquanto eu passava pelo tapete vermelho, todos aqueles rostos e câmeras voltados em minha direção. O sorriso parecia ter se congelado na minha face, eu acenava e torcia para que ninguém percebesse o quão suadas estavam as minhas mãos. Inspire. Expire. O mundo inteiro está te assistindo.
Você gosta disso, não é? Não é?
— Iliana, olha pra cá, por favor — alguém pediu.
Como um robô, eu obedeci. O sorriso de orelha a orelha jamais abandonava minha face.
— Você está bem, Lia? — Andrew me perguntou quando adentramos o Teatro Dolby.
Assenti mesmo sem ter muita certeza.
Ele me arrastou para um canto mais afastado antes que precisássemos procurar nossos lugares. Nós nos tornamos bons amigos depois de tantos meses gravando o filme que nos levou até ali.
— Lia, eu preciso ser direto com você. Você é latina, o que no geral significa que raramente pessoas como você chegam até aqui — Aquiesci, embora seus olhos muito claros me deixassem ainda mais inquieta. — É a sua noite, é o motivo pelo qual você batalhou todo esse tempo. Eu tenho certeza de que você vai ganhar
Eu poderia explicar para ele que não era esta a razão de eu me sentir febril e prestes a vomitar, mas eu não conseguia sequer formular uma frase decente.
— Andrew, eu não vou conseguir. E-eu não posso...
Eu não vou sobreviver.
As palavras seguintes morreram na minha garganta antes de sequer alcançarem meus lábios. Ele sorriu.
— Você está linda nesse vestido — Deu uma piscadela e saiu.
Respirei profundamente e olhei de forma involuntária para a minha roupa. Eu vestia bordô e me sentiria a mulher mais linda do mundo se não houvesse aquela sensação esmagadora de que eu estava presa.
Tantas pessoas ao meu redor, e mesmo assim eu me sentia sozinha. Ridiculamente sozinha, como eu merecia.
O sangue borbulhava na minha cabeça, mesmo assim eu procurei o meu assento. Sentei-me. Sorri. Fiz o que mandava o roteiro. Aplaudi. Meu corpo estava anestesiado e eu sentia que estava caindo cada vez mais para fora daquele mundo. Para fora de mim.
É o meu trabalho, repeti como um mantra.
É o meu trabalho.
É o meu trabalho?
Com o coração na boca, percebi o quanto eu estava tremendo. A sensação mortificante se alastrava pelo meu corpo, trazendo o sentimento de que eu estava paralisada, debaixo d'água. No palco, anunciaram as indicadas ao prêmio de Melhor Atriz. Meu nome foi pronunciado e eu ouvi os aplausos, mas o sorriso congelado em meu rosto havia ido embora.
Uma série de pensamentos cruzaram a minha mente. Lembranças, dor, as malditas fotos. Sucesso. Dinheiro. Prestígio. Mas a que preço?
Minha respiração ficou mais forte. Um nó subiu pela minha garganta quando cheguei à temida conclusão.
Eu já estava pagando. Não podia confiar em ninguém além de mim mesma.
Disseram-me que naquela noite minha vida mudaria para sempre, e naqueles três segundos antes do caos, percebi que não podia ficar para ver isso acontecer.
Se eu perdesse tudo, ao menos seria livre.
— O Oscar de Melhor Atriz vai para Iliana Mondragón, por A Beleza da Escuridão.
Ergui os olhos para o palco. O prêmio me esperava, as pessoas me esperavam. Eu só me dei conta de que estava chorando quando solucei, a decisão já tomada e as lágrimas quentes pingando sobre o meu vestido. Milhões de formigas andavam pela minha corrente sanguínea, mas elas não eram rápidas o bastante para serem menos dolorosas.
Eu me levantei. As palmas cessaram, os sorrisos engessados permaneceram. Olhei para o prêmio que tanto sonhei e precisei de todas as minhas forças para sair de onde estava.
Então, corri na direção contrária.
Não via um palmo na minha frente, mas sentia os olhares me seguindo, as câmeras, os sussurros se perguntando se era parte do show. Não era. Eu só precisava ir para bem longe dali, daquela vida, do destino que eu não queria mais para mim.
Entrei na limusine, tirei os saltos e o motorista me encarou, confuso.
— Srta. Mondragón?
— Aeroporto — Tentei não deixar as lágrimas me atrapalharem, minhas mãos tão trêmulas que eu mal conseguia mexê-las. — Vai!
Um par de faróis ligou atrás de nós.
Claro que era a imprensa, o mundo inteiro estava me assistindo.
E nesse caso, tomara que tenham tirado uma boa foto.
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