15 - Sua prima é virgem?
Precisei lidar a semana inteira com os olhares de reprovação da minha prima após enviar uma resposta negativa pelo WhatsApp à sua proposta indecente. Mas o que ela queria? Esse pedido foi muito mais do que posso dar, principalmente diante das circunstâncias que me foram impostas.
Jonas é meu melhor amigo. Achei horrível o fato de ele ter dado uma chance para Eloá no Réveillon por conta da ousadia dela em usar aquele vestido, mas agora eles estão ficando e eu me sentiria o pior canalha do mundo ao traí-lo.
Sem contar que ainda estou impactado com tudo que Eloá me contou. Definitivamente, não estou conseguindo encará-la por muito tempo. Não sei o que teria mudado se soubesse de todos esses sentimentos na época, mas não tenho dúvidas de que as coisas teriam tomado um rumo completamente diferente.
Não tenho o costume de fumar. Na verdade, acho um hábito péssimo, deplorável. Mas, desde que fiquei sabendo da motivação que levou Eloá a se afastar e me desprezar com tanta força, passou a fazer parte da minha rotina antes de dormir.
E se dependesse de mim, nem estaria aqui, mas passei dois meses distante da família, portanto, o mínimo que poderia fazer era aparecer no almoço de domingo. O problema é que decidiram fazer um churrasco na piscina, então nem pude me esconder no quarto de hóspedes.
Praticamente fui obrigado a socializar com meus primos. Por sorte, Eloá não veio. Ou ainda não chegou. De qualquer forma, tem um sofá distante da churrasqueira, no qual posso ficar em paz, ouvindo minhas músicas e refletindo sobre a vida.
— Tanto tempo sem me ver para ficar aí no sofá com essa cara de cu? — Vó Conceição bate com a bengala na minha canela, me distraindo dos pensamentos que insistem em rondar minha cabeça.
— Ah, vó! — Passo a mão no local em que levei a porrada. — Isso doeu! — Respiro fundo e percebo que ela está aguardando alguma resposta.
— Se continuar nesse sofá, distante de todo mundo, aí sim eu vou arrumar um problema sério para você. Já reparei que está esquisito desde o Réveillon. Viajou para Salvador sem dar qualquer justificativa e agora está aí, esquisito. Não gosto de te ver assim, prefiro quando se relaciona com esposas de anões e faz com que toda a família vá para a delegacia. — Afirma e eu dou o primeiro sorriso do dia.
— Já vou, Dona Conceição. Não estou me sentindo bem hoje, apenas. Mas logo vou, pode ficar tranquila que não vai precisar mais desgastar a bengala nas minhas canelas. — Ela sorri, faz um sinal de positivo com o polegar e anda até a piscina.
Mario e as gêmeas estão jogando vôlei na piscina, enquanto tia Viviane cuida da churrasqueira. Meu pai, tia Maria e tio Márcio estão deitados em espreguiçadeiras, fumando charutos e conversando. Minha mãe, tia Dorotéia e vovó estão terminando o molho e o arroz.
Encaro a todos e resolvo desobedecer minha a avó. Coloco os fones novamente e aperto o play. No modo aleatório, a primeira música que toca é "Sei Partir", do Baco Exu do Blues.
Não me prometa se não vai cumprir
Se for só uma noite tudo bem
Eu não sou frágil mas eu sei partir
Não dependo de ninguém
Do que você tem medo, parecia corajoso
Fala que me odeia, me procura de novo
Baby eu não sou cadeia, pode ir com essas vadias
Elas não te conhecem, volte final do dia
Escrevendo pra te tirar da minha cabeça
Tentando me lembrar do porquê de ter tanta certeza
3:33 'to saindo daqui
Mais uma madrugada não consigo resistir
(...)
— E aí, mano! — Levo um susto enorme quando Jonas me dá um empurrão no braço e sou obrigado a pausar a música. — Está fugindo de mim? Não te vi a semana inteira!
Eloá está ao lado dele e percebo um sorriso quase psicótico em seu rosto. Ela sabe que, apesar do não, a proposta me deixou desnorteado. Porque a verdade é essa: eu estou completamente desnorteado.
É que, por mais que odeie admitir, realmente é como se algo tivesse ficado pendente quando éramos mais novos.
Nos desejávamos muito, mas, depois daquela porra de gambá, combinamos não ultrapassar os limites. Ela nunca se importou muito com isso, já eu... cumpria a ferro e fogo.
Não é à toa que a procurei em outros corpos por anos. Talvez seja por isso que minhas cabeças, a de cima e a de baixo, deram um nó com tudo isso.
— Não estou muito bem essa semana, Jonas. — O encaro e resolvo cumprimentar minha prima. — Bom dia, Eloá. Percebo que vocês dois estão ótimos, fico feliz pelo casal.
— Ótimos. — Eloá responde com certo desânimo. — Vou cumprimentar os outros. Divirtam-se, vocês dois. — Ela fala de forma rude, dá as costas e segue em direção à sua mãe.
Assim que Eloá toma certa distância, Jonas se joga ao meu lado e bufa.
— Fiz questão de vir assim que fiquei sabendo que estaria aqui, Lucca, pois estou passando por um grande problema. — Respira fundo, como se estivesse cansado. — Me diz, sua prima já esteve com alguém? Digo, mais intimamente. — Ele é direto enquanto me encara, mas não esperava mesmo por isso.
Eu o encaro de volta e franzo uma das sobrancelhas, confuso com a pergunta.
— Está falando de quê? Vocês ficaram bem íntimos no show do Baco, pelo que me lembro. — Afirmo e ele sacode a cabeça negativamente.
— Sexo, estou falando de sexo. — Cochicha entredentes e eu faço uma careta.
— Do jeito que você tinha falado no Réveillon, imaginei que já tinham se relacionado. Você mesmo disse, lembra? 'Já fizemos coisas'... — Imito sua voz e evito a palavra "sexo", porque a proposta de Eloá ainda ronda minha cabeça.
— Sempre fica no quase, até antes de começarmos a ficar. Você tem noção do que é isso? Obviamente que não, porque te conheço como ninguém. Já vivemos muito juntos pra eu saber que não. — Ele joga a cabeça para trás e respira fundo. — Gosto da sua prima. Nos aproximamos demais e, poxa, ela é maravilhosa, mesmo, mas não sei se consigo continuar assim. — Respira fundo, genuinamente chateado. — Assim como não sou o príncipe encantado, também não sou professor... São dois meses sem nada!
— Você já sabia do jeito dela quando decidiu dar uma chance, Jonas. — O encaro com ar de seriedade. — Seria muito injusto e ridículo em muitos níveis da sua parte descartá-la por conta disso. Se fosse assim, não agisse com a cabeça de baixo no Réveillon e fosse atrás de outra. — Afirmo. Não é porque somos amigos que vou passar pano para suas atitudes escrotas.
— Se fosse assim, teria metido o pé no dia seguinte ao Réveillon, afinal, ela simplesmente sumiu no meio do show, esqueceu? — Afirma e eu assinto silenciosamente. — A questão é que eu gosto de contato, Lucca. Sexo, eu amo sexo. — Passa a mão no rosto. — E estou há dois meses sem. Vou explodir de tanta punheta, se continuar assim. Só que eu estou me apaixonando pela sua prima também, então estou completamente perdido e precisava muito do seu conselho... — Me encara, aguardando alguma posição.
Respiro fundo e o encaro de volta. Sei lá o que dizer, caralho. Faço jornalismo, não psicologia. Mas ainda bem que tenho uma lista de dicas baratas guardadas na mente.
— Dê tempo ao tempo. As coisas vão se ajeitar. — Respondo e levanto. — Às vezes ela só foi ferida no passado e está tentando criar confiança em você. Agora, por favor, pare de falar da vida íntima da minha prima, isso é... — Finjo cara de nojo para fugir da situação. — Vamos dar um mergulho e comer alguma coisa.
Ele bufa, concorda com a cabeça e levanta emburrado.
Que situação de merda! É uma me pedindo para ensinar como foder e o outro pedindo conselhos sobre sexo. Eles acham o que? Que escrevi o Kama Sutra?
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