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Robby queria fazer uma última sessão para se preparar para regredir para idades mais vulneráveis. Ele confiava totalmente em Miguel, mas algo em sua mente tinha dificuldade de se colocar completamente à mercê dos cuidados de alguém, provavelmente porque ele nunca havia sido devidamente cuidado. Por isso haviam combinado um sábado em casa, sem grandes distrações, apenas uma chance para Robby perceber que Miguel estava levando isso a sério e faria o que fosse necessário para seu bem-estar.
Robby regrediu para quatro anos, provavelmente a última idade antes que não pudesse se comunicar plenamente e tivesse mais dificuldade para entender situações mais complexas, dependendo assim muito mais do que antes de Miguel.
As coisas que o moreno havia encomendado finalmente chegaram e ele mostrou a chupeta ao Robby de quatro anos não tendo muita certeza se ele se interessaria ou se deveria guardar para o futuro. O objeto era rose gold e tinha um R da mesma cor gravado em um fundo branco e circundado por cristais incrustados. Possuía uma correntinha da mesma cor que terminava em um clipe para ser preso à roupa, também com as mesmas pedras. Robby ficou maravilhado e só andava com o objeto para cima e para baixo, mesmo tampado e preso ao pijama.
Na hora do almoço, Miguel fez a comida preferida de Robby, espaguete com legumes, para que ficasse mais saudável. Botou bastante cebola, tomate e manjericão. Robby comeu tudinho e fez uma bela bagunça, mas Miguel já estava preparado e só precisou tirar o babador e botar para lavar, enquanto o pijama permanecia intacto. "Docinho" Robby disse com a voz mais fofa que Miguel já tinha ouvido, e ele ainda se surpreendia como cada nova idade trazia mudanças tão claras.
"Agora não, Bambi. Mas na hora do lanche tem mousse de morango." Miguel disse, sabendo que era uma das sobremesas preferidas do outro e observando seus olhos brilharem como uma lagoa ao sol.
"Você quer brincar ou ver alguma coisa?" Miguel perguntou, e a carinha de Robby enquanto pensava era absolutamente apertável. O moreno estava exultante ao perceber que Robby não estava hesitando tanto ao dizer o que queria e se sentia mais confortável para tomar decisões e pedir coisas. "Brincar!" Robby respondeu, animado, e quando ele se cansasse, poderiam assistir a qualquer coisa que ele quisesse.
Miguel foi ao quarto buscar uma das coisas que havia recebido pelo correio e abriu a caixa de Lego bem à frente de Robby, se sentando com ele no chão para ter certeza que não ocorreria nenhum acidente e para ensinar a ele como manipular o brinquedo novo. Como era previsível, o Robby de quatro anos era tão esperto e inteligente quanto o adulto, e aprendeu como lidar com os pequenos blocos bem mais rápido do que Miguel esperava. Ele havia comprado um kit clássico completo, e se Robby tomasse gosto, compraria outros para expandir a coleção.
Os dois estavam brincando há quase duas horas, Robby queria montar uma fazenda e já tinham o celeiro, um trator, e agora estavam trabalhando na casa onde eles dois ficariam quando fossem "visitar bichinho", como disse o mais baixo. Miguel disse a Robby que queria fazer uma pausa para esticarem as pernas e para fazer algo para beberem, pois era importante se manterem hidratados. Miguel era um grande entusiasta de água saborizada, assim como Robby; agora restava saber se sua versão criança também acharia a ideia interessante. Miguel fez uma garrafa de dois litros de água com um pouco de limão, pôs gelo e ofereceu a Robby com um canudo, atento à sua reação.
Robby bebeu o copo inteiro e sorriu para ele, e Miguel perguntou se ele tinha gostado apenas para ter certeza de que ele não havia tomado só por obrigação e Robby acenou afirmativamente com a cabeça, dizendo que sim e que queria levar mais um copo para beber enquanto brincavam. Terminaram a fazenda depois de meia hora e Miguel instruiu Robby enquanto ele guardava tudo e dizia animadamente que da próxima vez queria fazer um castelo no meio de um lago.
Após guardar a caixa em um lugar seguro, Miguel ouviu a pergunta que vinha esperando há um tempinho. "Miggy, lanchinho?" Disse com a voz fofa, passando a mão na barriga para indicar que estava com fome, fazendo o moreno rir baixinho.
"Vamos, você quer ajudar?" O moreno perguntou já sabendo a resposta, e Robby foi atrás dele como esperado. Miguel cortou o pão integral em triângulos e fez um sanduíche para cada um, com muçarela, tomate, abobrinha e cenoura. Já que iam comer mousse, Miguel fazia questão que uma parte do lanche fosse bem saudável e nutritiva para equilibrar a alimentação. Enquanto isso, Robby ia botando a sobremesa nos dois potinhos cuidadosamente.
Miguel já estava preparado para limpar a bagunça e foi até mais tranquilo do que esperava. Deixou Robby sentado no sofá enquanto limpava a mesa. Ele queria ajudar, mas seu eu de quatro anos acabaria bagunçando mais ainda, então Miguel o distraiu botando Moana para ele ver enquanto arrumava tudo. Era delicioso ouvir a risada despreocupada dele, fazia tudo valer a pena. Quando terminou, ele se sentou para eles verem o resto do filme juntos e Robby chegou mais perto. Miguel sabia que ele queria abraços, e abriu os braços para ele se aconchegar a ele, com a cabeça deitada em seu ombro.
"Miggy, barco!" Robby apontava para a tela, animadamente. Miguel amava cada comentário que ele fazia, e já estava abrindo a boca para responder quando a campainha tocou. Ele estranhou muito, se estivessem esperando qualquer pessoa, não teriam iniciado uma sessão. Quem quer que estivesse do outro lado não era a pessoa mais paciente do mundo, já estava tocando pela terceira vez. "Já vai!" Robby gritou, e agora não tinha mais volta, não dava para fingir que não havia ninguém em casa.
Miguel se levantou e foi atender a porta, dando de cara com Johnny, para sua surpresa. Abriu apenas uma fresta da porta e disse, para tentar evitar um incidente desagradável:
"Sensei, que surpresa."
"É, eu andei falando com a sua mãe... posso entrar?" Johnny perguntou.
"Não é uma boa hora, sabe." Miguel disse, olhando para dentro e tentando ver onde Robby estava.
"Não me diga que vocês estavam..." Johnny perguntou, chocado.
"Não! E não seria da sua conta. Nós moramos juntos e... olha, só volta outra hora, ok?"
"Miggy?" Robby chamou com aquela voz que Miguel tanto amava, mas que era a última coisa que ele queria ouvir no momento. Apenas fechou os olhos, tentando pensar no que fazer.
"Diaz, abre a porta." Johnny disse, desconfiado, e Miguel não se moveu. "Diaz, abre a porta agora!" Johnny tentou forçar a porta e Miguel sussurrou, furioso: "para com isso, vai assustar ele!"
"Então sai da frente!" Johnny disse, empurrando a porta e conseguindo entrar na casa, vendo os dois vestidos, felizmente. Ao olhar para Robby, notou a chupeta rosa, e logo depois olhou para a televisão onde estava passando um desenho que ele não reconhecia.
"Que merda é essa?" Johnny disse, levantando a voz, e Miguel percebeu o medo no rosto de Robby, os lábios tremendo como se ele fosse cair no choro a qualquer segundo.
"Sensei, eu já disse que não é uma boa hora." Miguel disse, se posicionando entre os outros dois, e Robby imediatamente se escondeu atrás dele e segurou sua blusa com as mãos.
Johnny olhava a cena, perplexo. "O que você fez com ele, Diaz? Você drogou meu filho?" Perguntou, em choque. Miguel não lembrava da última vez que havia sentido tanta raiva. O homem que negligenciou e abandonou seu namorado, a pessoa mais preciosa e doce que ele já havia visto, tendo a cara de pau de acusá-lo em sua própria casa.
"Chega. Tentei ser educado e não adiantou, mas isso é demais. Eu nunca machucaria ele, nunca. Sai daqui antes que eu perca a paciência." Miguel disse, controlando a respiração e o tom de voz para não impressionar Robby ainda mais.
"Robby... vem comigo." Johnny disse.
Robby apenas abraçou Miguel mais forte e começou a chorar, fazendo Johnny perder a cabeça. "Robby, vem comigo agora!"
"Miggy, não faz eu ir, por favor. Prometo ser bonzinho!" Robby disse, chorando tanto que o rosto já estava vermelho.
Miguel se virou para ele e disse, baixinho: "confia em mim, ok? Vai pro quarto e fica lá até eu ir te buscar."
Robby foi para o quarto, evitando até passar perto de Johnny. Miguel esperou o barulho da porta fechando para ser mais claro.
"Isso é uma técnica terapêutica, sensei. Recomendada por uma profissional para lidar com os traumas que você e a Shannon causaram. Eu... você sabe que eu amo você e você é como um pai pra mim, mas o que você fez com ele..."
"Miguel, eu..."
"Não! Escuta. O que você fez com ele deixou cicatrizes que nunca vão desaparecer. E eu estou ajudando ele a cuidar dos ferimentos que ainda estão abertos. E você não vai atrapalhar isso. Fui claro?"
"Eu só achei estranho e achei que algo tinha acontecido." Johnny disse, ainda sem querer encerrar a discussão.
"Claro, e ia me acusar de abusar dele! Você enlouqueceu? Eu quero casar com ele! Ele é tudo pra mim, eu nunca machucaria ele. Só sai da minha frente antes que eu perca a paciência, a gente conversa outra hora."
"Desculpa, Miguel, eu... tudo bem. A gente conversa depois." Johnny disse, percebendo que havia ido longe demais.
Quando o mais velho saiu, Miguel foi para o quarto e encontrou Robby sentado no canto do cômodo, com as costas encostadas na parede e a cabeça baixa apoiada nos braços que abraçavam os joelhos levantados. Era como se ele estivesse tentando ocupar o mínimo de espaço possível e desaparecer.
"Robby?" Miguel disse, sentando no chão ao seu lado. "Fala comigo."
"Miggy, não me manda embora. Desculpa sujar o chão e fazer bagunça e ter medo de escuro. Vou ser bonzinho." Robby começou a falar de todas as coisas que tinham acontecido no dia, como se alguma delas pudesse ser motivo para Miguel chamar seu pai biológico para levá-lo de volta.
"Robby!" Miguel disse com firmeza, chamando a atenção do outro para si. "Eu não chamei ele aqui. Foi uma surpresa. Eu nunca deixaria ele levar você, ok? Ninguém, ninguém vai levar você. Você só vai embora se você quiser."
"Não, não, quero você, Miggy!" Robby disse, gesticulando muito e batendo na perna com as mãos.
"Então pronto. Essa é a sua casa, ok? Nossa casa. Você quer terminar o filme? Ou descansar?"
Robby estava claramente muito estressado para prestar atenção em qualquer coisa, então Miguel o ajudou a levantar e foram para o sofá, voltando para a posição anterior e apenas descansando um pouco. Miguel botou uma música relaxante para tentar acalmar os ânimos do outro, e em pouco tempo ele estava mais tranquilo, respirando normalmente e o choro havia cessado.
"Miggy?" Robby chamou, baixinho.
"Fala, bebê."
"Docinho?" Robby pediu, fazendo biquinho. E Miguel atendeu, claro, como faria sempre que pudesse.
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