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Robby ficou em êxtase quando voltou ao seu estado mental adulto e viu a fantasia, imediatamente perguntando se havia fotos. Miguel disse que não, que não queria tirar fotos sem a permissão dele porque não achava justa essa exposição. Robby beijou cada centímetro daquele rosto adorável, sem acreditar na sorte que tinha, e prometeu usar a fantasia de novo e deixar Miguel fazer um book inteiro. Usaria o batom dessa vez, já que não haveria doces envolvidos.
Miguel ficava de olho em cada pista da história de Robby, sempre atento a coisas que pudesse fazer por ele para lhe dar experiências que havia perdido. Em uma tarde após um almoço na casa dos Diaz - que agora incluía Johnny - e um relato sobre a época em que Miguel estava na escola, Robby se fechou. Respondia a tudo com muita educação e se esforçava para não demonstrar nada, mas o moreno podia ver a tristeza em seus olhos e o sentimento que estava tentando reprimir. Esperou estarem sozinhos para saber do que se tratava, e finalmente descobriu algo que sempre havia ficado curioso para saber: como alguém tão inteligente como Robby se tornou o adolescente que largou a escola para andar com criminosos juvenis, vendendo drogas e aplicando golpes.
Robby disse que era um ótimo aluno na infância, os professores gostavam dele e ele amava a escola. Mas com o tempo, foi se tornando uma tortura. Ter que ver os olhares constrangidos de inspetores e professores para ele depois de o pátio esvaziar, sem sinal de seus responsáveis. E depois, a permissão especial para ir embora sozinho, depois do dia em que sua professora ficou com ele até a hora da escola fechar e ninguém apareceu para buscá-lo, fazendo com que ele morresse de vergonha.
As peças de teatro, gincanas, esportes e feiras de ciência para as quais ele se dedicava tanto no começo e das quais amava participar, sempre se tornavam dolorosas no final quando ele era o único que não tinha alguém lá para aplaudir, abraçá-lo e elogiar seu trabalho. Depois que venceu um concurso de poesia aos sete anos e fingiu não estar lá quando o chamaram, para não ter que subir ao palco sozinho e ver os olhares de pena, ele simplesmente parou de tentar. No começo, apenas não participava de atividades públicas. Com os anos, foi parando de fazer os trabalhos, e enfim, deixou de ir às aulas.
E juntando isso à necessidade de comprar comida, pagar as contas e cuidar da mãe que estava afundada pelo vício em álcool e remédios, ele acabou achando mais útil usar o tempo que gastaria na escola ganhando dinheiro, como conseguisse. Aproveitou sua inteligência para aplicar golpes e conseguir dinheiro fácil sem recorrer à violência. Jamais teria coragem de machucar alguém, era muito sensível para isso.
Quando Robby terminou a história, Miguel estava chorando como uma criança, e se sentindo levemente culpado por fazer alguém que tinha sofrido tanto consolá-lo, mas ele não conseguia resistir, era doloroso demais saber que alguém tão doce e maravilhoso tinha tido sua luz apagada de forma tão cruel. Miguel se controlou, ficou a tarde toda abraçado à cintura do namorado no sofá e prometeu a si mesmo que iria reviver essa chama.
Ligou para Demetri e pediu um grande favor para ele e Eli. Os dois gostaram da ideia e disseram que não seria problema algum, mas a verdade é que Miguel sabia que daria trabalho e que os amigos eram pessoas incríveis por se disporem a investir tempo e esforço para ajudar ele e Robby. Miguel organizou tudo com eles, e então disse a Robby que se ele aceitasse uma sessão de regressão para os seis anos, teria uma ótima surpresa. Robby amava surpresas, não foi difícil convencê-lo.
Antes de saírem para a casa dos amigos, onde Robby teria aula de ciências com Demetri, tomaram café da manhã para que ele ficasse bem alimentado e pudesse se concentrar bem. Miguel sentiu um nó na garganta ao pensar em como devia ser ir para a escola com fome, e botou um ovo a mais na panela. Não na presença de Miguel Diaz.
Teve que explicar a Robby que ele tinha aulas em casa durante aquele ano porque Miguel estava precisando viajar muito a trabalho e não queria que ele se prejudicasse, então ele ensinava inglês e matemática, e Demetri ensinava ciências. No final do ano, Robby faria uma prova e poderia voltar para a escola na série seguinte. Robby ficou bastante contente em saber que Miguel se importava tanto assim e se envolvia tanto, e Miguel só queria colocar ele num potinho e proteger do mundo. Da próxima vez que ele visse Johnny e Shannon, ele teria que se esforçar muito para não gritar verdades nas caras dos dois.
Chegaram à casa dos amigos e Demetri disse que iam usar a mesa do jardim, para aproveitar a brisa e a luz natural. Robby amou a casa, era ainda maior que a deles, e apesar de amar a casinha em que vivia com Miguel, estava um pouco deslumbrado com o jardim e o quintal enormes. Miguel estava começando a pensar em se mudarem para um lugar maior. Ele ganhava bem trabalhando como engenheiro automotivo na empresa de Daniel e Robby também tinha um ótimo salário como gerente. Podiam começar a pensar em algo maior.
Eli disse que queria dar aula de artes para Robby e que seria uma atividade conjunta com a aula de ciências, e o mais baixo quase desmaiou de alegria ao ouvir aquilo. Ele amava aprender e estava adorando a atenção. Achou engraçado que Miguel quisesse ficar ao invés de ir se divertir, mas seu coração ficou quentinho por ter o irmão com ele dando todo esse apoio.
Demetri disse a Robby que antes de começarem, ele e Eli iam fazer um vaso de argila. Eli se sentou ao lado dele e mostrou a ele como podia manipular o material, ajudando e dando dicas sempre que era preciso. Depois de mais ou menos meia hora, estava pronto. Era pequeno, exatamente do tamanho necessário para o experimento, mas havia ficado bem feito e Robby perguntou se iriam decorá-lo quando a argila secasse.
Enquanto a argila secava, partiram para a aula de ciências. Demetri deu algumas explicações adequadas à idade sobre o que eram misturas e soluções, vendo a expressão de absoluta concentração de Robby e achando adorável. Melhor que isso só a cara de orgulho com que Miguel olhava para ele. Depois, disse que iriam fazer um experimento científico e tirou algumas coisas de uma caixa. Alguns filtros de café de papel, marca-textos coloridos, uma garrafa de água e dois jalecos brancos. Demetri e Robby vestiram os jalecos e Robby correu para perto de Miguel imediatamente.
"Miggy, olha! Sou um cientista!" Ele disse, todo orgulhoso exibindo seu uniforme. Miguel sorriu abertamente e respondeu: "uau, parabéns, Dr Diaz. Mal posso esperar pra ver o resultado!" Fazendo Robby soltar uma risadinha fofa e voltar para a mesa, pronto para trabalhar.
Demetri dobrou os filtros e pediu a Robby que fizesse listras com os marca-textos em volta deles, na ordem de cores que quisesse. Ele escolheu fazer rosa, azul, verde e amarelo no primeiro. No segundo, vermelho, roxo, azul e laranja. E no terceiro, amarelo, azul, vermelho e verde.
Quando terminou, pegaram o vasinho já pronto para decorar, e Robby o pintou de marrom e passou verniz com um pincel para que imitasse madeira. Botou um pouco de água dentro e Demetri disse para ele colocar os filtros com a pontinha dentro da água, como se fossem flores. Enquanto a água ia subindo pelo papel e misturando as cores das tintas em formas e padrões diferentes e coloridos, ele explicava para Robby o que estava acontecendo. No fim, tinham belas flores de papel, pareciam até pintadas à mão. Robby ficou maravilhado e ele e Demetri criaram um aperto de mãos especial para seu clube de ciências, e Robby disse que artistas também eram importantes e que deviam ensinar Eli também. E depois disse que queria ensinar Miguel também porque ele era o melhor irmão do mundo.
Depois de todo aquele trabalho, todos estavam com fome de novo e foram para a cozinha fazer sanduíches e suco. Robby amou se sentir útil e ajudar, dava para perceber que seu amor pela cozinha vinha desde a infância. Sentaram para comer e conversar, e Robby recebeu tantos elogios que ficou com vergonha e não tirou o olho da comida. Mas por dentro, estava amando, seu coração quase explodiu de alegria.
Foram embora quase 18h e Miguel estava dirigindo e prestando atenção no que fazia, mas estranhando um pouco o silêncio. Sabia que Robby estava feliz e tinha tido um ótimo dia, mas ele parecia pensativo, olhando para o vaso com uma expressão que misturava orgulho, deslumbre e algo melancólico que Miguel não conseguia identificar. Claramente havia achado lindo e admirava o que tinha feito, mas algo não estava certo.
"Que foi, doutor? Muito cansado?" Miguel perguntou.
Robby olhou para ele, depois para o vaso, depois para ele. Miguel podia sentir algo importante vindo, e parou no estacionamento do primeiro fastfood que achou, um McDonald's.
Se virou para o outro e demonstrou que ele tinha toda sua atenção.
"Miggy... se eu te perguntar uma coisa... você fala a verdade?" Robby perguntou, mordendo o lábio inferior.
"Claro, Robby. Prometo."
"Você gostou?" Ele disse, olhando para o vaso de flores de papel, inseguro.
"Eu amei, Robby. Você fez um trabalho lindo, fiquei muito orgulhoso de você!" Miguel disse, surpreso pela pergunta.
"Se eu te der... você vai gostar? Se não quiser ficar com ele, eu quero, não precisa mentir pra mim."
Miguel finalmente entendeu do que se tratava. Dos desenhos de Robby enfiados numa caixa velha num armário de Johnny, de todas as coisas que ele fez, deu a Shannon e ela escondeu em algum canto escuro.
"Ei, olha pra mim." Miguel disse, levantando o queixo de Robby com a mão e olhando em seus olhos. "É uma honra pra mim você me dar um presente tão lindo. Algo que você mesmo fez e com tanto carinho. Vou botar ele na estante da sala pra todo mundo ver como você é inteligente, talentoso e dedicado, ok?" Ele falou com a voz carregada de emoção, secando as lágrimas que caíram dos olhos do mais baixo. "Nunca duvide disso. Eu te amo muito e tenho muito orgulho de você. Você é perfeito exatamente como você é."
Robby deu um sorrisinho ao ouvir isso, e fungou de forma tão fofa que Miguel não resistiu a abraçá-lo, descansando a cabeça dele em seu peito onde ele podia ouvir as batidas de seu coração e se acalmar com o som do ritmo constante. "Também amo você, Miggy. Obrigado por me amar." Miguel o apertou mais forte ainda, devastado por saber que alguém tão doce podia achar que ser amado era um favor, algo que ele não merecia só por existir.
"Antes da gente ir pra casa, quer um sorvete? Já estamos aqui mesmo." Miguel perguntou, olhando para fora do carro.
"Pode ser milkshake?" Robby perguntou, timidamente.
"Pode ser o que você quiser, bebê." Miguel respondeu, pensando em muito mais que a sobremesa.
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Obrigada a quem estiver lendo, dois caps num dia porque é domingo, mas juro que vou sossegar kk 💝
Fic pra ThiamPack
E alo, Lobinhaa297
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