Estacionei o carro em frente a praça, peguei minha bolsa e entrei na primeira loja de construção que encontrei, era pequena e desorganizada, mas eu não tinha muitas opções e nem podia ser tão exigente.

— Bom dia!

— Dia moça — respondeu o homem de meia idade me fitando com interesse.

— Estou procurando um empreiteiro para reformar minha casa você conhece alguém?

— Empreiteiro? — questionou confuso coçando a cabeça.

— Sim preciso de alguém para reformar minha casa.

— Ah! Ocê precisa de um pedreiro? — perguntou mais uma vez.

— Não preciso só de um pedreiro, na verdade preciso de alguém que cuide da reforma para mim.

— Eu não conheço ninguém por essas bandas que cuida das reformas dos outros não moça.

— Tudo bem, vou continuar procurando — lamentei virando as costas e saindo do lugar.

Entrei na próxima loja que encontrei e a conversa foi bem parecida, nada de empreiteiro por aqui. Estava quase desistindo quando avistei uma loja de paisagismo sabia que era um tiro no escuro, mas estava ali não custava nada tentar.

— Olá! — disse entrando na loja e não encontrei ninguém. Fiquei parada no balcão admirando as flores e as plantas, eram lindas e muito bem cuidada, com certeza a pessoa entendia do assunto.

— Oi — cumprimentou uma mulher me surpreendendo.

— Oi — respondi no mesmo instante.

— Não queria te assustar, sou Joana em que posso ajudar? — perguntou com um sorriso simpático no rosto. Ela era a primeira mulher que encontrei até agora e parece ter a mesma idade que eu, está enxugando as mãos molhadas no avental, os cabelos pretos e enrolados estão presos num coque frouxo e os seus olhos castanhos são simpáticos, talvez eu esteja com sorte dessa vez.

— Você me pegou desprevenida, mas estou bem. Estou procurando um empreiteiro, será que conhece alguém?

— Está reformando a casa?

— Sim, preciso reformar a casa que herdei da minha avó?

— Quem era sua avó?

— Ruth D'avila.

— A Dona Ruth que morava logo no comecinho da cidade, claro que conheço, ela adorava comprar lírios, mas eles sempre morriam é uma pena. Fiquei muito triste quando ela se foi.

— Eu também — lamentei.

— Quer dizer que está reformando aquele mausoléu?

— Sim, sou arquiteta, já desenhei todo o projeto da reforma, pretendo deixar a casa mais moderna.

— Deus sabe como aquele lugar precisa de um toque de modernidade.

— Eu que o diga, mas será que conhece alguém para me ajudar? — perguntei voltando no assunto já que ela parecia ter esquecido.

— É mesmo esqueci que você precisa de alguém para cuidar da reforma.

— Sim, conhece alguém? — insisti mais uma vez estava desesperada.

— Não temos empreiteiro por aqui — lamentou.

— Sério? — indaguei pensando o que faria para reformar aquela casa sem ajuda de alguém experiente.

— Sim e eu lamento, mas talvez um faz tudo pode ajudar? — questionou arqueando as sobrancelhas.

— Faz tudo?

—Sim, eu conheço um que cuida de pequenas reformas. Ele é carpinteiro, mas também mexe na parte elétrica e encanamento.

— Você tem o cartão dele? — perguntei me rendendo ao tal faz tudo. Como profissional sabia que estava entrando numa enrascada sem precedentes, ninguém pode fazer tudo bem feito, na certa esse cara é um enganador de marca maior e vai me deixar com muitos pepinos para resolver, mas estou a uma semana na cidade e não encontrei outra pessoa para começar minha reforma, sendo assim vou ter que arriscar.

— Não — lamentou pensativa.

— Um telefone?

— Não lembro de cabeça, mas pode ficar tranquila que vou avisar que você está precisando de ajuda.

— Quando?

— Ele sempre aparece por aqui, fique tranquila hoje a tarde já converso com ele.

— Quer ficar com meu telefone e endereço.

— Não precisa, sei onde mora e ele conhece a casa da sua avó também.

— Então acho que vou indo, agradeço a ajuda e vou esperar o tal faz tudo.

— Até mais como é mesmo o seu nome?

— Manuela D'avila.

— Foi um prazer dona Manuela, venha mais vezes.

— Vou tentar, até logo — despedi-me saindo da loja e caminhando até o meu carro, coloquei os óculos escuros que deixei no suporte e segui de volta para casa mais animada, pelo menos agora eu teria alguém para me ajudar com essa reforma e na pior das hipóteses ele poderia conhecer mais outra pessoa e mais outra e no fim eu teria minha casa pronta para venda. O prazo com certeza deveria mudar, poucas pessoas trabalham num ritmo mais lento do que uma empresa de profissionais na qual eu imaginei quando estipulei um prazo tão curto. Mas eu daria um jeito de conseguir mais tempo.

Acelerei o carro quando enfim cheguei na rodovia que me levava de volta para casa, abaixei a janela e pela primeira vez, sorri maravilhada com a beleza daquele lugar. Admirei ao longe a praia deserta, o mar aparentemente tranquilo, as gaivotas que sobrevoavam o céu azul sem uma única nuvem e a calmaria que a pequena cidade reservava nessa época do ano. Não demorei para enfim estacionar na garagem de casa, tirei meus sapatos e deixei-os no carro. Ergui os braços alongando meu corpo e antes de entrar, decidi caminhar pela praia deserta. A casa ficava numa área mais isolada, talvez por isso seja tão tranquila, minha avó costumava chamar esse lugar de seu pequeno paraíso, as poucas vezes que estive aqui não me atentei nesse detalhe, era muito nova e não buscava esse tipo de sossego, na verdade costumava ficar entediada com ele, por isso evitava o máximo que podia ficar muito tempo. Porém, agora estou começando a gostar dessa calmaria, acordar sentindo a brisa do mar, caminhar na praia com os pés descalços só para sentir a areia molhada massageando-os enquanto você anda e o mais importante poder olhar o mar e pensar no que sua vida vai ser depois que sair daqui. Sei que não devo colocar tantas expectativas afinal estou aqui a trabalho, mas quando se está sozinha e com tempo é inevitável não pensar nas besteiras que já fez, principalmente nas amorosas. Sou um verdadeiro desastre nesse quesito, acho melhor nem lembrar delas agora, seria algo para me deixar deprimida.

— Melhor não — murmurei sozinha enquanto levantava-me da areia e seguia de volta para casa.

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