Pensamentos
Os membros da Toman decidiram deixar eu, Angry e os outros mais feridos da gangue afastados até nós estar 100% recuperados.
Porém, mesmo eu tendo que ficar de "repouso", estou neste exato momento tentando organizar algumas coisas do meu quarto que ficaram uma bagunça desde que voltei para casa. Enquanto coloco alguns livros na prateleira, escuto um som familiar: o som das muletas do Angry no corredor. Viro para a porta e lá está ele, parado na entrada.
Sorrio ao vê-lo.
— Entra, Angry. — digo, fazendo um gesto para que ele se aproxime.
Ele manobra suas muletas e se senta na beira da minha cama, soltando um suspiro cansado.
— Como você está? — pergunto, preocupado.
— Estou bem. — ele responde, mas posso ver a dor em seus olhos. — Só que minhas articulações ainda estão muito doloridas por causa do maldito Rindou.
Faço uma careta de empatia, lembrando do confronto com a Tenjiku.
— Eu sei, aquele cara realmente sabe como bater onde dói.
Angry dá um pequeno sorriso, mas seu desconforto é evidente.
— Você acha que isso vai demorar para passar?
— Infelizmente, sim. Mas você é forte, Angry. Vai superar isso. — digo, tentando animá-lo. — Se precisar de alguma coisa, sabe que estou aqui, né?
Ele acena, seus olhos mostrando gratidão.
— Valeu, Smiley. Só queria... você sabe, conversar um pouco.
Me aproximo e me sento ao lado dele na cama.
— Claro, vamos conversar. O que está pegando?
Ele olha para baixo, mexendo nas muletas.
— Só estou cansado de tudo isso. As lutas, as lesões, a tensão constante. Às vezes parece que não temos paz.
Entendo completamente o que ele sente.
— É difícil, eu sei. Mas temos que continuar fortes, um pelo outro.
Ele suspira, mas acena novamente.
— Você sempre foi o forte, Smiley. Eu só... eu só tento acompanhar.
— Não diz isso. — retruco, colocando uma mão no seu ombro. — Você é mais forte do que pensa. E juntos, somos invencíveis.
Angry levanta o olhar para mim, um pequeno sorriso surgindo em seu rosto.
— Obrigado. Eu precisava ouvir isso.
Dou um tapinha no seu ombro, tentando transmitir toda a confiança e carinho que sinto por ele.
— Sempre, irmão. Sempre.
Ficamos ali sentados, compartilhando um momento de silêncio e compreensão, sabendo que, apesar de todas as dificuldades, temos um ao outro para apoiar e seguir em frente.
Sei que Angry tem muito esse pensamento de que eu sou mais forte do que ele e ele é mais fraco. O que é ridículo e errado, afinal, Angry é forte demais, chorando ou não (mas principalmente chorando).
Não sei o que seria da minha vida sem o meu amado irmão mais novo.
— Você precisa desconstruir essa ideia de que você é fraco, mano. — falo e olho para ele. — Você acabou com os celestiais da Tenjiku sozinho! E ainda se acha fraco? Você derrubou os Haitani! Os Haitani!
— Posso até ter derrubado, mas depois perdi para o Kakucho.
— Deixa de besteira. — falo e dou um tapinha nas suas costas. — Vamos fazer assim, a gente esquece tudo isso e foca apenas na nossa recuperação. Pode ser? Posso contar com você?
Angry abre um sorriso, algo que é raro, e em seguida me abraça.
— Pode contar comigo, mano.
— É assim que se fala.
Estou no parque, aproveitando a tranquilidade do fim de tarde. O sol está se pondo, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Chifuyu está ao meu lado, conversando animadamente sobre alguma coisa engraçada que aconteceu na escola. Estou sentado na minha cadeira de rodas e o ouvindo com um sorriso no rosto, mas minha mente está longe.
Enquanto Chifuyu fala, meus pensamentos começam a vagar, inevitavelmente se fixando em Ran. Lembro do seu sorriso, aquele sorriso despreocupado que sempre me encantou.
Consigo quase sentir a textura macia do seu cabelo entre meus dedos, e a forma como ele balança levemente com o vento. Penso no seu corpo esguio, forte, como ele se movia com tanta graça e confiança. E aquele perfume... um aroma único que sempre me faz querer estar mais perto dele.
— Smiley, você está bem? — Chifuyu pergunta, interrompendo meus devaneios.
Eu rapidamente me recomponho, forçando um sorriso.
— Sim, estou bem. Só pensamentos aleatórios.
Chifuyu me observa por um momento, como se tentasse ler meu rosto.
— Tem certeza? Você parece distante.
Dou uma risada curta.
— Estou bem, sério. Apenas perdido nos meus próprios pensamentos.
Mas, dentro de mim, sei que não são apenas pensamentos aleatórios. São memórias e sentimentos que se recusam a desaparecer. Por mais que tente me convencer do contrário, uma coisa é clara: eu quero Ran de volta. E não é só um desejo passageiro, é uma necessidade que se enraizou em mim.
Observo o sol se pôr, sentindo uma determinação crescente. Vou fazer qualquer coisa para ter Ran de volta em meus braços. Não importa o que aconteça ou quantos obstáculos apareçam, estou decidido.
Enquanto Chifuyu continua falando, eu me concentro na minha resolução. Às vezes, a vida nos leva por caminhos inesperados, mas algumas coisas valem a pena lutar. E para mim, Ran é uma dessas coisas.
A tranquilidade do final de tarde me traz à memória uma coincidência interessante. Este é o mesmo parque onde Ran e eu costumávamos passar os nossos domingos. Eu me vejo claramente naqueles dias, em que o tempo parecia parar e o mundo ao nosso redor desaparecia.
Lembro de como nós sempre escolhíamos a mesma árvore, grande e robusta, com galhos que ofereciam a sombra perfeita. Eu me sentava encostado no tronco, e Ran se acomodava entre minhas pernas, encostando suas costas no meu peitoral. Era um dos poucos momentos em que ele abaixava a guarda completamente, se permitindo relaxar nos meus braços.
Seu cabelo, sempre longo, macio e com aquele aroma inconfundível, era um dos meus maiores prazeres. Eu passava meus dedos por entre seus fios, sentindo a textura sedosa e observando como ele brilhava à luz do sol que escapava por entre as folhas da árvore. Ran adorava isso. Eu podia sentir seu corpo se derretendo contra o meu, um leve suspiro escapando dos seus lábios a cada vez que meus dedos encontravam um novo caminho pelo seu cabelo.
— Você tem mãos mágicas, amor. — ele costumava dizer com um sorriso tranquilo no rosto e os olhos fechados em puro contentamento.
Esses momentos eram nossos refúgios, longe da agitação e das responsabilidades das gangues. Ali, sob aquela árvore, éramos apenas dois garotos aproveitando a companhia um do outro. A simplicidade desses momentos é algo que eu guardo com carinho no meu coração.
Volto ao presente, ainda sentado na minha cadeira de rodas, mas agora com Chifuyu ao meu lado. O parque está silencioso, o som distante das crianças brincando e o farfalhar das folhas ao vento.
— Smiley? — Chifuyu me chama, me trazendo de volta ao presente.
— Sim? —. respondo, tentando esconder a melancolia na minha voz.
Ele não insiste, mas há uma compreensão silenciosa em seus olhos. Talvez ele não saiba exatamente o que estou pensando, mas entende que são lembranças importantes.
Enquanto fico ali, a saudade do Ran aperta meu peito. Aquelas tardes de domingo eram mais do que simples momentos... eram a personificação do que tínhamos, do que éramos juntos. E, apesar de tudo o que aconteceu, eu ainda guardo a esperança de que possamos voltar a ter isso um dia.
O sol está se pondo, assim como fazia naqueles domingos. E, por um breve momento, fecho os olhos e quase posso sentir o peso familiar do Ran contra o meu peito, o perfume do seu cabelo e o calor do seu corpo. Esses são os fragmentos de felicidade que me mantêm firme, mesmo nos momentos mais difíceis.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro