Capítulo 9
Duas semanas se passaram desde os últimos acontecimentos que ele presenciara. Duas longas semanas que pareciam uma eternidade onde cada dia uma nova surpresa surgia, as vezes ruim. Contudo, permanecer ali havia se tornado fascinante, mas nem todo deslumbramento dura para sempre, infelizmente.
— Melanie! — Ryan bradou enquanto endireitava a gravata defronte ao espelho.
— Sim?! — vociferou do outro quarto. Melanie estava terminando de pôr as vestimentas na criança.
— Você não vem se arrumar?
— Já estou indo! — disse.
Ryan deu uma última olhada para si através do espelho e suspirou. Em seguida, seguiu em direção a cama e assentou-se pensativo. Olhava a aliança disposta em seu dedo anular esquerdo e se perguntava onde tudo isso iria levar. Começou a girar a aliança no dedo e, nesse mesmo instante, Melanie adentrou o quarto.
Ryan meditava no passeio que haviam feito. Eles tomaram sorvete juntos, levaram Matt ao parque, esse acompanhado dos amigos; tiraram algumas fotos e, de quebra, um conhecido dele, não tão conhecido assim, surgiu oferecendo emprego na área de administração empresarial, que era e continua sendo o seu forte. O seu emprego nada mais era do que ser gerente de uma loja de artigos diversos, mas o salário era bem diferente do que os próprios empregados da empresa de seu pai recebiam. Melanie e Ryan tinham sorrido imensamente pegando o cartão com a parceria e agradecido a Deus pela oportunidade dada.
— Querido? — Melanie o chamou e ele saiu de seus devaneios.
— Sim?
— O que anda passando por essa cabeça?
— Ah! Eu só estava pensando no dia em que fomos dar um passeio.
— Ah, foi um dia tão maravilhoso! — exclamou risonha — Pois havia tanto tempo que não fazíamos algo tão divertido em família — proferiu à medida que ele abaixou o semblante, um pouco entristecido.
— Eu sou tão ausente assim? — perguntou.
— Não é isso. É que com a chegada de Christian as coisas ficaram mais apertadas, e antes você trabalhava mais, assim não sobrava muito tempo.
— Entendi. — Suspirou. — Vá se arrumar para irmos para a escola dominical, senão vamos nos atrasar.
— Okay. Já estou indo. Não irei demorar.
Realmente ela não demorara a banhar-se e, cerca de sete minutos depois, ela já estava arrumada. Ryan assim que a contemplou, sentiu perder o fôlego ao vê-la tão bem vestida e muito bonita, deixando-o enciumado. Melanie se encontrava trajada com uma blusa lisa na cor bege e uma saia com pregas por toda a sua extensão, um pouco abaixo do joelho, na cor vermelha, além de uma sapatilha de tom rosado fosco. Quanto aos cabelos, encontravam-se presos num rabo de cavalo o que a fez parecer uma garota pelo look.
— Vamos — respondeu, levantando-se da cama. — E a propósito, você está muito linda.
— Obrigada, querido! — Esboçou um sorriso encabulado.
— Linda demais para ir à escola dominical. Não é melhor colocar uma roupa mais simples não, assim só eu terei o prazer de olhá-la. — Cruzou os braços, arqueando a sobrancelha. Ficara verdadeiramente enciumado de vê-la assim. Ah! Como ele gostaria de vislumbrar essa cena por horas, dias ou talvez pela eternidade! Não que isso não tenha acontecido, mas aquele instante foi avassalador. Nunca olhara para alguém como ele a olhava. E não se tratava de desejo, mas de uma paixão que em breve se transformaria em amor, um amor que posteriormente iria sofrer dificuldades e a dor que sentiria o faria verter lágrimas.
— Deixe de coisa! — proferiu, boquiaberta, pegando a Bíblia.
Enquanto Melanie foi ao quarto pegar Christian e a sacola dele, além de chamar seu irmão Matt, Ryan desceu para pegar as chaves da casa e assim que o fez, destrancou a porta da frente e depois pôs as chaves no bolso, inspirando e expirando da forma mais tranquila possível, sentindo que seria um dia cheio.
— Vamos, querido? — Melanie o chamou a atenção para que ele abrisse a porta, pois ele nem se deu conta de que eles já estavam o esperando.
— Ah! Certo, Mel. — Colocou a Bíblia debaixo do braço e pegou a sacola da criança, colocando a alça sobre o ombro.
— O que pensavas? — questionou, ela, concurvando a sobrancelha, assim que saiu na varanda.
— Em nada. — Trancou a porta e se retiraram.
A congregação não se situava tão distante da casa deles, mas era preciso andar cerca de quinze minutos para chegarem lá. No caminho, Ryan deu a sombrinha para Melanie a fim de que a criança não ficasse exposta ao sol em demasiado, apesar que ainda era cedo e o solzinho da manhã sempre fora uma ótima fonte natural de vitamina D.
— Querido, não precisa! — retrucou, Melanie, com a sombrinha em mãos.
— Ryan, por que tem uma mulher vindo em nossa direção toda sorridente? — Matt indagara ao olhar para frente e contemplar a desconhecida, com um sorriso de ponta a ponta, indo até eles. Melanie e Ryan não haviam se dado conta dela por estarem distraídos até Matt questionar. Com um vestido de barra azul sem mangas, um salto não muito alto e coque desajeitado, Layla se aproximou deles sem discrição.
— Ryan! — Acercou-se com um sorriso provocativo e o abraçou, porém ele não devolveu o abraço, antes, empurrou-a com os olhos semicerrados.
— O que pensas que está fazendo? —indagou, irritado.
Com toda certeza, Mel observou sem compreender coisa alguma, bastante zangada pelo atrevimento da estranha mulher. Ryan percebeu que ela a mirou de cima a baixo, logicamente percebendo o qual sensual era, deixando-a intrigada. Quem era ela? Como conhecia seu esposo? Perguntas assim devem ter matutado em sua mente, cogitando coisas insensatas. Já Layla, não se intimidou por ele estar com a esposa, aproximando-se de seu rosto e sussurrando em seu ouvido.
— Vim para buscar-te, meu bem. —E afastou-se.
Creio que Melanie deve ter buscado manter o controle dos nervos por estar com a criança no colo.
Ryan fitou Layla, furioso por tentar intimidá-los, e segurou no ombro esquerdo de Melanie, puxando-a para si.
— Vamos, amor.
Eles passaram por ela, que talvez tenha ficado séria e mui aborrecida por ter sido ignorada e rejeitada. Ryan não olhou para trás em nenhum momento.
— Ryan, quem era a destruidora de lares? — Mel questionou bastante séria.
— Não ligue para isso. Aquilo é um demônio encarnado que veio para me atormentar — respondeu, porém ela não o compreendeu e retrucou:
— Como não ligar? Aquela aprendiz de Dalila te abraçou e ainda teve a ousadia de falar-te algo e eu quero saber o que foi. Por acaso você me traiu? — Arqueou a sobrancelha, mirando-o em demasiado e quase parando de andar.
— Não... O quê? — Arregalou os olhos. — Não digas tal coisa. Eu amo você! Jamais faria isso. — Ryan ficou um pouco nervoso e exaltou os ânimos, alterando a voz, sem dar-se conta de suas palavras.
— E por que essa inquietação então? Eu quero saber o que a filha da Jezabel te disse. — Encarou e proferiu entre os dentes. Ele observou a sua expressão de indignação e sentiu seu coração apertar, porquanto não desejava perdê-la de forma alguma.
— Ela disse que tinha vindo me buscar. — Evitou olhá-la nos olhos. Não quis dizer, mas não conseguiu não falar. — E não precisa usar todos esses termos para qualificá-la.
— Não importa. Te buscar para quê, Ryan?
Assim que ela questionou, eles se depararam com a igreja. Ele fitou Matt que se encontrava cabisbaixo e calado, apressando os passos ao encontro dos amigos, então, percebeu que haviam verbalizado demais na frente dele.
— Em casa conversamos — falou, por fim. Ao aproximarem-se dos irmãos, saudaram com a Graça e paz de Cristo Jesus, e depois Ryan mirou Melanie que permanecia com um semblante triste, conversando com uma senhora, mas ela mal sorria.
(...)
Após a escola dominical, antes de irem embora, Ryan sentiu novamente um aperto no peito ao mirar a esposa, que estava a conversar com alguns irmãos. Ele levou a mão ao peito e cerrou o punho, incomodado, mas sem entender o que havia. Ajeitou a alça da bolsa de Christian no ombro e foi em sua direção, tomando a criança para si, fazendo com que Melanie descansasse os braços. Ela, despediu-se dos irmãos e se acostou a ele, chamando por Matt que permanecia brincando com alguns meninos.
— Matt, vamos! — Ouviu sua irmã o chamar e acenou para os garotos, dando tchau, em seguida, acercando-se da irmã.
Ryan percebendo que ela iria retrucar sobre o que tinha acontecido no caminho de ida, falou ao seu ouvido para não mencionar nada por causa de Matt e ela assentiu calada. Ao chegarem em casa, Matt correu para o sofá e ligou a TV para assistir desenho animado. Mel não questionou como sempre fazia, pois ela não apreciava que ele assistisse alguns desenhos por serem bastante turbados de enredo; antes subiu à escada indo em direção ao quarto, um tanto aborrecida. Ryan suspirou, com a criança no colo, e foi atrás dela.
Ele entrou e a viu enxugando algumas lágrimas, estando sentada na quina da cama, de costas para ele. Ryan se aproximou da cama e pôs a criança, que dormia, no centro do colchão. Depois, achegou-se a ela, pondo uma das pernas apoiada ao colchão, e a abraçou por detrás, depositando um beijo em seu ombro. Melanie tentou ignorá-lo e pela primeira vez Ryan não se dispôs a soltá-la de seus braços.
— Amor! — Assim chamou, da maneira mais suave possível, a sua atenção, porém ela continuou cabisbaixa. Suspirando então, ele se desvencilhou e volteou, acocando-se em sua frente, tocando em seu queixo para que ela o olhasse; e assim aconteceu. — Eu sou o seu esposo, porém eu não sou eu, me entende? — Dito isso, Melanie balançou a cabeça em negação. — Fui trazido para cá, para Berseba, por um homem no qual eu creio ser Deus ou um Anjo; e de início fiquei muito confuso. Eu, na realidade, só te conheço por cerca de um mês, mas parece ser uma eternidade e eu sinto que eu te amo. Por incrível que pareça, é esse o sentimento que ressoa em meu coração; e aquela mulher que vistes é realmente um espírito ruim e ao mesmo tempo não. Ela tentou me tirar de Berseba, no entanto, eu não quero sair daqui. Eu amo estar aqui, com vocês. Eu sou o seu Ryan e ao mesmo tempo não sou. Deus me trouxe para cá para ter um encontro real com ele e...
— Já chega Ryan! — Melanie o interrompeu e bradou, fazendo com que seu coração apertasse e lágrimas começassem a se formar em seus olhos. — Você está agindo como um louco! Isso não é possível — bradou, gesticulando. — Tudo em nossa volta é real!
— Eu sei! — vociferou, levantando-se. — Eu sabia que não ias compreender isto — murmurou. — Eu não tenho nada com aquela mulher, não mais — acrescentou.
— Como assim, não mais? — Melanie se exaltou.
— Isso foi no passado, eu nem te conhecia! — Tentou abrandar o tom de voz.
— Agora entendo porque senti a necessidade de orarmos pela nossa família — proferiu, erguendo o pescoço, deslumbrando o teto por alguns segundos.
— Podias ao menos acreditar em mim. —E a encarou, tristonho.
— Como acreditar? Falastes um monte de coisas sem nenhum sentido! — bradou, gesticulando. Ele, no entanto, preferiu calar-se, visto que ela não o entenderia. Ali era real, para ela e para os demais. Não para ele. A seu ver era apenas uma outra realidade na qual deveras não vivia, não ainda.
— Eu vou tomar um ar fresco. — Decidiu se retirar do quarto por estar nervoso em demasiado. Seu coração permanecia acelerado e, ao sair, permitiu que lágrimas fossem vertidas em sua face, mas logo tratou de enxugá-las por ver Matt subindo os degraus.
— Por que vocês estavam discutindo? — questionou.
— Ah, é... Coisas de casal, Matt. E só estávamos conversando, só isso. — Passou por ele.
— Para mim vocês discutiam. Ninguém grita numa conversa.
— Que seja. Depois converso contigo. — Ryan falou e desceu indo em direção a porta principal, abrindo-a e se assentando no passeio da pequena varanda, cruzando as mãos em volta do joelho.
— Estás triste? — Ouviu uma voz que para seu desgosto era a de Layla. A criatura ainda estava ali.
— Pensei que já tivesse me deixado em paz. — Suspirou, passando a mão no rosto em sinal de desespero.
— E deixar você ir tão facilmente?
— Escute aqui. — Ryan se levantou furioso e apontou o dedo indicador para ela. — Eu sei que estás tentando destruir a minha família, mas você não vai conseguir!
— Será que não? — Layla questionou com um sorriso malicioso no rosto, na qual ele franziu o cenho devido a sua expressão e, antes que ele se desse conta do que estava acontecendo, ela o beijou, contragosto, pondo as mãos em volta do pescoço de Ryan, segurando com o máximo de força que possuía, enquanto ele tentava largá-la.
— Ryan! — Escutou a voz desesperada de Melanie e já embargada. Então, Layla o largou, vitoriosa, pois sua missão acabara de se cumprir.
— Melanie! — Volteou o olhar, mirando a esposa indignada e chorosa pela cena presenciada, sentindo um desespero tomar conta de si, permitindo seus olhos lacrimejarem. — Eu não...
Continua...
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Olá, pessoal! No Próximo capítulo as coisas entrarão num novo rumo. Preparem os corações! :)
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