Capítulo 8
— O passeio ainda estar de pé? — Melanie questionou, risonha, creio eu que tinha a ver com declaração de outrora de seu amado. Duvido que ela não ficou sem entender o porquê de ele dizer "estar apaixonando-se" e não que "é apaixonado" por ela.
— Com toda certeza! — Ryan sorriu, apertando os lábios e fitando-a, em seguida.
— Agora vamos orar.
Melanie estendeu as mãos para que ele as segurasse e assim ele procedeu. Depois, ambos fecharam os olhos e começaram a orar por eles próprios.
— Senhor, Deus, querido Pai que está nos céus. Nesta hora, viemos a ti, primeiramente, para agradecer por tudo o que tens feito em nossas vidas e por tudo o que ainda farás. Grandes são as tuas misericórdias para conosco; elas não se findam¹. Rogamos a ti pela nossa família; por proteção, por bálsamo em nossas vidas. Guarda a vida de Matt e abençoe-o nos estudos. Que a sua vida seja também para se dedicar a ti. Toma o nosso pequeno filho em tuas mãos, o qual já foi apresentado a ti antes mesmo de nascer. Que nós, como pais, venhamos educá-lo em teu caminho que é puro e verdadeiro. Que ele cresça com saúde e graça.
"Ache graça de nós, Senhor! Entrego a ti o nosso casamento, que, por mais que exista algumas turbulências, esta aliança tem estado firme a cada dia, pois foi firmada em ti, Ó Pai.
Não sabemos do amanhã nem o que ele nos trará, mas porque tu vives é que cremos nele. Estende as tuas mãos sobre nós e nos guarda das paixões mundanas, dando-nos visão espiritual para podermos discernir o bem e o mal. Faz-nos escapar do laço preparado pelo inimigo, pois tu és o que quebra o arco, corta a lança e lança os cavalos no fogo.² Todavia seja feita a tua vontade e não a nossa. Seja como tu queres e não como nós queremos. Pois sei que tudo podes e nenhum dos teus planos podem ser impedidos ainda que tentem frustrá-los.³ Amém. — Terminaram em uníssono.
Admito que se recordar até mesmo de uma oração tão encorpada como essa, só poderia ser obra divina. A primeira vez que li esse relato, surpreendi-me com cada detalhe descrito. Nenhuma memória conseguiria guardar tantas informações assim, com tantos pontos importantes bem detalhados, se não fosse Deus quem o tivesse feito. Digo isto até mesmo das ministrações feitas e ouvidas por ele.
Enfim, Melanie respirou fundo e abriu os olhos, fitando Ryan e ele fez o mesmo. Segundo um espaço de tempo intermediário, foi mostrado a ele o que se passava com ela para vir a desejar orar pelo casamento. Ela, em alguns momentos até, no meio da oração, sentira apertos e pressentimentos ruins ao olhá-lo, porém havia agido de modo que não transparecesse. Estas sensações já a incomodavam de antes, desde o dia em que ele vira aquela mulher em visão.
— Ryan, eu te amo — disse e sorriu.
(...)
Noutro dia, acordaram no mesmo horário de sempre, onde Ryan pôs o lixo para fora enquanto Melanie foi dar de mamar a Christian e trocar a fralda. Já Matt continuava a dormir por mais alguns minutos, porém logo mais seria necessário despertar para tomar banho e se ajeitar a fim ir à escola.
De volta ao quarto, Ryan observou suas próprias vestimentas no guarda-roupa e suspirou.
— Por que é que não temos um carro? — Ryan indagou, indignado, à medida que vasculhava uma roupa para vestir-se após o banho.
— Porque o vendemos! Já esqueceu? — respondeu, Melanie.
— Por que motivo vendemos? — questionou, fitando-a com o cenho franzido.
— Você quis vender e desde que bateste a cabeça nem sequer mencionou sobre comprar outro. — Esboçou uma faceta. — E aliás ainda continuas a agir como se não memorasse absolutamente nada.
— Okay, okay. Faço questão de comprar um carro, mas tem um pequeno problema: —Ryan parou e ela o encarou esperando que ele prosseguisse. — Fui no mercado há algum tempo e o meu cartão estava bloqueado.
— Fazer o quê no mercado? — questionou, com os olhos estreitos, ignorando o fato de seu cartão está impedido de ser utilizado enquanto ele abria a boca para dizer algo, mas a fechava de imediato, apreensivo em como se expressar. "Mulheres", ele ponderou.
— Ah, é... Comprar algo — disse, de forma abrupta, e ela semicerrou os olhos, desconfiada. — A única coisa que eu sei é que necessitamos de um carro. Você já se cansa o suficiente, tendo que cuidar de Christian, o que inclui em absolutamente tudo, ademais tem Matt que nem adolescente é, ainda. — Encarou-na. — E parece que eu estou de férias do trabalho, então até posso te ajudar em alguma coisa enquanto eu estiver em casa.
— Eu sei, querido — disse. — E odeio quando falas como se não lembrasse de coisa alguma. — Virou o rosto e cruzou os braços, zangada.
— É porque eu não lembro! – Vou tomar um banho — proferiu, ele, apanhando os trajes, indo em direção ao banheiro.
— Irei acordar Matt — disse, Melanie, meio tristonha e saiu de seu quarto, indo até o outro.
(...)
O período matutino foi tranquilo. Matt estava na escola enquanto Melanie ficava cuidando de Christian. Ryan, horas estava assistindo TV, horas tentava brincar com seu filho que batia uma palma desengonçada e sorria constantemente. Melanie não se cansava de sorrir e observar as expressões de seu esposo.
Próximo das duas horas da tarde, Ryan deixou Christian com Melanie e saiu em busca de encontrar Matt na entrada da escola, esperando-o. Já na metade do caminho, ao atravessar a rua, na esquina, surgiu uma mulher em seu trajeto e essa se esbarrou com ele, levando-o a encará-la. Essa com os cabelos meio bagunçados, mantendo alguns fios pelo rosto, e com sacolas na mão, parou e o mirou, passando a mão sobre os fios, retirando-os da face. Ryan a fitou, descrente de vê-la novamente.
— Ryan! — disse, meio sorridente, enquanto ele concurvou a sobrancelha e encarou-na. — Bom vê-lo!
— O que você quer? — Ryan, mantendo suas expressões enrijecidas, questionou.
— Nossa, Ryan! Não precisa ser tão rude — falou como se estivesse entristecida por sua maneira rude de dirigir-se a ela. Ela fitou sua mão esquerda e a segurou contemplando a aliança no dedo e proferiu de modo zombeteiro: — Você se casou?
— Você só pode estar de brincadeira comigo! Eu sei quem és e não me venha com joguinhos para tentar me persuadir a sair daqui.
— Sair daqui? — E ela riu mais uma vez. — O que queres dizer com isso?
— Tentastes me tirar de Berseba! — Ryan, fechou o punho, irritado com suas gozações.
— Ah! — Revirou os olhos. — E por que achas que eu possa fazer isso? — questionou, cruzando os braços. E, ao dizer isto, tudo ao redor mudou e agora ele somente via a sua pessoa e ela. — Sei que sua carne desejou sair e eu só quis dar uma ajudinha, aliás ele não havia dito onde estavas como deveria. Mas é uma pena que recusastes. — Bateu uma mão na outra. —Mas não importa. Ainda me tens, e isso é o que realmente me importa. Sur continua sendo o seu lugar apesar de tudo e enquanto for o seu lugar, também será o meu, Ryan, afinal eu sou o seu consolo quando atinges o limite.
Após isto, as coisas voltaram à "realidade" e ele mirou Layla à sua frente o olhando constantemente com os olhos semicerrados.
— Você está bem Ryan?
— Eu estou. Adeus — disse e prosseguiu o seu percurso até a escola de Matt à medida que Layla o observava a distância e sorria sinicamente.
Ele ficou pensativo, meditando nas palavras que ela lhe dissera, sem compreendê-las, visto que vira duas Layla e uma das era o mesmo espírito da primeira vez, mas a questão era o porquê ser duas dela. As expressões faciais e o jeito foram absolutamente iguais em ambas; e quanto mais ele ponderava, mais turbado se sentia.
Matt, ao vê-lo numa curta distância, correu até ele que andava cabisbaixo em direção ao garoto.
— Ryan! — Matt acenou em sua frente e ele levantou as vistas, dando um meio sorriso para o garoto. — O que houve e o que faz aqui? Estás meio disperso. — O menino franziu o cenho e o questionou.
— Desculpe. Eu vim te buscar hoje. Vamos para casa. — Tentou ignorar a sua pergunta, e, antes que Matt perguntasse mais alguma coisa a respeito, indagou-lhe sobre como foram as aulas.
— Bem. — O pequeno moço proferiu, imparcial. — Mas isso não muda o fato de que estás estranho. E eu iria pegar o ônibus escolar, nem precisava vim me buscar.
— Estou um pouco pensativo com algo, só isso. E aliás, achastes ruim que eu vim te buscar?
— Não. Até que eu gostei. E sabia que as vezes realmente parece que você não é você? Minha irmã é uma boba apaixonada que não percebe com veracidade, isto.
— És um garoto esperto e bastante culto para a sua pouca idade. — Ryan suspirou. — Depois te contarei algo e entenderás tudo. E a propósito, quero te fazer uma pergunta.
— Qual? — questionou, parando em frente a faixa de pedestre, esperando o sinal fechar para atravessarem.
— Sabes o que significa a palavra "Sur"?
— Isso é da Bíblia não?
— Creio que sim.
— Lá deve ter significado.
(...)
Ao chegar em casa, Ryan rapidamente se apressou em pegar a Bíblia e procurar passagens que continham a palavra. Ele começou a folheá-la a partir do livro de Gênesis, pois de certa forma ainda se recordava de muita coisa.
— Abraão, Abraão... — retrucou consigo ao procurar o texto que tinha a referência, até encontrar um dos; e, ao passar os olhos pelas coisas descritas, achou o que tanto queria, mas sem um significado explícito, no texto de Agar, serva de Sara:
Gênesis 16.7. Contudo, o Anjo do SENHOR encontrou Agar perto de uma fonte no deserto, no caminho de Sur...
Para ele não dizia muita coisa, então optou por pesquisar o significado na internet. Porém, com que internet? Essa deixou de funcionar assim que ele tentou acessar.
— Ah! — bradou, angustiado, até que algo lhe surgiu na mente.
"Eu sou o seu consolo quando atinges o limite"
— Consolo quando atinges o limite, consolo quando atinges o...
Continua...
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[¹] Lamentações 3:22
[²] Salmos 46:9b
[³] Ver Jó 42:2
Votem e comentem, gente. Desejo saber o que estão achando.
E aí, qual sua tese a respeito do que virá a seguir? Diz aí. :)
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