Cidade de Nova York
Verão de 2007

Iria fazer quase um ano que Ryan havia conhecido a Melanie e seu irmão. Nesse tempo, muitas coisas se sucederam:

Ryan já tinha perdido a linha de sucessão na corporação de seus pais e Otávio tinha iniciado uns bons empreendimentos, dando continuidade aos feitos de Ryan sob a bênção e com a sabedoria do alto. Burburinhos por toda empresa surgiram, após terem conhecimento de sua deixa. Ele não quis fazer um anúncio oficial com a presença de todos no auditório da empresa. Preferiu sair de mansinho, pois se sentia melhor agindo assim. Contudo, no fundo, os funcionários apreciavam o desempenho de seu chefe ainda que temessem serem despejados por qualquer incoerência. Poucos tinham noção de quem Ryan realmente era e o que ele havia se tornado, por isso tal medo; o que não significa que falhas no setor trabalhista não garantissem uma demissão. Clarke era uma das pessoas que mais admirava seu patrão. Ela sentiu sua falta, mas ao ver o perfil de Otávio percebera que as coisas não iriam sair dos trilhos antes administraria bem o legado dos Kent. E ela permaneceu como sua secretária.

— Otávio esteja bem atento as papeladas só para ter certeza de que ela não errou nada. — Foi o que ele dissera em sua despedida. Clarke esboçou desgosto ao ouvir Ryan dizer tais palavras, mas ele apenas queria perturbá-la propositadamente. Não havia sido por mal.

Ryan continuou a morar em seu apartamento e buscou se empregar para que não ficasse sem nada nos anos seguintes. Converteu em dinheiro as ações recebidas, mas achou por bem guardar toda a quantia e realmente ele iria precisar algum tempo depois.

Ficou sem ver a Melanie e Matt por todo este período, mas o amor que poderia ter se esfriado, ardia dentro de seu peito como um fogo que não se apaga. Ele tinha esperanças.

Já Melanie e Matt, sentiam-se mais felizes com a nova moradia que era um pouco maior do que onde eles viviam e possuía um andar. Os quartos ficavam na parte de cima e os demais cômodos em baixo. O lugar, de fato, era aconchegante.

Ela ainda continuou a trabalhar na lanchonete Beniveline por mais dois meses antes de ser contratada para a função de servente de uma confeitaria, mas, no tempo livre, servia de ajudante de confeiteiro de forma voluntária. A moça tinha jeito com coisas que envolviam receitas e apreciou o trabalho que o pessoal fazia. Ganhava bem, pela graça de Deus.

Quanto a Matt, por mais distante que ficasse da escola, continuou a terminar suas aulas tranquilamente e a diretora achou por bem deixá-lo finalizar os estudos antes de uma transferência escolar.

Carlton não permaneceu mais do que um mês junto a eles e, após esse tempo, retornou ao Canadá. Ele até disse que iria trazer a família para visitá-los numa próxima vez. Além disso, fez questão de dar novos móveis para serem postos na nova residência. Dentre os móveis, o que mais agradou Matt foi o colchão ortopédico recebido. Não afundava, e, apesar de ser um pouco duro, era bem confortável. Logo, não demorou a se acostumar.

— Ah, como eu amo essa cama! — dizia, abrindo uns braços como um anjinho. Melanie ria, mas também sentia o mesmo que ele.

— Realmente é melhor do que a antiga. Deus nos tem abençoado muito.

— Sim, maninha. Agora sabe o que nos falta?

— Não.

— Irmos à igreja. Eu quero ir a igreja, Mel! — E ela suspirou, assentindo.

Sabia que ele tinha razão. Ela até já havia visto uma quase em um quarteirão de onde moravam. Fazer uma visita não custava muita coisa. O menino a cobrava quase sempre e, devido as dificuldades, acabavam por não ir.

(...)

No dia em que decidiram ir à igreja, Melanie parecia mais nervosa do que tudo, afinal tinha um ano e meio sem ir num templo religioso ainda que estivesse firme na fé. Não sabia como os novos irmãos a receberiam. Já Matt estava radiante abraçando a Bíblia e com um sorriso enorme no rosto.

— Vamos maninha, ânimo! — falava.

A igreja era simples, mas um tanto acomodativa. Ao adentrar o templo, Melanie sentiu uma doce presença de refrigério naquele ambiente percebendo que realmente estar ali lhe fazia falta. Já dizia o salmista Davi: "Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e aprender no seu templo".¹ Havia pessoas orando, outras derramando lágrimas em meio ao diálogo com Deus. Ela suspirou, risonha, e buscou se acomodar a fim de orar também. Matt fez o mesmo.

Matt questionava o que mais iria acontecer a eles de bom. Pedia a Deus que desse um companheiro a sua irmã e que esse fosse Ryan. Pedia a Deus por si mesmo, pelos seus estudos, pelo seu futuro. Ansiava por ser alguém de exemplo para muitos. Ele realmente era esforçado para viver a fé.

O momento de louvor veio trazendo uma paz e alegria a ambos. Congregar era e sempre é bom. Eles foram bem recebidos pela membresia local e Matt permanecera radiante ao ver que teria novos amigos.

(...)Firme, firme, firme nas promessa de Jesus, o Cristo; Firme, firme, sim, firme nas promessa de Jesus (...)²

Um hino que ela tanto amava entoar fora cantado no dia. Só memorava do quanto mais ela necessitava de perseverar na fé e confiar no Criador de todas as coisas. Ter a fé no impossível, a esperança de uma nova vida vindoura e o amor de Cristo emanando em seu ser por todos os dias de sua vida.

(...)

Naquele clima de verão, deu-se uma reviravolta na vida espiritual de Melanie para melhor. Ela ainda entoava seus cânticos de sempre, mas dessa vez era com um sorriso imenso no rosto. Em seu local de trabalho, seus colegas questionavam o porquê de tanta alegria e ela apenas dizia que 'os céus haviam proporcionado a ela mais um belo dia de vida.' Ainda diz isso quando está feliz. A tradução de suas palavras seriam: Sou grata pelo que Deus tem feito a mim.

E realmente tinha o que agradecer, pois mesmo com as contas na antiga casa sendo pagas em dia, ela poderia perder a guarda de seu irmão se agentes civis vissem sua situação de calamidade, e Deus não permitiu que isso acontecesse. Deus não permitiu tantas coisas se sucederem, porém foi de sua vontade que seus pais partissem mais cedo. Ajudou a amadurecê-la em tudo, principalmente na fé. Mas ainda tinha um pontinho de menina em seu coração. Uma menina com sonhos de amar e ser amada, casar, construir uma família estruturada em Deus, porém tinha dúvidas. E suas dúvidas levavam a aquele que já batia na porta da saudade de vê-los: Ryan.

— Por quê ele? Logo ele?  — Pensava a todo instante.

Meses sem se verem, porém ela não imaginava que o próximo encontro de ambos aflorassem um turbilhão de sentimentos adormecidos. Ela nunca havia se apaixonado antes e então nem sabia como seria se um dia assim se sucedesse. Ainda mais se fosse por alguém como Ryan. Saber que ele havia largado a empresa e passado a caminhar na mesma fé que ela, deixou-a meditativa.
Matt, como um bom menino, não escondera dela esses detalhes preciosos a não ser apenas um...

— Matt, o que acha de eu te contar um segredo acerca de sua irmã?  — Ryan havia dito no dia em que ela adoecera.

— Segredo? Sou bom em guardar segredos. — O garoto ficou ansioso por saber.

— Eu a amo por causa de Deus. Deus me fez amá-la e eu não consigo imaginar um futuro sem ela e sem você que é como um filho para mim.

— Sério? 

— Sim. Tudo por causa de uma grande experiência que tive ao me acidentar —proferia, recordando-se da aventura.

— Nossa! — Ficou surpreso.

— E eu fui levado a um lugar chamado Berseba, num sonho e mostrava vocês dois nele. E sua irmã estava casada comigo. O que acha disso? — Matt riu.

— Eu sei que Deus pode fazer essas coisas, afinal ele é Deus. E eu não sou contra minha irmã casar com você apesar de eu ter ficado bem chateado ao saber que querias casar com ela para não perder sua empresa. — Esboçou uma careta.

Cogito dizer que Ryan carregaria o peso dessas palavras nas costas por muito tempo.

— Mas eu disse que isso foi antes, mas ela não pode saber disso que estou te contando.

— Certo!

— Promessa de dedinho?

— Prometo que não contarei.

— Amigos?

— Amigos. — E o garoto riu apertando a mão de Ryan. Promessa firmada. Segredo guardado.

Ryan se recordava desse dia e se questionava se Melanie soubesse de tudo o que lhe aconteceu, como a mesma reagiria. Incrédula talvez, afinal não é todo dia que alguém sonha casado com você. Esse é meu pensamento.

Mas, enfim, Ryan havia acabado de comprar uma moradia no subúrbio de Nova York, próximo de onde Melanie e Matt morava. Contudo, ele não se lembrava dessa parte. Estava comprometido em vender seu caro apartamento para residir em um lugar onde teria condições de pagar sem gastar muito. Apesar que em seu novo emprego de gestor empresarial ganhava muito bem, ainda que ficasse trabalhando por horas para organizar absolutamente tudo e colocar a empresa que o contratara nos eixos. Quem não queria empregar o famoso Ryan afinal? Cumprira bem a herdade dos Kent. Poucos eram bons como ele no quesito administração.

No entanto, relaxar era o que ansiava. Encontrou uma casa nos termos que desejava e mui semelhante ao que sonhara. Era isso o que ele tanto procurava: Uma casa que se assemelhasse a de seu sonho. Só faltava os demais integrantes para que tudo ficasse nos conformes.

Passeava na avenida no dia de folga quando se deparou com ela, a moça dos seus sonhos, a dona de seu coração. Ela estava tão linda quando a última vez que a vira. Enquanto isso, ela permanecia paralisada por vê-lo defronte de si. Aquele de quem conseguia sentir um respingo de saudade e o motivo de tantas indagações.

— Melanie?

— Ryan?

Proferiram ao mesmo tempo.

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Nota:

[¹] Salmos 27:4
[²] Hino da Harpa Cristã nº 107

Espero não ter dado um bug na mente de vocês.

Misturei muita coisa nesse capítulo, mas buscando conectá-los. 

Não sei se recordam, mas havia ficado uma interrogação de Matt no ar em um dos caps anteriores.

"Mas como isso é possível, se vocês só se conhecem há um mês? "

Quem lembra? Coloquei a continuação daquele pequeno diálogo aqui. Melanie realmente não tem ideia disso. ^^
Será que ainda irão contar a ela?

Como será esse novo encontro deles? Promissor? Cheio de discussões?

Ah! E não se esqueçam que a história é narrada por um co-protagonista do ano de 2018! Por isso a abordagem do livro apenas se foca nos pontos principais da história deles. E várias passagens de tempo são feitas devido a isso tbm!^^

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