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Não era minha vontade que a Karen se envolvesse nisso, apesar de se tratar da vida dela. Só mais alguns dias e eu teria descoberto o lugar onde o el camaleón está escondido e arrancaria sua cabeça. Mas isso não está totalmente perdido, pois um amigo está me passando algumas informações. Com sorte, darei um fim nele enquanto a Karen estiver em São Paulo.
— Quanto tempo você acha que vai levar até ele ser preso? — pergunto em tom baixo, parecendo um assunto sem importância para não chamar a atenção das pessoas que passam por nós no parque.
— Cara, pode levar uma semana, uns dias, ou algumas horas — Ronie responde não revelando nada concreto. — Há uma intensa mobilização girando em torno dessa investigação.
— Eu imagino — digo expirando o ar sentindo revolta. — Da parte do Da Matta, é puramente pelo ego.
— Também acho — fala logo após acender um cigarro. — Imagine você ser o cara a frente de uma apuração em nível internacional e ainda ter o privilégio de ter êxito?!
— Não estou nem aí para os privilégios e a fama que isso pode trazer, Ronie. Só quero a minha mulher livre desse demônio — revelo evitando contato visual. Imaginar o que el camaleón pode fazer com a Karen, me deixa perturbado. — E odeio que em vez de se preocupar com a segurança da pessoa que está cooperando para que o Alejandro seja preso, está pensando somente em ibope.
— Isso está subindo à cabeça dele, Douglas — diz espalhando a fumaça do cigarro em meio às palavras. — E cara, eu ainda não consigo entender como você conseguiu lidar com isso por tantos meses sem pirar.
Eu quase pirei por diversas vezes, mas ninguém precisa saber.
— O pior não foi não ter pirado. E sim, ver a Karen entrando em casa achando que eu estava traindo ela com a Vivian. — Ronie gargalha. — É verdade. Sinceramente, nem sei se eu consegui convencê-la do contrário.
— Também, pudera. Você e a Vivian tinham uma coisa estranha...
— Tínhamos — admito. — Mas foi há muito tempo, não significava absolutamente nada para mim. A única mulher que realmente mexe comigo, é a Karen.
— Nunca vi você tão apaixonado — diz ele, intrigado.
— Nem eu, Ronie. Nem eu.
— É por isso que sou contra você ir atrás do Alejandro por conta própria. Tem noção do tamanho da lista de pessoas que vão querer sua cabeça ou ir atrás da sua família, caso o mate?!
— Tenho — assinto. — Mas vou fazer direito e ninguém vai saber que fui eu.
— Eu não queria estar na sua pele. Encostar um dedo nesse cara, é mexer com os cartéis da Colômbia e até com a máfia.
Eu ia concordar com ele, mas meu celular toca e nem chego a abrir a boca. Vejo a foto da Karen na tela e atendo. Antes mesmo de dizer alguma coisa, ouço sua voz alterada e cortada por soluços desesperados. Isso me angustia, pois não entendo nada do que ela está falando, então me dou conta de que algo está errado.
— Calma, Karen! Fale devagar.
— Ele está aqui! O Alejandro está aqui! — meu coração se aperta e um forte desespero toma conta de mim.
— Ele está com ela!!! — exclamo para o Ronie e ele arregala os olhos. — Na nossa casa?! — pergunto intrigado já me levantando e indo em direção ao meu carro.
— Não, na minha — responde apressadamente chorando muito. — Ele me enganou, Douglas. Não existia ninguém interessado na casa.
— Caralho!!! — exclamo me sentindo um idiota por não ter desconfiado disso. — Onde ele está agora?
— Na sala... Eu o acertei na cabeça, mas ele já deve estar despertando... As portas estão trancadas e as chaves estão com ele, eu me tranquei no banheiro.
— Ele te machucou? — questiono tomado por ira.
— Eu estou bem, mas ele está armado — diz amedrontada o suficiente para me deixar com medo também. — Pelo amor de Deus, Douglas!!! Me tire daqui!!! — ela pede aflita.
— Aconteça o que acontecer, Karen, não desligue! — peço ao entrar no carro com o Ronie.
— A bateria está acabando... Estou com medo.
— Fique tranquila. Eu vou te tirar daí —falo com segurança e conecto o celular ao carro. — Ronie, ligue para o Da Matta. — ele assente e começa a discar o número enquanto arranco em disparada. — Karen — chamo-a para ouvir sua voz e saber se ela está bem.
— Estou aqui. Acho que ele não acordou ainda.
— Está indo para a caixa postal, Douglas — Ronie avisa e eu pego o celular de sua mão. Disco o número novamente e mais uma vez vai para a caixa postal. Se esse é o único jeito de avisá-lo, assim vai ser.
— Da Matta, ele está com a minha mulher. Se alguma coisa, qualquer coisa, acontecer com ela, considere-se um homem morto. — desligo e devolvo o celular ao Ronie.
— Douglas — ela fala baixinho —, estou ouvindo uns barulhos. Acho que ele acordou!
— Você trancou a porta do quarto também? — pergunto imaginando que isso possa adiar que ele chegue até ela.
— Eu não achei a chave... — ela responde voltando a chorar em desespero.
— Tudo bem. Abra o armário, Karen.
— Para quê? — pergunta confusa.
— Eu guardei um revólver aí, está carregado. Pegue-o! Rápido! — de repente, ouço um barulho alto seguido de um grito da Karen.
— Me desculpe, chica — o desgraçado fala para ela. — Não precisa ficar com medo de mim.
Meu sangue ferve por saber que ele está próximo à ela. Imaginar o perigo que a Karen corre, me faz acelerar ainda mais o carro para tirá-la das mãos desse verme. Ela não responde, está chorando alto e evidentemente assustada.
— Arrume suas coisas, muchacha, vamos logo embora daqui.
— Embora??? — Ronnie repete pensativo e eu semicerro os olhos me mantendo atento a cada palavra.
— Eu não quero ir, Ygor — Karen responde soluçando.
— Quer sim. Você só está confusa porque eu matei o seu cachorro.
— Puta que pariu! — exclamo.
— Levante-se, podemos ir assim mesmo, lá você vai poder comprar tudo novo. A Colômbia inteira, se quiser.
— Acelera, Douglas! Ou ele vai levá-la — fala Ronie, ficando tão nervoso quanto eu.
— O que você estava procurando no armário, muchacha?
— Merda! — grito. — Ele vai ver o revólver!
— Nada! — ela responde e ouço o som do armário sendo fechado. — Já estava assim quando eu entrei.
— Deixe-me ver — ele fala em tom de ordem e meu corpo todo fica em alerta, torcendo para que algo aconteça e ele não veja a arma. — ¡Sale ahora de mi frente, tu vagabunda! — ele berra e ela grita como se tivesse sentindo dor. Ele deve estar machucando-a e isso me machuca também. Quero cortar cada parte dele e fazê-lo engolir os pedaços de si mesmo.
Aguenta, Karen. Só mais dez minutos. — penso.
—¿Un revólver calibre 32? ¿Estaba planeando matarme, chica?
— Não! — ela grita e chora ainda mais. É uma tortura para mim. Como eu me arrependo de ter saído de casa hoje... Por minha culpa, isso está acontecendo. — Pare, Ygor! Por...
A ligação cai e meu desespero aumenta.
Deus, eu nunca fui um cara muito religioso. Sei que o culpei pela morte da minha irmã e do meu pai, mas se o Senhor tem mesmo poder como minha mãe fala, não permita que esse bandido tire a vida da minha mulher e a do meu filho. Amém.
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