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Passei a noite pensando em qual poderia ser o melhor jeito de entender o que está acontecendo. Estar em São Paulo e a Karen no Rio, me dá uma sensação de incapacidade. Ligar para saber como ela está, parecia o mais certo, então liguei várias vezes, sem nenhum sucesso. Eu estou preocupado, pois não faço ideia de como foi o desenrolar dessa história maluca de flagrante. Sinceramente, a Paola deveria ter impedido essa aventura inescrupulosa.

Nem uma boa bebida, nem um bom jantar, nem uma noite quente com a Marcela me permitiram esquecer um pouco o grande conflito emocional que a Karen está passando agora. Acordar e ver que a mulher que dorme ao meu lado não tem noção do que se passa comigo, me faz carregar uma certa culpa. Ela gostou do convite de vir para o congresso comigo, disse que vai ser uma boa oportunidade para nos conhecermos ainda melhor. Concordo, mas qualquer hora dessas, vou abrir o jogo. Eu amo a Karen, mas quero ver no que esse lance com a Marcela vai dar. Por outro lado, não quero ser canalha e enganá-la.

Não posso ficar aqui parado esperando uma notícia ruim chegar. Levanto da cama e visto uma calça jeans e uma camisa pólo azul com todo o cuidado para não acordar a Marcela. Calço o sapato e pego meu celular verificando as horas. São 7h15, o Olivier vai se reunir com a equipe organizadora do congresso em quinze minutos, e se eu correr, conseguirei conversar com ele a tempo.

Saio do quarto e fecho a porta com cautela. Qual é mesmo o quarto dele? Cinquenta e seis, se não me engano. Bato à porta e aguardo impacientemente por uma resposta. A porta se abre e uma mulher semi-nua aparece. Sinto meu rosto queimar e antes que eu consiga reagir, outra mulher ainda com menos roupa abre mais a porta. Meus olhos batem em um volume estranho para uma mulher e me dou conta de que ela não é uma mulher.

— Está perdido? — indaga a moça que abriu a porta primeiro. Abro a boca para responder, mas sou interrompido.

— O que importa se está perdido, Dafne?! Aqui ele pode se achar!

A porta do quarto ao lado se abre e o Olivier sai falando ao telefone e não nota minha presença. Errei o quarto.

— Eu já me achei — respondo. — Desculpe por atrapalhar, senhoritas.

Me apresso em sair desta situação e sigo o Olivier ao entrar no elevador. Seguro a porta para impedir que ela se feche e adentro. Só então ele me vê. Espero ele encerrar a ligação, o que não demora muito.

— Bom dia, Olivier — digo ainda me recuperando do constrangimento.

— Bom dia, Daniel — responde ele apertando o botão do térreo.

— Você sabe por quê a Karen não veio? — indago fingindo não saber de nada e ele me olha estranho, como se não esperasse essa pergunta.

— Ela teve um problema e precisou ficar para resolver — responde. Deve ser o que ela falou para ele.

— Que tipo de problema? — questiono de imediato.

— Problema dela, Daniel — refuta quando a porta se abre e eu saio logo depois dele.

— Tem algo errado, Olivier — revelo. — Não consigo falar com ela desde ontem.

— Ela apenas perdeu o celular, está tudo bem — fala não dando a mínima para a minha preocupação.

— Você sabia que ela descobriu que está sendo traída e iria flagrar o Douglas com a amante ontem à noite? — questiono segurando em seu braço. Ele olha para minha mão que o segura e em seguida, para os meus olhos, como uma ordem para soltá-lo. Eu o solto.

— Quem te contou isso?! — ele questiona intrigado.

— Ela mesma. E ainda me pediu para não te contar nada... — falo me dando conta de que não deveria ter escondido isso do pai dela. — Eu deveria ter dimensionado o perigo dessa situação. Não consigo entrar em contato com ela. A última vez que nos falamos, foi ontem pela manhã, na clínica.

Ele olha o relógio brevemente e depois para os lados, como se quisesse saber se estamos sendo observados.

— É um assunto delicado, Daniel. Não posso te contar — ele fala seguindo para o saguão e eu o seguro novamente.

— Você vai me contar sim! Eu fui contratado por você com o objetivo de estar perto da Karen e te informar como ela estava. Você detestava o Douglas e do nada, todos ficaram felizes com o noivado dos dois. Agora a Karen descobre que está sendo traída e eu sou o otário que não entende porra nenhuma do que está acontecendo!

• • •「◆」• • •

— Ela pode ser presa, Daniel. PRESA! — Olivier repete antes de tomar o último gole de café.

Jamais eu imaginei que algo tão grave estivesse acontecendo. Isso não muda o fato de que eu não gosto do Douglas, mas ele está fazendo por ela algo que eu não tenho habilidade para fazer. Manipular vestígios e provas de tal forma que tire a culpa da Karen. Uma culpa que ela realmente não tem. Se a conheço bem, ela não vai concordar com isso.

— Ela já está sabendo de tudo? — pergunto.

— Depois de ontem, sim. Eu preferia que ela não soubesse de nada. Ela está grávida, não pode ficar nervosa.

— Eu faria qualquer coisa para não vê-la em uma situação como essa — falo deixando escapar mais do que deveria. Olivier tira os olhos da xícara vazia e olha para mim.

— Se eu tivesse o poder de escolha, seria você, e não o Douglas — ele fala me surpreendendo. — Não era só informações que eu queria quando te contratei. Achei que com você estando perto novamente, a Karen poderia notar que você é melhor que ele, mas ela tem um dedo podre. — ele faz uma pausa e suspira fundo. Me abstenho de falar, pois não sei o que dizer. — Esse cara é maluco por ela e vai fazer qualquer coisa para que ela não seja presa. No momento, é só isso que me importa.

Não tenho filhos e não faço ideia do que se passa na cabeça de um pai. Só sei o que se passa na minha, e é alívio por ela estar com alguém que possa fazer o que eu não posso.

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