42
Não quero acordar, mas a dor de cabeça me desperta. Abro os olhos e noto que estou deitada sobre o Douglas. Me esgueiro para longe imediatamente e sento-me na cama me recusando a acreditar que, de algum modo, eu o deixei entrar aqui ontem e ainda dormi abraçada à ele, ouvindo seu pulsar forte. Isso me lembra de um pesadelo que eu tive. Nele, eu fazia um teste de gravidez e dava positivo. Isso me dá ainda mais medo de tirá-lo da minha gaveta e fazê-lo. Vou esperar o Douglas ir embora para descobrir.
Ele já está acordado e, com o canto dos olhos, noto que está me observando. Estou usando apenas uma calcinha rosa de renda e uma blusa branca sem sutiã. Meus mamilos se destacam tanto no relevo quanto na transparência do tecido. Preciso ir até o guarda-roupa para me vestir de um modo decente, mas no instante em que fico de pé, minha cabeça gira e uma náusea horrível toma conta de mim. Por que eu bebi tanto ontem? Corro para o banheiro e bato a porta. Meu estômago se aperta expulsando a bile de dentro de mim. Me sinto fraca, mas consigo me manter de pé.
— Karen! — Douglas chama enquanto dá duas batidas na porta.
— Eu estou bem! — respondo em alto e bom som para que ele não entre.
Escovo os dentes imaginando quanto tempo vai levar para o Douglas ir embora ou se terei que fazer algo para que isso aconteça. Preciso de um banho para despertar. Um banho resolve tudo, ou quase. Tiro a roupa com cuidado para não cair por causa da tontura. Ligo o chuveiro e deixo a água me fazer esquecer um pouco as coisas que aconteceram ontem. Saio enrolada na toalha e vejo que o Douglas está sentado na cama digitando algo no celular. Deve estar dando "bom dia" para a outra. Pego uma roupa e volto para o banheiro. Não sei quanto tempo vou aturar o cinismo dele. Se ele inventar alguma desculpa para conversarmos, irei esclarecer que acabou, pois ontem saí de sua casa sem dar o aviso. Visto-me e saio de novo. Enquanto pego um hidratante corporal, o Douglas fala:
— Karen, nós precisamos conversar. — apoio uma perna na beirada da cama e espalho o creme sobre ela.
— Se for para inventar alguma desculpa, já vou avisar que...
— Sobre isso aqui. — me interrompe balançando um teste de gravidez. Tiro a perna da cama e me equilibro no chão.
Ai, caramba! Não foi um pesadelo! Está realmente acontecendo? Pego o teste de sua mão e um peso cai sobre meu corpo ao ver o resultado:
"Grávida"
Isso significa que estou esperando um bebê do Douglas. Eu vou ser mãe solteira. Me perco em pensamentos tentando entender o por quê disso estar acontecendo. Não foi assim que eu imaginei que iria descobrir minha primeira gravidez. Não após decidir que terminaria com meu namorado. As lágrimas começam a brotar em meus olhos enquanto eu fico repetindo o resultado na minha mente.
Grávida. Grávida. Grávida. Grávida.
— Amor, não chora — pede ele, direcionando sua mão à minha. Eu a puxo. — Sei que nós não planejamos, mas eu estou muito feliz e queria que você ficasse feliz também.
— Não é porque essa gravidez estava fora dos planos que estou chorando, Douglas!!! — digo quase gritando, intrigada por ele não entender a real situação.
— Então qual é o problema?! — indaga com as sobrancelhas erguidas.
— O problema é que eu não te conheço mais. — faço uma pausa enquanto ele me encara com o cenho franzido. — Não sei se eu me apaixonei por você ou se fantasiei o Douglas que eu queria naquele momento. Não imaginei que teria uma Vivian no caminho. — ele respira fundo e balança a cabeça negativamente.
— Não tem nenhuma Vivian, Karen. Pelo menos, nenhuma com quem você deva se preocupar. — cruzo os braços e miro o teto tentando engolir as lágrimas. — Havia muito tempo que ela não fazia aquilo, desde que dei um ponto final no que acontecia entre ela e eu. Foi só uma provocação que não tem a mínima chance de causar alguma coisa em mim. Inclusive eu já reclamei com ela e a mandei parar com isso. Deixei bem explicado que meu relacionamento com você não é algo que se abale por qualquer coisa.
Fico em silêncio dividida entre acreditar ou não em suas palavras. A Karen grávida e cheia de hormônios quer acreditar em cada vírgula e esquecer o episódio da mensagem da vadia louca. A Karen de minutos antes do teste, quer voltar no tempo para faltar ao plantão pela primeira vez. Limpo as lágrimas nos cantos dos olhos e verifico o resultado mais uma vez antes de lhe voltar a palavra.
— Vou precisar de bem mais do que isso para acreditar em você — digo. Ele demonstra compreensão ao balançar a cabeça.
— Tudo bem. Senta aqui — diz calmamente abrindo mais espaço para que eu me sente ao seu lado e eu me acomodo, de frente para ele. — O que você quer saber?
— Não sei. Que tal você dizer o que preciso saber e se eu tiver alguma dúvida, pergunto — digo devolvendo suas palavras enquanto ele abre um sorriso.
— Justo — concorda. — Vivian e eu nunca namoramos, de fato. O lance entre nós era carnal, sem nenhum envolvimento amoroso. Nós sempre fomos apaixonados pelo nosso trabalho e... — ele respira fundo como se estivesse arrependido. — Emfim, acabávamos unindo o útil ao agradável. Ela tinha o hábito de estragar alguns dos meus relacionamentos quando estavam ficando sérios, e já que eu não queria nada sério com ninguém, não me importava.
— Você é um idiota — afirmo de forma convicta. — Permitia que sua companheira de foda acabasse com sua vida pessoal?!
— É, eu sei — fala. — Ela mandava uma foto seminua quando eu estava com alguma namorada. Isso gerava o mesmo que gerou ontem e eu deixava elas acreditarem que eu tinha outra. Eu nunca soube terminar um relacionamento, principalmente os que eu nem queria que começassem. Só que desta vez, ela não percebeu que você não é como as outras — diz acariciando meu rosto.
Ele pensou estar facilitando o meu entendimento, mas só fez com que eu sentisse mais raiva e medo. Raiva por terem muito em comum e medo de que ele queira colocar seu útil dentro do agradável dela quando não tiver tempo para mim. Ficando com essas interrogações na minha cabeça, resolvo falar agora, pois preciso expor tudo o que eu penso.
— Você entende que para vocês unirem o útil ao agradável de novo é algo muito fácil? — indago deixando claro que o fato deles trabalharem juntos me incomoda.
— Seria muito fácil se eu quisesse isso, porque ela é uma vadia mesmo — afirma. — Só que eu não quero, Karen. Eu quero você. Vocês. — ele faz uma pausa olhando para minha barriga e eu mantenho silêncio. — Ontem você mencionou algo sobre colocar aquela bala no peito de novo.
Um flash dessa cena me atinge com força. Eu, sentada no chão do banheiro aos prantos pensando que o Daniel jamais ficaria comigo estando grávida do homem que me traiu. Não sei bem o porquê, mas naquele momento eu só queria o Daniel e ele estava certo sobre eu me arrepender.
— Karen, ouça o que eu vou dizer. Repetir, na verdade — se corrige enquanto eu fico a observá-lo. — Eu não tenho nada com a Vivian e me sinto um lixo por ter feito você achar o contrário. Se você quiser, pode vasculhar cada canto da minha vida e se encontrar alguma prova de que eu...
— Eu não quero ter motivos para puxar o gatilho — interrompo-o.
Vejo-o soltar um suspiro de olhos fechados expressando alívio. Não por eu não querer atirar nele, mas porque deixei claro que eu acredito em suas palavras e quero que ele as mantenha.
— Não vai ter, vem aqui — diz abrindo os braços para mim e eu me encaixo neles.
Ficamos uns segundos dentro do abraço um do outro antes de nos beijar. Eu ainda sinto um pouco de raiva por tudo o que aconteceu ontem, mas neste momento, mais do que nunca, eu preciso tentar esquecer essas coisas que surgem na nossa jornada, elas vêm apenas para nos atrapalhar. Agora temos um alguém que precisa e merece que nós estejamos unidos.
— Qual é o plano agora? — indago com um pouco de medo do novo.
— O mesmo de antes, mas em ordens diferentes — fala em tom óbvio.
— Mas nós não tínhamos nenhum plano — digo sem compreender.
— Você não, mas eu sim. Só não falei. — ele faz uma pausa encarando minha expressão confusa.
— Quero que você vá morar comigo. Eu já detestava que você ficasse sozinha aqui antes, imagina agora, estando grávida. — ele faz uma pausa com uma expressão preocupada. — O que você acha?
— Eu cogitei isso — digo —, mas não desta forma, não por motivo de força maior.
— Karen, eu já queria isso — fala tocando meu rosto carinhosamente. — Só não falei antes com receio de você não querer.
Eu permaneço quieta por um tempo. Meu pai praticamente me deu um ultimato e nem sei o que ele é capaz de fazer quando eu der as notícias, sobre morarmos juntos e o fato de eu estar grávida.
— Não sei... não sei o que os meus pais vão achar disso tudo — respondo.
— Amor, nós não precisamos contar para eles agora. Seu pai ainda me detesta e seria bom se eu conseguisse ganhar a confiança dele primeiro — fala de forma compreensiva.
Eu não contei para o Douglas sobre o meu pai ter ficado sabendo do mal entendido. Preciso fazer algo para melhorar essa situação, mas não sei como. Morar com o Douglas me parece o melhor a se fazer agora por vários motivos. Um deles é que isso me dá mais segurança em relação a ele. Outro é que o verei todos os dias e não me sentirei sozinha.
— E o Théo?! — inquiro preocupada com meu bichinho.
— Ele é nosso outro filho — fala sorrindo e isso me provoca um sorriso também —, precisa ir com você para lá.
— Até que estou ficando animada com as suas propostas — digo.
— É para ficar mesmo. Eu nunca te quis tanto lá como quero agora.
• • •「◆」• • •
Depois de fazermos as pazes, o Douglas me chamou a atenção sobre um monte de coisas que eu não posso mais fazer, como se eu já não soubesse. Agora que estamos almoçando, ele resolveu dominar a conversa. De acordo com suas palavras, não posso mais beber nada alcoólico, pegar peso, me estressar, trabalhar demais e etc. Além disso, está falando que minha geladeira é uma vergonha, assim como a minha dispensa. Diz que nosso filho só vai ser saudável se ele cuidar da minha alimentação. Eu fico em silêncio tentando entender como, de repente, ele deixou de ser policial e passou a ser obstetra e nutricionista.
— Quantos anos eu dormi? - indago com humor. — Parece que você fez duas faculdades ao mesmo tempo: obstetrícia e nutrição. — ele sorri.
— Quase isso. Não consegui dormir com a novidade e passei a madrugada no Google e YouTube. — caio na gargalhada imaginando a cena.
• • •「◆」• • •
Já é noite e tudo o que o Douglas e eu fizemos até agora, foi ficarmos agarrados um ao outro e conversar sobre como proceder nos próximos dias. Decidimos que a Dona Ana merece saber sobre a chegada do seu primeiro netinho, pois ela nos pediu isso e mesmo sem a intenção, realizamos seu desejo. Só pedi a ele para esperar que eu faça alguns exames. Ele me surpreendeu ao dizer que quer estar presente em todas as consultas do pré-natal. Nesse momento me bateu uma preocupação, pois eu me recusei a acreditar na possibilidade de estar grávida e encarei tudo como um reles atraso menstrual. Durante esse período, bebi demais, não parei com o anticoncepcional e minha alimentação não foi das melhores. Minha vantagem é trabalhar em uma clínica onde tem uma excelente obstetra. Suas consultas são às segundas e quintas, e amanhã já saberemos se está tudo bem com o nosso bebê.
A campainha toca justo no momento em que eu consigo convencer o Douglas que ele não vai machucar o bebê se transarmos. Espero que ele não volte a pensar nisso mais tarde. Levanto da cama e vou até o portão para atender. São a Paola e o Wes com uma pizza tamanho Maracanã, Coca-Cola, sorvete e um embrulho de presente. Convido-os para entrar achando esse presente estranho. Entramos e não levou nem um segundo para me felicitarem.
— Parabéns, amiga! Sabe que eu serei a madrinha, não é? — diz Paola me envolvendo em um abraço.
— Obrigada! Mas como ficaram sabendo? — indago no mesmo momento em que o Douglas sai do quarto.
— O que houve com o "finja que não sabe de nada"? — pergunta ele evidenciando tudo.
— Parabéns, Douglas! — exclama o Wes em um aperto de mão. — Você provou que a injeção de um policial também é forte e eficaz. — brinca nos fazendo rir.
— Obrigado, eu acho — diz o Douglas sorrindo pela primeira vez após uma piadinha do Wesley.
— Rodamos a Rua da Alfândega inteira para achar um presente digno de um bebê de policial — diz a Paola entregando o embrulho nas mãos do Douglas.
Ele agradece e abre animado, mas quando pega e olha, fica meio estático. Parece ter se perdido dentro de si mesmo. Pego da mão dele achando que é alguma brincadeira de mal gosto do Wesley, mas é um body rosa bebê escrito "papai tem uma arma". Eu achei lindo, apenas muito precoce porque não sabemos o sexo. Nos entreolhamos enquanto o Douglas ainda olha fixamente para a roupinha.
— Não gostou, Douglas? — Wesley pergunta de forma pacífica e o Douglas parece despertar de um transe.
— Gostei — diz com os olhos marejados. — É lindo, perfeito... — ele se dirige até mim e me dá um beijo.
— Amor, vou dar uma volta. Vou deixar vocês conversarem e volto mais tarde.
— Tá bom — concordo sem muita certeza se realmente estou de acordo. Ele se despede da Paola e do Wes agradecendo mais uma vez pelo presente e sai.
Nós três ficamos em uma espécie de estado de choque e sem entender nada. Acho que talvez isso esteja se tornando mais real para ele agora, enquanto segurava uma roupinha que vestiremos na nossa bebê, caso seja uma menina. Se não for isso, não sei o que é.
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Deixamos esse fato de lado e comemos a pizza à medida em que eu contava nossos planos sobre me mudar. Eles gostaram e apoiaram. Não contei sobre o que aconteceu entre mim e o Daniel ontem, eu errei e não me orgulho disso. Ainda devo um pedido de desculpas e pretendo fazer isso assim que tiver uma oportunidade. Nem sobre a Vivian eu falei, pois se eu quiser mesmo começar uma nova etapa na minha vida com o Douglas, o primeiro passo é enterrar o passado. O que importa é que está acontecendo agora.
O Wes me atualizou sobre o Thiago e ele. Desde a noite da tatuagem, eles têm trocado mensagens todos os dias e já estão marcando de se verem de novo. Fiquei feliz pelo Wes, fazia tempo que não o via falar de um boy com tanta empolgação. Talvez assim ele dê um tempo de pegar no pé do Douglas.
Se passou cerca de meia hora desde que o Wes e a Paola foram embora e o Douglas acaba de voltar. Já estou na cama e por pouco não peguei no sono. Ainda está um pouco tenso e não sei se pergunto se ele está bem ou simplesmente deixo passar. Ele deita ao meu lado e me abraça.
— Amor, desculpa por ter saído daquele jeito — pede em meu ouvido.
— Tudo bem — digo de forma compreensiva. — Quer conversar sobre isso?
— Outro dia — diz beijando meu pescoço. — Hoje eu quero olhar para a sua argolinha. — sorrio com a resposta dele.
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