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39

Meus pensamentos ainda vagueiam sobre a última madrugada. Não achei que aquele momento era o adequado para questionar o Douglas, então, hoje pela manhã enquanto ele me trouxe para a clínica, tentei conversar. Perguntei o porquê dele estar no meio da madrugada lendo aqueles papéis. Sua justificativa foi que ele precisava montar uma estratégia para que o caso pudesse ser resolvido durante esta semana, e aquilo era o que ele tinha que fazer até hoje de manhã, mas quis me dar atenção e compensar o fato de ter me deixado em São Paulo. Na hora me senti culpada, pois provoquei aquela situação e acho que não disfarcei muito bem. Ele notou minha expressão e disse que não conseguiu armar um plano sólido, mas não por culpa minha, e sim porque as evidências que a Vivian encontrou não são suficientes. Aquilo me desanimou, porquanto ficou claro que ainda nos veremos pouco e serei deixada por culpa desse caso. Outra consequência é que ele vai estar ao lado dela até que isso se resolva.

As horas passam e meu horário de almoço chega, porém ainda estou em consulta. A parte ruim do atendimento humanizado, é quando estamos em um dia ruim e precisamos dar atenção aos assuntos que não tem nada a ver com a saúde do paciente, como o fim da novela das oito. Eu detesto novelas e fico entediada, porém, a Dona Tereza adora e é só disso que ela fala quando vem aqui. O telefone toca.

— Alô — atendo.

— Karen, é a Marcela. Um amigo seu está te aguardando aqui na recepção — fala me enchendo de curiosidade, pois não lembro do Wes ter falado que viria aqui hoje.

— Tudo bem — olho brevemente para o relógio em meu pulso —, eu já estou indo. — Dona Tereza pega sua bolsa entendendo que já terminamos por hoje.

Nos despedimos e eu tiro meu jaleco, ficando apenas com minha calça jeans clara e uma blusa de manga vermelha, com um cinto fino amarrado na cintura.

Não é possível que o Wesley tenha ficado tão curioso sobre a reação do Douglas com meu piercing, que tenha vindo aqui para perguntar. Chego ao final do corredor e levo um susto ao ver o Daniel sentado e concentrado em seu smartphone. Automaticamente me lembro da ligação que fiz para ele no sábado e sou invadida pela vergonha. Penso em voltar para minha sala e inventar alguma desculpa para não atendê-lo, mas ele levanta o olhar e me vê aqui parada. Agora é tarde. Ele se levanta sorrindo e eu começo a caminhar em sua direção.

— Daniel, que surpresa boa! — digo enquanto abrimos nossos braços para um abraço amigável.

— Não era para ser uma surpresa, eu avisei que te levaria para almoçar hoje, não lembra?! — indaga e eu aproveito a falta de contato visual por estar no abraço dele e faço uma careta constrangida.

— Ah, é verdade. Eu ando com a cabeça no mundo da lua — explico a medida em que saímos dos braços um do outro.

— Tudo bem — fala sorrindo —, vamos? — concordo com um aceno de cabeça e saímos da clínica.

Tem vários restaurantes próximos ao meu trabalho onde poderíamos ir andando, mas o sigo até seu carro com um frio na barriga. E se o Douglas resolve aparecer aqui agora e me flagra saindo com o Daniel? Logo me sinto uma boba por tal pensamento, já que amizade entre homem e mulher não é nada impossível.

Seguimos por uns 15 minutos antes dele parar o carro em um restaurante que eu não conhecia. Nós entramos e somos recebidos por um sujeito educado que cumprimenta o Daniel pelo nome. Com certeza ele deve vir aqui com frequência, pois não estamos muito longe do hospital onde trabalhávamos juntos. Logo minhas narinas são conquistadas pelo cheiro maravilhoso de carne assada e minha boca se enche de água. Meus olhos se voltam na direção da bancada de comida, mas não vou bancar a esfomeada e avançar sobre o balcão enquanto o Dani ainda está trocando algumas palavras com o homem que nos recebeu na entrada. Eles terminam a breve conversa e nós nos servimos. Como sempre, deixo meu prato colorido, vistoso e com uma boa fatia da carne.

Nos sentamos e eu começo a me sentir desconfortável, pois fiquei todo esse tempo sem contato com ele. Justo no dia em que me embriaguei, resolvi ligar. Diante disso, decido iniciar a conversa.

— Daniel — seus olhos encontram os meus —, me desculpa por não ter te ligado durante esses meses que se passaram...

— Imagina... Não precisa se desculpar — diz em tom suave. — Eu também não te liguei, não quis atrapalhar o início do seu relacionamento. — levo a primeira garfada de comida à boca. — Sinto muito que não tenha dado certo. — minha expressão chega a doer em meu rosto, de onde ele tirou isso? — Para quem estava tão interessado, até que ele se recuperou muito bem.

— Como assim? — questiono de boca cheia, mas contendo um pouco da minha indignação.

— No sábado, quando você me ligou, eu estava em uma boate com uns amigos e ele estava lá. — a comida que eu mastigava há segundos atrás, parece ter parado na minha garganta e eu me engasgo, mas não o suficiente para me sufocar.

— Karen!? — Daniel exclama.

— Eu... — tento falar em meio à tosse. — Estou... Bem. — respiro fundo e pego no copo d'água sob o olhar atencioso do Dani. Bebo alguns goles tentando me recuperar da informação.

— Não lembro exatamente o que te falei naquela noite, eu bebi muito e... — paro de falar incerta sobre o que dizer.

— Você disse que estava mal, que era o fim e... — ele hesita. — Deduzi algo errado?

— Não, eu é que estava muito bêbada e falando besteiras — esclareço passando as mãos pelos cabelos na tentativa inútil de afastar os pensamentos que invadem a minha mente sobre o que o Douglas fazia em uma boate. — Nós não terminamos, apenas nos desentendemos. — Daniel arregala um pouco os olhos e ergue as sobrancelhas. — O Douglas estava com alguém? — ele hesita e bebe um gole d'água.

— Karen, desculpa por me intrometer. Eu não devia ter falado nada...

— Mas falou e eu não vou conseguir esquecer isso! — meus batimentos cardíacos aceleram e um milhão de coisas passam pela minha cabeça. — Me conta logo, Daniel!!! — ele esfrega o meio de sua testa e respira profundamente.

— Ele chegou sozinho. Ficou um tempo no bar e, por um momento até achei que ele estivesse esperando por você. — minha respiração começa a falhar e sinto medo do que pode vir depois disso, mas o Daniel para de falar e desvia o olhar.

— Continua, Dani!!! Ele se encontrou com alguma mulher?!

— Sim. — levo as mãos ao rosto tampando os olhos, decepcionada demais para conseguir olhar nos olhos de alguém. — Uma mulher foi até ele e conversaram por cerca de dez minutos e depois saíram.

— Como ela era? — indago para constatar minhas suspeitas.

— Branca, ruiva e elegante. — saio de órbita por uns instantes sem acreditar que ele me largou em São Paulo dizendo que ia trabalhar, mas a verdade era que ele quis se encontrar com aquela vadia. Me esforço para não perder o controle na frente do Daniel.

— Ele te viu? — questiono com os olhos semicerrados e ele franze o cenho.

— Você vai contar para ele?! — inquire.

— Alguma coisa eu preciso fazer, não posso engolir isso.

— Eu estava na área vip, no andar superior e ele, no bar que fica no andar inferior. Não tem chances dele ter me visto. — fico em silêncio diante da resposta dele e pensando em qual momento eu deveria falar para o Douglas que descobri o segredinho dele.

— Karen, eu detesto te ver assim e preferia não ter falado nada — diz desapontado.

— Então preferia que eu estivesse sendo enganada?! — inquiro.

— Não, claro que não. Eu só não gosto de te ver assim.

Mais um silêncio paira sobre nós e continuamos nosso almoço sob um clima pesado. Eu estava com saudades do Daniel e jamais me passou pela cabeça que quando tivéssemos uma oportunidade para conversar, seria nessas circunstâncias. Meses sem nos ver e poderíamos conversar sobre tantas outras coisas... Preciso puxar algum assunto, pois já terminamos de comer e eu não quero ir embora e ficar com essa lembrança do nosso reencontro.

— O que mais eu falei naquela ligação? — pergunto realmente querendo saber, pois foram cinco minutos de conversa.

— Entre outras coisas — ele começa a responder sorrindo —, que estava com saudades de mim, mas você estava muito bêbada, não é?

— Bem que dizem que quando a bebida entra...

— A verdade sai — completa ele sorrindo e eu confirmo com um aceno de cabeça. — E sobre aquele piercing? — sinto meu rosto corar imediatamente e pela minha reação, fica bem óbvio que é verdade. Assisto a gargalhada do Daniel tentando manter-me séria, mas não consigo.

Pagamos a conta e caminhamos até o carro novamente, ambos precisamos estar de volta ao trabalho em 20 minutos. No caminho vamos conversando sobre o hospital.

— O Dr. Júlio deve estar feliz por poder comandar a cardiologia sem mim. — falo observando o movimento na rua pela janela do carro.

— Você não soube?! — indaga perplexo. — Ele cometeu um erro médico enquanto fazia um procedimento simples!

— Sério?! — refuto com a mão na boca, espantada.

— Sério! Algo que você teria feito com os pés no pescoço. Agora ele está sendo processado e o Dr. Gilberto o demitiu.

Após ficar sabendo disso, fico certa de que quem deseja o mal para os outros, esse mesmo mal volta pior. O Daniel conta que está insatisfeito com o hospital e que, em breve, pretende sair. Ele é um médico sensacional e está lá apenas pelos mais necessitados. Obviamente, até os mais necessitados devem estar procurando atendimento em um hospital melhor. Chegamos à clínica e é hora de nos despedirmos.

— Dani, adorei te rever e almoçar com você hoje — digo carinhosamente.

— Karen, se cuida e se tiver algum problema, por favor, me liga — fala ele com uma expressão preocupada.

— Pode deixar — digo enquanto abraço-o e volto a sentir aquela ligação forte que tínhamos enquanto trabalhávamos juntos. — Não precisa mais deixar de me ligar por causa dele — digo ao nos soltarmos. — Conheci poucas pessoas especiais naquele hospital e você é uma delas. — sorrimos um para o outro. — Você e... Acho que só você mesmo — confesso e abaixo a cabeça.

— Você é muito especial para mim — diz enquanto levanta meu queixo para que eu o olhe —, você sabe disso. Independente de qualquer coisa. — ele beija meu rosto e eu faço o mesmo em um abraço mais afetuoso. — Se cuida.

— Você também — digo ao soltá-lo e caminho em direção à porta da clínica.

Passo na farmácia ao lado e compro algumas coisas das quais posso precisar nos próximos dias e entro em meu local de trabalho me sentindo vazia. Basta eu sair da presença do Daniel para que vários sentimentos ruins tomem conta de mim. Ainda não consigo acreditar que o Douglas fez um imenso teatro fingindo que iria trabalhar para passar a noite com a coleguinha de trabalho. Por isso ele apagou as mensagens correndo, obviamente só tinha papo de amantes.

Sinto meu peito se rasgar e começo a me debulhar em lágrimas. Apoio os cotovelos sobre a minha mesa e entranho meus dedos nos meus cabelos. Eu queria que fosse mentira, mas o Daniel não é do tipo que mente. A única coisa que eu não entendo, é por quê o Douglas fez questão de vir atrás de mim e me conquistar se tinha um caso com uma colega de trabalho?

Eu dei um jeito de trazer a Paola para perto de mim, porém, ela parece tão distante agora que preciso conversar com ela... Eu quero chamá-la aqui agora e contar tudo, mas não posso atrasar o atendimento por causa de problemas no relacionamento. Tenho que arcar com meus compromissos, só acho que não vou conseguir desempenhar minhas funções com êxito se guardar isso tudo para mim. A Paola não vai ter a solução para isso, então já sei o que fazer. Pego meu celular e disco o número do Douglas com as mãos trêmulas e as lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele atende no quarto toque.

— Oi, amor! — sua voz é doce e calma.

— Douglas, nós precisamos conversar. — digo com firmeza e noto um pequeno silêncio. — Você me ouviu?!

— Ouvi, o que aconteceu?! Por que você está chorando???— indaga em tom de preocupação.

— Quando você sair do serviço, vá na minha casa. — peço tentando manter o mesmo tom de antes, mas ouvir a voz dele exalando preocupação me coloca a prova e eu desabo.

— Fala, Karen! O que houve? — insiste.

— Mais tarde a gente conversa — digo e encerro a chamada.

Dirijo-me até o banheiro da minha sala em passos rápidos e encaro meu reflexo no espelho.

Cadê aquela Karen que estava no auge da felicidade? — penso ao ver minha desolação.

Depois de tudo o que passei por causa do Ygor, eu realmente achei que com o Douglas seria diferente. E até foi, pois meu ex apenas me deixou, já o Douglas me traiu e mentiu na maior cara de pau.
Abro a torneira e lavo o rosto terminando de remover a maquiagem desfeita pelas lágrimas. A água fria toca minha pele despertando-me para a realidade. Tenho várias consultas que me manterão ocupada até às 17h00 e não posso ficar aqui chorando no banheiro.

• • •「◆」• • •

As horas se arrastaram me causando uma tremenda dor de cabeça. Cada intervalo entre as consultas me dava a chance de checar minhas mensagens e ligações perdidas, mas nenhuma notificação era sobre o Douglas. Obviamente já sabe que eu descobri tudo e entende que não vai adiantar de nada ficar me ligando para dar uma de inocente. Na verdade, acho até que nem vai aparecer na minha casa mais tarde.
Enquanto arrumo minhas coisas, alguém bate à porta.

— ENTRE! — digo e logo em seguida a Paola entra.

— O que houve? — pergunta ela. — Nem te vi na hora do almoço. — não respondo, desabo novamente.

— O que aconteceu, Karen?! — indaga mais uma vez enquanto me abraça.

— O Daniel... — tento começar e um soluço me interrompe.

— O que tem ele? — me afasto dela e me sento na cadeira de pacientes. Paola se senta na mesa, de frente para mim.
Conto tudo o que fiquei sabendo pelo Dani e a Paola se enfurece.

— Não acredito que ele teve a coragem de fazer uma coisa dessas!!! — diz chocada.

— Nem eu, parece um pesadelo.

Depois de quase meia hora de conversa, começamos a fazer o fechamento do caixa com a Marcela e a funcionária responsável por receber o pagamento das consultas. Eu não estou conseguindo me concentrar em nada, então aos poucos me desvencilho do que estão fazendo e caminho até a janela para tomar um ar fresco. Me deparo com uma viatura da polícia federal estacionada bem em frente à clínica.

— Karen, terminamos aqui — diz Paola.

— Tudo bem, estão dispensadas. — antes que a Paola saia, vou até ela. — Ele está lá fora, finja que não sabe de nada. — ela me olha tentando conter a raiva que sente. — Por favor! Se você disser alguma coisa, vai ficar pior. — Paola assente revirando os olhos e saímos juntas.

Ela anda pisando firme no chão e com a mandíbula tensionada. Chego a ter dúvidas se ela realmente vai se controlar e não se meter agora. Mais alguns passos e ela passa por ele sem cumprimentá-lo. Douglas a encara com uma sobrancelha erguida como se não entendesse a atitude da Paola. O que ele esperava? Ela ainda fez pouco. Paro perto dele e espero por alguma palavra.

— Me conta o que aconteceu, eu passei a tarde toda preocupado com você. — ele tenta tocar meu rosto e eu afasto sua mão.

— Não encosta em mim! — Douglas se espanta. — Eu já sei de tudo!!! — sua expressão se enrijece.

— Do que você está falando?!

— Quanto tempo você achou que conseguiria esconder isso de mim? — indago me forçando a não chorar.

— Karen, não foi pela boca de terceiros que eu queria que você descobrisse.

— Então você tinha planos de revelar seu caso com a Vivian?! — solto uma gargalhada irônica.

— O quê?! — ele franze o cenho e no canto de seus lábios parece surgir um sorriso. — De onde você tirou isso?

— Não tenho só a Paola e o Wesley como amigos. — respiro fundo para recuperar o fôlego. — Fiquei sabendo que vocês se encontraram em uma boate no sábado, enquanto "trabalhavam".

— Quem te contou?!

— Isso importa? — inquiro ríspida.

— Na verdade não. — ele faz uma pausa. — Deixa eu pensar... Você estava com a Paola e o irmão dela. Sobra quem? — pergunta em tom sarcástico. — Ah, o gavião! Faz todo sentido!

— Que gavião? — pergunto sem entender.

— O Dr. Topete, metido a lutador de Jiu Jitsu — explica. — Com certeza achou que o caminho estava livre e veio pegar a presa. — eu bufo.

— Não me importa quem você pensa que me contou. O fato é que está tudo acabado e você pode voltar a ter um "não sei como chamar" com aquela vadia! — exclamo e começo a andar sem rumo a fim de sair de perto dele, mas ele segura meu braço.

— Karen, espera! — ele pede.

— Já falei para não encostar em mim! — tento me soltar, mas ele é mais forte e não afrouxa. — Me larga!

— Entra no carro, eu te levo em casa e te explico o que aconteceu.

— Não há nada a ser explicado! Solta o meu braço! — ele continua me segurando. Eu me irrito e miro meu punho fechado com toda força acertando um gancho em seu queixo. Uma dor explode na minha mão.

— Ai! — exclamamos juntos e finalmente ele me solta levando uma das mãos ao rosto. — Karen, eu estou fardado. Tem como você não me agredir nessas condições? — olho em torno de nós e percebo que as pessoas nos observam espantadas.

— Claro, é só você não vir atrás de mim!

Começo a andar apressada novamente e penso em pegar o celular para pedir um Uber, mas isso vai levar um tempo. Olho para trás e vejo que o Douglas está saindo com a viatura. Cerca de vinte metros atrás dele, vem um táxi. Chego da beira da calçada e sinalizo para que o taxista me aviste e se apresse, mas o Douglas para em minha frente de modo a bloquear a passagem e grita:

— KAREN, ENTRA NO CARRO! — dou de ombros e sigo até o táxi. Vejo que está livre e entro dizendo meu endereço, porém, não temos como seguir, pois o Douglas continua bloqueando a rua.

— Senhora — diz o taxista —, eu vi aquele policial ordenando que entrasse na viatura. Acho melhor a senhora ir, não quero problemas com a polícia.

— O quê? — indago indignada. — Você não vai ter problemas... — os carros atrás de nós começam a buzinar.

— Desça do táxi, por favor. Não quero encrencas. — eu bufo e saio batendo a porta.

Não vou dar o braço a torcer. Pego meu celular e continuo andando pela calçada. O ultrapasso e ele acelera andando na mesma velocidade que eu.

— Tem como você entrar no carro logo? — questiona. — Eu quero te contar o que aconteceu, mas desse jeito não dá! — não respondo e continuo caminhando.

Os carros buzinam ainda mais e o Douglas não dá a mínima. Talvez eu consiga ignorá-lo até minha casa e depois disso, nunca mais nos falaremos. Paro de andar e olho para ele avaliando se essa é uma boa ideia. Imediatamente ele abre a porta do carona. Eu bufo e entro sem olhá-lo nos olhos. Ele acelera o carro e o trânsito começa a seguir normalmente.

— Vou te contar tudo o...

— Cala a boca! — ordeno. — Eu não quero ouvir nada! Só entrei porque vi que você não ia desistir.

— E você acha que depois de conseguir fazer você entrar eu iria ficar quieto sem me defender?! — não pronuncio uma palavra sequer. — Eu não tenho nada com a Vivian, já te falei isso. No sábado, ela ligou para informar que havia descoberto onde o cara que estamos investigando iria se encontrar com os demais envolvidos. E era nessa boate.

— Não tem uma desculpa menos esfarrapada?!

— Nenhuma delas seria melhor que a verdade — diz ele. — Pergunte ao seu informante se por acaso ele viu algo além de uma conversa normal entre ela e eu. — paro uns segundos para pensar no que o Daniel havia me contado. Ele disse que o Douglas ficou um tempo no bar sozinho e depois chegou uma mulher ruiva. Conversaram por cerca de dez minutos e depois saíram juntos.

— Vocês se encontraram lá e depois saíram juntos — argumento.

— Estávamos usando ponto eletrônico e nos comunicando sobre o movimento dos suspeitos — explica —, mas por algum motivo, ninguém apareceu. Tentamos pensar em outra estratégia e não conseguimos chegar a nenhuma conclusão, então fomos embora. Cada um para um lado. Eu ainda tinha muito o que resolver, já que aquela porra toda tinha dado errado. — olho-o com o canto dos olhos à procura de sinais de mentira.

— E por que só vocês dois participaram disso em vez de toda a equipe? — questiono em tom desafiador. Uma ruga se forma em seu cenho e uma veia pulsa em sua testa. Com essa pergunta, tenho certeza que o pego.

— Só vou contar isso porque é para você. Não comente com ninguém — pede. — A Vivian conseguiu essas informações de maneira ilegal. Não conseguimos um mandado, ela resolveu invadir uma propriedade e obteve aqueles dados a que se referiu naquela ligação na casa da sua irmã. Eu já estava sendo pressionado a resolver isso até o prazo de hoje, mas não consegui e fui obrigado a pedir mais tempo. Com o que temos, ele já pode ser preso, mas descobri mais uma infinidade de crimes. Só preciso reunir as evidências necessárias para que ele passe o resto da vida na prisão — finaliza de maneira ríspida.

Minha ficha começa a cair enquanto seguimos para minha casa. Quando nos conhecemos de fato, em nosso primeiro encontro, ele disse que era um cara viciado em trabalho. Parece que está voltando aos velhos hábitos e isso me causa uma certa preocupação. Eu não quero que ele volte a ser aquele cara, pois não foi à toa que se arrependeu de ser daquele jeito, não o fazia bem.

Faço um pequeno retrocesso em todas as suas palavras e não consigo encontrar uma outra brecha para continuar acreditando que ele esteja me traindo com a Vivian. Desde o hospital, ele já havia deixado bem claro com atitudes e palavras que seu trabalho na polícia era a coisa mais importante em sua vida. E parece que era só isso que ele estava fazendo naquela noite mesmo.

— Karen — me chama ao pararmos em frente ao meu portão. — O que mais eu posso dizer para que você acredite em mim?

— Que depois que você pegar esse cara, a gente vai tirar umas férias.

Em seus lábios, um pequeno sorriso se forma em quanto seus ombros, que antes estavam arqueados, agora relaxam. Ele se aproxima e eu faço o mesmo. Com um beijo carinhoso, voltamos a nos sentir um só de novo.

Nos despedimos e eu entro em casa com um cansaço que me impede de fazer qualquer coisa. Me jogo no sofá e encaro o teto pensando em tudo o que o Douglas falou. Além de seus velhos hábitos, outra coisa que me deixa com medo, é que ele me troque por trabalho, como fez com as outras.

Sou forçada a me desligar das minhas preocupações por uma ligação do meu pai.

— Oi, pai! — atendo animada.

— Onde você está, Karen?! — indaga um tanto exasperado.

— Acabei de entrar em casa, o que aconteceu? — pergunto enquanto começo a tirar os sapatos.

— Eu é que pergunto! — berra ele. — Aquele covarde está aí?! — pergunta.

— De quem você está falando?! — indago desconfiada.

— Como de quem?! Daquele seu namorado! — exclama. — O Fernando me ligou preocupado dizendo que viu o Douglas te obrigando a entrar na viatura!

— Quem é esse Fernando?! — indago irritada.

— O dono do café que fica em frente à clínica — explica. — Ele não mentiria. Pare de defender esse cara! Ele é agressivo, Karen!

— Pai, isso foi um mal entendido —, ele não deve ter visto direito, ele só me segurou, foi eu quem o agrediu. Dei um soco nele e me arrependo.

— Era só o que faltava! — fala com rispidez. — Além de defendê-lo, você está assumindo a culpa por ele.

— Não estou defendendo, pai! Foi isso que aconteceu! — tento convencê-lo.

— Você está em um relacionamento abusivo e não percebe! — eu bufo, não tenho argumentos necessários para provar o contrário. — Se você não tomar nenhuma atitude, eu vou.

— Não vou terminar meu relacionamento por algo que ele não fez ou não é. Ele não me obrigou a entrar na viatura, entrei por livre e espontânea vontade. E eu que agi com violência.

— Não confio em te deixar trabalhando lá sem ninguém da minha confiança. Aqueles seguranças não estão sendo nada eficientes. Você tem até o próximo domingo para resolver isso.

— O que o senhor vai fazer?! — inquiro preocupada, mas não ouço resposta, só o som do término de chamada.

Era tudo o que não deveria ter acontecido. Eu não podia ter perdido o controle bem na frente de outras pessoas. Muito menos de pessoas que conhecem o meu pai, um homem influente que será capaz de mover céus e terra para conseguir o que quer. O que torna tudo pior, é o Douglas ser uma autoridade policial importante, que tem um legado na profissão. Tenho medo que meu pai o prejudique só para afastá-lo de mim.

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