36
O sol invade o quarto avisando que é hora de levantar. Sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim ontem à noite. Viro-me e vejo que o Douglas não está na cama. Meu celular marca 8h45. Me espreguiço afastando o cansaço de mim sem muito sucesso, mas não posso me dar ao luxo de esperar o marasmo passar por conta própria. Me arrasto para fora da cama e abro minha mala. Pego um short jeans de cintura alta, um croped de crochê na cor vinho e visto rapidamente. Saio do quarto e vejo a Paola, o Wesley e a Kássia sentados à mesa tomando café da manhã.
— Que terremoto foi aquele ontem? — pergunta o Wes com gracejo e as outras duas chacoteiras começam a rir.
— Bom dia para vocês também — devolvo e me sento à mesa.
— Ah, minha amiga... — Paola intervém de boca cheia. — Você não pode negar que algo bem caliente e selvagem aconteceu ontem.
— Melhor admitir logo, Karen. — Kássia apoia, nem acredito que ela já faz parte do time da zueira. — E antes que o Douglas volte, senão o Wesley vai pegar no seu pé na frente dele e vai ser pior.
— Onde ele foi? — indago com curiosidade despejando café em uma xícara.
— Saiu com o Eduardo — minha irmã explica. — Foram correr na praia, mas não devem demorar. — ela aguarda uns segundos e volta a falar. — Conta, Karen! Ele te deu uns tapas? — eles não vão parar enquanto eu não contar.
— Vocês vão ficar comentando na frente dele? — inquiro com um olhar cerrado observando minuciosamente cada expressão deles. Todos negam, cada um à sua maneira e eu prossigo. — Conseguem enxergar isto? — pergunto mostrando o pulso onde tem um pequeno hematoma verde arroxeado.
— Ele te machucou?! — a Paola interpela em tom autoritário.
— Ele não, as algemas dele. — fui encarada por olhos arregalados acompanhados de queixos caídos.
Conto superficialmente, pois alguma coisa eu preciso falar para que eles parem de fazer perguntas. Limito em dizer que ele foi um policial de arrepiar na cama e foi o suficiente para saciar a curiosidade deles. Por outro lado, isso trouxe outros questionamentos.
— Mas vocês já estão juntos há alguns meses — a Paola diz —, durante todo este tempo vocês ainda não tinham brincado de polícia e ladrão ainda?! — antes que eu pudesse responder, o Wesley comentou:
— Claro que não! Eu já teria arrancado essa informação dela. — continuo tomando meu café em pequenos goles enquanto a Paola começa a retirar a louça suja da mesa.
— Então por que ele resolveu fazer essa brincadeira logo aqui? — Kássia indaga com curiosidade. — Não que eu tenha achado ruim, pois o Edu e eu não ouvimos nada devido à distância do nosso quarto. O Wesley que comentou hoje cedo. - atiro um olhar reprovador para o Wes enquanto ele ri de mim.
A pergunta da minha irmã me coloca para refletir. Por que aqui? Ele poderia ter feito esse joguinho na casa dele ou na minha. E há tempos. Só pode ser por causa do que ele viu no meu notebook. Deve ter dado para notar que eu era mais soltinha e talvez ele estivesse querendo provocar esse meu lado. Eu disse uma sacanagem aqui, outra ali e vi como isso causou um efeito nele. Acho que ele está com ciúmes do meu passado com o Ygor. Alguma coisa o fez se sentir menos que o meu ex e ele deve ter achado que tinha necessidade de superar isso, de ser melhor. Explico tudo isso a eles e todos concordam. E também acham que ele já superou o Ygor desde o princípio, pois nem aqui em São Paulo aquele canalha quis vir comigo. Não sei por qual motivo achou que eu iria com ele para a Colômbia.
O Douglas e o Eduardo chegam rindo alto e muito animados. Parece algo juvenil demais, mas meu coração dispara quando o vejo e minhas mãos suam. Um sorriso bobo e impossível de ser desfeito, se forma em meus lábios. É bom ver meu namorado se divertindo assim, já que desde que ele pegou esse caso, tem andado muito tenso e estressado. Entendo que ele deve estar sendo muito pressionado e não possa se dar a chance de errar em nada. Ele é o líder e este pode ser seu último trabalho. Uns dias de distração farão muito bem a ele. À nós, na verdade.
Minha expressão boba não passa despercebida pelo Douglas, que caminha na minha direção. Ele cumprimenta a todos e em seguida, me beija carinhosamente. De um jeito quase inaudível, fala:
— Deixa eu ver isso. — ele pega em meu pulso e procura o hematoma que já suspeitávamos de que apareceria com mais força pela manhã. O Wes levanta disfarçadamente e cutuca a Paola para mostrar a versão preocupada do Douglas, enquanto a Kássia ainda toma seu café comigo.
— Não deve ficar pior que isto - digo para tranquilizá-lo. — Nem está doendo. — ele acaricia a marca da algema parecendo querer que ela suma da minha pele.
— Como estava a praia? — inquiro a fim de desviar a atenção dos vestígios da noite em que fui presa.
— Ótima! — ele exclama animado. — Por que você não vem comigo?!
— Não — rejeito o convite com pesar —, vou ajudar a Kássia nos últimos ajustes para o evento de mais tarde. — minha irmã ergue a cabeça na nossa direção.
— Imagina! Não precisa se preocupar com isso. Tem um mutirão que virá me buscar em vinte minutos para arrumar o salão. Vocês todos menos o Edu, pois ele vai comigo, têm o dia e a tarde para se divertirem como quiserem. — o Eduardo ri atrás de nós.
Eu ia protestar, mas ela me impediu com um simples gesto. Sou a mais nova e ela sabe assumir o posto de irmã mandona. Não insisti. Eu, Paola e o Wes, nos arrumamos rápido e fomos caminhar na praia com o Douglas. É claro que o nosso "se arrumar rápido" pode não ser o mesmo para outras pessoas, principalmente por termos o Wesley em nossas vidas. Único, ele nos faz ficar loucas por exigir que saiamos como ele acha melhor. De biquíni à marca dos óculos escuros.
As nuvens no céu têm um efeito varrido. Quando éramos crianças, a Kássia e eu costumávamos dizer que em dias em que as nuvens estavam assim, era dia de faxina no céu. O vento está forte e abafado. O clima pede um mergulho para lavar a alma e renovar as energias. Corremos para a água feito crianças entusiasmadas. A água não estava tão fria como eu temia e dá vontade de ficar aqui pelo resto do dia.
Após uns minutos, me dou por satisfeita e saio da água. Sento na canga forrada na areia e fico a observar o Douglas e meus amigos. O Wesley tenta fingir um afogamento para chamar a atenção do salva-vidas, mas este só achou graça. Ele é péssimo em teatrinhos, consegue até ser pior que eu.
Meu namorado sai da água reluzente e lindo. Em minha mente, passa um filme de toda a nossa trajetória até aqui. Por mais que eu me sentisse atraída por ele enquanto ainda era sua médica, não imaginava que pudéssemos estar juntos um dia. Eu até desejei isso, mas desejar é uma coisa e correr atrás para realizar nossos desejos, é outra. Às vezes me pego pensando em como poderia ter sido o meu relacionamento com o Daniel se tivesse escolhido ele, mas realmente não faço ideia.
Com um beijo molhado, gelado e salgado, o Douglas me traz à realidade. Ele se senta ao meu lado enquanto a Paola e o Wesley ainda curtem o banho de mar. Crianças brincam na areia, um homem que beira os cinquenta anos de idade brinca com seu pastor alemão e um casal passa a nossa frente. O rapaz de no máximo vinte anos, exibe um corpo definido e bronzeado. A garota deve ter uns dezoito anos, é morena e tem os cabelos cacheados bem volumosos. Fico desconfortável ao ver a maneira com que o Douglas a observa. Sinto o meu sangue ferver e minha vontade é de dar um tapa atrás de sua cabeça. Mas me seguro, um pouco.
— Você já teve seu momento para olhar a mulherada quando veio com o Eduardo — digo irritada e ele logo me encara. — Tenta disfarçar, pelo menos — peço e fico emburrada. Ele fica mudo e olha o horizonte, com semblante tranquilo.
— Eu não consegui disfarçar mesmo — ele começa a falar e eu quase o mando calar a boca. — Nunca consigo. Sempre que eu vejo uma garota parecida com a minha irmã, eu perco a noção das coisas. — sinto como se tivesse acabado de levar um soco no estômago. Minha cabeça gira em sua direção por conta própria e meus olhos buscam os seus, mas ele encara o chão de areia agora.
— Sério? — pergunto feito uma idiota. — Desculpa, eu pensei que...
— Ela usava o cabelo do mesmo jeito que aquela garota — diz perdido em lembranças. — Só era mais alta e tinha mais idade. O rosto arredondado e o nariz arrebitado, são iguais. Como pode? — questiona como se eu tivesse a resposta. Eu emudeço observando sua expressão, como de uma criança que quer entender como os pássaros voam.
— Eu vi em algum programa de TV, que todos temos uma pessoa igual a nós em algum lugar do planeta. — sei que mandei mal, mas não sabia o que dizer. Nunca sei. Ele lança-me um olhar e sorri, com certeza me achando boba.
— Não quero que você fique chateada, mas quando tivermos uma filha, eu queria que se parecesse um pouquinho com ela. — suas palavras carregam a saudade da Daiana e provocam em mim uma sensação diferente de tudo o que já senti. Em mais de dois anos de relacionamento, o Ygor nunca tocou neste assunto e nem demonstrava se tinha o desejo de ter filhos comigo. Em menos de seis meses de namoro, o Douglas já está considerando sermos pais.
— Não estou chateada — falo tocando em seu rosto. — Eu compreendo e tenho certeza de que nossa filha será muito bonita se parecer com ela — completo ainda estranhando a sonoridade das palavras "nossa filha". — ele se aproxima de mim e me beija levemente. Juntando esse beijo às nossas últimas palavras, sinto que estamos fechando um ciclo e começando outro. Antes éramos um casal de namorados apaixonados vivendo um dia após o outro. Agora, vivemos o dia pensando no dia seguinte, e no outro após esse.
• • •「◆」• • •
Voltamos para o apartamento e o Douglas assumiu a cozinha da minha irmã. Paola estava na sacada tendo uma D.R. pelo celular com o Diego, que estava ligando para ela desde ontem. O Wes estava reclamando sobre a cor do esmalte que eu usei para pintar minhas unhas, mas eu não estava conseguindo prestar muita atenção.
Eu estava no sofá de pelúcias da Kássia ainda comovida com o que Douglas falou na praia. Comecei a me sentir mais especial para ele, pois na noite do fiasco que foi o nosso primeiro jantar, ele mencionou que nunca havia tido nada sério com nenhuma das mulheres com quem se relacionou. Obviamente não sentiu nada além de atração física e sexual por elas. Pensar em ter filhos comigo, me coloca acima de qualquer outra que já passou pela vida dele. Ainda temos uma jornada pela frente. Eu pretendo casar um dia, mas não vou tocar nesse assunto sem que ele tome a primeira atitude. Mesmo eu estando feliz ao seu lado, não quero apressar as coisas. Se continuarmos no ritmo em que estamos, nos tornando mais importantes na vida um do outro a cada dia, tenho certeza de que em alguns meses serei surpreendida por um pedido de casamento.
Em meio à todas essas ondas e sentimentos, sou invadida por algo que não dei muita atenção nos últimos dias. Minha menstruação está atrasada há quase uma semana. Fico em choque por uns segundos avaliando a possibilidade de estar grávida, mas a única razão para pensar nisso, é a conversa que tivemos na praia. Eu tomo anticoncepcional há muitos anos e não fiz nenhuma pausa ou troca de medicamento.
— Karen! — a voz do Wesley me traz à realidade. — Olha a cara da Paola. — ergo-me para conseguir olhar para ela e me deparo com seu olhar perdido no horizonte. Faço um sinal com a cabeça para o Wes e nós dois cruzamos a sala até ela.
— Paola, o que aconteceu? — pergunto assim que sento ao seu lado no sofá de pallet. Ela me olha pensativa.
— Nós terminamos — responde com as sobrancelhas franzidas, como se ela própria não entendesse o que ocorreu.
— Terminaram?! — o Wes questiona.
— Não, eu terminei com ele — Paola corrige, deixando eu e o Wesley ainda mais confusos.
Vendo que nós não entendemos nada, ela disse que o Diego tinha pedido para que ela não viajasse conosco neste final de semana. Mas que deixou claro que não era por querer controlá-la, mas sim porque ele tinha planejado outras coisas para hoje com ela. Eu ouvi tudo atentamente e não estava conseguindo entender até que ela falou que estava desconfiando de que o relacionamento deles estava ficando sério. Minha amiga nunca se importou de dar liberdade para os namorados saírem com os amigos, até porque, ela também curte um tempo com as amigas. Pelo que ela contou, ele está colocando-a em primeiro lugar.
— Você está satisfeita com o término, Paola? — perguntei preocupada com a expressão dela. Me surpreendi quando de repente, ela começou a chorar em um ritmo que seria impossível falar. Eu a envolvi em um abraço e o Wesley buscou um copo d'água para ela.
Depois que ela se acalmou, confessou que tinha medo de se apaixonar por ele e no futuro, poderia se decepcionar, como já havia acontecido na época da faculdade. Eu não resisti e abri um sorriso, pois já havia entendido tudo. Minha amiga já estava apaixonada por ele e quando se deu conta, se assustou. O Wes e eu demos vários conselhos e o principal de todos, foi para que ela procurasse o Diego quando voltarmos para o Rio. É muito difícil encontrar um homem que queira estar ao nosso lado mais do que qualquer outra coisa e, agora que ela encontrou um, precisa dar uma chance, uma vez que o sentimento é mútuo. Mesmo receosa, disse que faria isso.
Logo que terminamos de confortá-la, Douglas nos chamou avisando que o almoço estava pronto. Se ele for o cozinheiro da relação, eu estarei obesa em menos de um ano. Nos reunimos à mesa e comemos um magnífico estrogonofe de carne, logo depois, meu namorado e eu deitamos para descansar. Conversamos um pouco sobre o horário que deveríamos sair daqui para estar no evento na hora marcada.
• • •「◆」• • •
Desperto surpresa quando me dou conta de que peguei no sono enquanto conversava com o Douglas. Provavelmente ele não quis atrapalhar meu descanso, pois não está mais aqui no quarto. Levanto calmamente e me dirijo até a porta. Abro-a sem fazer barulho e percebo que não há ninguém no apartamento além do Douglas, que está na sacada, com os cotovelos apoiados no parapeito. A Paola e o Wesley não estão na sala, devem ter saído. Minha intenção é surpreendê-lo com um abraço, já que ele está de costas para mim. Ando na ponta dos pés com um pequeno sorriso bobo no rosto, mas que logo se dissipa quando chego bem perto e vejo que ele está conversando no whatsapp com uma mulher. Forço minha visão para ler o que estão conversando, mas o que vejo logo de cara, é a cor dos cabelos dela. Um ruivo bem aceso na altura dos ombros. Além disso, consigo ler apenas o nome dela, Vivian.
— Quem é essa?! — antes que eu conseguisse terminar a pergunta, seu celular pulou de uma mão para a outra numa espécie de malabarismo assustado. Por pouco o aparelho não caiu.
— Caralho, Karen! Que susto! — ele exclama dando alguns cliques na tela. Eu me enfureço automaticamente.
— Quem é essa e por que você está apagando a conversa?! — ele me encara meio tenso.
— É minha parceira, amor — diz tentando parecer calmo. — são assuntos de trabalho e você não poderia ver de qualquer maneira.
— Sua parceira sou EU! — exclamo exaltada. — Você, assim como todos os seres humanos normais deste planeta, tem um grupo no whatsapp onde todos os seus colegas de equipe estão prontos para falarem sobre "assuntos de trabalho". Já te vi interagindo nesse grupo diversas vezes. Por que ela está te mandando mensagens no privado?! — Douglas desvia o olhar e respira com pesar antes de responder.
— No grupo, eles falam muito e ela queria me passar algumas informações não-oficiais que acabou de descobrir sobre o caso que estamos investigando. — o celular dele toca notificando mais uma mensagem, mas ele não olha.
— Não sei se acredito nisso — falo ainda sentindo uma imensa raiva dessa intimidade e levando em conta a insistência dela em continuar falando com ele.
— Minha relação com ela é somente profissional, Karen — ele explica enquanto outra mensagem chega em seu celular.
— Minha intuição diz que não é só isso. — e é verdade, eu sinto que tem algo mais nisso. Ele se senta no sofá da sacada.
— Tudo bem, Karen. Você pode ter razão por um lado. — algo como uma facada atinge meu peito ao ouvir isso. — Eu e a Vivian tivemos um... Não dá para nomear aquilo...
— Vocês brincavam de revistar um ao outro?! — pergunto com ironia e ele ergue a cabeça para me olhar nos olhos com indignação.
— O que eu tive com ela não foi nada parecido com o que eu tenho com você, Karen. Já faz quase um ano e não existe a menor possibilidade de volta.
— É injusto eu só saber disso agora — digo revoltada.
— Eu preciso te lembrar que você não me contou nada sobre o Ygor?!
— tem nada a ver! O Ygor desapareceu, sumiu da minha vida. Essa aí continua trabalhando com você. Por que não me contou isso antes?
— Talvez pelo mesmo motivo que você não me falou que transava com seu coleguinha do hospital! — sinto uma apunhalada no estômago.
— Como você ficou sabendo disso?! — indago chocada.
— Na verdade, eu não sabia. Você acabou de confessar. — fico sem acreditar que caí nesta armadilha. Todo aquele carnaval que o Daniel fez na noite em que eu quase morri por causa da reação alérgica, resultou nisto. — Eu tinha certeza de que alguma coisa havia acontecido entre vocês, principalmente pelo jeito que ele te protegia. Mas não precisa ficar preocupada, porque eu não dou a mínima para isso e você deveria fazer o mesmo em relação à Vivian. — algo fica mal explicado nesta história toda.
— Você está se contradizendo. — ouço mais uma notificação de mensagem e ele não olha, apenas continua me encarando. — O que aconteceu entre mim e o Daniel é bem recente, aconteceu enquanto você ainda estava internado. Por que isso não te atinge e o Ygor, sim? — enquanto ele toma fôlego para me responder, o celular dele toca novamente, porém, agora é uma ligação. Ele olha a tela e eu faço o mesmo. Apesar do telefone estar de cabeça para baixo em relação à mim, consigo ver que é a tal da Vivian.
Douglas faz um sinal com a mão para que eu aguarde e isso faz meu sangue ferver. Abro a boca para repreendê-lo, mas ele é mais rápido e faz o mesmo sinal novamente acompanhado de um "eu preciso atender".
— Fala, Vivian — ele atende ao mesmo tempo em que se levanta e caminha para dentro do apartamento. Acho que é para que eu não ouça a conversa, mas não resisto e vou atrás. — Sei... Lembro... É o quê??? — agora ele olha para trás e se depara com meu olhar desafiador o observando. Seus olhos fixam em mim. — Você tem certeza? — segundos depois, com a mão na cabeça demonstrando preocupação, ele volta a falar. — Não! Precisamos resolver isso até segunda-feira! — ele faz uma pausa. — Ok, eu vou voltar então.
—
Karen, eu preciso voltar para o Rio, agora. — cruzo os braços e o encaro como quem quer mais argumentos. — Surgiram novas provas e outros envolvidos no caso e precisamos averiguar tudo até segunda-feira. — eu balanço a cabeça em negação sentindo uma pontada de decepção. Ele se aproxima de mim e toca meu rosto. — Não precisa sentir ciúmes, você é muito melhor que ela. — tiro sua mão do meu rosto e me sento no sofá.
— É... você soube me dar um troco bem maior do que eu merecia. — ele bufa.
— Não tenta tornar isto pior do que é, tá?! Eu não tive a intenção de fazer parecer uma provocação sobre o que aconteceu entre a gente por causa do seu ex. Vou arrumar minhas coisas, o voo é daqui a uma hora — após dizer isto, ele vai para o quarto e o sigo, carregada de raiva e dúvidas.
— Como assim o voo é daqui a uma hora? Como conseguiu uma passagem às pressas?!
— A Vivian comprou desde ontem quando começou a encontrar as novas informações, mas só me falou agora. Poderia não ter nada a ver, porém, seria mais fácil ter uma passagem em mãos e pedir um reembolso do que eu precisar voltar e não ter como. — fico muda e indignada com a intensidade da relação dos dois e observo-o pegar peça por peça de roupa que estava bagunçada sobre a cama.
Esta nova informação sobre o caso que ele está investigando, trouxe também uma nova informação sobre ele. Douglas tem uma colega de trabalho que já foi uma de suas namoradas. Apesar de já ter antipatia por ela, consigo reconhecer que é uma mulher linda. Um embrulho no estômago se forma quando lembro das várias vezes em que ele chegou tarde na minha casa ou quando precisamos desmarcar nossos encontros por conta do trabalho dele. Possivelmente, eles estavam juntos fazendo só Deus sabe o quê.
Volto para o sofá onde tento controlar a repugnância que sinto do Douglas neste momento. Lágrimas transbordam meu olhar, mas eu logo as enxugo e disfarço quando a Paola sai do salão secreto com o rosto amarrotado, devia estar dormindo.
— O que aconteceu? — Paola pergunta, mas não quero responder agora, posso desabar chorando. O olhar dela desvia de mim para a porta do quarto de hóspedes. Imediatamente ela disfarça e vai até a geladeira. Ouço os passos do Douglas se aproximando e encaro minhas mãos fingindo admirar o tom vinho nas unhas.
— Eu queria ficar com você, mas realmente preciso voltar, amor. — não pronuncio nada, apenas busco seus olhos, mas seus óculos escuros me impedem.
— Tire esses óculos, não consigo enxergar sua sinceridade por detrás dessas lentes escuras. — ele sorri e se senta ao meu lado segurando a mochila, em seguida tira os óculos.
— Eu queria ir com você no evento que a sua irmã está realizando. Admiro muito a atitude de vocês e queria estar presente para contemplar isso. Mas, infelizmente eu sou o cabeça da equipe e tenho que comandar aquela porra. — ele faz uma breve pausa e eu permaneço em silêncio, apenas olhando em seus olhos. — Eu te amo, pequena. Não fique preocupada com nada, só tem espaço para você no meu coração. — ele me beija e eu retribuo. Não consigo ficar relutante quanto a isso uma vez que ele não me deu motivos para desconfiar, apenas escondeu esse fato da vida dele e, realmente, eu fiz o mesmo em relação ao Daniel. — Já chamei um Uber, deve estar chegando.
Douglas se levanta caminha até a porta, porém, volta e vai até a Paola. Cochicha alguma coisa no ouvido dela, que rebate com um "por quê???" Ele fala mais um pouco e ela começa a rir olhando para mim e eu encaro os dois sem entender nada. Ele sopra um beijo para mim e vai embora.
— O que o Douglas falou de tão engraçado, Paola?
— Ele me pediu para não te deixar beber hoje à noite, pois você é capaz de esquecer o próprio endereço. — ela gargalha mostrando que concorda com ele.
— Quer saber de uma coisa? — pergunto e não espero a resposta. — Vou encher a cara!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro