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29

Passou um mês desde que eu assumi o trabalho da minha mãe. Ela ainda está com gesso e não pode voltar a trabalhar por enquanto. Neste meio tempo, a Paola já começou na clínica comigo. Não poderia ter uma enfermeira melhor que a minha amiga para ser meu braço direito. O lance dela com o instrutor da academia, o Diego, está indo bem. Na verdade, está indo mais que bem pelo tempo que está durando. O Wesley só o conhece mesmo porque divide a casa com a irmã e o vê indo buscá-la para sair, pois por preferência dela, não vai apresentá-lo formalmente à ninguém enquanto não sentir firmeza nele. Pelo que ela diz a respeito dele, parece ser a pessoa certa para desacelerá-la.

A reforma do meu consultório acabou nem tendo início. Pelos meus cálculos, custaria quase o equivalente a compra de um imóvel novo. Então preferi começar a procurar outros locais, mas sem pressa. Estou gostando muito de trabalhar na clínica.

Durante os últimos dias, recebi mais algumas ligações daquele mesmo número que me ligou no dia em que eu fui ao jantar na casa do Douglas. A mesma situação se repetiu. Poderia ser qualquer um, algum tipo de trote ou até mesmo minha operadora, como disse o Wesley. Mas a minha intuição insistia que era o Ygor. Eu fiquei com muita vontade de retornar para ter certeza e mandar ele ir se ferrar, ao mesmo tempo tinha curiosidade de ouvir o que ele teria a dizer. Talvez estivesse sem coragem de falar algo. Eu não retornei e decidi bloquear o número de uma vez para dar um ponto final ao estresse que aquilo estava me causando. Tenho um namorado maravilhoso e não tenho motivos para querer buscar explicações de alguém que me deixou.

Meus pais têm me cobrado muito um almoço, um jantar ou qualquer coisa para que possam conhecer o Douglas. Diferente deles, a Kássia já o conheceu, mas não foi planejado. Quando eu estava levando-a ao aeroporto para retornar à São Paulo, há poucos dias, meu carro enguiçou. Enquanto eu tentava entrar em contato com alguém para nos socorrer, ele me ligou. Acabou que ele foi o nosso socorro. Apesar de ter sido um breve momento, deu para minha irmã ver que ele é um cara legal.

— Então você é o cara que roubou o coração da minha irmã? — ela perguntou durante um aperto de mão.

— Não. Na verdade foi ela quem roubou o meu. E com as próprias mãos —ele respondeu arrancando risos dela.

Essas piadinhas nunca vão ter fim.

Minha irmã queria ficar mais, mas com o Eduardo ligando para ela todos os dias dizendo que estava morrendo de saudades da loira dele, estava difícil para ela. Sem contar que não dá para deixar o estúdio nas mãos de outra pessoa por tanto tempo. Sugeri à ela que fizesse algum evento, como um concurso para arrecadar mais fundos e continuar mantendo aquelas crianças que não podem pagar pelas aulas. Ela gostou da ideia e disse que vai realizar o tal evento, só não sabe quando. De quebra convidou o Douglas também, disse que vai ser um prazer recebê-lo no apartamento dela.

Eu tentei adiar o máximo que eu pude, mas a pressão foi tanta que não consegui inventar mais nenhuma desculpa para não jantarmos com eles num sábado. Já dei muitas instruções ao Douglas do que falar e do que não falar com eles. Mas vale lembrar.

- Não se esqueça de não entrar em questões políticas - falo quando o elevador começa a subir. - Ele não consegue ver a hora de parar de criticar o governo e fica insuportável.

— Relaxa, pequena. Vai dar tudo certo — diz, massageando minhas costas. — Você está muito tensa.

— Era para VOCÊ estar sob tensão, não eu. — provoco-o.

— Estou tranquilo. É só concordar com tudo o que disserem e eles vão me adorar.

— Não é bem assim, meu pai pode fazer alguma pegadinha e deste jeito, você vai cair na dele.

— Agora estou começando a ficar nervoso. — ele para com a massagem e põe as mãos no bolso.

— Desculpa — peço pegando em seu rosto. — Nós já temos pontos de vantagem por termos passado pelo mesmo que eles. É só tentar não perder esse benefício.

Ele me beija enquanto a porta do elevador se abre. Nós seguimos até a porta do apartamento dos meus pais. Pergunto-o se está pronto. Ele assente e eu toco a campainha. Poucos segundos depois a porta se abre.

— Até que enfim! — mamãe lança um abraço de um braço só em cima do Douglas. —É um prazer finalmente conhecer o namorado da minha filhota!

— O prazer é todo meu, dona Heloísa — diz ainda envolvido no abraço dela. Ao soltá-la ele fala: — Nossa! Agora vejo bem de quem a Karen puxou tanta beleza!

Eu começo a rir sem conseguir controlar. Nada clichê. Nós entramos e eu me assusto ao ver um rosto nada esperado para aquela noite.

— Dr. Gilberto?! — disparo sem nem pensar vendo-o sentado no sofá ao lado do meu pai. — O que faz aqui?!

— Mas que falta de educação, minha filha. — meu pai adverte. — Me apresente o moço.

Fico alguns segundos paralisada olhando para aquele sujeito desprezível ainda sem entender o que ele faz aqui em meio a uma confraternização familiar. Depois me dirijo a eles junto ao Douglas enquanto mamãe fecha a porta.

— Pai, este é o Douglas — digo sem conseguir tirar os olhos do velho. — Douglas, este é o meu pai.

Eles se cumprimentam num aperto de mão. Meu pai sorri de forma mecânica convidando-o para sentar-se com eles e percebo que há algo de errado.

— Dr. Gilberto, não preciso apresentá-lo ao...

— Ao policial? — ele me interrompe — Não mesmo. Tudo bem com o senhor, Douglas? — ele pergunta com um tom irônico.

O Douglas me olha meio tenso e hesitante antes de apertar a mão dele. Mas o comprimenta mesmo assim. Milhões de pensamentos me passam pela cabeça, mas o principal, é que ele fez a cabeça do meu pai sobre ter acontecido algo entre o Douglas e eu dentro do hospital. Eu já tinha contornado esta situação revelando toda a verdade, exceto a parte que o Dr. Gilberto não acreditou na minha versão desta história.

— Já conseguiu retornar ao trabalho depois de tudo o que aconteceu? — o velho repugnante pergunta para o Douglas.

— Sim — meu namorado responde apreensivo. — Há cerca de vinte dias.

— Por que não nos conta sobre o assalto e como foi salvar aquela moça?! — o velho indaga mais uma vez deixando o clima pesado.

— É...

— Para! — peço sem paciência atraindo os olhares de todos. — Ele não precisa falar nada... Qual é o seu propósito, Dr. Gilberto?

— Karen! — meu pai me recrimina e o velho arrogante gargalha.

— Deixa, Olivier... — pede o sujeito, dando tapinhas nas costas do meu pai. — Ela tem razão. Deve ter sido muito traumático para ele ter passado por um ocorrido que quase lhe tirou a vida. — o Douglas respira fundo antes de responder.

— Eu não diria traumático, só um pouco perturbador — diz com um sorriso incômodo no rosto.

Meu pai se mostra imparcial. Seja qual for o veneno que o Dr. Gilberto destilou sobre ele, ainda não fez seu total efeito. E isso é bom, pois acho que consigo driblá-lo.

— Bom — o velho se levanta ajeitando a roupa —, eu já vou andando, só passei para conversar um pouco com um velho amigo e não quero atrapalhar, já que estão se conhecendo hoje. — meu pai se levanta para acompanhá-lo até a porta junto à minha mãe. — De qualquer forma, foi um prazer revê-lo - diz estendendo a mão para um cumprimento e o Douglas retribui. Em seguida faz o mesmo comigo e se dirige até a porta dizendo mais algumas coisas aos meus pais em despedida.

— Não sabia que ele é amigo dos seus pais — Douglas fala baixinho para que só eu escute.

— Não achei importante ressaltar isso, até vê-lo aqui.

— Acha que ele pode ter contado sobre...

— Não tenho certeza, ele se tornou uma incógnita para mim.

Minha mãe fecha a porta e os dois retornam sorridentes até nós. Tento analisar suas expressões para identificar algo que queiram ocultar, mas como o Dr. Gilberto já disse uma vez, sou formada em cardiologia, não em psicologia.

— E então, Douglas?! A menos que você se sinta desconfortável para falar sobre isso, mas eu adoraria ouvir sobre sua valentia na noite em que minha filha tirou um projétil calibre 9mm de seu peito. — me espanto. Ele sabe até a calibragem da bala.

— Acho que isso não é necessário... — tento interferir e sinto uma cutucada da minha mãe. Ela sempre me repreendeu me por me intrometer nas conversas do meu pai.

— Tenho certeza de que seu namorado é bem grandinho para responder por ele mesmo — diz em tom de brincadeira, mas que deixa uma certa tensão no ar. — Não é mesmo? — indaga direcionando suas palavras ao Douglas.

— Sim, senhor — ele responde prontamente seguro.

— Enquanto isso, você - fala olhando para mim —, pode ajudar sua mãe a pôr a mesa para o jantar.

— Vamos, filha — diz já me puxando para a cozinha. — Com um braço só é muito difícil fazer as coisas.

Levanto contra a minha vontade olhando para o Douglas, que balança a cabeça quase que imperceptivelmente em sinal de que está tudo bem. Segui minha mãe sentindo um pânico tomar conta de mim. Ela começou a contar que encontrou com uma amiga no supermercado hoje de manhã e parei de prestar atenção na parte em que a amiga vai se casar de novo e fiquei tentando ouvir a conversa dos dois, mas estão a muitos metros de distância. Esse espaço vai ficando ainda maior à medida em que continuamos andando até a sala de jantar.

Vou colocando os pratos em seus devidos lugares enquanto alterno minhas falas entre "hum", "sim" e" unhum". O Douglas não deve ter contado isso para mais ninguém além de mim e da corporação. Ele vai ter que mentir. Essa deve ser a pegadinha do meu pai. O Dr. Gilberto deve ter contado tudo e ele vai pegar o Douglas na mentira.

— O que você acha? — mamãe pergunta ao final de um longo discurso.

— Acho bom...

— Acha "bom"? O ex-marido quer tirar tudo o que é dela!!!

— Desculpa, mãe — peço colocando o último prato na mesa. — Estou preocupada com a prosa dos dois.

— Eu sei, querida — ela diz de forma terna. — Eu não participei da conversa do seu pai com o Gilberto, ele pediu para que ficassem a sós. Mas sei que tem a ver com seu namorado — ela admite. — Seu pai estava muito animado e depois que conversaram já estava sério e um pouco preocupado. — ela hesita observando o meu silêncio — Por que você tem tanto medo, filha? O que está escondendo de nós?

Resolvi abrir o jogo para ela e contei tudo. Posso estar fazendo errado, mas não quero começar um relacionamento escondendo algo da minha mãe, à princípio, coisas sobre o meu namorado. Expliquei que, ainda no hospital, fiquei sabendo pelo próprio Douglas como tudo aconteceu e que ele havia me pedido segredo. Ressaltei que não concordei com isso e procurei o Dr. Gilberto para contar toda a verdade, mas ele não só sabia como conspirava a favor do amigo, o delegado. Ela se assustou de imediato, mas logo mudou o semblante quando eu revelei que depois de eu ter viajado sem dar explicações ao Douglas, ele se sentiu mal e preferiu se acertar com a justiça e até colocou sua profissão em risco.

— Minha filha! — exclamou pasmada - Ele fez isso por amor!!!

Não consegui manter minha postura séria. Relaxei os ombros e sorri olhando pelo mesmo ângulo que ela. Ele não teria aberto mão de algo tão importante se não gostasse tanto de mim.

Arrumamos a mesa o mais rápido que conseguimos a fim de termos um motivo para interromper a conversa deles. Pensei em pigarrear quando chegasse na sala, mas fiquei impressionada ao vê-los gargalhando e meu pai terminado de falar:

— ...se tivéssemos mais policiais como você, não haveria tantos banidos por aí.

Fico estática vislumbrando os dois conversando como se fossem velhos amigos. Seja lá o que o Douglas tenha dito, convenceu o meu pai. Continuo observando até que meu eles notam minha presença.

— Tudo pronto? — pergunta ao retomar o fôlego.

Faço que sim com a cabeça e os dois me acompanham até a sala de jantar. Enquanto andamos pelo corredor, o Douglas passa o braço pelo meu ombro e dá uma piscadela para mim. É um sinal de que tudo estava indo bem.

Tudo corre as mil maravilhas. Meus pais fazem perguntas sobre a infância do Douglas, onde cresceu e estudou e nada foge às suas espestativas. Já havia combinado com eles que a pergunta "Quais são suas intenções com nossa filha?" não faria parte da conversa. Eles sabem que minha última experiência amorosa me fez ter horror a fazer planos para o futuro. Meu único plano no momento é viver.

Vez ou outra mamãe tentou comparar nossa situação com a dela e o papai, mas era sempre repreendida, meu pai fica constrangido por ser um homem tão rígido e correto e foi logo se apaixonar pela paciente... estamos em pleno encontro de dois casais de gerações diferentes, mas com as mesmas coincidências. Mamãe e Douglas são os pacientes apaixonados e papai e eu somos os médicos lutando contra paixões proibidas.

Me sinto feliz e nada me preocupa mais. Tenho certeza de que meus pais aprovam nossa relação e ficarei livre de suas cobranças por um bom tempo. Eu estava doida para dar esta noite por encerrada e ir para a casa do Douglas, mas mamãe teve a brilhante ideia de mostrar as fotografias de quando eu era criança. É típico de toda mãe coruja e a minha não deixaria esta oportunidade passar. Apesar de meu pai não ter gostado da minha relutância em fazer medicina no começo, se orgulha da minha trajetória como bailarina e se permite deixar as emoções virem à tona ao tremular a voz quando viu a primeira foto em que estou de tutu rosa e sapatilhas brancas. Todos notam, mas ninguém demonstra. Minha expressão no retrato é de uma garotinha que preferia estar coberta de lama e com uma bola nos pés, mas mesmo assim, carrega um sentimento. Da inocência de uma menina que ainda não entende o que é melhor para si.

— Karen, minha filha — chama meu pai —, posso conversar com você um minuto? Queria te mostrar um outro local bem situado para você ter sua independência profissional.

— Claro, pai! — concordo. — Já volto — digo ao Douglas e à mamãe, mas eles não se importam, estão rindo de uma foto em que estou sentada entre um casal de patos do sítio do vovô.

Entramos no escritório do meu pai e nos sentamos um ao lado do outro no sofá de dois lugares no canto do cômodo. Aguardo animada mesmo não tendo pressa para sair da clínica.

— Karen, estou preocupado com você — diz sério.

— Por quê?! — indago confusa. — Tenho ido bem na clínica, só não tenho pressa.

— Não tem a ver com isso, foi só um motivo para tirá-la da sala. Me refiro ao policial. — explica me fazendo sentir toda aquela tensão novamente.

— O que tem ele?

— O Gilberto me contou que ele é impulsivo...

— Ah! — exclamo sem paciência. — Tinha que ter o dedo dele nisso... — me levanto e começo a andar de um lado para outro. — Pai, se isso é por causa do ataque contra o assaltante, eu também achei errado e foi por mim que ele procurou a justiça... Já está tudo resolvido. — paro de andar e olho-o nos olhos. — Parecia que o senhor tinha gostado dele...

— E gostei. Ele pode matar quantas pessoas quiser, desde que vocês não tenham vínculo algum.

— Como é? — questiono equivocada. — Então você acha que ele vai criar o hábito de sair atirando nas pessoas???

— Não é a toa que ele está fazendo acompanhamento psicológico, Karen! Ele pode surtar com você e só Deus sabe o vai acontecer...

— É claro que não! Isso foi um fato isolado. — volto a sentar ao lado dele. — Ele reagiu a uma situação em que colocava em risco a vida de uma pessoa inocente! São coisas totalmente diferentes.

— Por que você não fica com o médico, o seu colega ortopedista que cuidou da sua mãe? — o encaro simplesmente sem reação. — Ele só falava bem de você, está na cara que ele te admira muito.

Era só o que faltava...

— Eu amo o Douglas e quero ficar com ele!

— Karen — agora ele é quem levanta exaltado —, você não tem maturidade para entender o que é amor...

— Como não tenho??? Eu já sou adulta!

— VOCÊ ROLOU NO CHÃO COM UMA ENFERMEIRA! — ele esbraveja na minha cara e eu emudeço. As palavras dele fazem com que eu pareça imatura. Aquele velho nojento conseguiu estragar tudo mesmo.

— Eu sei que parece infantil — falo baixo, um pouco impelida —, mas tive meus motivos.

— Porque ela se preocupou com você e comentou com um colega na intenção de te alertarem sobre como você estava se comprometendo com o seu paciente?

Fico paralisada, chocada, muda e talvez tenha até mudado de cor. O amigo do meu pai, meu ex-chefe, conseguiu fazer a cabeça dele contra mim.

— Não acredito que o senhor prefere dar ouvidos ao Gilberto e não à sua própria filha...

— Eu já devia imaginar que resultaria nisso... Era para você ser uma médica renomada e de sucesso, mas você jogou tudo para o alto por causa de uma paixãozinha infantil! - ele faz uma pausa e eu tento segurar as lágrimas, sem sucesso. — Pediu demissão por causa dele!!!

Seguro pelo menos os soluços, pois seu eu perder o controle aqui, não conseguirei recobrá-lo.

— Um dia o senhor vai perceber que acreditou nas pessoas erradas - digo enquanto limpo as lágrimas dando espaço para outras descerem por minha face.

— Até lá, vou tentar ser neutro e não me meter no seu relacionamento. Apesar de estar preocupado com você, sei que não vai deixá-lo apenas pela minha opinião. Espero apenas que, ao primeiro sinal de perigo, você acabe logo com isso.

Após dizer essas palavras, me estendeu a mão para que eu levantasse e me guiou até a porta, a abriu e saímos. Meu pai foi direto para a garrafa de whisky e se manteve em silêncio.

Tentei ao máximo não evidenciar meus sentimentos à mamãe e ao Douglas. Forcei sorrisos enquanto mamãe contava as inúmeras vezes em que foi chamada na escola para tratar sobre minhas travessuras e brigas com os meninos, já que não me deixavam jogar futebol porque eu era melhor nisso do que eles. Mas minha mãe é puro amor e intuição e percebeu que algo estava errado comigo.

— O que houve, Karen? — essa pergunta é o suficiente para que eu seja o foco da atenção dos três.

— Nada — esfreguei a fronte para uma breve encenação —, só estou com uma forte dor de cabeça e... acho melhor ir embora agora.

Depois de alguns protestos acompanhados de uma cartela de dipirona, mamãe acabou nos deixando ir, mas claro, após uma longa despedida cheia de carinho com o Douglas. Ela o adorou e o tempo todo dizia que eles tem muito em comum, já que se apaixonaram por seus médicos. Meu pai foi educado e não deixou transparecer nada do que ele tem contra nós.

Dentro do carro à caminho da casa do Douglas, foi uma tarefa difícil encontrar uma desculpa para todas as perguntas dele sobre minha dor de cabeça repentina. Ele sabia que eu estava ocultando alguma coisa. Mantive tudo guardado em mim até chegarmos ao nosso destino.

Eu estava recostada na cama enquanto ele escovava os dentes no banheiro, ao alcance dos meus olhos. Sentia a necessidade de deixar as coisas mais tranquilas, já que mulher com dor de cabeça é desculpa para não transar e este não é o caso.

— Sabe, amor — começo o teatrinho não ensaiado —, eu fiquei irritada com o meu pai porque ele quer decidir tudo sobre o meu consultório sozinho... — ele me olha de lado enquanto seca a boca com uma toalha. — Mas já passou, não estou nem com dor de cabeça mais...

Talvez não tenha sido convincente o suficiente. Preciso usar mais artifícios. Espero ele se deitar comigo e acho que já sei o que com certeza vai desviar o foco da minha falsa dor.

Deito por cima dele cheia de caras e bocas e começo a beijá-lo.

— Fiquei pensando se você — beijo seu pescoço —, não ficou curioso — beijo e mordo sua orelha —, para me ver dançar...

— Você esperta, pequena... — fala baixinho em tom malicioso.

— Posso dançar para você agora...

— Eu quero, quero muito... — começo a levantar para fazer uma performance bem sensual, mas ele me segura. — Mas só depois que você me contar a verdade. — olho-o como se estivesse vendo um extraterrestre com três cabeças. — Você achou mesmo que eu ia acreditar nisso? — pergunta com os olhos cerrados.

— Mas é verdade! — tento pela última vez.

— Não insista nisso, Karen. Eu detesto mentiras e se seu pai não foi com a minha cara, eu quero saber.

Desisto de sustentar aquela versão e me sento ao lado dele. Quero resumir em poucas palavras, ser objetiva e não estragar ainda mais as coisas.

— Ele ficou com a sensação de que você é impulsivo e... — faço uma pausa medindo as palavras enquanto o Douglas me encara dizendo um "eeeee". — acha que em meio à uma briga ou um desentendimento, você surte comigo e... sei lá... atire em mim. — finalizo angustiada e temerosa sobre a reação dele, que é um silêncio.

Observo-o olhando fixamente para o nada e já me arrependo de ter contado.

— Viu só? — pergunto chateada comigo mesma. — Era por isso que eu preferia não falar nada. Agora você está chateado com ele.

— Não, pequena — ele fala voltando de seu transe. — Ele tem razão.

An? Você atiraria em mim?! — pergunto confusa e o Douglas sorri.

— Claro que não... Mas ele é seu pai, só está preocupado com você. — ele pausa ainda pensando. — Eu contei toda a verdade a ele porque desconfiei que aquele imbecil já poderia ter contado. Queria que ele confiasse em mim. Mesmo assim, no lugar dele, acho que eu teria o mesmo medo, sabe? — observo-o e noto que ele tem mais a dizer. — Ele não me conhece, sou um estranho para ele.

— Então você não está mal com isso? — questiono para me certificar.

— Não... — fala de um jeito seguro e sem desviar o olhar, parece sincero — Com o tempo ele vai ver que não precisa ter medo, eu jamais te machucaria. — sorrio começando a entender o ponto de vista do Douglas e me surpreende o fato dele não estar chateado. — Agora coloca uma música e faz o que você disse que ia fazer — diz correndo os olhos pelo meu corpo. — Vou tentar me comportar até o final.

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