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Embora tivéssemos combinado de forma indireta que aquela seria nossa última noite, não consigo deixar de carregar uma culpa além da minha bagagem neste avião. O Daniel se declarou para mim e eu não consegui formular as palavras corretas para explicar que mesmo gostando muito dele, não era o mesmo sentimento que ele tem por mim. Mesmo assim ele entendeu e me deu seu ombro, sua atenção, me fez rir, e como ele mesmo diz, me deixou doida. Ele tem o poder de me fazer esquecer tudo ao redor quando estamos juntos. Mas é só pela amizade mesmo.
Depois de tudo o que aconteceu na última noite com ele, de certa forma eu desejava no meu interior que eu pudesse transferir o que eu sinto pelo Douglas para ele. Era injusto, muito injusto não sentir o mesmo, pois ele estava há anos ao meu lado, me apoiando em tudo. Eu não sei como, mas aquele policial me ganhou.
Apesar de ser um sentimento anormal, ele existe. Não sei o suficiente sobre o Douglas que justifique o fato de eu ter me apaixonado por ele, mas descobri o bastante para que desejasse não tê-lo conhecido. Há quem possa achar que eu poderia ignorar a desonestidade dele. Eu até concordaria porque ninguém é perfeito, só que isso não seria apenas aprender a conviver com um defeito, seria acobertar um erro gravíssimo.
Afasto meus pensamentos na tentativa de não chorar de novo e me esforço para pensar em outras coisas que possam me acalmar.
Minha viagem...
Fiz minha mala às pressas de manhã depois do Daniel ter me deixado em casa. Consegui uma passagem para o vôo das 20h00 e liguei para Kássia confirmando já que minha mãe tinha feito questão de dar a notícia à ela. Eu estou em falta com a minha irmã há bastante tempo. Ela me fez vários convites para ir vê-la depois que se mudou para o litoral de São Paulo. Eu recusei a maioria por causa do Ygor, pois ele não queria ir e eu não iria sem ele. A minoria eu recusei por causa do trabalho mesmo.
Depois de confirmar com a Kássia liguei para a Paola e contei que ia viajar sem data certa para voltar, pois precisava espairecer e me desligar de tudo. Ela deixou de descansar e arrancou o Wesley do salão para irem para minha casa e passarem a tarde comigo. Um motoboy apareceu no meu portão com a tal papelada que o Dr. Gilberto mencionou. Assinei logo para me livrar das lembranças daquela tensão da nossa conversa em sua sala.
Contei sobre a briga do Daniel com o Dr. Júlio para eles e ficaram chocados. Enquanto eu contava sobre a noite com o Dani, o Wesley ia vasculhando minha mala e trocando minhas roupas íntimas por lingeries provocantes alegando que eu poderia conhecer um "homão" e previsava estar preparada. Eu ia tirando tudo que ele estava colocando e ele fazia o mesmo com as roupas que eu recolocava na mala até que eu perdi a paciência e deixei ele escolher minhas roupas. Não tenho autoridade nenhuma com ele. Deixei bem claro para eles que combinamos que aquela foi a última vez do Daniel e eu. O objetivo dele era me distrair, me acalentar... E conseguiu. Eles se entreolharam e riram de mim. Tive vontade de perguntar sobre o Douglas, mas a Paola iria pegar no meu pé. A maldita superproteção dela comigo ainda vai me fazer explodir.
Conversei com a dona Marly sobre a viagem e perguntei se tinha algum problema o Théo ficar com ela até eu voltar. Ela disse que teria que ir a um retiro da igreja e eu quase desisti da viajem, até o Wesley se oferecer para ficar com ele. Espero que se dêem bem e que quando eu volte o Théo não esteja com as unhas pintadas de rosa.
Eles me trouxeram para o aeroporto e nos despedimos com um abraço à três.
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