12
Sinto um frio na barriga. Mal consegui pregar os olhos pensando em como vai ser o primeiro contato entre mim e o Daniel. Principalmente porque ele pediu para que eu ligasse para ele e não liguei. Não imagino o que pode estar passando por seus pensamentos agora.
Um dos pneus do meu carro amanheceu murcho e tive que vir para o hospital de Uber. Por sorte acordei bem mais cedo com intuito de conversar com a Paola e pedir uns conselhos. Por mensagem, ela me disse que está abastecendo os materiais e medicamentos na enfermaria e logo me encontrará na cantina. Ainda são 07h20 e tenho tempo o suficiente para pegar o plantão e ir até ela.
Resolvo todas as pendências e nem olho para os lados. Vou direto para a cantina onde ela já está sentada à mesa que fica de frente para a porta, tomando seu café. Me sento e respiro fundo.
— Você ligou pra ele? Ele te ligou? — ela pergunta mostrando estar mais nervosa que eu.
— Nem um, nem outro. — pego um biscoito dela. — Acha uma boa ideia eu fugir dele o dia todo?
— Poderia dar certo — diz ela —, se vocês não tivessem uma cirurgia às 08h30.
— O quê?! Você olhou direito o quadro?
— Três vezes! Vocês precisam conversar.
— Eu sei, mas eu não vou conseguir falar nada com ele...
— Karen! — exclama me repreendendo.
— Não, Paola! É sério, vou travar. Transar com ele foi sensacional! Nossa... — começa a me subir um calor por causa das lembranças e eu me abano com as mãos. — Ele é muito bom de cama, me deixou doida! — ela me encara com os olhos arregalados. — Mas como vou explicar para ele que eu ultrapassei um limite que eu mesma me coloquei e agora não sei se vou conseguir conviver com isso? — ela bufa.
— Não vai precisar, ele tá atrás de você e ouviu tudo. — ela se levanta enquanto eu fecho os olhos imaginando que posso ficar invisível se tiver fé. — Vou deixar vocês conversarem.
Permaneço de olhos fechados à medida em que ouço os passos dela se distanciando e os dele se aproximando.
— Karen, abra os olhos — pede ele.
Abro um olho de cada vez.
— Por que você tem essa mania de chegar assim, de surpresa?
— Eu tenho? — pergunta com o cenho franzido e eu noto que estou falando além do que deveria. — Você quer me dizer alguma coisa?
— Ah... Eu acho que você já ouviu. Até demais... — digo sentindo meu rosto pegar fogo.
— Karen, eu ia conversar com você, mas não agora. Não aqui no hospital. — ele faz uma pausa. — E não é só pra te ouvir, eu também preciso falar algumas coisas. — ele olha o relógio.
— Não dá tempo? — indago devido ao seu gesto.
— Pra mim, o tempo é o de menos.
— Então fala, ué... — peço, mostrando impaciência.
— Tudo bem. Mas vou avisar, eu não vou medir palavras — diz em tom firme, com determinação no olhar.
— Tá bom — falo sem firmeza alguma e acho que não estou nada de acordo.
— Você nunca me pareceu o tipo de mulher que se envolve com alguém do trabalho — começa ele. — Ah, e eu não me aproveitei de você...
— Eu sei! Eu que te ataquei e...
— Espera, deixa eu terminar. — emudeço, mas na minha mente fica o eco das minhas últimas palavras. — Aquela bebida era forte sim, mas a ideia foi sua e quase todo o resto também.
— Mas eu não disse que você se...
— Deixa... eu... falar, Karen! — ele pede pausadamente e eu me calo.
— O problema é que o que aconteceu lá em casa não foi nada que eu já não tivesse desejado há muito tempo. — me espanto com o que ele acaba de dizer. — Sempre guardei isso pra mim porque no fundo eu sabia que você ia pirar. Quer falar alguma coisa agora? — ele pergunta, mas eu travo, como previ. Só consigo olhá-lo nos olhos, ainda. — Então vou continuar. Eu vi você chegar nesse hospital totalmente inexperiente. Ficava impressionada em todas as cirurgias e nem comia direito de tão assustada que você ficava. — ele faz uma pausa, mas não é para que eu fale. Coça a barba próximo ao pescoço. — Eu te acompanhei, te assisti, te vi se tornar essa médica excelente que você é, mas nunca te mostrei de verdade o que eu queria com você. Não explicitamente. — ele cerra os olhos. — Vi você chorar pelos cantos inúmeras vezes por causa daquele imbecil que foi embora.
— O que você está querendo dizer? — inquiro com medo de sua resposta.
— Que eu verdadeiramente achei que com aquele beijo que você me deu, sua ficha tinha caído. — ele hesita, mas só por um instante. — Eu gosto de você, Karen. Gosto muito. — Daniel espera uma reação minha, mas eu emudeci totalmente. — Eu sabia que você ia ficar assim. —ele se levanta. — Outra hora a gente fala sobre isso.
— Não, Daniel! Espera! — ele demora uns segundos, mas se senta de novo. — Você me pegou de surpresa, mas preciso dizer que eu sinto muito. Acho que não daria certo, eu não sei lidar com isso. A gente trabalha junto e já é tão... perfeito desse jeito...
— Eu saio do hospital! — exclama ele.
— O quê?! — meu queixo parece pesar uns 100kg.
— Esquece o que eu falei... na verdade eu não tinha nenhuma expectativa com você. — Daniel levanta de novo indo em direção à porta, e eu vou atrás. Ele para hesitante balançando a cabeça em negação, parecendo decepcionado. — Karen, eu vou aceitar numa boa se você não quiser ficar comigo e nossa relação profissional vai continuar do jeito que é. Eu não exigi e não pretendo forçar nenhuma resposta sua em relação a isso. A única coisa que falta para essa conversa acabar, é você me dizer se o motivo para sequer tentar, é o Douglas.
Por um instante tenho a sensação de que a minha alma vai abandonar o meu corpo aqui na cantina, pois a pressão neste lugar está quase me deteriorando.
— Gente, eu não queria interromper, mas a cirurgia precisa começar logo. O Dr. Júlio internou um paciente que também precisa ser operado e não tem outra sala disponível. — a Paola invade a cantina me socorrendo desse engavetamento de palavras e sentimentos.
— Tá bom, vamos! — aproveito logo a oportunidade e saio na frente.
• • •「◆」• • •
A cirurgia durou pouco mais de 8h. Poderia ter durado menos se a paciente não tivesse uma hemorragia difícil de controlar. À medida em que o Daniel reparava o fêmur da mulher, eu corrigia uma válvula no coração em mau funcionamento. Não trocamos palavras além do necessário e ele ainda foi grosso comigo quando tentei puxar um assunto aleatório. Disse que eu estava atrapalhando-o. Ele terminou antes de mim, devido aos contratempos. Neste momento estou voltando à enfermaria. Paola está em frente ao computador provavelmente verificando a disponibilidade de leitos.
— Amiga, você sabe onde o Daniel está? — outras enfermeiras me direcionam os olhares. — Digo, o Dr. Daniel...
— Ainda agora ele tava levando um paciente pro raio-x. Como foi a DR?
— Shhh! — faço um sinal pedindo para que fale mais baixo. — Não foi muito boa. Depois eu te conto — digo rumando à radiologia.
Fico em meio às dúvidas se devo questionar o motivo pelo qual ele me fez aquela grosseria, ou seria melhor relevar? Metade de mim arde clamando por perguntar, a outra, teme ser pior. Eu vou falar com ele.
Entro na sala já me arrependendo. Tem quatro médicos além dele me encarando. Dou meia volta e abro a porta para sair.
— Karen, vem ver isso — o Daniel chama me surpreendendo. O tom de sua voz é totalmente o oposto do que usou para falar comigo durante a cirurgia. Depois de analisar seu modo de falar, me aproximo para ver as imagens. — Olha essa fratura na C6. — ele aponta para uma das radiografias sem tirar os olhos dela enquanto eu o encaro sem acreditar que é o mesmo Daniel ignorante de horas atrás. Os olhos dele brilham frente à ruptura óssea.
— Por que você me fez aquela grosseria? — sussurro entre os dentes me inclinando na direção dele enquanto os outros doutores discutem uma solução.
— Porque, às vezes, você me irrita — responde no mesmo tom sussurrado que o meu e após dizer isso, desgruda os olhos dos exames e os direciona a mim, sorrindo.
— Então tá tudo bem? — pergunto receosa.
— Eu disse que nada ia mudar, então...
— Neste caso, vou voltar ao trabalho. — ele assente sorrindo e eu saio.
Retorno à enfermaria e conto à Paola como foi a conversa com o Daniel e, mesmo que ela já tivesse desconfiado do sentimento dele por mim, ficou chocada. Mais ainda por ele ter tido a coragem de falar tudo na minha cara.
— Você deveria dar uma oportunidade à ele, Karen. Vocês se conhecem já há quase cinco anos. — ela pausa brevemente esperando que eu diga algo e eu disfarço. — Pelo menos essa conversa finalmente aconteceu e, de dois problemas, agora você só tem um.
— Qual? — inquiro confusa.
— Dar a resposta para o policial — ela diz sorrindo, o tipo de sorriso que a gente dá quando está nervosa.
— Nossa! — exclamo. — Com tudo que aconteceu nos últimos dias eu esqueci completamente de bolar uma resposta.
— Karen, bolar uma resposta?! — fala indignada. — A resposta é "não"! Isso tudo é muito fofo, meloso e quando você conta o que ele fala, eu quase vomito colorido, mas não deixa isso ir longe demais, ok? Pode ter consequências bem graves. Vai lá logo resolver isso.
Ela tem razão, mas é mais fácil para quem está de fora. Da maneira que ela fala, parece que eu não sei tomar minhas próprias atitudes, e isso vem me irritando bastante. Começo a andar tentando fazer aquele trajeto ficar maior em pensamento. Como ele vai reagir? Será que vai ficar chateado? Não, ele só tá brincando comigo. Me cantar é só um passa tempo. Afasto minhas paranóias e decido que é melhor deixar seguir o baile. A porta está entreaberta e ele está ao telefone. Entro silenciosamente. O monitor cardíaco está marcando 120 batimentos por minuto. Considerando que a frequência cardíaca normal para um adulto seja de 75 batimentos, está alta demais.
— O que tá acontecendo? — Disparo a pergunta sem notar já tirando o estetoscópio do pescoço para fazer uma ausculta.
— Depois eu te ligo — ele fala meio exaltado, termina a ligação e me encara. — Como assim o que tá acontecendo?
— Seus batimentos estão muito elevados. Você parece estar nervoso. Sabe que não pode passar por emoções fortes. — posiciono o esteto.
— Então é melhor você sair de perto de mim, Karen — fala sorrindo, porém, não acho graça desta vez. O estado dele me preocupa.
— Não é hora para brincadeiras. Você já tava assim antes de me ver — digo com firmeza e o examino. Logo ele desmancha o sorriso que tinha nos lábios. Os batimentos estão bem acelerados, não é defeito do monitor.
— Foi só uma notícia que recebi, mas não é nada grave — argumenta.
— O monitor diz que é — contra-argumento.
Agora os batimentos começam a baixar. 118, 115, 100... Ele olha o monitor seguindo os meus olhos.
— Ele já calou a boca. — sorrio. — O que você fez na sua folga?
Transei com o cirurgião que operou o seu braço. — penso.
— Descansei bastante. — encaro o chão, minhas unhas, a paisagem lá fora. Muda de assunto Karen! — Fiquei sabendo sobre sua bravura. — os batimentos voltam a subir.
— É mesmo? — ele me encara seriamente. — E o que você soube? — indaga com os olhos semicerrados.
— Que você impediu um assalto — explico. — Salvou a moça antes de ser baleado.
— Salvei? — pergunta parecendo confuso.
— Salvou sim! Parece que de uns tempos pra cá, o roubo seguido de morte virou moda. — os batimentos dele disparam para 130 por minuto. — Por que esse assunto tá mexendo tanto com você? Era sobre isso que falava ao telefone?
— Não! Quero dizer, sim. — ele hesita. — Mais ou menos.
Desde que fiz a ausculta, permaneci no mesmo lugar sem perceber que estamos próximos demais para médico e paciente. O Douglas se inclina tentando olhar a porta. Eu olho em direção a ela e me assusto. É o Daniel. Dou dois passos para trás e um para o lado para não tropeçar nos fios dos aparelhos. A dancinha do constrangimento.
— Pode entrar, Daniel. Eu só estava...
— Eu ia ver se já dá para tirar o gesso dele — explica.
— Pode ser depois, doutor? — o Douglas sugere me colocando em uma situação ainda pior. Agora mesmo é que o Daniel vai achar que temos alguma coisa.
— Imagina. Eu já tava de saída, pode vir. — insisto.
— Volto depois, não quero atrapalhar. — em seguida sai, fechando a porta. Eu levo a mão à cabeça sem planejar e olho para o Douglas. Ele está me encarando desconfiado. Baixo o braço e coloco a mão no bolso do jaleco.
— Eu tenho que ir — falo como desculpa para sair daqui.
— Mas você nem me examinou direito ainda, Karen! — protesta e começa a desabotoar a camisa, já com os batimentos normalizados.
— Para! — ordeno no automático. Ainda bem que é ele quem está ligado ao monitor. Levanto as mãos em sinal de pare enfatizando e ele sorri. — Não é mais necessário, seus pontos já foram removidos. Por que você não me conta mais sobre isso aí que tá te deixando preocupado e eu posso chamar um psicólogo.
— NÃO! Não precisa! — eu me assusto com o monitor, que agora mostra que o coração do Douglas está batendo 140 vezes por minuto.
— Tem alguma coisa muito errada nessa história, Douglas. Você precisa conversar com alguém, mas tenta se acalmar, não vou chamar ninguém se você não estiver de acordo.
— É eu preciso mesmo conversar com alguém. Mas pode ser com você? — não só a boca que pede, os olhos dele me imploram. Eu deveria saber dizer não.
— Eu não sei — respondo confusa.
— Por favor, Karen. — penso um pouco e acabo aceitando.
Ele respira fundo e dá uma olhada para a janela que dá para o corredor, ao lado da porta. A persiana está entreaberta, só vemos movimentos de pessoas andando para ambos os lados. Eu puxo a cadeira e me sento.
— Naquele dia em que eu levei aquele tiro, eu estava com a minha mãe. Era aniversário de morte da minha irmã. — ele inspira e expira tentando manter-se calmo.
— Eu sinto muito — digo com um aperto no peito. Nem imagino tamanha dor.
— Essa data deixa a minha mãe muito mais deprimida do que no resto do ano. Eu tinha apenas oito anos quando isso aconteceu. Era o ano em que a Daiana se formaria em Direito.
— Ela morreu de quê?— pergunto e logo me arrependo pela indelicadeza. — Se não quiser responder eu vou entender.
— Ela foi vítima de latrocínio — diz ele.
— Roubo seguido de morte! — digo espantada e arrependida pelo comentário que fiz há pouco. — Desculpa, eu...
— Tudo bem, não tinha como você saber. Até hoje o filho da puta não foi encontrado. No dia em que ela morreu, eu decidi o que queria fazer quando crescesse, trabalhar dia e noite para solucionar todos os crimes que eu pudesse.
— E quando você presenciou aquela cena...
— Eu voltava pra casa e vi a minha irmã naquela moça. Mesma cor de pele, o cabelo preto, a altura... Mas elas nem se parecem. Aquela tensão toda que aquela data me causava, fez com que eu agisse de maneira passional. — ele se agita e começa a gesticular. — Eu poderia chegar sorrateiro e só desarmar ele, ou imobilizar… Mas eu não consegui controlar o ódio que eu guardo comigo por todos esses anos e atirei nele. — ele faz uma pausa enquanto uma lágrima escorre pelo canto de um dos olhos, com o rosto inexprimível. — Com um só disparo ele me acertou. Eu não perdi a consciência e continuei atirando até ele cair. — cada palavra que ele diz me comove de uma maneira inexplicável.
— Você chegou aqui na ambulância e logo atrás veio uma viatura da Polícia Federal. Como eles ficaram sabendo?!
— Eu não fraquejo tão fácil. Consegui ligar pra eles e pedi para me rastrearem segundos antes de começar a perder os sentidos.
— Por que não ligou para emergência médica???
— Ah, logo alguém ligaria. Limpar a merda que eu fiz era mais importante. Sou capaz de qualquer coisa pelo meu trabalho.
Meu Deus! Não consigo acreditar. Estou chocada com todas essas informações.
— Presta atenção, Karen — ele pede se ajeitando na cama e se inclinando em direção à mim. — Eu sei que você deve estar assustada, mas você consegue entender por que eu não posso passar por um psicólogo? Eu teria que falar sobre isso. Tirando o fato de que meus superiores vão duvidar da minha capacidade mental de continuar no meu cargo. Mesmo que ele esteja tentando limpar a minha barra, ele quer ter certeza de que isso não vai se repetir. Só o fato de ter uma conversa com um psicólogo, mesmo que seja breve, já vai ser um motivo pra ele ter a certeza de que precisa para me exonerar da polícia.
— O que você está tentando dizer? — pergunto de forma confusa.
— Preciso que você não peça uma avaliação psicológica. Pra qualquer caso, eu estou bem. Não que eu não esteja, mas só para evitar problemas pra mim.
Não dá para acreditar que eu permiti essa conversa. Jamais eu poderia ser confidente de um paciente. Ainda mais de um policial. Me encontro no meio de um grande problema e não quero ser cúmplice de um crime, porque é isso que está bem claro para mim.
— Olha, você acabou de jogar uma responsabilidade muito grande em cima de mim. Isso é muito grave, sabia? — indago meio trêmula e nervosa. — Eu decidi vir aqui neste momento só pra responder ao convite que você me fez uns dias atrás, e agora me sinto manipulada!
— Manipulada??? — ele pergunta indignado. — Eu tava sendo sincero! Eu realmente sinto algo forte por você. — ele pega na minha mão fazendo um lampejo de emoções circularem por todo o meu corpo. — Sei que é o momento errado pra te falar isso, mas eu só preciso que você aja como se estivesse tudo bem.
— Não... — me levanto nervosa. — Não é só isso. Você tá pedindo para que eu seja sua comparsa.
— Não é assim, Karen! — os batimentos voltam a subir rapidamente e eu torno a olhá-los, só que eu não dá tempo de ver os batimentos, pois ele puxa abruptamente os eletrodos do peito. — Para de olhar pra essa porcaria de monitor e se concentra em mim! Eu não sou um criminoso!
— Talvez só desonesto ou um pouco desequilibrado, então. — empurro a cadeira para sair.
— Espera! Não vai agora! — pede ele. —Me escuta.
— Te escutar?! — um lamento parece querer pular do meu peito e eu o prendo em mim. Respiro fundo e começo a libertar as palavras que tenho aprisionado no meu peito, as quais escondi da Paola, do Wesley e até de mim mesma. — Douglas, todo esse tempo eu tentei de tudo pra me manter apenas na condição de sua médica, mas você me desarmou. — ele me olha surpreso. — Foi tirando de mim todos os artifícios que eu tinha pra limitar nossa relação médico-paciente. Um por um. Todas as minhas habilidades e a minha perspicácia foram se dissipando, esvaecendo a cada vez que eu te via.
— Então me ajuda a resolver isso, e depois que tudo acabar, nós vamos ficar bem — ele diz com ternura na voz e meu peito se contrai querendo corresponder.
Percebo que talvez essa fera em forma de lágrimas está prestes a escapar de mim.
— Desculpa, mas eu não posso ser conivente com isso — digo e começo a andar em direção à porta.
— Karen, minha profissão tá em risco! — paro no caminho e me volto à ele.
— Talvez você não tenha notado, mas a minha também.
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