Única chance
Ontem passou muito rápido.
Christian e eu conversamos muito, mas senti que a felicidade que ele estava sentindo incomodava a mãe dele. Deus queira que eu esteja errado.
Jogamos bola e depois ele me mostrou várias armas pelo computador. Dormi no quarto de hóspedes do lado do dele.
Acordei e fui para o quarto dele. Bati. “Viado, já acordou?” Perguntei.
“Sim, seu arrombado. Você me acordou agora!” Ele atirou a almofada na minha cara assim que abri a porta. Sorri.
Esperei o Christian mijar e descemos para tomar café da manhã.
“Christian, não se esqueça que hoje começa o treinamento. Já brincaram muito.” Meirieli olhou para nós dois com repreensão.
“Eu sei das minhas responsabilidades.” Christian revirou os olhos em protesto.
Terminamos de tomar café da manhã e assim que terminamos ele me levou para uma ala até então desconhecida por mim: a sala de treinamento.
“Salvatore, quero que você de 10 voltas nessa sala.” Ele pegou o cronômetro e eu comecei a correr. Na quinta volta já estava morrendo.
“30 minutos? Isso é sério? O policial ou o bandido te mata antes de você sequer completar a primeira volta. Você corre pior do que mulher!” Christian esbravejou.
“Reconheço que o meu condicionamento físico não é dos melhores.” Disse sem graça. Esse treino não vai ser fácil.
“100 abdominais, agora.” Christian disse. Eu acho que na décima eu já estava morto.
“Vou te colocar uma venda, tenta adivinhar o que eu estou fazendo.” O que? Ele só pode ser louco!
“Para que isso?” Perguntei.
“E se você perder momentaneamente a visão por algum motivo? Você precisa saber se o seu inimigo está na sua esquerda, na sua frente ou na sua direita e principalmente se ele está com uma arma, com uma faca, com uma bomba. Então se concentra. Dizem que os cegos tem os demais sentidos aguçados porque para compensar a perda de um sentido ele usam mais os outros. Deixa a escuridão te dominar e me diz, onde eu estou? O que eu tenho na mão?”
Ele até tinha razão no que ele me disse, mas eu não sou cego, eu enxergo e eu não estou vendo nada e nem sei se isso vai ser útil algum dia na minha vida.
“Você está... atrás de mim, com uma arma na mão.” Chutei
“Na sua frente com uma faca na mão. Ok. É só a primeira vez, logo você vai ficar bom.” Christian retirou a minha venda e respirou fundo.
“Vamos agora para o tiro. Esvazia a sua mente, se concentra no alvo e atira.” Christian disse. Esvaziei a mente e um pente para nada. Christian bufou em frustração, talvez eu não sirva para isso.
“Agora o alvo está em movimento e é assim que normalmente os pegamos. Tenta atirar na cabeça ou no coração que são órgãos vitais.” Christian disse. Na minha última bala, consegui acertar a mão do alvo, mas sei que foi sorte.
O dia se passou e eu percebi que o Christian estava um pouco triste por eu não ter me dado bem no treinamento. Vou fazer de tudo para me superar e surpreendê-lo.
29 dias depois do treinamento.
29 dias se passaram e estamos no dia 30 de agosto. Eu e Christian viramos grandes amigos, ouso em dizer irmãos, e hoje será o último dia do meu treinamento.
Estou com um corpo incrível, bem malhado. Estou me sentindo como um homem adulto e lindo, muito lindo.
Já sei todos os modelos de arma existente de cabeça e estou bem melhor do que no início do treinamento, mas sei que tenho muito a melhorar ainda.
Tomamos café da manhã e começamos o treinamento.
“ Salvatore, antes de começar, só quero te dizer que estou muito feliz com o seu progresso e estou louco para te admitir na máfia. Eu sei que saber atirar é uma coisa e matar é outra, mas você sabe que para ficar aqui não tem outra escolha, certo?”
“Eu sei.”
“Salvatore, quero que você de 40 voltas nessa sala.” Ele pegou o cronômetro e eu comecei a correr.
“Posso dar mais 30 voltas ser você quiser.” Sorri.
“15 minutos.” Parabéns! Ele sorriu.
“200 abdominais, agora.” Christian disse.
“Eu consigo bem mais do que isso.” Fiz sorrindo o que antes fazia chorando.
“Tenta adivinhar o que eu estou fazendo.” Christian disse.
“Está comendo a porra de uma banana na minha frente.” Disse.
A primeira vez que adivinhei, pensei que era sorte, mas depois vi que eu aprendi a viver no escuro, eu deixei a escuridão entrar em mim.
“Vamos atirar no alvo parado agora.” Atirei. Gastei o pente todo e não errei nenhuma.
“Vira e atira de costas.” Fiz e não errei nenhuma. Só tinha que me concentrar um pouco mais.
“Agora com alvo em movimento, atingindo em pontos vitais: O primeiro na cabeça e o segundo no coração.” Acertei todos.
“De costas.” Christian disse. Atirei. Não cometi nenhum erro.
Vimos um filme de terror e ficamos conversando, mas eu só pensava no dia seguinte.
Acordei e por mais que o Christian tentasse me fazer pensar em algo diferente, não conseguia pensar em nada além do que eu vou ter que fazer. Vou ter que matar uma pessoa inocente por nada.
O tempo passou, a noite chegou e com ela, o destino que estava prestes a abraçar.
“Chegou a hora, Salvatore.” Christian disse.
“Espero que acerte o alvo correto. Atirar para matar A e acertar B por engano não será validado e você estará fora da minha casa.” Meirieli disse. Qual é o problema dela? A ignorei completamente.
“Boa sorte, Rapaz!” Giuseppe disse me dando tapinhas nas costas.
“Obrigado.” Respondi com um meio sorriso no rosto. Eu estava tão nervoso.
“Gato!” Luana me chamou. Olhei para ela que me abraçou forte “Boa sorte!” Meu pau criou vida própria.
“Obrigado.” Sorri e tentei ao máximo disfarçar o que aconteceu, mas acho que não foi possível.
Saímos da mansão.
“Desarma logo essa barraca e se concentra no que você vai fazer. Você só tem uma chance.” Christian disse. Fiquei vermelho e assenti com a cabeça.
Entrei no carro. Fomos para um lugar horrível que eu nem sabia da existência na Sicília e a situação só piorou quando começou a chover torrencialmente. Parecia cenário de filme de terror.
“Onde estamos?” Perguntei temeroso.
“A mulherzinha está com medo? Estamos num beco. O beco onde o meu pai me achou e a minha mãe biológica me abandonou. Se serve de consolo, ninguém é boa coisa aqui. Então, mate sem pena.”
Saímos do carro, minhas pernas e mãos tremiam, eu não queria fazer parte disso, mas também não quero voltar para a rua. Estou completamente perdido.
“Está vendo aquela ali? Vai ser ela.” Christian disse enquanto parava no meio da rua.
“Mas é uma mulher!” Disse nervoso. Se fosse um homem, seria mais fácil.
“Prefere uma velha?” Christian perguntou.
“Não, não. Claro que não.” Disse gaguejando.
“Ela é só uma prostituta que está se drogando. É um alvo fácil. Esvazia a mente e mata. Vou ligar a câmera, você só tem uma chance.”
Assenti e olhei para a mulher que estava no mundo paralelo dela, completamente aérea, cantando e andando em Zig zag, com a droga na mão e a cachaça na outra.
Ela seria uma mulher bonita se tivesse tido outra vida, ou uma oportunidade de sair da vida que escolheu.
Controlei a minha respiração, pensei no quanto sou grato ao Christian e que ser mafioso só seria uma solução temporária. Matei a mulher, o meu coração parece que pulou para fora do peito.
A rua estava praticamente deserta, mas ninguém que presenciou o crime ousou em acudir a mulher ou correr atrás de mim para me pegar. Era como se não tivesse ocorrido nada, como se aqui fosse normal.
Christian se aproximou do corpo com tranquilidade e uma frieza ímpar, ao constatar que ela estava morta, desligou a câmera.
“Vamos para a nossa casa agora. Temos que comemorar.” Christian disse feliz, mas eu estava congelado, alheio a tudo, vendo a vida que eu tirei e me perguntando se estou de fato fazendo o certo, se não era melhor passar fome.
Christian me surpreendeu com um forte abraço. “Eu sei como você se sente, a primeira pessoa que eu matei também fiquei assim, mas depois você se acostuma e se sente anestesiado, é como se você não estivesse fazendo nada demais, você até trata esse assunto com normalidade.”
“Você... você me abraçou!” Só consegui dizer isso.
“Doeu ter que fazer isso, mas achei que precisasse. Você é da minha família agora, eu sinto como se você fosse o meu irmão. Mas tenha certeza: o que aconteceu aqui nesse instante, não vai voltar a acontecer tão cedo.”
Sorri. “Você também é muito mais do que um amigo para mim, é meu irmão.” Ele sorriu ao perceber que era recíproco.
Entramos no carro. “Quantos já matou?” Perguntei.
“Perdi a conta.” Christian sorriu, desviou o olhar e olhou fixamente para o espelho do carro.
“Lembra mais ou menos quantos anos você tinha?
“Cinco anos na identidade.” Ele falou com um tom amargo, sei o quanto isso o afeta.
Não pude conter a expressão de susto ao saber que ele mata desde os cinco anos.
Voltamos para a mansão.
Christian entregou a câmera aos pais e eles viram que eu consegui.
“Seja bem vindo a máfia!” Giuseppe me abraçou forte. Uma estranha felicidade me invadiu: eu consegui!
“Seja bem vindo. Não pensa que terá moleza aqui não! Vai ter que matar muito, roubar, estuprar, fazer o que mandarmos você fazer e quando o Christian formar o grupo dele, o que o meu filho determinar. Você nunca vai poder sair da máfia e não é porque para matar você precisa só saber atirar que eu quero alguém burro no bando. Christian não pode estudar com as crianças por se mafioso, então desde sempre ele tem aulas com uma professora particular e você também terá.”
“Obrigado. Ok.” Disse.
Posso entrar, mas não posso sair? Não acredito nisso! Christian não me disse nada! Ok, eu também não me dei o trabalho de perguntar.
“ Meu filho, pedi para a Luana preparar umas comidas gostosas para a gente comemorar.” Sorrimos em resposta.
Tinha bolo, torta, empadão, brigadeiro, estrogonofe, quindim, beijinho, pastel e tantas outras coisas que eu nem sei como ela conseguiu fazer isso tudo sozinha e em tão pouco tempo. Só sei que eu consegui comer tudo.
“Salvatore, vamos para a sua iniciação.” Christian me chamou. Fomos para a sala de treinamento.
“Meu filho, embora eu seja o rei da máfia, você que deve fazer as honras, já que o encontrou e o treinou.” Giuseppe disse. Christian sorriu.
“Salvatore Spinoza, eu, Christian Ferrandini, como autoridade suprema e filho do rei da máfia italiana, te nomeio mafioso, agora você faz parte do bando, da minha família.” Christian disse.
Atirou 16 vezes para o alto e cada vez que ele atirava contava alto.
“Você tem 16 anos, então são 16 balas. É para te dar sorte e vida longa.” Ele disse. Sorri.
Ele se ajoelhou e me entregou uma AK-47. “Salvatore Spinoza, aceita ser um mafioso e entrar para o meu bando? No momento em que disser
-sim- nunca mais poderá mudar de ideia.”
O analisei por um tempo, acho que menos de um minuto, mas que parecia ser uma eternidade. Eu queria sair correndo sem olhar para trás, mas eu sabia que teria que viver na rua e eu não quero viver na rua.
“Eu aceito.” Christian deu um sorriso vitorioso, Giuseppe olhou a cena satisfeito e a Meirieli bufou de raiva. Queria entender o porquê dela não gostar de mim.
Saímos da sala de treinamento, local onde foi feito a iniciação.
“Christian, a sua professora particular é gostosa?” Perguntei.
“A Laura é uma delícia!” Sorri. Talvez não seja tão ruim ser mafioso.
Horas depois eu mudei de ideia porque eu fui deitar, mas não consegui dormir, a imagem daquela mulher morta no asfalto, eu atirando nela, voltava na minha cabeça como uma música em que a gente põe para repetir.
Chorei muito, não queria me tornar um assassino. Não queria ser mal. Mas o Christian é mal? Ele não parece, pelo menos não comigo.
É como se ele fosse a única coisa boa no meio disso tudo, mesmo que ele tenha me feito fazer algo muito ruim.
É confuso, eu sei. Mas é o que eu estou sentindo. De uma coisa eu sei: agora faço parta da máfia italiana e não vou conseguir fugir disso porque eu disse – sim -.
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Boa noite, meus amores!
E ele disse sim à máfia! 🙌🙌🙌
Dedicado á:
LauraGrey50 (A professora particular gostosa do Christian! Kkkk)
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