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Depois de deixar Silver no trabalho, Miguel retornou à mansão para aguardar sua próxima tarefa. Era terça-feira, de acordo com o que Silver lhe dissera, era dia de Robert ir à tal escola que visitava uma vez por semana. Miguel não fazia ideia do que ele ia fazer lá e não iria descobrir tão cedo, já que Robert entrou no carro mudo e saiu calado. Não foi mal educado, o cumprimentou quando lhe disse onde queria ir e o agradeceu quando abriu a porta para ele, mas não disse nada a viagem inteira. Parecia distraído, e Miguel não achou apropriado perguntar mais.
Parou em frente à escola e avisou que esperaria o tempo que fosse necessário, recebendo um sorriso e um agradecimento. Ficou no carro sozinho por quase uma hora, até que Robert retornou com um semblante mais satisfeito e um leve sorriso. Miguel notou que ele tinha uma pasta na mão e ficou ainda mais curioso.
"Está tudo bem?" Miguel puxou assunto.
"Sim, tudo bem." Robby respondeu, cauteloso.
"Você quer ir a mais algum lugar ou direto pra casa?" Miguel perguntou, profissional.
"Pra casa." Robby disse baixinho.
"Certo. A temperatura está boa? Quer que eu ligue o rádio?"
"Como você quiser, Diaz." Ele disse com indiferença, deixando Miguel chateado. Provavelmente achava que ele não era digno de manter uma conversa com ele. Miguel sabia que a maioria das pessoas com muito dinheiro eram assim, mas estava mal acostumado com os LaRusso, sempre gentis e simpáticos.
Quando voltaram à casa, Robert desapareceu quase imediatamente, e Miguel decidiu aproveitar o tempo livre para ir procurar Tory. Entrou na cozinha e se alegrou imensamente ao ver a amiga. Se abraçaram e ela se ofereceu para fazer o doce preferido dele. Ela disse que podia fazer e comer o que quisesse, que Silver não se importava com as pequenas despesas. Miguel queria perguntar tantas coisas, mas sabia que seria muito arriscado fazer isso em seu local de trabalho. Disse que ligaria para ela assim que pudesse. Conversaram sobre suas famílias, sobre a vida amorosa - ou falta dela - e sobre os planos para o futuro próximo. Miguel comeu o bolo que Tory fez para ele e percebeu que estava quase na hora de ir buscar Silver.
Tory trabalhava desde a hora do almoço até a hora do jantar. De manhã havia outra cozinheira que preparava o café, a mesma que trabalhava também aos finais de semana. Miguel levava Silver às 10h e o buscava às 17h, mas seu horário oficial ia de 9h às 19h. Qualquer atividade antes ou depois disso seria negociada e remunerada de forma justa, Silver prometeu. De acordo com Tory, dinheiro não era problema, os salários eram sempre pagos em dia e bônus e gratificações eram comuns.
Ao chegar em casa, Miguel pesquisou o nome da tal escola, por curiosidade. Descobriu que era um colégio interno muito caro e exclusivo e ficou ainda mais intrigado. Robert parecia jovem demais para ter filhos e se tivesse um irmão ou irmã, por que colocaria a criança em um internato em vez de morando com ele numa mansão? Espaço não faltava. Talvez ele só não gostasse de crianças e só fosse lá uma vez por semana para resolver problemas burocráticos. Silver não parecia se importar e nem ter nenhuma conexão com o local, então Miguel provavelmente ia ficar na curiosidade.
Tomou um banho, preparou sua comida, jantou e assistiu a um filme antes de dormir. Ligou para Eli e fez alguns planos para o fim de semana. Estava contente, tinha bons amigos, um emprego decente e uma boa família. Não tinha realmente do que reclamar, por isso estava quase sempre de bom humor. Foi dormir pensando no primeiro dia de trabalho e no que o esperaria no segundo.
Miguel levou Silver ao trabalho e o deixou lá, voltando logo depois para a mansão. Era dia de levar Robert à clínica. Não sabia se ele estava doente e fazendo algum tratamento, mas era provável, já que ia lá três vezes por semana. Seria uma boa explicação para ele estar tão quieto e desanimado. Sua aparência era saudável, mas Miguel sabia que o dinheiro podia ajudar a disfarçar muita coisa. Ficou pensando se talvez fosse diálise, a frequência batia, e Robert sempre ficava lá por pelo menos três horas, bem mais tempo que na escola. Robert voltou e estava pálido, os olhos inchados e vermelhos como se tivesse chorado.
"Você precisa de alguma coisa? Quer passar na farmácia?" Miguel ofereceu.
"Não, obrigado. Só quero ir pra casa."
"Se você se sentir mal, eu posso te levar até lá dentro ou te buscar lá", Robert pareceu confuso, mas logo entendeu o que estava acontecendo.
"Não se preocupe, Diaz, não estou doente. Só venho visitar uma pessoa." Ele explicou.
"Entendo. Bom saber. Desculpe pela intromissão."
"Não, tudo bem." O patrão cortou o assunto e voltou a olhar pela janela, pensativo.
Miguel não conseguia pensar em alguém que visitaria religiosamente, três vezes por semana em uma clínica, a não ser a mãe e a avó. Se perguntava se seria o caso de Robert também. Queria oferecer apoio, mas não sabia como, já que o outro não lhe dava nenhuma abertura. Nem sabia por que estava se preocupando, já que Robert não parecia fazer questão de nem conversar com ele, mas sempre tinha sido uma boa pessoa e não gostava de ver ninguém sofrendo. Mesmo que fosse um golpista do baú esnobe.
Quando estavam quase chegando e era possível ver a praia, Miguel resolveu tentar mais uma vez. "Quanto tempo faz que você não vai à praia?" Perguntou.
Achou que ia ser ignorado sem vergonha alguma, mas o outro estava só tentando lembrar. "Não sei... meses."
Miguel ficou escandalizado. O cara não trabalhava e morava de frente para a praia. Mas deus não dá asa a cobra, já dizia yaya. "Achei que você gostasse."
"Eu gosto. Mas só ia pra ver o mar e relaxar um pouco. Não gosto de ter sempre alguém me vigiando." Disse, com desgosto. Miguel não tinha parado para pensar nisso, mas agora tudo fazia sentido. Do jeito que Silver era e com um marido tão jovem e bonito, se ele fosse para a praia na frente de casa, certamente algum dos seguranças ou até o bendito mordomo ficaria de olho nele. Tudo bem que ele tinha escolhido isso, mas devia ser insuportável às vezes. Miguel só não entendia pra que ele queria dinheiro se não gastava. Era no mínimo estranho.
Miguel percebeu, ao chegar em casa, quanto tempo passava pensando em Robert e em todos os mistérios que o cercavam. Chegou até a sonhar com isso e se sentiu inspirado para tentar algo no dia seguinte, ou iria conquistar uma verdadeira inimizade, ou iria pelo menos quebrar uma barreira de comunicação.
A tarde de quinta era reservada para o cemitério e, dessa vez, quando Miguel perguntou, Robert não se importou em responder que ia visitar o pai que havia falecido num acidente de carro. Ele disse que o homem sempre havia sido descuidado com bebida, mas que nunca achou que algo assim fosse acontecer. Depois que saíram do local, Miguel resolveu botar seu plano em prática. Pegou um desvio na rodovia e seguiu para o lado oposto de onde iriam quando voltavam para a casa. "O que você está fazendo?" Robert perguntou, alarmado.
"Não tenho nada pra fazer por horas até ir buscar o Sr Silver. Você tem algum compromisso importante?" Miguel perguntou, já tomando o rumo que pretendia.
"Não, mas preciso ir pra casa."
"Nós vamos. Só pensei que podíamos ir à praia primeiro. Você disse que não vai há meses e pareceu com saudade." Miguel comentou.
"Diaz, eu moro na frente da praia." Robert respondeu, exasperado.
"É diferente. Ninguém te conhece e a essa hora num dia de semana, vai estar vazia. Você pode ir e relaxar um pouco."
"Não, é uma péssima ideia!" Respondeu de forma atravessada. Miguel era uma pessoa paciente, mas estava cansado de tentar agradar e só receber desprezo. Que cara insuportável, Silver só aturava ele porque era lindo, com certeza.
"Olha, eu não vou falar nada. Só relaxa e aproveita a tarde, ok?" Ele disse, sem paciência. Robert só cruzou os braços e ficou em silêncio, de cara fechada.
Miguel estacionou bem em frente à praia em que costumava jogar vôlei com Hawk, Sam e Demetri. Sabia exatamente o melhor horário para estar em cada parte do local, encontrou rapidamente um lugar bonito e vazio. Estava um pouco inseguro em ter surpreendido o outro e pensou tarde demais que seria demitido se ele reclamasse para o marido. Bem, agora não tinha volta. Abriu a porta, saiu do carro e abriu a porta de trás para que o outro saísse. Robert apenas o encarou por quase um minuto e os dois ficaram esperando para ver quem desistiria primeiro. Robert acabou suspirando pesadamente e saindo do carro.
"Pronto, satisfeito?"
"Não sei, você está? Aproveita que tá aqui, o que você quer fazer?"
"Eu não trouxe nada, como vou entrar no mar?" Ele protestou.
"Você é rico, entra de roupa. Tem gente pra lavar pra você. E quem vai lavar o carro sou eu, não sei do que você está reclamando."
"Você é louco." Robby disse.
"Talvez. Se você não quiser, a gente volta agora. Mas você teve um dia bem ruim, podia se divertir um pouquinho."
"Eu tive um dia ruim e você acabou de piorar ele ainda mais, Diaz."
"Vamos voltar, então."
"Agora não faz muita diferença. Você devia ter perguntado antes. Nunca mais arrume uma surpresa idiota dessas!" Robert levantou a voz e Miguel contou até dez mentalmente para não mandar ele pro inferno.
"Desculpe, Sr Robert. O que prefere fazer?" Miguel perguntou com resignação.
"Já é tarde demais mesmo."
Robert disse e se afastou em direção à água, parando apenas para tirar os sapatos e a blusa. Miguel percebeu que além do rosto lindo, ele também tinha um corpo incrível. Com músculos bem delineados e curvas definidas, a cintura delicada e os quadris largos. Ele entrou no mar apenas de calça e desapareceu embaixo d'água, aparecendo pouco depois com os cabelos molhados caindo no rosto e sorrindo, com covinhas à mostra e tudo. O desgraçado ficava ainda mais lindo sorrindo, pensou Miguel.
"Você vai ficar aí olhando, Diaz? Tem medo de água?" Robert gritou para ele e Miguel deveria ter pensado melhor. A provocação veio no calor do momento ao finalmente fazer algo que queria há meses e Miguel deveria ter sido responsável o suficiente para não cair nela. Mas caiu. Seguiu os mesmos passos, tirou os sapatos, a camisa social e o paletó, deixando tudo ao lado dos sapatos do outro. Ele não era rico e ia ter que levar a calça social para a lavanderia, mas isso era um problema para depois. Andou na direção do mais baixo e entrou no mar junto com ele, sendo recebido imediatamente com água jogada em sua cara e uma gargalhada satisfeita que fez Robert parecer muito mais jovem do que era. Perderam a noção do tempo e passaram quase duas horas no mar, só percebendo a hora se adiantando quando o sol deu sinais de começar a se pôr. Tinham que ir logo para que Miguel pudesse ir buscar Silver e não se atrasasse. Vestiram as roupas e voltaram rápido para o carro, chegando à mansão bem em cima da hora em que Miguel deveria sair de lá para chegar a tempo na empresa.
"Me desculpa pelo impulso, realmente só estava tentando melhorar seu dia." Miguel disse, agora menos confiante.
Robert deu um meio sorriso, o rosto já estava retornando aquela expressão meio triste, meio indiferente que sempre tinha. "Tudo bem, Diaz. Obrigado. Foi divertido."
Miguel viu Robert entrar em casa e Kyler falar algo para ele que a distância não lhe deixava ouvir. Voltou para o carro e partiu para a empresa onde, por sorte, Silver ainda não estava esperando. Ele desceu dois minutos depois de Miguel estacionar e o cumprimentou como se nada tivesse acontecido. Quando chegaram à mansão, Silver o liberou para ir embora.
"Diaz, um minuto." Ele disse com a voz fria e a expressão calculista. "Foi tudo bem hoje? Foram ao cemitério?"
"Sim, Sr. Correu tudo bem." Miguel respondeu.
"Certo." O homem disse e olhou o motorista de cima abaixo, prestando atenção especial às calças molhadas.
"Eu vou lavar o carro amanhã cedo, não se preocupe." Miguel se apressou a dizer e Silver apenas sorriu daquela forma feroz. "Até amanhã, Diaz."
Robby ouviu os passos na escada e sabia que era Silver assim que checou o relógio. Já tinha tomado banho e trocado de roupa, mas sabia que não faria diferença. Kyler era um maldito linguarudo e com certeza ia dar todos os detalhes de sua chegada ao patrão. E Miguel tinha ido buscá-lo com a calça molhada, então seria mais uma evidência. Robby vinha tentando evitar muita conversa com o motorista pois sabia que isso desagradava o marido, mas ele parecia uma boa pessoa e Robby não queria que ele se prejudicasse. Tinha sido muito atencioso da parte dele tentar descobrir o que faria Robby se sentir melhor e se esforçar para realizar, sem esperar nada em troca. Isso não era algo a que estivesse acostumado e o fez sentir muito bem. Mas a felicidade não ia durar muito e ele sabia disso, o importante era tentar amenizar a situação.
Silver entrou no quarto como sempre fazia, agindo como de costume só para deixar Robby ainda mais ansioso. Mas ele já estava quase imune a isso e fingiu nem notar. Ele entrou no banheiro da suíte para tomar banho e Robby suspirou, aliviado. Teve quase dez minutos de descanso até que ele saísse enrolado naquele roupão de seda ridiculamente caro e ostensivo.
"Como foi seu dia, Robert?", perguntou com a voz neutra.
Bem, da primeira vez Robby havia tentado mentir e o resultado foi muito ruim. Assim ficou sabendo que Silver era muito difícil de enganar, principalmente se qualquer evidência fosse observada por Kyler ou qualquer um dos funcionários, com exceção de Tory.
"Fui ao cemitério ver meu pai. Depois fui à praia. Estava com muita saudade", admitiu.
"E por que não foi à praia aqui mesmo esse tempo todo?" Silver se aproximou dele, os olhos azuis brilhando de forma ameaçadora.
"A praia é muito cheia. Eu queria um lugar mais vazio." Nem era mentira, dessa vez.
"E por que Diaz não me avisou?" Silver questionou. A vontade de Robby era dizer que não sabia e nem queria saber dos acordos que Silver tinha com os funcionários, mas certamente essa resposta causaria problemas para ele e também para Miguel.
"Acho que ele deve ter deixado para avisar depois, estava bem em cima da hora." Robby tinha virado mestre na arte de misturar verdades e pequenas mentiras. "Eu não devia ter insistido, não quis causar problemas." Silver estava perto, muito perto, a mão direita acariciando a face de Robby de forma possessiva.
"Você andava se comportando tão bem... o que deu em você?" Silver perguntou, tentando pegá-lo desprevenido.
"Eu... só tive um dia ruim e queria fazer algo pra me alegrar." Silver sorriu, interrompendo a carícia. Olhou fundo nos olhos de Robby e depois usou a mesma mão que o acariciava antes para desferir um tapa em seu rosto, com tanta força que Robby perdeu o equilíbrio. Sabia que ia ter a marca no dia seguinte, principalmente quando sentiu o gosto de sangue vindo do lábio machucado.
"Você não devia ser tão ingrato. Eu te dou tudo, faço tanto por você e é assim que você retribui?" Silver segurou Robby pelos braços e o forçou a se levantar, empurrando-o contra a parede e posicionando a mão em seu pescoço, sem machucar, apenas um lembrete do que era capaz de fazer.
"Desculpa. Desculpa, não vou fazer de novo." Robby suplicou.
"Não vai fazer o que de novo, Robert?"
"Ir onde não devo." Respondeu.
"Você não é um prisioneiro, meu querido. Tente de novo."
"Sair sem avisar." Robby disse.
"Melhorou. Você sabe que eu me preocupo com você, não é? Você é tão lindo, meu bem mais precioso. Não quero que nada te aconteça. Você entende isso?" Silver sussurrou perto de seu ouvido e Robby apenas soltou um soluço.
"Perguntei se você entende!" Silver disse mais alto, puxando seu cabelo para forçar Robby a olhar em seus olhos.
"Sim, eu entendi. Me desculpa."
"Tudo bem, querido. Eu sei que você vai compensar isso, não vai?" Silver disse, começando a percorrer o corpo de Robby com as mãos por baixo do pijama, acariciando sua cintura e envolvendo seus quadris, apertando as nádegas por baixo da calça.
"Vou..." Robby disse, sem saída. Também havia aprendido a não dizer não para as investidas de Silver, da vez em que tentou foi tomado à força e ainda podia lembrar do sangue e da dor que durou quase dois dias. O melhor a fazer era fazer o que ele mandasse e torcer para acabar logo. Depois de ter todos seus caprichos atendidos, Silver deitou Robby de barriga para baixo na cama e descansou seu braço por cima da cintura do mais novo, sua posição preferida. Com certeza tinha alguma coisa a ver com submissão, Robby achava.
"Amanhã você vai pedir desculpas ao Diaz também. Você poderia ter causado sérios problemas pra ele se eu não fosse um homem tão paciente, Robert." Silver disse, passando a mão pelas costas do marido, causando um arrepio gelado na espinha de Robby. Só podia torcer para Miguel ser esperto o suficiente para não desmentir sua versão, senão seria pego na mentira e punido de verdade.
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Obg a quem tiver lendo! 💙
Lobinhaa297 olha aee
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