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Robby saiu com toda a família Diaz para procurar a nova casa, e as duas primeiras que visitaram não passaram na inspeção cuidadosa de Carmen. Uma ia dar problemas com o encanamento, a outra era perto demais de uma rua muito movimentada e o trânsito seria incômodo. A terceira ficou na lista de segundas visitas, não havia nada de errado com ela, e encerraram o dia ali.
No segundo dia, encontraram o lugar perfeito. Era no estilo de villas gregas, com uma piscina linda e pertinho da praia, que era acessada por uma escada de pedra nos fundos do terreno. Além do quintal amplo, era cercada por um pequeno bosque e tinha três andares, uma cozinha, duas salas, dois banheiros, três quartos e duas suítes, além de cômodos vazios no primeiro andar que eles planejavam usar como um escritório e um estúdio. A garagem era suficientemente grande para dois carros, mas Robby admitiu que tinha medo de dirigir por causa do acidente de seus pais. Se um dia ele superasse isso, talvez preenchessem as duas vagas, mas por enquanto ela seria apenas para o carro de Miguel.
"Não é grande demais?" Miguel perguntou, lembrando de sua primeira impressão sobre a mansão de Silver.
"Se a gente for viver aqui a vida toda… quer dizer, se a gente não quiser ter que se mudar." Robby disse, envergonhado.
"Tem razão. Se formos viver aqui a vida toda, temos que pensar nas crianças." Miguel disse, pensativo.
"Crianças, Miggy? Quantas vocês querem?" Rosa perguntou, curiosa.
"Mamá, deixa eles. Vocês não precisam pensar nisso agora. Mas a casa é linda e está em perfeitas condições!" Carmen deu seu veredicto, e eles iniciaram as negociações imediatamente.
Decidiram que se mudariam em um ou dois dias, assim que os móveis chegassem, e o próximo passo era esse, ir escolher a mobília. Miguel e Robby foram a uma loja de móveis artesanais, todos feitos de madeira maciça e de excelente qualidade. Começaram a seleção pela cama e Robby teria ficado morrendo de vergonha se não estivesse bobo e apaixonado. Miguel sentou na cama e disse que era perfeita e macia, mas um pouco pequena. E então puxou Robby para se deitar ao seu lado e medir o tamanho do móvel, deixando o mais baixo vermelho como um tomate, mas muito contente.
Escolheram uma um pouco maior e bem resistente, para não correrem riscos, e esse foi outro momento em que Robby quase escondeu a cara. Miguel apenas sorria com toda sua cara de pau. Escolheram um sofá em L grande, macio e cinza, para combinar bem com as paredes brancas. A mesa de jantar tinha 12 lugares e Robby nem conhecia tanta gente antes de começar a conviver com os amigos e a família de Miguel, mas agora parecia o tamanho ideal. E muitas outras coisas vieram, estantes de livros, mesas de cabeceira, uma mesa e cadeiras para o escritório, um sofá menor, uma cadeira de balanço - e uma namoradeira de balanço também, para a varanda. A cozinha era planejada e eles teriam um closet, então não precisariam de um armário.
Finalmente, era o momento de ir a uma pet shop e escolher tudo que precisavam para tornar a casa tão confortável para Pietro quanto para eles. Caminha, brinquedos, até uma casinha para ele dormir fora da casa quando quisesse. Finalmente estava tudo pronto e eles poderiam começar uma a vida a dois como haviam sonhado. Robby estava feliz como nunca, mas aquela voz em sua mente ainda o atormentava. Às vezes ele olhava para Miguel e pensava quanto tempo levaria para ele se cansar e deixá-lo, e seu coração era apertado por garras gélidas.
A chegada à casa nova foi o momento mais feliz de toda a vida de Robby e finalmente rever Pietro e abraçar o filhotinho foi muito emocionante. Os três entraram juntos na casa e pela primeira vez ele sentiu que tinha uma família de verdade. Botaram Pietro para dormir em sua caminha na sala, com água e comida disponíveis por perto e foram para o quarto, a maior suíte da casa. Tomaram banho, lavando os cabelos um do outro e massageando os ombros de forma relaxante, depois foram se deitar, abraçados. Robby estava deitado de lado, com a cabeça apoiada no braço de Miguel e seu próprio braço ao redor da cintura do mais alto.
"Eu conversei com Daniel. Amanhã vou à concessionária assinar o contrato." Miguel disse, dando um beijo na cabeça de Robby. "Fico feliz que ele ainda quis me dar esse emprego."
"Se você tivesse aceitado desde o começo…" Robby, disse, com um nó na garganta.
"Eu não teria conhecido você. E você ainda estaria lá com aquele monstro. A única coisa que eu me arrependo é de ter te tratado tão mal, mas não de ter me envolvido com você, entendeu? Nunca." Miguel disse, acariciando a face direita de Robby, que se inclinou em sua direção para aproveitar cada segundo do carinho. Vinha se sentindo cada vez mais carente e não sabia como ia suportar ficar sozinho pela primeira vez no dia seguinte quando Miguel fosse trabalhar, mas teria que dar um jeito. Não podia ser um estorvo.
Robby dormiu pouco e com dificuldade, a ansiedade não o deixou descansar verdadeiramente. Acordou cedo e Miguel estava se vestindo para ir à LaRusso Auto. Robby se levantou e se aproximou dele, abraçando-o por trás e beijando o ombro do namorado. "Bom dia."
"Bom dia, lindo. Dormiu bem?" Miguel perguntou, e Robby não queria mentir, mas também não queria preocupar ele a toa. "Hm… acho que vou dormir mais um pouco quando você sair."
"Isso, gatinho. Descansa bem, você precisa." Miguel disse, se virando para abraçá-lo e beijando seu pescoço. "Eu queria tanto ficar aqui com você, mas eu preciso ir, não posso me atrasar no primeiro dia."
"Tudo bem. Bom trabalho. Me dá notícias?" Robby pediu, não sabendo se estava sendo grudento demais ou não. "Claro, amor. Eu te ligo na hora do almoço." Miguel disse, abraçando-o mais uma vez e saindo logo depois.
Robby não conseguiu realmente voltar a dormir. Estar sozinho era difícil e toda vez que fechava os olhos, se via de volta naquele quarto. Levantou da cama, fez café, deu comida e água a Pietro e depois passou um tempo abraçado a ele no sofá, como se precisasse se convencer de que estava realmente livre. Não teve vontade de almoçar, então foi para o jardim brincar com Pietro e começar a plantar as sementes que havia conseguido para sua horta. Miguel ligou enquanto ele estava no banho e ele ficou em dúvida se devia ligar de volta ou não. Não queria atrapalhar em seu horário de trabalho, então apenas aceitou a derrota e se conformou com a solidão até ele voltar. Ele recebeu algumas mensagens de Tory e Shawn, e disse que estava bem, não queria preocupar mais ninguém. Iam acabar se cansando de todo esse drama.
À tardinha, começou a fazer comida, mesmo que não estivesse com tanta fome, pois queria que Miguel chegasse e tivesse tudo pronto, afinal ele ficava em casa o dia todo e Miguel chegaria cansado e com fome. Robby fez algo relativamente rápido, depois esperou o namorado chegar. Ouviu o barulho da porta e seu coração saltou de felicidade, se sentiu um pouco como um cachorro fazendo festa e esse pensamento o deixou levemente nauseado.
"Oi, amor. Teve um bom dia?" Miguel perguntou, dando um selinho em Robby.
"Sim… Como foi no trabalho?"
"Ótimo! Bastante coisa pra me acostumar, mas é bem interessante. Eu senti falta de mecânica, apesar de também gostar de dirigir." Miguel disse, animado.
"Que bom, Miggy. Fico feliz que você gostou." Robby disse, sincero.
"Fiquei esperando você me ligar de volta, tava tudo bem?" Miguel perguntou, preocupado, e Robby se sentiu um idiota.
"Sim, eu tava no banho e só vi depois. Não quis te atrapalhar…"
"Você não ia atrapalhar. Você pode me ligar quando quiser, se eu realmente não puder atender, eu ligo de volta depois" Miguel disse docemente, e Robby confirmou.
"A comida tá uma delícia, obrigado, lindo." Miguel elogiou, fazendo Robby sorrir pela primeira vez no dia.
Os dois foram dormir e se deitaram abraçados, trocaram alguns beijos e carícias e pegaram no sono, afinal o dia havia sido cansativo.
Mais dois dias se passaram com exatamente a mesma rotina e Robby não aguentava mais, seus nervos estavam à flor da pele. Quando Tory perguntou se ele estava bem, ele foi sincero e desabafou sobre tudo. Ela foi visitá-lo, o ouviu, abraçou e ofereceu um ombro amigo para ele chorar. Depois lhe deu um conselho muito valioso.
Quando Miguel chegou, ele contou a ele que havia falado com Tory e que estava pensando na possibilidade de treinar karatê com Daniel, já que isso ocuparia um pouco do seu tempo e também ajudaria em sua saúde mental. Conversou com sua psicóloga sobre isso e ela achou uma ótima ideia. Miguel o incentivou, claro, como sempre fazia.
Quando foram deitar, Miguel estava um pouco menos cansado que na noite anterior e tentou seduzir o namorado, que apenas disse que não estava pronto ainda. Miguel não o questionou, apenas respeitou sua decisão e disse que estaria sempre lá se ele quisesse conversar. Robby não sabia como dizer tudo que queria. Em sua próxima sessão de terapia, explicou tudo e chorou copiosamente. Queria muito abrir o jogo com Miguel, mas simplesmente não conseguia.
Foi ao dojo naquela semana para falar com Daniel e se sentiu mais em paz que nunca. O lugar era maravilhoso e ele tinha certeza que treinar ali o ajudaria muito. Daniel disse que podiam começar naquele mesmo instante, e ele aceitou. Ao terminar o primeiro dia, Daniel elogiou sua técnica e dedicação, mas disse que ele precisava confiar mais em si mesmo e que ajudaria com o que pudesse. Sam apareceu pouco depois e se ofereceu para treinar com ele, o que ele apreciou imensamente. Foi realmente um ótimo dia.
"Você vem pro churrasco no sábado, né? Eu não chamei quase ninguém ainda, mas você pode avisar ao Miguel. É algo mais em família e amigos próximos."
"Você tem um irmão mais novo, né? Você se importa se eu trouxer o Kenny?" Robby perguntou, com medo de estar abusando.
"Claro que não! Ele vai gostar de conhecer o Anthony e o Brandon, irmão da Tory. Pode chamar o Shawn também. Eu devo uma pra ele depois de quase bater nele." Sam disse, levemente envergonhada.
"Quê? Você quase bateu nele?" Robby perguntou, chocado.
"Longa história. Mas deu tudo certo no final." Ela sorriu, misteriosa.
–
No sábado, Robby, Miguel, Pietro - que ficou muito contente brincando no quintal e recebendo atenção de todos os presentes - Kenny e Shawn foram para a casa dos LaRusso para o churrasco que haviam organizado. Amanda e a mãe de Daniel também estavam lá, assim como Carmen e Rosa, Eli e Demetri, que Robby ficou contente em conhecer, e duas amigas de Sam, Aisha e Moon. O dia foi maravilhoso e passou sem maiores incidentes, Robby se sentiu bem pela primeira vez em uma festa. Era totalmente diferente dos eventos na mansão de Silver e isso deixou sua mente tranquila.
Robby comeu tudo que queria, com um pouco de insistência de Miguel e Daniel; pulou na piscina com Eli, Demetri, Miguel e Sam, que puxou Tory com ela pouco depois. Ouviram música e cantaram, depois Daniel descobriu que Robby gostava de cozinhar e o convidou para cozinharem juntos algumas vezes. Robby saiu da casa dos LaRusso se sentindo uma tonelada mais leve, como se realmente pertencesse a algum lugar e fosse capaz de ter uma vida feliz e normal.
Chegou em casa com Miguel e disse que estava pensando em arrumar um trabalho ou fazer um curso, algo para se sentir útil. Estava com medo de ouvir que não precisava fazer isso porque era rico e que Miguel já trabalhava, e não seria capaz de ter essa discussão porque seria exatamente uma repetição do que havia vivido com Silver. O moreno novamente o surpreendeu, dizendo que achava uma ideia maravilhosa e que, como ele não precisava se preocupar com dinheiro, podia escolher algo que fosse bom para ele e o deixasse feliz. Robby beijou Miguel suavemente e agradeceu por ele ser como era, sem dar maiores explicações.
Infelizmente, nem tudo eram flores. Depois de algumas semanas treinando com Daniel e fazendo terapia, Robby se sentiu mais relaxado, mas o stress pós traumático e os ataques de pânico não iriam sumir magicamente. Em alguns dias, ele mal conseguia levantar. Em outros, não dormia de jeito nenhum. Depois de dois dias se sentindo nervoso toda vez que ficava sozinho, e sem poder sair com os amigos no meio da semana pois todos estavam ocupados, Robby perguntou a Miguel se poderia ir à concessionária com ele no dia seguinte, só para conhecer.
Miguel perguntou para Daniel, só para ter certeza, e ele disse que seria um prazer. Combinaram tudo e Robby se sentiu um pouco dependente demais, mas pelo menos não passaria o dia sozinho em casa sofrendo. Se arrumaram juntos, tomaram café e saíram, Miguel contando animadamente o que teria para fazer naquele dia e Robby prestando total atenção, feliz por se sentir incluído.
Chegaram à empresa e foram direto para a garagem, pois Miguel queria fiscalizar alguns trabalhos. Ele estava trabalhando como gerente, mas gostava de acompanhar os consertos de perto, dar ideias e ajudar os membros de sua equipe a acharem soluções mais práticas e rápidas. Robby admirava a inteligência, dedicação e paciência do namorado, e estava muito feliz por ter ido com ele.
Tudo estava indo maravilhosamente até a hora do almoço, quando passaram por dentro do salão principal da concessionária para chegar ao refeitório, e no meio do caminho, avistaram Daniel. Infelizmente, ele não estava sozinho, conversava de forma levemente hostil com seu rival de negócios, Tom Cole. Miguel estava andando quando percebeu Robby parar e se virou para ele, se assustando com o que viu. Ele estava pálido, tremendo e com os olhos verdes arregalados de terror. Miguel só o tinha visto assim quando o tiraram da mansão, nem mesmo os pesadelos e ataques de pânico o deixavam dessa forma.
"Robby? Robby?" Miguel tentava chamar a atenção dele e não conseguia, ficando desesperado pouco a pouco. Pegou Robby pela mão e o levou para uma das salas próximas, encheu um copo com água e voltou a tentar trazê-lo de volta à realidade.
"Robby, fala comigo, pelo amor de deus!" Miguel disse, quase chorando de nervoso. Os olhos de Robby se pareciam não estar focando em nada, então Miguel estalou os dedos na frente de seu rosto e repetiu mais alto para ter certeza que ele ouviria: "Robby, tá me ouvindo?"
"Au!" Robby gemeu, numa voz baixa e lamentosa, e tão aterrorizada que assustou Miguel e fez os pêlos de seu pescoço se arrepiarem.
Miguel queria abraçar Robby e confortá-lo, mas ao tentar tocá-lo, o mais baixo se esquivou e se encolheu, como se fosse ser machucado. O moreno não sabia o que fazer, não tinha ideia de como ajudar, mas também não podia deixar Robby sozinho e ir buscar alguém. Pegou o celular e ligou para Daniel, pediu para ele vir até eles o mais rápido que pudesse e Daniel teria largado até uma reunião importante para ajudar, mais ainda o rival que tanto desprezava. Estava com eles menos de dois minutos depois e se ajoelhou ao lado de Robby, o ajudando a controlar a respiração e voltar à realidade, depois de vários minutos.
Robby olhou para Miguel e finalmente os olhos verdes pareciam estar focados nele, o que o preencheu de alívio. Miguel perguntou em voz baixa se podia abraçá-lo e Robby pareceu surpreso com a pergunta, mas acenou afirmativamente com a cabeça, ainda parecendo incapaz de falar.
"Amor… Você quer ir pra casa?" Miguel perguntou, suavemente, e Robby quase deslocou o pescoço de tanta ênfase em sua resposta. "Daniel… Me desculpa, eu não vou poder ficar."
"Não se preocupe, Miguel. Se precisar de qualquer coisa, pode contar comigo. Dá notícias, por favor." O chefe disse, compreensivo.
Miguel ajudou Robby a se levantar e o namorado se agarrou a ele como se sua vida dependesse disso. Miguel ainda estava assustado e o gosto amargo do medo não deixou sua boca até chegarem em casa, quando Robby pareceu relaxar um pouco, apesar de ainda estar calado e tenso, pelo menos não estava mais quase sufocando Miguel de tão forte que o apertava.
Miguel o sentou no sofá e ficou perto dele, ainda abraçando-o. Passaram-se quase quinze minutos até que o mais alto tentasse de novo. "Você quer que eu prepare um banho pra você?"
Robby acenou afirmativamente de novo e Miguel se levantou, ouvindo imediatamente o protesto choroso do outro. "Vem comigo, amor." Ele disse, dando a mão a Robby e o levando para o banheiro com ele. Encheu a banheira e botou alguns sais de banho relaxantes, ajudou Robby a se livrar das roupas e observou enquanto ele deitava na banheira, com o rosto aliviado. Miguel tomou um banho rápido de chuveiro, se vestiu e voltou para fazer companhia a Robby. Depois, o ajudou a se vestir e o levou para a cama, onde ele apagou de exaustão em poucos minutos.
O dia seguinte foi o primeiro em que Miguel cobrou o favor que Daniel havia oferecido e pediu para ficar em casa, já que Robby ainda não tinha conseguido falar com ele e não devia ficar sozinho. Miguel preparou café da manhã para os dois e acordou o namorado, que o olhou com um misto de horror e vergonha que partiu seu coração.
"Miggy… o que aconteceu?" Robby perguntou, apenas querendo confirmar as lembranças que passavam em flashes em sua mente.
"Meu deus, é tão bom ouvir sua voz, amor." Miguel disse, aliviado. "Você não falou nada desde ontem, eu fiquei tão preocupado!"
"Eu tive um ataque de pânico?" Robby perguntou, torcendo para não ter revelado demais.
Miguel sentou, segurou sua mão e olhou profundamente em seus olhos. "Eu tentei te abraçar e você se esquivou como se eu fosse te machucar…" Robby olhou para baixo e sentiu uma lágrima cair ao perceber a dor na voz de Miguel. "E eu tentei chamar sua atenção… e você latiu pra mim." Miguel disse, baixinho.
Robby inspirou profundamente, perdendo o fôlego ao ouvir aquilo. "Oh, meu deus… eu…"
"Robby, o que houve? Por que você ficou daquele jeito?" Miguel perguntou, agoniado.
"Não… não, eu não posso. Não faz eu falar, por favor." Robby começou a implorar, e Miguel o abraçou novamente.
"Eu nunca vou te forçar a nada, lindo. Mas se você não falar comigo, eu não vou poder te ajudar. Me mata ver você assim." Miguel disse, e Robby se sentiu ainda mais culpado.
"Você vai me odiar, Miggy, vai ter nojo de mim." Robby sussurrou.
"Nunca." Miguel afirmou com firmeza. "Eu prometo, isso nunca vai acontecer."
"O Silver… ele tentou me transformar num tipo de… escravo, fazer lavagem cerebral em mim. Ele me tratava como um cachorro. Ele… fez eu usar um plug com uma cauda e um arco com orelhas… e uma coleira." Robby olhava para a parede enquanto contava, não teria coragem de continuar se visse o olhar de Miguel.
"Ele me fazia engatinhar e subir e descer da cama como se fosse um cão. E obedecer aos comandos dele… e o jeito que ele me fazia responder era latindo. Um sim, dois não. Um dia ele levou… dois convidados da festa dele pra me visitar. Acho que você imagina o que eles fizeram." Robby disse, chorando ainda mais, e Miguel apertou sua mão para mostrar que estava ouvindo e que podia contar com ele. "E um desses homens estava na LaRusso Auto ontem. Foi por isso que eu… fiquei assim." Robby concluiu, finalmente.
"O que? Ele não está preso? Eu vou matar esse infeliz!" Miguel disse, tentando controlar a raiva para não assustar Robby.
"Eu acho que ele não sabia. Silver disse que era ideia minha, um fetiche estranho que eu tinha e até inventou que eu tinha uma palavra de segurança… mas era tudo mentira!" Robby disse, indignado, como se precisasse se justificar.
"Meu deus… Robby… esse homem é um monstro."
"Você não vai me deixar? Não me acha sujo e covarde?" Robby perguntou, inseguro.
"Robby… pelo amor de deus. Você é tão forte, lindo. Eu nunca pensaria isso. E eu não vou te deixar. Mas eu não sei como te ajudar, eu não tô pronto pra isso. Eu vi isso ontem."
Robby sentiu o balde de água fria da decepção, apesar de esperar isso há tempos, as palavras de Silver ecoando em seus ouvidos, dizendo que Miguel o deixaria assim que o conhecesse. "Eu entendo, Miguel." Disse, com o coração em pedaços.
"Que bom. Eu vou marcar uma sessão pra nós dois com a sua psicóloga, ok? Eu acho que com as sessões em conjunto vou entender como te ajudar e não te causar ainda mais stress."
"Terapia? Com você?" Robby perguntou, chocado.
"Eu juro que você não precisa falar nada que não quiser. Eu só não quero me sentir inútil como ontem. Por favor, amor. Faz isso pela gente, deixa eu te ajudar." Miguel pediu, e Robby mal podia acreditar que alguém faria isso por ele. Ele sabia que ainda teria um longo caminho pela frente, mas era muito bom não segui-lo sozinho.
"Miggy, tem mais uma coisa." Robby disse, tomando coragem. "Ele me deu um nome. Quando tentou me… adestrar. O nome estava gravado na coleira e ele sempre me chamava assim."
Miguel o olhou com atenção, esperando o que viria, e não estava preparado para a resposta que recebeu. Seu estômago se revirou e ele quase vomitou ali mesmo. Ele ia precisar ser muito forte para ajudar Robby a se recuperar, tão forte quanto ele. "Meu amor… eu sinto tanto. Eu prometo que vou fazer tudo que puder pra te ajudar. E nunca mais vou deixar ninguém te machucar."
"Eu confio em você, Miggy. Mas eu tenho tanto medo." Robby disse, com a voz trêmula.
"Eu sei. Mas você vai vencer esse medo. Nós estamos com você, ok? Eu tô com você. Sempre." Miguel prometeu. "Eu te amo tanto."
"Também te amo, Miggy." Robby disse, tentando realmente ter esperança no futuro.
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