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Tory vinha rezando para que o plano funcionasse, mas quando viu Silver entrar na mansão acompanhado pelos LaRusso, ela mal acreditou. Nunca teria imaginado que a distração seria tão eficiente, já que não sabia bem qual era a história entre Daniel e seu patrão. Após perceber que eles estavam indo para o dojo que o mais velho mantinha em sua mansão, ela se aproveitou da oportunidade única para avisar a Miguel e Shawn.
Miguel sabia que teria que ficar fora da mansão, pois todos os seguranças de Silver o conheciam e sua presença seria uma ameaça. Queria entrar e arrancar Robby de lá ele mesmo, mas sabia que não seria possível. Mais uma vez, teria que aceitar ser apenas um observador. Shawn estava, assim como Daniel, muito bem vestido, parecia até rico. Precisava ser capaz de se passar por um dos convidados e certamente estava à altura do local. Ele entraria na festa e iria até a cozinha encontrar Tory, com a desculpa de pedir algo especial.
Passou pelos seguranças na entrada e não despertou grandes suspeitas, e em seguida se infiltrou entre os milionários presentes, conversando sobre amenidades para disfarçar, depois perguntou onde podia pedir um drinque 'especial'. O homem para quem perguntou indicou onde ficava a cozinha e ele agradeceu, indo direto para lá.
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Daniel e Amanda acompanharam Silver até o dojo da mansão e ela segurou a mão do marido firmemente ao notar sua ansiedade. Estar ali o fazia lembrar do tempo que havia passado com Silver no Cobra Kai, toda a manipulação, a tortura disfarçada de treinamento, o perigo do qual havia escapado graças à proteção e atenção do Sr Miyagi, perigo do qual Robby infelizmente não havia tido quem o protegesse.
O dojo parecia muito mais tradicional e sofisticado do que aquele em que Daniel havia treinado, mas as cores não deixavam dúvida sobre os ideiais propagados ali. As paredes eram brancas e os tatames pretos com um símbolo amarelo de uma naja bem no centro. Era imponente e perturbador, mais ainda quando combinado às paredes onde havia toda sorte de armas expostas, de espadas a machados. Boa parte delas nem era usada em lutas, pareciam apenas itens de uma coleção sinistra. Para fechar com chave de ouro, os dois terrários com cobras vivas complementavam o aspecto ameaçador do local. Só faltava John Kreese.
"Que achou do dojo, Danny boy? Te traz boas memórias?" Silver perguntou com um sorriso malicioso.
"É muito diferente do meu dojo, Silver. Você vai perceber isso se for mesmo nos visitar." Daniel disse, mordendo a língua para não botar tudo a perder.
"Ah, eu adoraria. Vai ser como uma viagem ao passado. Uma pena seu sensei não estar mais lá, não é mesmo?" Silver disse com a voz melosa que era puro veneno, se aproximando de Daniel como um predador e parando à sua frente, fazendo com que o outro tivesse que olhar para cima para encará-lo.
"Sim, é uma pena. Ele faz muita falta." Daniel disse, com a voz cheia de ódio, recebendo um sorriso cheio de dentes em retorno.
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"Payne! Não temos muito tempo. Você trouxe a prótese pra abrir a porta?" Tory conferiu.
"Sim, tudo certo. Diaz está lá fora, no carro."
Tory informou que não podiam descer juntos, pois isso levantaria suspeitas. Instruiu o outro sobre como chegar à adega e sobre qual parede escondia o quarto, prometendo ficar de olho e ajudar no caso de algum imprevisto. Se fossem pegos, estariam absolutamente ferrados. Ela faria o possível para evitar isso.
Enquanto Shawn descia as escadas, Tory se esgueirou sorrateiramente para o escritório, de onde poderia monitorar a parte de fora da mansão e o dojo, bem como as outras dependências, com exceção do quarto secreto. Essa câmera era de acesso exclusivo de Silver, em seu computador pessoal.
Olhando os monitores, viu Daniel e Silver se encarando, e se preparando para lutar. Pela expectativa no rosto de Amanda, parecia mais algum tipo de desafio que uma briga propriamente dita. Também testemunhou o uso da chave improvisada funcionar e Shawn conseguir abrir a porta metálica, infelizmente saindo do alcance do sistema de segurança.
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Shawn adentrou o quarto e por um minuto foi tomado pelo medo de ter chegado tarde demais. Robby estava no chão, inconsciente, uma das pernas dobrada em um ângulo impossível, claramente quebrada, o corpo totalmente coberto de hematomas, arranhões, mordidas e outras marcas que ele nem conseguia identificar. Ele se ajoelhou ao lado do amigo para verificar seus sinais vitais e encontrou um pulso e percebeu a fraca respiração, transbordando de alívio. Não fazia ideia de como o tiraria dali sozinho naquelas condições sem causar ainda mais sofrimento e dor, mas também não tinha tempo suficiente para voltar atrás no plano.
Shawn tentou segurar Robby pela cintura e levantá-lo, mas a dor de mover a perna fraturada o acordou com um grito aterrador. Shawn se sentiu a pior pessoa do mundo, mas imediatamente tapou a boca do mais baixo com uma das mãos para que não fossem descobertos.
"Shhh, vou te tirar daqui, mas não podem achar a gente!"
Robby estava perdido na dor e no medo, nem tinha reconhecido quem falava com ele. Apenas tentava respirar e pedir ajuda, mas não conseguia. Mordeu a mão que tapava sua boca e recebeu um grunhido de dor e surpresa como resposta, mas nenhuma punição. Isso fez com que parasse e realmente visse quem estava à sua frente em vez do marido.
"Shawn? Como..." Robby perguntou com a voz rouca.
"Eu te conto tudo depois, prometo. Mas precisamos sair daqui, agora!"
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Silver ainda era mais forte e mais experiente que Daniel, apesar de tudo. A luta estava sendo árdua e o mais novo estava resistindo muito bem, inegavelmente melhor que da última vez, mas ainda não era suficiente. Ainda não era tão bom quando o Sr Miyagi havia sido, mas estava perto. Essa pequena diferença estava favorecendo o mais velho, além da falta de escrúpulos.
"Danny, eu senti tanta falta disso! Você ainda faz meu sangue ferver, sabia?" Silver perguntou de forma repulsiva, finalmente desferindo um soco no tórax de Daniel que lhe tirou o ar, depois o empurrando para o chão e indo em direção a uma das paredes, de onde pegou uma katana.
"Vamos brincar um pouco. Vou usar uma arma japonesa, em homenagem ao seu sensei." Falou rindo enquanto se aproximava de Daniel como um leão na savana.
Amanda não tinha ideia do que estava fazendo, era como se seu corpo tivesse vontade própria, movido pela adrenalina de ver Daniel em perigo. Não iria perdê-lo para essa imitação barata de Drácula, de jeito nenhum. Enquanto ele fazia ameaças e provocações sobre o passado que tinham em comum, ela segurou firmemente com ambas as mãos o primeiro objeto que lhe pareceu útil e o atacou por trás.
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Assim que Tory viu Shawn sair do quarto misterioso com Robby nos braços, ela percebeu que não chegariam muito longe daquele jeito, além de atrair atenção demais ao se aproximarem da festa. Ela correu até o quarto do casal e pegou roupas largas que pudessem impedi-los de se tornarem a grande atração da noite e, ao mesmo tempo, não piorassem os ferimentos.
Quando desceu em direção à adega, Shawn já estava na metade da escada. Ela o fez retornar e o ajudou a vestir Robby, dando um pedaço de pano para que ele pudesse morder e evitar gritar de dor enquanto manipulavam a perna e o resto de seu corpo. Quando finalmente terminaram, Robby havia desmaiado novamente, com o rosto vermelho e coberto de lágrimas.
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Daniel tinha certeza que seus minutos estavam contados, mas fez questão de se levantar e lutar até o fim. Assim que assumiu a posição de luta pelo que achou que seria a última vez, ouviu o grito de dor vindo de seu oponente, e viu o machado ser cravado sem qualquer tipo de perícia em seu ombro. O sangue tornava tudo muito mais real e bizarro, e Daniel reagiu o mais rápido que pôde, encurralando Silver e o empurrando por cima de um dos terrários.
"Mandy, temos que sair daqui. Agora!" Ele disse, olhando para a esposa que ainda parecia em choque, e largou o machado com um baque pesado.
A última coisa que Daniel viu antes de fugir do dojo foi a cobra assustada pela invasão de seu território, ouvindo o sibilo pavoroso logo em seguida. Então, silêncio.
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Tory ajudou Shawn a levar Robby para cima e para a saída de trás da mansão, por onde não precisariam passar pela festa. Os seguranças haviam sido atraídos por um grito vindo do dojo que ela tinha certeza ser de seu patrão. Esperava que Daniel estivesse bem, mas não tinham tempo de averiguar.
Estavam quase fora do portão quando Kyler apareceu. Ela saiu pelo portão e foi rapidamente em direção ao carro, avisando ao amigo sobre o contratempo enquanto Kyler ameaçava literalmente soltar os cachorros em Shawn.
Miguel seguiu Tory até o portão e seu coração quase parou ao ver Robby inconsciente e ferido nos braços de Payne. Se virou para Kyler e disse que ele tinha dez segundos para sumir ou iria se arrepender, arrancando uma risada debochada do outro. A fúria de Miguel perante tamanha falta de empatia o fez agir instintivamente, e quando percebeu estava sentado em cima de Kyler, socando seu rosto repetidamente, suas mãos manchadas do sangue que havia tirado do nariz e da boca do outro.
"Miguel! Chega!" Tory gritou, alarmada.
"Você é cúmplice! Vou matar você!" Miguel gritava enquanto Tory e Shawn o seguravam e o tiravam de cima do outro, que parecia apavorado após perder vários dentes e ter o nariz quebrado.
"Vamos! Vamos tirar o Robby daqui!" Tory disse, sabendo que era a única coisa que ultrapassaria a barreira de ódio.
Miguel parou subitamente de lutar contra eles, levando ainda alguns segundos para conseguir retornar ao mundo real. Então, foi direto para onde Robby estava e tentou acordá-lo, sem sucesso.
Shawn o pegou nos braços de novo e o carregou até o carro, dizendo a Miguel que ele podia ir com Robby no banco de trás e ele iria dirigir, com Tory indo no banco da frente a seu lado.
"Miguel não era o piloto de fuga?" Ela disse, apertando os cintos.
"Tudo bem. Não sou profissional, mas dirijo bem. Se eu tentar separar ele do Keene ele vai arrancar meus dentes também." Shawn disse, dando partida no carro e se afastando da mansão o mais rápido que podia.
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Daniel e Amanda chegaram em casa profundamente agitados e imediatamente ligaram a televisão para esperar a repercussão de toda aquela loucura. Menos de meia hora depois, já havia a cobertura do "trágico acidente em dojo de milionário termina em morte". Eles mal podiam acreditar. Amanda começou a rir histericamente vendo como havia se tornado uma assassina e sua vida iria pelo ralo.
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No caminho para o hospital, Robby finalmente acordou de novo. Miguel estava sentado com a cabeça do menor em seu colo, acariciando seu cabelo e chorando como se estivesse num funeral. Robby abriu os olhos e olhou para a frente, notando a parte de trás do banco de um carro. Não sabia mais se estava sonhando, alucinando pela mistura da dor e da falta de alimento ou se realmente tinha conseguido sair do maldito quarto.
A dor dizia que não era um sonho, no primeiro choque de sua perna quebrada contra o banco, ele viu estrelas e gritou de agonia. Ouviu a voz chamar seu nome e seu sangue gelou. Até a dor era secundária. Virou o rosto para cima como podia e viu o rosto próximo ao seu, o corpo curvado por cima do dele para tentar mantê-lo apoiado e evitar mais incidentes como aquele. Só podia ser uma alucinação, então. Ou talvez Silver o tivesse matado e eles finalmente pudessem ficar juntos. Mas não achava que o pós-vida seria tão doloroso.
"Miguel..." disse lentamente, incrédulo.
"Sou eu, sou eu, vai ficar tudo bem." Miguel prometeu, segurando a mão de Robby e a beijando várias vezes.
"Como... eu morri?" Perguntou com a voz trêmula.
"Você não morreu, amor. Eu não morri, estamos indo pro hospital. Você vai ficar bem!" Miguel disse, tentando fazer Robby entender.
"Sonho, então..." Robby disse enquanto sorria antes de perder a consciência novamente.
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No dia seguinte, após uma noite inteira acordados, os LaRusso finalmente conseguiram uma atualização satisfatória sobre a situação.
"Milionário sofre picada mortal em sua mansão durante festa inesquecível"
Daniel olhava para a chamada e ouvia o que a repórter relatava. Não podia crer no milagre que havia acontecido. Empurrar Silver em direção ao terrário não tinha sido nenhum grande plano, apenas obra do medo e da vontade de neutralizar a ameaça. Bem, a cobra certamente havia sentido o mesmo. Mordido por uma cobra venenosa em seu próprio dojo. Era inacreditável. Sabendo a causa da morte, era pouco provável que investigassem mais sobre a luta, já que haviam atribuído tudo ao destino, a situação já era chamada de "acidente bizarro" e todo tipo de matéria sensacionalista estava sendo feita. Se chegassem até Amanda, ela poderia simplesmente alegar legítima defesa, mas não era realmente a causadora da morte de Silver, para alívio da família inteira.
Anthony e Sam já estavam em casa, e Kenny e Shawn estavam ficando com eles enquanto a situação se resolvia, assim como Tory. Os Payne queriam ir visitar Robby no hospital assim que pudessem, mas ele ainda estava desacordado. Estava fora de perigo e todos seus ferimentos estavam sendo tratados, a lista era tão grande que Miguel quase vomitou quando a escutou, informando Daniel de tudo por telefone.
Miguel não havia saído do hospital nem um minuto, esperando no corredor até que fosse liberada a entrada e depois voltando para lá, incansavelmente. Não iria deixar Robby de novo.
Quando Robby acordou e percebeu as paredes brancas, os sons de máquinas hospitalares e sua perna engessada, soube que estava realmente vivo e no hospital. Ainda não fazia ideia do que tinha acontecido, só sabia que Shawn o havia resgatado da mansão e que no caminho tinha sonhado com Miguel e vivido um momento de alívio e felicidade, ainda que breve. Podia sentir a boca seca e a garganta arranhando pelo esforço dos últimos dias, além da cabeça estranhamente leve, provavelmente pelo efeito de medicação para a dor. Não sentia quase nenhuma, então deviam ser remédios bem fortes.
Ficou ali por um bom tempo, apreciando essa nova chance que estava tendo, longe de Silver. Esperava que ele não o encontrasse. Quando pensou nisso, foi tomado pelo horror. Silver tinha muitos recursos e era seu marido, o hospital provavelmente o tinha avisado. Iria sair dali direto para a mansão e dessa vez tudo seria pior, já que ele sabia que Robby quase havia escapado. Robby sentiu a falta de ar chegando e não podia fazer nada, apenas arfar tentando puxar ar para seus pulmões e tentar controlar os soluços e o choro que indicavam a crise de pânico.
A enfermeira que entrou lhe fez algumas perguntas que ele simplesmente não conseguia responder. Era como se sua mente não funcionasse direito. Ela disse que iria lhe dar um tranquilizante e ele tinha certeza que seria dopado, então apenas começou a gritar para que não fizessem aquilo, e apagou minutos depois da administração do calmante em seu soro.
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Miguel estava no corredor pelo terceiro dia seguido quando foi avisado que Robby estava acordado, mas que seu estado mental era muito delicado e ele estava passando por avaliação psiquiátrica. O estômago de Miguel queimava de medo e repulsa, como alguém podia ser tão cruel a ponto de torturar outra pessoa dessa forma?
Quando ele foi liberado para ver Robby, foi avisado de que ele não parecia ser um perigo, nem para si, nem para outros, mas estava sofrendo de stress pós traumático e síndrome do pânico, portanto precisava que fossem cuidadosos com ele. Miguel entrou no quarto e Robby o olhou, em choque.
"Robby, como você..." antes que terminasse, foi interrompido pelo alarme que acionava a equipe de enfermagem e apenas observou Robby boquiabierto até a chegada da enfermeira.
"Olá, querido, precisa de algo?" Ela disse, carinhosamente.
"O médico disse que não estou psicótico. Não pode ser real!" Robby disse, balançando a cabeça em negação.
Miguel e a enfermeira se olharam, e ela confirmou que ele realmente não tinha diagnóstico algum de alucinações visuais ou auditivas, e perguntou o que estava errado. Miguel suspirou e disse que Robby achava que ele estava morto. Depois de muito trabalho da parte dos dois, Robby se convenceu de que Miguel não era uma alucinação e a enfermeira os deixou a sós, com a recomendação para chamar se precisassem.
"Ele disse que você estava morto." Robby sussurrou, com novas lágrimas caindo de seus olhos.
"Oh, Robby. Ele tentou me matar, mas eu não estava em casa. Me escondi em outro lugar. Posso te dar um abraço?" Miguel disse, chorando também, agora de alívio por finalmente estar junto com o outro de novo.
Robby não pôde evitar rir. Depois de tudo que havia passado, Miguel pedindo permissão para lhe dar um abraço era quase surreal.
"Claro. Por favor." Disse, enquanto o moreno se aproximava e encostava a cabeça de Robby em seu peito, envolvendo os ombros do mais baixo com os braços e beijando sua cabeça.
"Eu te amo, Robby. Eu te amo. Vai ficar tudo bem, eu prometo."
Robby queria acreditar, mas já tinha ouvido aquilo antes. Preferiu se concentrar no que sabia ser verdade.
"Também te amo, Miguel. Doeu tanto te perder."
"Estou aqui com você, lindo. Não vou deixar você ir embora de novo." Miguel prometeu, determinado.
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Agora estamos na reta final! Obrigada a todos que estão lendo! Vocês são demais! 💖
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