16/20
Sam começou sua semana indo visitar a escola de Kenny. Ficou impressionada com a estrutura do lugar e pensou que talvez tivesse dificuldade de burlar a segurança, mas a associação a Terry Silver e Robby Keene lhe abriu muitas portas. Kenny veio falar com ela e parecia desconfiado, mas curioso. Ela disse que era amiga de Robby e Miguel e ele ficou muito feliz por saber que Robby não tinha simplesmente esquecido dele, mas preocupado ao saber que ele estava doente. Sam se sentiu culpada por mentir, mas não queria traumatizar um pré-adolescente com a verdade aterradora sobre o caso. Pediu a ele um contato de seu irmão e ele pareceu ficar ainda mais surpreso, já que Robby e Shawn não tinham contato há anos. Ela teve que convencê-lo que Robby não estava à beira da morte ou algo do tipo, apenas precisavam da ajuda do amigo. No fim, ela saiu da escola com um número de telefone e a missão de conseguir a ajuda do Payne mais velho.
Quando ela ligou e disse sobre o que era, ele pareceu bastante chateado, quase ofendido por Robby ignorá-lo por ano e só receber algum contato quando precisava de ajuda. Sam pediu a ele que a encontrasse e disse que Robby não sabia que ela estava falando com ele, nem tinha culpa alguma do que estava acontecendo. Shawn apenas disse que não queria se envolver nisso e desligou o telefone.
–
Robby acordou na manhã de segunda com o som do bipe, e a primeira coisa que viu foi Silver entrar no cômodo com a bengala na mão e algo que parecia mais uma coleira na outra. Sua expressão era de profunda insatisfação, mas parecia ao mesmo tempo ter certo prazer em ter a chance de puni-lo. Robby sabia exatamente o motivo, tinha ido dormir pensando nisso e quando acordou, sentiu o cheiro no chão e se lembrou do que havia acontecido na tarde anterior. Silver não havia aparecido o domingo inteiro, e ele estava quase se acostumando à ausência do mais velho, mas temendo o motivo do intervalo tão longo.
“Não vou tirar sua coleira de você, Diaz. Essa é um bônus, só para momentos especiais. Vem aqui.” Disse, com pouca paciência. Robby estava um pouco sonolento e demorou mais para atender à ordem do que deveria, mas Silver nem pareceu se importar, o que certamente era um mau sinal.
“Você foi ótimo no sábado a noite, recebi muitos elogios. Mas você sempre tem que estragar tudo, não é?” Ele disse, com um tom decepcionado. “Olha a sujeira que você fez!” Ele disse, apontando para o chão. “Você acha que isso é aceitável?” Esperou, e Robby apenas latiu duas vezes, como sabia que deveria.
“Ainda bem que você sabe.” Silver disse, retirando a coleira verde que ele tinha no pescoço e a substituindo pela outra, que ironicamente também tinha gravado o mesmo nome. Silver obviamente não o daria um descanso disso, seria pedir demais.
“Agora você vai limpar sua bagunça.” O mais velho disse, com um sorriso cruel.
–
Segunda à tarde foi quando o momento tão esperado finalmente chegou. Kumiko finalmente teria acesso a Shannon sem mais ninguém da equipe por perto. Ela ligou para a equipe de prontidão na ambulância e disse que era hora.
“Atenção, ocorrência 13 no corredor 3” veio a voz diretamente da caixa de som do sistema de segurança da clínica. O som do alarme que acompanhava a mensagem soaria como algo tenebroso para praticamente todos ali, sinalizando algum distúrbio grave na paz rotineira, mas não para ela. Enquanto Chozen criava uma briga de proporções épicas no corredor de seu quarto e distraía a maior parte dos funcionários, Kumiko se ocupou de empurrar a carreira de rodas de Shannon de forma inocente, como se estivesse em um passeio pelos jardins. tomando um desvio e a deixando perto do banheiro ao lado da recepção. Adentrou a recepção sozinha e apenas disse “meu deus, ele está armado!!” no tom mais alarmante e assustado que conseguiu, fazendo a pobre recepcionista se esconder embaixo da mesa com medo de um tiroteio enquanto ela tirava a paciente da clínica, rezando para que Chozen não acabasse preso antes que eles pudessem tirá-lo de lá.
–
A noite caiu e Robby finalmente conseguiu reunir forças para tomar banho. Estava trancado no banheiro há horas, desde que Silver o havia fechado lá para deixar alguém limpar a sujeira no chão do quarto. Ele obviamente não queria que quem quer que fosse o funcionário responsável visse Robby naquele estado. O mais velho havia tentado fazer ele “limpar” o próprio vômito como um cachorro faria e, claro, apenas conseguiu que Robby passasse mal novamente. Não que isso importasse para ele, que apenas o empurrou para o chão sujo e bateu nele com a maldita bengala até ele não conseguir mais levantar, para só então admitir a derrota e o trancar no banheiro, chamando alguém para limpar a bagunça da forma tradicional. Robby tentou pedir ajuda e descobriu da pior forma qual era a função da nova coleira ao sentir o choque em sua garganta. Ficou tão assustado com a sensação que apenas se encolheu no canto do banheiro e esperou, sem nem saber direito pelo quê.
Robby estava exaurido, mental e emocionalmente, mas pelo menos tinha evitado aquela humilhação absurda. Estava com medo de se tornar o que Silver queria dele, e não sabia quanto tempo conseguiria resistir. Se sentou embaixo do chuveiro, sem energia para ficar em pé, e suas lágrimas se misturavam à água quente que caía, enquanto pensava na vida que gostaria de ter tido, na mãe, em Miguel, Kenny, Shawn, Pietro… Tudo isso agora parecia um sonho distante e seu coração estava cada vez mais destruído.
–
Chozen se encontrou com Kumiko no aeroporto exatamente no horário combinado, o que a surpreendeu muito, principalmente pelo fato de ele estar mais sorridente e satisfeito que o normal. “Como você conseguiu sair de lá depois daquilo tudo?” Perguntou, desconfiada.
“Ah, Kumiko-san. Não arrumei briga. Eu incentivei a briga." Ele disse, com um sorriso misterioso. “Mãos limpas.” Disse, fazendo-a sorrir.
“Muito inteligente, parabéns. Agora podemos avisar Daniel-san.” Ela disse, atenciosamente.
“Melhor não. Perigo não terminou ainda. Avisamos de Okinawa.” Chozen aconselhou.
–
Tory sempre havia sido uma pessoa muito bem-informada, principalmente no trabalho. E assim que soube do que havia acontecido no andar de baixo, fez a associação que a pobre responsável por limpar tudo não havia feito. Ligou para Sam e para Miguel, para saber dos detalhes do plano e contar a novidade. Sam estava morrendo de raiva e frustração pela conversa com Shawn e Tory prometeu a ela que iriam juntas conversar com ele pessoalmente. Ela entendia que ele estivesse desconfiado, afinal ele não fazia ideia do que estava acontecendo, e ela sabia lidar com isso muito melhor que a namorada. Afinal, Sam vinha de berço de ouro e não estava acostumada a passar por certas coisas que Tory e Shawn enfrentaram.
Chegaram ao apartamento em que ele vivia sozinho, e bateram à porta determinadas a não saírem de mãos vazias. Sam era de dar medo quando estava assim, mas Tory achava um charme. Quando ele atendeu, mal teve tempo de entender do que se tratava antes de ser empurrado para dentro com um dedo apontado para seu peito.
“Você é um ingrato insensível! Robby vem te ajudando há anos e cuidando do seu irmão e quando ele precisa de você, você não quer se envolver? Seu inútil!” Sam despejou.
“Sam! Calma. Ele nem sabe do que se trata. Payne, a gente precisa conversar. Se a gente te explicar tudo e você não quiser ajudar, vamos embora. Mas pelo menos escuta.” Tory disse pacientemente, antes de começar a contar a história inteira.
–
Já era quarta-feira e Miguel não aguentava mais o quanto tudo parecia se arrastar. Mas a notícia da chegada de Kumiko, Chozen e Shannon a Okinawa, além do contato de Eli e Demetri avisando que finalmente tinham o molde perfeito para a coleta da digital e o objeto que usariam para abrir a tal porta fizeram seu dia muito melhor. Agora só precisava que Tory conseguisse a digital de Silver para que pudessem finalmente resgatar Robby. Infelizmente não havia conseguido mandar uma mensagem dizendo que estava vivo, mas saber que estariam juntos em breve o consolava.
Tory chegou a seu apartamento para a reunião com Eli e Demetri e ele ficou ainda mais esperançoso ao ver o sorriso que ela levava.
“Você devia ter visto a princesa guerreira ontem, Diaz. Ela quase bateu no Payne. Ela fica tão linda com raiva, me deu até umas ideias…” Ela disse com um sorriso malicioso.
“Meu deus, Tory! E ele vai ajudar?” Miguel perguntou, rindo aliviado ao ver ela acenar afirmativamente.
“Eu contei a história toda pra ele, ele realmente não fazia ideia… E ele tá muito puto com o Silver, eu não gostaria de cruzar com ele se fosse o velho.”
“Ótimo. Agora você só precisa da digital e tudo vai estar pronto pra sábado. Obrigado, Tory, você nem imagina o quanto está ajudando…” Miguel disse, com lágrimas nos olhos, sendo abraçado em seguida pela amiga que apenas lhe prometeu que ficaria tudo bem.
–
Silver estava prestes a perder a cabeça ao terminar a ligação com a casa de repouso. Shannon havia simplesmente desaparecido e ele tinha certeza que isso tinha alguma coisa a ver com Diaz, cujo corpo ainda não tinha surgido. Ele tinha que encontrar os dois o mais rápido possível e ficar alerta para qualquer outro possível golpe. O próximo passo do maldito mexicano provavelmente seria tentar entrar em contato com a escola e tirar Kenny de lá, impossibilitando Silver de usá-lo como arma. A única coisa que o fazia manter o controle era saber que Robby não tinha nem ideia do que estava acontecendo e que não podia deixar ele notar que as coisas estavam dando errado. Teria que seguir como se tudo estivesse normal.
Não havia alimentado Robby desde domingo, queria fazê-lo pagar por sua desobediência. Não que ele tivesse muita escolha, mas ainda assim, havia falhado e teria que enfrentar as consequências. Resolveu ir até lá e dar uma chance a ele, ou pelo menos se divertir um pouco para distrair a cabeça de todos esses problemas que estavam surgindo.
Passou na cozinha para pegar comida e encontrou Tory, que não perguntou e nem questionou nada. Ela sempre havia sido muito discreta, mas difícil de ler. Pegou alguns legumes na panela e os colocou em um prato, se virando para sair quando ela o chamou.
“Sr Silver. Encontrei isso ontem junto com a correspondência. Devo deixar em seu escritório?” Ela lhe entregou um globo de neve, com uma família feliz, um cachorro e uma casa. Era tão cafona e plebeu que só poderia ter algo a ver com o maldito motorista. Ele não podia deixar Robby ver isso de jeito nenhum, mas também não iria se desfazer do objeto impulsivamente. Talvez lhe desse alguma pista.
“Sim, Nichols. Pode deixar na primeira gaveta, por favor.” Disse, fingindo desinteresse e se virando para sair enquanto Tory sorria triunfante às suas costas.
–
Miguel quase explodiu de animação ao receber Eli e Demetri, trazendo consigo o que precisariam para abrir a porta. Eles explicaram a tecnologia complicada por trás da prótese que simulava a textura e a temperatura ideiais de um corpo humano e continha a digital de Silver. Tudo que Miguel e Shawn precisavam era terminar de checar os passos de seu plano para entrar e sair da mansão, contando com a distração de Daniel durante a festa e a ajuda de Tory para encontrar o local onde Robby estava preso. Tudo teria que ser milimetricamente calculado, ou suas vidas estariam em risco.
–
Silver trocou a coleira de novo, para que Robby pudesse responder ao que ele perguntasse. Serviu a comida e disse que ele poderia comer, se merecesse, que iam apenas jogar um pequeno jogo antes. Desafivelou o cinto lentamente, enquanto olhava no fundo dos olhos do mais jovem, que apenas imaginava o que estaria por vir. Mas, em vez de tirar o restante de suas roupas, Silver dobrou o cinto ao meio e se aproximou dele.
"Eu vou te dar duas opções, querido. Você pode me contar onde a família do seu motorista vive e ganhar o jogo, ou não me contar e perder. O que vai ser?" Ele perguntou, batendo o cinto levemente nas mãos e apreciando a ansiedade que o som parecia causar no outro.
Robby mal podia acreditar que Silver era tão amargo e vingativo que queria ir atrás da mãe e da avó de Miguel por puro capricho. Mas, depois de tudo que o marido havia feito, não deveria se surpreender com mais nada. Pensou em como seria delicioso frustrar esse desejo de vingança, mesmo que fosse a última coisa que fizesse. Tudo que estava fazendo era para proteger a mãe, mas jamais iria botar em risco a mãe de outra pessoa dessa forma.
"Vai me contar ou não, querido?" Silver disse, aguardando resposta, e sentiu seu estômago queimar de frustração ao ouvir os dois latidos.
"Bem, você já perdeu sua chance de comer, então. Acho que talvez mais uma semana te faça pensar melhor." Ele disse, com a voz falsamente mansa. "Se me contar agora, ainda pode evitar um castigo pior." Ele ofereceu, e Robby sorriu em resposta, antes de latir duplamente de novo. "Eu vou fazer você falar, querido. Custe o que custar." O mais velho disse, brandindo o cinto pela primeira vez e o atingindo na perna, arrancando um grito de surpresa de Robby e iniciando uma batalha que nenhum dos dois aceitaria perder.
–
No sábado de manhã, todos estavam ansiosos para botar o plano em prática. Daniel e Amanda já estavam com tudo preparado para a festa, Miguel e Shawn já tinham combinado tudo com Tory e até já tinham seu veículo de fuga que o latino dirigiria, como profissional que era. Sam havia ido com Kenny para a casa da família Diaz, onde todos poderiam estar juntos e aguardar a conclusão dessa operação insana.
A festa sempre se iniciava por volta das 17h e o casal não queria chegar cedo demais, quanto mais gente estivesse presente, maiores a distração e o espetáculo seriam. Também não podiam chegar tarde demais e arriscar não encontrar Silver entre a multidão, já que Tory havia dito que ele deixou a última festa por volta das 20h com dois convidados.
Daniel e Amanda trabalhavam muito bem juntos e tinham conquistado muita coisa, mas esse seria certamente o desafio mais arriscado que enfrentariam.
–
Silver voltou na tarde de sábado, como fizera na semana anterior. Dessa vez, sem novos acessórios ou qualquer outra coisa. Estava impaciente e irritado, o que o tornava ainda mais perigoso, mas ao mesmo tempo alimentava aquela fagulha de resistência dentro de Robby. Ele ainda tinha as marcas dos golpes de cinto do dia anterior e a fome de quase uma semana o deixava em agonia, mas não iria se render, não dessa vez.
Se surpreendeu levemente quando Silver gritou com ele, era muito raro que o mais velho perdesse o controle daquela forma. Mas o que mais o assustou foi o sussurro frio e cruel que se seguiu. "Eu cansei dessa brincadeira, seu imprestável. Se você não me contar agora o que eu quero saber, vai ser muito diferente da semana passada. Vou fazer uma fila atrás dessa porta e deixar cada um te usar o quanto quiser até você desmaiar." Disse, com um sorriso sinistro, e Robby não duvidou de suas palavras nem por um segundo. "Vou quebrar suas pernas e te deixar preso nessa cama pra sempre!" Sussurrou, furioso.
Robby fechou os olhos, o sangue gelando de pavor. Não podia crer no que estava prestes a fazer e cada centímetro de seu corpo protestava, mas não havia outra saída. Pediu desculpas a Shannon e a Miguel internamente, pela atitude que iria tomar, e então cuspiu no rosto do marido.
–
Daniel e Amanda vestiram suas melhores roupas, tomando cuidado para não destoar do nível das outras pessoas presentes. Viram Tory passando em direção à cozinha e ela deu um discreto aceno, apenas para mostrar que tudo estava indo como esperado. Já havia bastante gente na festa e Silver provavelmente não tardaria a aparecer.
E, de fato, menos de quinze minutos depois o dono da mansão começou a circular entre os convidados, com aquele carisma e falsidade de sempre que faziam Daniel se arrepiar de irritação e nervoso. A própria voz dele soava como um ferro arranhando madeira.
A felicidade e tranquilidade em seu rosto vacilaram assim que ele viu os LaRusso, deixando transparecer um breve vislumbre da maldade e alegria de quem teria a oportunidade perfeita de obter vingança. Durou um segundo, mas foi o suficiente para o casal saber que o plano era genial e que tinham a total atenção do dono da mansão.
Ele se aproximou com confiança e cheio de más intenções, pagando à frente deles e oferecendo um brinde com a taça que segurava. Daniel se recusou, sabia que ele amava desafios. O mais velho estendeu a mão para Amanda e beijou a dela quando esta segurou a sua.
"Danny boy… É um prazer ver você novamente. E, Amanda, certo?" Perguntou, deixando claro que estava minimamente informado, apesar de não se verem há décadas.
"Silver. Ficamos muito curiosos para ver do que se tratava esse evento. De empresário para empresário", Daniel disse, forçando um sorriso.
"Curioso. Seu maior competidor esteve aqui semana passada. Talvez possamos negociar algo." Silver disse, inocentemente. "Soube do seu dojo. Eu adoraria conhecer."
"Quem sabe. Podemos conversar sobre isso." Daniel respondeu.
"Por que vocês não vêm comigo? Podemos tomar um drink e conversar." Sugeriu, e o casal o acompanhou a contragosto.
Finalmente o nosso bebê será resgatado!
Obrigada por lerem 💖
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro