12/20
Miguel viu Robby sair e entrou em desespero, não sabia o que fazer. Decidiu que ia seguir o conselho dele dessa vez, afinal ele tinha estado certo das outras vezes e sabia com o que estavam lidando. Arrumou uma mochila com algumas roupas, pegou chave, carteira e documentos. Tudo que era absolutamente importante iria com ele. Botou a coleira em Pietro, mas acabou levando ele nos braços, era tão pequeno que não faria diferença. Não podia acreditar que estava saindo de casa como um fugitivo e esperava sinceramente que Robby estivesse apenas sendo paranoico, mas sentia em seu âmago que não.
Trancou a porta e foi até o fim do corredor, bateu à porta de Julie para pedir ajuda. Eles sempre haviam se dado muito bem, trocavam comidas, recebiam encomendas um para o outro, molhavam as plantas se fosse necessário. A senhora de meia-idade era uma ótima vizinha e amiga. Miguel ficou um pouco receoso de envolver mais alguém nisso, mas ele só precisava de um lugar para ficar por algumas horas. Depois voltaria para casa e tudo ficaria bem, repetiu para si mesmo.
Ela o deixou entrar e ofereceu um café para ele e água para o cachorrinho, já que iriam ficar por um tempo. Se sentaram para conversar e Miguel mal conseguia responder às perguntas dela, sua cabeça estava virada do avesso. Só conseguia pensar em Robby e em como queria ir atrás dele. Precisava falar com Daniel, saber do que Terry Silver era capaz era o suficiente para precisar de provas contra ele o mais rápido possível. Ligou para o sensei e pediu atualizações sobre o detetive particular que havia contratado.
"Eu ia te dizer isso quando confirmasse a informação, mas você parece ansioso... o que você falou sobre Shannon Keene" Daniel disse, com a voz carregada de raiva "o acidente talvez não tenha sido um acidente."
"Silver..."
"Aparentemente ninguém devia ter sobrevivido. Ele ia usar isso para o garoto ficar sem ninguém e ser mais fácil de... bem, acho que sequestrar é a única palavra adequada."
Miguel ouvia aquilo e balançava as pernas freneticamente, tomado pela ansiedade. Se além de ser um milionário escravagista e estuprador ele também fosse um assassino... Robby corria muito mais perigo agora do que ele havia pensado. Estava prestes a largar tudo e ir atrás dele naquele instante, quando Daniel continuou:
"A mãe não devia ter sobrevivido, foi um erro."
"Um erro que o ajudou muito. Ele usa ela pra controlar o Robby."
"Bem... nós podemos cuidar disso, pelo menos. Até termos provas pra botar esse infeliz na cadeia!" Daniel se revoltou.
"Como?" Miguel quase implorou.
"Eu te digo isso em breve. Eu vou até a clínica tentar resolver isso."
"Eu vou junto. Robby me colocou como contato de emergência quando fomos conversar com os médicos. Pra evitar que o Silver pudesse interceptar informações."
"Ótimo. Isso facilita muito. Onde ele está? Ele vem com você?" Daniel perguntou, ansioso.
"Não... ele voltou pra mansão." O silêncio do outro lado da linha fez Miguel querer gritar.
"É melhor a gente ir lá agora mesmo e resolver isso. Ele não devia ter voltado." Daniel disse, nervoso.
"Eu sei, ok? Eu disse isso! Mas é a mãe dele. Eu entendo. Eu te encontro na clínica."
Miguel deixou suas coisas todas na casa de sua vizinha, até temeu estar abusando de sua boa vontade, mas ela disse que não havia problema e cuidaria de tudo, inclusive do cachorro, até ele voltar. Não disse onde iria, só por via das dúvidas. Não queria que a coitada tivesse informação demais e acabasse virando uma testemunha. Aparentemente, queima de arquivo não era um problema para Silver.
Miguel encontrou Daniel em frente à clínica, o sensei havia achado melhor esperar para entrar com alguém autorizado ao invés de perder tempo discutindo na recepção. Assim que entraram, a recepcionista pareceu surpresa e aliviada na mesma medida.
"Sr Diaz?"
"A Sra Keene está bem?" Miguel perguntou, com medo.
"Sim, onde está o Sr Keene?"
"Indisponível no momento. Mas não há problema, o Sr Diaz está listado como contato de emergência, certo? Viemos ver a Sra Keene."
"Infelizmente não será possível. Ninguém mais pode visitá-la sem autorização."
"Mas eu tenho autorização!"
"Do Sr Silver." Ela disse, parecendo nervosa.
"Isso é absurdo. Eu tenho autorização do filho dela!" Miguel disse, perdendo a paciência, e Daniel se viu obrigado a intervir antes que as coisas piorassem.
"Miguel! Vem comigo." Os dois saíram e Daniel imediatamente pegou o telefone e ligou para alguém, pedindo que checassem por provas da relação entre Silver e a tal clínica.
"O detetive vai descobrir o que tá havendo. Tem algo errado aqui e quanto mais a gente insistir, mais material vamos dar pro Silver. Você não sabe como ele é, ele compra todos que consegue".
"Você acha que ela tá em perigo? Temos que tirar ela daqui, agora!"
"Nós vamos. Mas precisamos agir dentro da lei. Eu vou começar a procurar alguém confiável pra cuidar dela e vamos levar ela pra casa. Mas precisamos de um tempo. E..."
"Do Robby. Preciso encontrar ele!"
"Miguel, eu sei que você tá com medo, mas não pode perder a cabeça."
Miguel respirou fundo. Estar com Daniel, mesmo depois de alguns anos, sempre o fazia se lembrar de seu treinamento como se tivesse sido há poucos dias. "Eu sei. Ele precisa de mim. Vou manter o equilíbrio." Daniel ficou orgulhoso em ouvir isso e apertou o ombro de seu ex aluno, oferecendo conforto.
Miguel viu as duas chamadas perdidas e voltou ao modo pragmático. Ligou de volta para Julie e foi atendido pela vizinha chorando, quase histérica. Ela era geralmente tão calma que ele soube imediatamente que algo havia acontecido.
"Julie? O que houve?"
"Hospital... estou bem, só em observação. por causa da fumaça. Seu apartamento pegou fogo, eu chamei os bombeiros."
"Fogo?? O Pietro está na sua casa?"
"Aqui comigo. O prédio todo foi interditado. Eu trouxe sua mochila comigo, parecia importante." Ela disse, hesitante.
"Meu deus. Meu deus. Obrigado, Julie. Me perdoa." Ele disse, com a voz cheia de arrependimento e culpa.
"Perdoar? Não me diga que você deixou alguma vela acesa ou uma loucura dessas!" Ela brigou com ele, e ele teria rido se não estivesse absolutamente desesperado. Era engraçado como esse instinto maternal sempre aflorava nela em momentos assim.
"Não, não. Eu explico depois, ok? Me desculpa. Vou te dar o endereço da minha mãe, ok? Vai pra lá. É mais seguro."
"Mas eles disseram que iam liberar a nossa entrada ainda hoje..."
"Julie, por favor. Confia em mim. Não volta praquele lugar por enquanto, ok?"
Miguel desligou e Daniel parecia ansioso para saber logo o que estava acontecendo, torcendo as mãos nervosamente e mordendo os lábios.
"Ele tentou me matar! Botou fogo na minha casa e arriscou queimar um prédio inteiro. Daniel, esse homem é louco!"
"É isso que tô dizendo desde o começo. Você não imagina com quem está lidando. Bem, agora você imagina. Julie está bem?"
"Sim, no hospital. Mandei ela pra casa da minha mãe."
"Você... nunca falou da sua família no trabalho, certo?"
"Só pra Tory. E pro Robby. Nenhum dos dois falaria nada." Pelo menos Miguel torcia que não.
"Certo. É o melhor, então. Temos que pensar no que fazer agora."
"Não posso simplesmente aparecer na casa do Silver, ele tem seguranças. E pode ser perigoso pro Robby. Mas não sei o que fazer, não posso deixar ele lá!"
"Vamos pensar em algo, eu prometo. Me dá um ou dois dias." Daniel disse em tom de súplica e Miguel riu de nervoso. Muita coisa podia acontecer em dois dias.
-
Robby chegou em casa sabendo que talvez nunca mais saísse de lá. Se Silver não o matasse, no mínimo o tornaria o prisioneiro que havia dito que ele não era. Enquanto dirigia de volta, pensou várias vezes em fugir. Deixar tudo para trás e apenas desaparecer. Mas não podia deixar a mãe desse jeito e agora que Silver sabia de tudo, se Robby não voltasse seu único alvo seria Miguel. E o motorista não tinha nada a oferecer que impedisse Silver de matá-lo imediatamente. Ou depois de alguma tortura horrível. Robby sentia arrepios só de pensar. Não, essa cruz era sua e ele ia carregar até o fim, não importava o que custasse.
A primeira pessoa que encontrou foi Kyler, que apenas sorriu para ele de forma desagradável e debochada e disse que o Sr Silver lhe esperava no escritório. Ótimo, Robby pensou. Provavelmente a fofoca já havia se espalhado. Decidiu não dar corda ao mordomo e apenas se dirigiu ao escritório para tentar conversar com o marido. Bateu à porta e sua entrada foi permitida imediatamente, então fechou a porta atrás de si e aguardou.
"Senta, Robert." Robby se sentou no sofá de couro preto que ficava ao lado da lareira de mármore e de uma estante de livros em madeira maciça.
"Terry, eu"
"Cala a boca. Você vai ficar quietinho e ouvir."
Silver disse, sem disfarçar a fúria por trás dos olhos azuis. "Primeiramente, parabéns. Você deve ter ficado muito orgulhoso de me enganar por tanto tempo."
Robby nem se deu ao trabalho de negar, lembrou de quando gastou o dinheiro do marido com Miguel enquanto riam da situação.
"E com um motorista, Robert? Achei que você fosse melhor que isso." Debochou. "Ou talvez esse fosse o ponto, algum fetiche pela classe trabalhadora. Não duvido nada que você tenha se ajoelhado pra alguém numa obra também."
Robby podia sentir o rosto ardendo de vergonha com os insultos e sabia que Silver queria que ele reagisse para ter mais uma desculpa para puni-lo, então se manteve calado.
"Eu dei dinheiro ao seu amante pra te vigiar. Que fiasco. É isso que dá confiar numa puta barata. Eu estava cego. Mas não estou mais." Silver disse, em tom ameaçador. "As coisas vão mudar de verdade de agora em diante."
Robby olhou para ele, agora não conseguindo conter a curiosidade.
"Pra começar, nem preciso dizer que você nunca mais vai ver esse mexicano imprestável." Silver disse, sorrindo. "Eu cuidei bem do seu bonitinho. E do cachorrinho dele também." Robby ouviu aquela risada satisfeita e carregada de malícia e seus olhos se arregalaram com o choque.
"Não... você não... o que você fez?" Robby gaguejou, em pânico.
"Digamos apenas que ele vai encontrar seu pai no céu. Você sabe... o fogo purifica, Robert."
Se alguém lhe perguntasse o que passou pela sua cabeça ou o que o fez reagir naquele instante, ele não saberia dizer. Foi apenas tomado por um impulso primal, mal lembrava com quem estava falando, onde estava, da situação da mãe. Só precisava dar vazão à dor e agonia que estavam correndo em suas veias. Partiu para cima de Silver e acertou um soco em sua boca antes mesmo que o mais velho tivesse tempo de entender o que estava acontecendo. Infelizmente, quando percebeu, tinha a vantagem de ser maior, mais forte e mais experiente. Mas Robby não pensava em nada, apenas tentava bater nele enquanto ele bloqueava seus golpes e ria como um maníaco.
"Que maravilha, Robert! Quanto fogo!" Dizia ofegante, enquanto desviava dos chutes e socos como podia, sendo acertado algumas vezes e parecendo se divertir mais ainda com isso. "Levou tempo, mas amei ver você brilhar assim. Se eu soubesse que era só fazer alguém virar churrasquinho, teria começado pela sua mãe."
Robby gritou de raiva, e quando finalmente acertou um chute no estômago de Silver, o mais velho resolveu retaliar de verdade e o empurrou com força, depois acertou um golpe em seu peito que lhe tirou o ar. Já havia aprendido isso no dojo, era a tal Silver Bullet. Robby caiu de joelhos no chão sem conseguir respirar. Silver foi até a mesa e abriu uma gaveta, tirando uma arma de dentro dela e se voltando para o mais novo.
"Agora chega de brincadeiras, bonequinho. Sei que está triste de não ter mais o seu michê, mas sua mãe ainda está viva. Bem, tão viva quando um vegetal pode estar, mas isso nunca te impediu de acreditar antes, certo?" Silver disse, maldosamente.
"Seu monstro!" Robby gritou, com lágrimas escorrendo por seu rosto e as mãos tremendo de nervosismo.
"Você nem imagina, querido. Mas agora você vai saber o que é dor." Silver disse, e o segurou pelo braço, arrastando o menor para fora do escritório, aos berros.
"Já mandei você calar a boca. Shannon não teria a sorte de escapar duas vezes!" Sussurrou, apertando o pescoço de Robby e o segurando contra a parede como havia feito da outra vez. "Dessa vez, ela ia acabar igual ao lixo do seu pai."
Robby estava ouvindo, mas não conseguia pensar logicamente. Só sabia que não podia deixar sua mãe ter o mesmo destino de Miguel. Ele nem imaginava que o que sentia pelo moreno era tão forte, mas a notícia o havia feito perder o chão. Daria tudo, qualquer coisa, para tê-lo de volta. Parou de lutar e o desânimo e a depressão se instalaram. Não podia fazer mais nada, mas não ia desistir. Ele devia isso a Shannon e a Miguel.
"Parou? Que bom. Vamos. Você vai conhecer seu quarto novo, querido." Isso acendeu um alerta em sua mente. Estava nessa maldita mansão há quase seis anos e sempre havia dormido no mesmo quarto. O máximo que acontecia após alguma briga era Silver trancar sua porta e ir dormir em outro lugar. Mas isso parecia não ser mais suficiente.
Desceram a escada em direção à adega, lotada de vinhos caríssimos, e depois Silver abriu uma porta que Robby nem sabia que existia. Era tudo muito tecnológico, como era de se esperar de alguém tão rico. As paredes e a própria porta eram de metal e esta era destrancada com a digital de Silver. Robby sentiu seu coração se apertar, não conseguiria sair desse lugar a não ser que o mais velho deixasse. Não ia implorar, não dessa vez. Não tinha mais nada a perder.
"Eu volto amanhã pra ver se você está mais calmo, querido." Silver disse, e saiu, sem nem olhar para trás.
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oops 🤭 obrigada a quem estiver lendo! 💜
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