O passado da condenada
O castelo Kimberly era um labirinto de paredes frias e corredores intermináveis, um lugar onde cada canto parecia esconder um segredo. Carolina Chanteuse avançava pelos corredores, sua mente tumultuada por uma mistura de ansiedade e determinação. Seus cabelos vermelhos, que normalmente brilhavam intensamente, pareciam refletir a gravidade da situação. A luz das velas lançava sombras inquietantes nas paredes de pedra, e o som dos próprios passos parecia ecoar como um presságio do que estava por vir.
O escritório de Mallory era conhecido por seu ar de mistério e poder. Suas paredes revestidas com painéis de madeira escura e tapeçarias antigas davam uma sensação de grandeza e segredo. A grande mesa de carvalho dominava o centro da sala, coberta com documentos e objetos exóticos que pareciam contar histórias não ditas. Era um lugar onde a autoridade e o mistério se encontravam, e Carolina estava prestes a desafiar ambos.
Divina MagColl, a irmã mais velha e a mais rebelde, estava à frente, sua concentração total em um feitiço complexo. Ela estava agachada perto da porta trancada do escritório, sua varinha balançando suavemente enquanto recitava palavras arcanas com uma intensidade quase palpável. Seus olhos verdes estavam fixos no feitiço, e o esforço estava visivelmente desgastando-a.
- Divina, você precisa acelerar com isso! – Carolina exclamou, a impaciência em sua voz. A urgência de sua missão era evidente. – Não podemos perder mais tempo. Mallory pode voltar a qualquer momento, e precisamos descobrir o que ela está escondendo.
Divina, claramente frustrada, levantou a cabeça com um olhar cansado. Seus traços estavam marcados pela preocupação e pela exaustão. Ela se virou para Carolina com um tom áspero.
- Carolina, se você continuar me pressionando, vou acabar cometendo um erro. Esse feitiço não é simples e requer total concentração. – Divina retrucou, suas palavras carregadas de exasperação. – Se há algo importante aqui, precisamos garantir que não estragaremos tudo por causa da sua pressa.
Carolina sabia que Divina estava lutando contra a complexidade do feitiço e contra a pressão que sentia. Sua própria vida estava em um turbilhão de emoções, com a constante tensão com a mãe, Mallory, sobrecarregando-a. A ausência do pai delas havia deixado um vazio imenso, e o peso das expectativas de Mallory era uma carga constante.
- Eu entendo que seja difícil – Carolina respondeu, tentando acalmar a situação. – Mas o que está em jogo é muito mais do que um feitiço. Esses pesadelos que tenho todas as noites, essa sensação de que algo terrível está escondido… Não posso ignorar isso. Preciso saber o que está acontecendo.
Divina olhou para Carolina com um misto de compreensão e frustração. A dor e a determinação nos olhos de Carolina eram claras, e Divina sabia que sua irmã estava lutando com algo profundo e perturbador. Ela respirou fundo e tentou responder com um tom mais compreensivo.
- Você realmente acha que vamos encontrar respostas aqui? – Divina perguntou, sua voz mais suave, mas ainda tensa. – O que exatamente você espera descobrir? E se o que está escondido for algo que não conseguimos lidar?
Carolina respirou fundo e tentou articular seus pensamentos e sentimentos. Ela sabia que Divina precisava entender a profundidade de sua angústia.
- Eu não sei o que vamos encontrar, mas preciso tentar. Esses pesadelos são mais do que simples sonhos. Eles são vívidos e perturbadores, como se estivessem me alertando sobre algo importante. Se há uma chance de entender por que minha vida virou um pesadelo, precisamos descobrir. Não posso viver com esse tormento para sempre.
Dakota, a irmã mais nova e a mais reservada, observava de longe com um olhar preocupado. Ela sempre foi a mais calma e ponderada das três, e seu rosto estava marcado pela ansiedade. Ela havia tentado evitar a situação, mas o medo estava se tornando palpável.
- Eu ainda acho que isso pode ser perigoso – Dakota disse, sua voz tremendo ligeiramente. – Mallory pode estar escondendo algo que nem conseguimos imaginar. Talvez devêssemos apenas voltar e esquecer isso.
Carolina se virou para Dakota, percebendo a preocupação em seus olhos. Dakota sempre foi a mais racional e cautelosa das irmãs, e sua resistência estava começando a afetar Carolina.
- Dakota, eu entendo o seu medo – Carolina disse, tentando ser reconfortante. – Mas eu não posso ignorar esses pesadelos. Eles me perseguem noite após noite, e sinto que estamos perto de descobrir algo crucial. Se há uma chance de encontrar uma resposta, precisamos tentar.
Divina, ao ouvir Carolina e ver a determinação em seu rosto, decidiu dar um último esforço. Ela respirou fundo e voltou sua atenção para o feitiço, sabendo que precisava superar a frustração e a pressão. Ela recitou as palavras mágicas com uma precisão cuidadosa, seu foco total na tarefa.
- Vou tentar mais uma vez – Divina disse, sua voz firme. – Se isso não funcionar, vamos reconsiderar. Apenas me dê um momento para terminar isso.
Enquanto Divina se concentrava, a atmosfera ao redor delas parecia mudar. A tensão era quase palpável, e o castelo parecia estar mais silencioso do que o normal. As sombras das velas dançavam nas paredes, criando uma sensação de expectativa e mistério. Carolina sentiu um frio na espinha, uma sensação de que algo estava prestes a acontecer.
- A porta está aberta – Divina finalmente declarou, aliviada. – Mas precisamos ser rápidas. Mallory pode voltar a qualquer momento. Se ela descobrir que estamos aqui, estaremos em sérios problemas.
Carolina sentiu um misto de alívio e ansiedade. Ela sabia que abrir a porta era apenas o começo e que o que estava por trás dela poderia mudar tudo. Ela se aproximou da porta, seu coração batendo rápido, e olhou para as irmãs.
- Eu vou entrar primeiro – Carolina afirmou, sua voz carregada de determinação. – Precisamos descobrir o que Mallory está escondendo. Se há algo que possa responder aos meus pesadelos e nos ajudar a entender a situação, precisamos encontrar agora.
Divina e Dakota se entreolharam, suas expressões carregadas de preocupação. Divina tentou oferecer um sorriso encorajador, mas a tensão era evidente. Dakota, com lágrimas nos olhos, estava claramente aterrorizada, mas assentiu em apoio a Carolina.
- Cuidado, Carolina – Dakota sussurrou, sua voz cheia de temor. – Não sabemos o que pode estar lá dentro. Tenha cuidado.
Carolina girou a maçaneta lentamente e empurrou a porta, que se abriu com um rangido baixo. Uma luz intensa e ofuscante irrompeu do interior do escritório, fazendo Carolina recuar momentaneamente. O brilho era tão intenso que parecia uma força física, empurrando-a para trás. A luz era quase palpável, envolvida em uma aura de calor esmagador.
Mas então, no meio da confusão, Carolina sentiu um puxão familiar. Era uma sensação que a transportou instantaneamente para um lugar diferente. De repente, ela não estava mais no escritório do castelo. Em vez disso, estava de volta à sua infância, em um sonho vívido e perturbador.
Ela se viu em um quarto infantil, cercada por brinquedos e cores suaves. Era um lugar que ela lembrava vagamente dos seus primeiros anos de vida. Sentada em um canto do quarto estava uma pequena versão dela mesma, com cabelos vermelhos emaranhados e um olhar assustado. A versão criança de Carolina a observava com olhos grandes e cheios de medo.
- Não abra essa porta! – a pequena Carolina gritava, sua voz tremendo com desespero. – Não vá lá, é perigoso!
Carolina, agora completamente imersa no sonho, tentou se aproximar da versão infantil de si mesma. A luz que havia a envolvido agora parecia estar se dissipando, revelando uma cena familiar e angustiante.
- Eu não posso parar – Carolina respondeu, a voz cheia de dor e confusão. – Eu preciso saber o que está acontecendo. Esses pesadelos… eles são reais. Não posso ignorar isso.
A pequena Carolina parecia desesperada, e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Ela se levantou e correu até Carolina, puxando-a com força.
- Não! Você não entende! – a pequena Carolina chorou. – Eu já vivi isso antes. Eu sei o que vai acontecer. Não abra essa porta! Você não pode enfrentar isso agora!
Mas, apesar das súplicas da versão criança de si mesma, Carolina se viu atraída pela porta do escritório. Seus movimentos eram guiados por uma força que parecia fora de seu controle. Ela girou a maçaneta e empurrou a porta, uma sensação de inevitabilidade a dominando.
De repente, a luz que havia envolvido o escritório parecia se intensificar novamente, e Carolina sentiu uma onda de pânico e confusão. A sensação de calor e pressão era esmagadora, e sua mente estava mergulhada em um turbilhão de imagens e sons.
A luz que irrompeu do interior do escritório parecia ser uma entidade por si só, uma força pulsante que envolvia Carolina em um calor sufocante. Ela avançou pela porta, sua determinação em descobrir o que Mallory estava escondendo se misturando com a sensação de desorientação e pânico. As palavras desesperadas de sua versão infantil ecoavam em sua mente, mas eram abafadas pelo brilho intenso.
Carolina foi imediatamente engolfada por uma sensação de queda, como se estivesse sendo puxada para um abismo. As imagens ao seu redor se tornaram um borrão de cores e luz, e o som foi reduzido a um zumbido distante. A pressão no peito era quase insuportável, e a sensação de desamparo a envolvia completamente.
Quando a luz finalmente começou a se dissipar, Carolina se viu em um ambiente diferente. O escritório não estava mais diante dela; em vez disso, ela estava em uma sala vasta e estranha, que parecia ser uma combinação de diferentes épocas e lugares. O espaço estava repleto de objetos de várias eras – desde móveis antigos e cobertores luxuosos até itens mais modernos e tecnológicos, como computadores e dispositivos mágicos.
O chão era coberto por um tapete intrincado, e as paredes eram adornadas com pinturas que pareciam se mover, mudando de uma cena para outra conforme ela se movia. O ambiente era surreal, e a sensação de estar em um lugar que não se encaixava em nenhuma realidade conhecida era avassaladora.
- Onde estou? – Carolina murmurou para si mesma, sua voz ecoando na sala imensa. Ela se sentia completamente deslocada e confusa, sem saber qual era a natureza desse novo ambiente.
À medida que ela se movia pela sala, notou uma figura à distância. Era uma silhueta feminina, envolta em uma aura de luz suave. Carolina se aproximou, seus passos ecoando no silêncio profundo da sala. A figura parecia estar de costas para ela, e uma sensação de familiaridade fez com que o coração de Carolina batesse mais rápido.
- Mãe? – Carolina chamou, sua voz um misto de esperança e receio. – É você?
A figura se virou lentamente, revelando o rosto de Mallory. Porém, havia algo estranho. A expressão de Mallory era serena, quase etérea, e seus olhos tinham um brilho que Carolina nunca havia visto antes. A mulher parecia mais jovem e menos carregada pelas preocupações que normalmente a atormentavam.
- Carolina – a figura disse com uma voz suave e tranquilizadora. – Finalmente você chegou.
Carolina parou, atônita. A presença de Mallory era inesperada, e o contraste com a mulher furiosa e exigente que ela conhecia era chocante. Carolina tentou entender o que estava acontecendo, mas as palavras não saíam como ela esperava.
- O que está acontecendo? – Carolina perguntou, tentando manter a calma. – Por que estou aqui? O que é este lugar?
Mallory sorriu gentilmente e fez um gesto para Carolina se aproximar. Carolina hesitou por um momento, mas a presença calmante de Mallory parecia atraí-la, como se fosse um farol em meio à escuridão.
- Este lugar – Mallory começou, sua voz ressoando com uma calma enigmática – é um reflexo dos conflitos internos e dos medos que você carrega. É aqui que você enfrentará as verdades que tem evitado.
Carolina sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O que Mallory estava dizendo parecia significativo, mas ela ainda não compreendia totalmente. A ideia de enfrentar seus medos mais profundos era assustadora, e ela se perguntou se estava pronta para isso.
- Verdades que tenho evitado? – Carolina repetiu, sua mente cheia de perguntas. – Que tipo de verdades?
Mallory avançou lentamente em direção a Carolina, e as sombras da sala pareciam dançar em torno delas. Seus olhos estavam cheios de uma tristeza profunda e de uma compreensão que Carolina não conseguia decifrar.
- Você sempre procurou respostas, Carolina – Mallory disse. – Mas algumas respostas exigem que você olhe para dentro de si mesma e enfrente as sombras que tem medo de encarar.
Enquanto Mallory falava, a sala ao redor de Carolina começou a se transformar novamente. As paredes se desfizeram em fragmentos de memória e emoção, mostrando imagens do passado de Carolina. Ela viu cenas de sua infância, momentos de felicidade misturados com tristeza e angústia.
Em um canto da sala, Carolina viu a versão criança dela mesma novamente, sentada em um canto com um olhar ansioso. A pequena Carolina parecia estar lutando contra algo invisível, e suas lágrimas eram visíveis.
- Não abra a porta! – a versão criança de Carolina gritou, sua voz cheia de pânico. – É uma armadilha!
O desespero na voz da versão criança era palpável, e Carolina sentiu uma dor no peito ao ver a si mesma tão vulnerável. A sensação de culpa e confusão a envolveu, e ela começou a entender que os pesadelos que a assombravam eram mais complexos do que ela imaginava.
- Por que você está tão assustada? – Carolina perguntou à versão infantil. – O que está do outro lado da porta?
A pequena Carolina olhou para ela com um olhar triste e resignado.
- O que está lá fora – a versão criança respondeu – é algo que você não está pronta para enfrentar. É algo que vai mexer com a sua mente e com seu coração de maneiras que você não pode imaginar.
Carolina sentiu uma pressão crescente em seu peito, uma sensação de que a verdade que estava prestes a descobrir poderia ser mais dolorosa do que qualquer coisa que ela já havia experimentado. Ela olhou para Mallory, buscando alguma orientação, mas a expressão da mãe estava cheia de uma sabedoria distante e profunda.
- O que você está tentando me mostrar? – Carolina pediu, sua voz cheia de medo. – O que eu preciso saber?
Mallory deu um passo em direção a Carolina, e sua expressão parecia misturar uma certa tristeza com uma autoridade quase cruel.
- Você sempre foi a complicada, Carolina – Mallory disse com um tom melancólico. – Sempre foi a que não entendia. Agora, finalmente, você vê o que eu sempre quis mostrar.
Enquanto Mallory falava, algo estranho começou a acontecer. O rosto dela começou a se distorcer, e uma transformação monstruosa tomou conta de sua aparência. A suavidade e a calma desapareceram, dando lugar a uma visão grotesca e aterrorizante. O rosto de Mallory se alongava, os olhos se tornavam fendas escuras e a pele parecia derreter, revelando algo que não era humano.
Carolina sentiu o pânico crescendo dentro de si. Ela tentou se afastar, mas o ambiente parecia se transformar em um labirinto de sombras e luzes distorcidas. O que era uma conversa sombria e enigmática agora se tornava uma cena de horror.
- Não, não! – Carolina gritou, tentando se afastar da visão aterrorizante. – Isso não pode estar acontecendo!
Mallory, com seu rosto monstruoso, deu um passo mais perto, e suas palavras se tornaram um sussurro ameaçador.
- Você não pode escapar de mim, Carolina. A verdade está além do que você pode compreender. E você nunca será capaz de mudar o que já está escrito.
A sensação de pânico se intensificou. O ambiente começou a girar e a se distorcer ainda mais, enquanto a visão de Mallory se tornava cada vez mais aterrorizante. Carolina tentou gritar, mas nenhum som saía de sua boca. O medo e a confusão eram esmagadores, e a realidade parecia se fragmentar ao seu redor.
Então, de repente, tudo começou a se desfazer. O cenário distorcido e a figura monstruosa de Mallory começaram a se desintegrar em pedaços de luz e sombra. A sensação de opressão e pânico foi substituída por um vazio repentino. Carolina sentiu uma sensação de desorientação, como se estivesse sendo puxada de volta para a realidade.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro