4(Britney)
- Ainda está aqui? Pensei que havia mandado você ir embora. - disse Britney para a moça pequena que ainda estava em seu quarto, esperando-a como se fosse um caso de comprometimento.
Não era, e Britney lamentava um pouco por não ser, na verdade. Aquela era uma garota diferente, das outras que ela já teve na cama, clamando por seu nome, deleitando-se com o prazer indubitável que a loira poderia proporcionar.
Britney Kemilly Mallard é uma bruxa bonita, e sabe do detalhe perfeitamente. Tem a autoestima no auge, a beleza em demasia e o espelho perfeito para refletir sua imagem perfeita. Talvez ela só não fosse tão espetacular quanto Amber Macwood, a abelha rainha de Gouth'La Collie. A abelha rainha em sentido literal, pensou Britney, lembrando que tentara concorrer ao trono da grande bruxa - que era uma lenda antiga, um mito que ainda arrepiava - e por uma diferença de cem votos, ela perdera para Amber.
Margareth Dominguez, a primeira bruxa das gerações primárias, responsável pela origem do trono infernal - o trono das bruxas. Segundo a lenda, a bruxa coroada no último ano de sua formação, ganha mais poderes do que todos os bruxos mais poderosos da espécie, já tiveram nas mãos. Britney se recordava que a lenda da grande bruxa, Margareth, tera sido uma de suas primeiras aulas, tanto pela avó, que impulsionava a neta tentar a sorte, quanto pelo colégio, que como tantos outros, circula lendas que poucos de fato acreditam.
Aquele ano não seria diferente, Britney repudiou, mesmo que adoraria se fosse. Ela já podia escutar os aplausos calorosos das seguidoras de Amber, o sorriso de orelha a orelha do filho da diretora para Amber, e o respeito forjado passando pelos olhos de cada aluno que Amber intimidava. Eles sabiam que no momento em que a coroa fosse concedida a ela, o melhor seria manter um respeito, que não era mútuo. Aquele ano, definitivamente, não seria diferente.
Britney Kemilly Mallard, com seus longos cabelos loiros e olhos verdes penetrantes, era uma figura marcante. Sua beleza era inegável, e ela sabia disso. Seu espelho refletia uma imagem que ela admirava e às vezes até usava para intimidar. A confiança era uma extensão de sua personalidade, uma fachada cuidadosamente construída sobre uma mente afiada e um espírito independente. Ela sabia que não havia nada mais desnecessário para ela do que compromisso, especialmente com alguém que parecia ser mais um desafio do que um desejo real.
Melina, em contraste, era uma jovem de quatorze anos com um ar de inocência e uma aparência encantadora. Seus cabelos castanho-escuros estavam soltos, caindo em cachos sobre seus ombros. Seus olhos, de um tom profundo de avelã, estavam marejados de lágrimas não derramadas. O vestido que usava, um simples tecido em tom pastel, estava amassado, e sua expressão de desespero era uma mistura de tristeza e esperança. Ela estava visivelmente abalada, lutando para entender por que Britney estava tão determinada a se distanciar.
- Linda, eu pensei que seria melhor te relaxar, e depois você poderia ir embora. - Melina tentou com um sorriso malicioso, como se o tom sedutor pudesse mudar a atitude de Britney.
- Linda, eu acho que é hora de ir embora, não preciso relaxar, e sim me aprontar para sair. - Britney só queria se ver livre dela.
Bufando, no entanto, ela rebateu.
- Não precisa me chamar de linda porque não recorda o meu nome. Basta perguntar, e eu não tenho problema algum de dizer a você quantas vezes quiser. - sentou na cama de Britney, logo levantando, e tentando uma aproximação que Britney não impediu. - Amo o som do meu nome proferido por você.
Aquilo era ridículo, teve que revirar os olhos Britney.
- E como você chama? - a decepção no olhar dela era visível, porque no fundo esperava que Mallard lembrasse. Talvez ela conseguisse com algum esforço, mas aquele era um fato sobre Britney Kemilly Mallard que poucas mulheres sabiam antes de se envolver com ela; não estava a procura de um relacionamento, não se esforçava para ter um - sobretudo não com uma garotinha do primeiro mundo - ,estava apenas curtindo a sensação de se descobrir uma bruxa bissexual. Não podia fazer nada se a garota de quatorze anos, lembrava ela, era uma sem noção iludida, que não enxergava o zero esforço que Britney media para manter um relacionamento.
- É Melina. - proferiu com tristeza, desviando dos olhos de Britney, que não se comoveu com a chantagem emocional da mais nova.
- Muito bem, Melina. Preciso me aprontar imediatamente, tenho que ir... - tentou continuar, mas foi interrompida pelo beijo tascado em seus lábios, de forma doce, de forma leve, por Melina. Britney tinha que admitir o quanto gostava de beijá-la e tê-la em seus braços,ela tinha que confessar para si mesma, que aquela garota era de uma certa forma um tanto calorosa.
Quando parou de ser beijada por Melina, Britney manteve as testas coladas, dizendo para si mesma que por partir o coração da garota, poderia fazer seus caprichos românticos por algum mero momento. Beijo de despedida, testa colada e o não mais uma vez se aproximava. Como no ano passado, que aconteceu o mesmo, e Britney teve que se despedir de Melina porque entre ficar e ir, a bruxa escolheu ir. Esperava que Melina fosse superá-la, mas não foi o que aconteceu, e ela só descobriu nas férias do ano passado, quando voltou para casa e imediatamente Melina a procurou, assim que soube de sua volta. Desde então, Melina era seu refúgio, porque entre ir e ficar, ela escolhia ir, mas aquela não era uma opção alcançável durante as férias. Era ficar, ou ficar.
- Ou você pode apenas ficar aqui. - Britney estava com olhos fechados, mas podia visualizar facilmente as lágrimas deixando Melina. Ela sempre chorava, ela sempre quebrava, e mesmo assim, quando Britney queria, ela estava. Apesar de não entender o motivo de tamanha submissão, Britney era grata pelos momentos de curtição lhe proporcionado com Melina.
- Ou você pode aceitar que jamais farei isto e me poupar de perder saliva. - Britney afastou o toque de Melina, crendo que fora cruel, mas se importando pouco com o fato da crueldade que tascou à ela.
Dirigiu-se até a porta, tocando a maçaneta tão rapidamente, que o frio mal passou pela palma da mão. Tamanho era, percebeu, o desespero por se livrar de Melina. Não suportava o lado grude daquela linda garota, que queria o impossível de Mallard; compromisso, que não era sua área.
- Vai embora, por favor. - a voz pareceu suplicar, e Britney sentiu repulsa por um momento, sabendo que magoava Melinda.
Nada mais foi dito, apenas o soluço que irrompeu da garganta de Melina, fora audível. Britney esperou até que Melina vestiu sua calça jeans rasgada e a regata com longo decote. Logo, ela pôde desfrutar da paz de quando Melina deixou seu quarto.
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- Eu não posso acreditar que ela ainda investe com tanta veracidade em você. - Abigail comentava incrédula, olhando para Melina que não fora embora. Olhava a movimentação da limousine parando na residência Mallard, com tristeza irrompendo os olhos. Estava encostada perto dos arbustos, bisbilhotando Amber organizar em ordem de nível alto, ao baixo - bruxas, feiticeiras e aprendizes - em uma fileira perfeitamente alinhada, como Britney nunca viu.
Vendo-a, pensando que Britney não poderia vê-la, Mallard não pôde conter seus olhos de varrer a menina do primeiro mundo - o mundo humano - ,que ainda parecia chateada pela rejeição. Melina era bonita, muito bonita. Talvez seria ainda mais se ajeitasse o cabelo em um corte reto, e parasse com a mania de apego emocional. Ela tinha belas maçãs na altura das bochechas, lábios rosados, olhos castanhos escuros, e madeixas da mesma cor do par de olhos. Era da mesma altura que Britney, talvez centímetros mais alta, Mallard nunca parou para notar de verdade.
Sorriu bobamente, lembrando da maciez de tocar o cabelo cacheado, mas logo dispensou a recordação.
- O que posso fazer se sou irresistível demais para as garotinhas do primeiro mundo. - gabou-se Mallard, com um sorriso zombeteiro e olhar convencido para Abigail, que desaprovou as palavras.
- Melina é tão mais bonita que a outra do cabelo laranja. - torceu o nariz, ainda fitando Mallard, que por sua vez gargalhou da protesta de Abigail. Era fácil conversar com Abigail, sobretudo quando o assunto era sua vida amorosa - como chamava Abigail - ,que Britney insistia em chamar de vida ativamente sexual.
Suspirou, lembrando brevemente que aquele costumava ser o papel que Carolina Chanteuse desempenhava em sua vida. A amiga conselheira, a boa ouvinte e a melhor pessoa para chorar mil lágrimas sem se preocupar; ela sempre entendia Britney perfeitamente bem, e não somente a loira; ela sabia ler todas, mas sua relação com Britney era mais profunda, mais emocional. Por isto que doeu um bocado quando foram separadas por causa da mãe megera de Carolina, que decidiu afastá-las após a noite da culposa morte de Sage Dominguez.
Decidiu esvair o pensamento de saudade da amiga, lembrando que estava falando com Abigail.
- Você fala como se sua cor de cabelo não fosse laranja. - zombou, recebendo um leve empurrão no ombro esquerdo. - Ei, maldita agressividade que usa para tudo. Só para constar, ela é ruiva como você, o cabelo laranja é como o seu.
- Acredite em mim, cafajeste, eu sou a ruiva legítima da história. Melina é água de salsicha, eu sei reconhecer uma ruiva de longe. - rebateu Abigail, rindo da expressão que Britney tera feito.
- Espero que algum dia você tenha a sorte de conhecer a minha melhor amiga. - tristeza assumiu o olhar dela, ainda fitando Abigail. - Fico curiosa para saber como iria renomeá-la. Os cabelos dela eram cacheados e vermelhos, e pior isto a chamávamos de Cachos vermelhos. - ela ouviu Abigail rir, provavelmente achando engraçado o apelido ridículo que fora Britney a primeira responsável por dar à antiga amiga.
Ela lembrava o dia em que passou a chamá-la daquele jeito, como lembrava de sua rotina, todos os dias.
- Chamávamos? Você disse no plural, posso perguntar o motivo? - apesar de sua voz exalar interrogação, Britney podia sentir que Abigail não estava realmente curiosa; não podia culpá-la, honestamente, não era a primeira vez que tocava no nome de Carolina, e podia imaginar como aquilo poderia ser entendiante.
- Era eu, a Cachos, e mais duas garotas. Amy Blake, Carolina, quem citei inicialmente, e... - a voz da loira falhou. - E a Sage. - sussurrou como se fosse um vidro que facilmente seria quebrar, se usasse voracidade.
Abigail não pareceu entender o motivo do último nome citado, ser dito com a tamanha fragilidade. Percebeu quando Britney desviou o olhar, que também não entenderia, e não insistiu, o que Britney agradeceu com um sorriso que bastou.
Logo um alvoroço em torno de Amber começou, quando a monitora deu a ordem de que todas - organizadas por nível - poderiam adentrar a limousine. Britney olhou uma última vez para Abigail, antes de fitar com uma fúria contida, para Amber.
- Ela ainda está daquele jeito. - Abigail falou, adivinhando os pensamentos maléficos da amiga sobre Macwood.
Com um aceno sarcástico na direção de Amber, Britney concordou.
- É, ela ainda está daquele jeito. - e bufou, sentindo um ar quente em seu rosto. Decidiu se dar ao luxo de olhar uma última vez para Melina, que ela sentiria falta do fogoso corpo, não que admitiria. Mas a expressão chorona da humana, a fez desistir quase imediatamente, sabendo que fazia aquilo como uma forma de subornar Britney. - que tinha um fetiche por garotinhas de expressão sofredora.
A surpresa que Britney não tentou conter, no entanto, apareceu quando ela passou por Amber, empurrando o ombro da Macwood da forma confronta que sempre costumava fazer.
- Abigail Fortlesley, bem-vinda de volta! - desejou Amber, sorrindo como de costume. Ela estava parada fora da limousine, controlando de uma a uma, quem entrava das garotas, e no fim da fila, estava Britney e Abigail. Logo se voltou para outra garota a estreita de Britney. - Riley Kennedy, eu vi seus relatórios e o livro de feitiços que escreveu. Reconheço um bom talento de longe, e sempre sou muito receptiva com quem considero um talento nato. Bem-vinda, espero que possa amar Gouth'La Collie, assim como vamos amar recebê-la. - ela sorriu para Riley e Abigail, ignorando Britney.
- Obrigada pela recepção, Amber. - intrometeu-se Britney, com um tom de voz que entregava escárnio. Macwood e Mallard se olhavam como se fossem a suculenta presa uma da outra.
- Ah, é um prazer Britney. - debochou Amber, com voz sádica, tombando a cabeça para apoiar nos ombros. - Não que eu estivesse falando com você.
Britney tentou revidar, mas foi impedida por um rosto familiar que pairou na porta aberta da limousine, perguntando à Amber se já iriam voltar ao percurso.
- Já vamos, Srta.Chanteuse. Claro, isto se certas benditas não enrolarem mais. - olhou para Britney, que não tinha os olhos nela, mas sim na garota que ela, aos oito anos de idade, junto às amigas, apelidaram-na de Cachos vermelhos.
Ela olhava, surpresa, para Carolina.
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