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5 Anos Atrás

ETHAN

Meus olhos não conseguem desviar de seu rosto. Ele é como um ímã para mim; quero admirá-lo e não consigo parar essa palpitação acelerada do meu coração.

Kanaam está falando alguma coisa para mim, mas não o escuto, pois estou perdido em pensamentos. O que sinto se chama atração e não paixão, mas quem sabe posso transformar isso em algo mais?

Recém o vi e já sei que o quero. Comprimo meus lábios e engulo em seco, tentando não ser tão exagerado, mas é algo incontrolável. Eu soube que aquilo aconteceria no momento em que o vi. Eu não resistiria àqueles olhos azuis mais claros que os meus, muito menos àqueles cabelos loiros que brilhavam de tão sedosos. Por Deus, ele parece um anjo!

Um anjo no meio de uma sala de aula quieta e boquiaberta com sua beleza. Sento-me rapidamente ao ver o professor chegar, mas não paro de olhá-lo. Kanaam percebe meu comportamento estranho e me cutuca na barriga.

━Ele é rico? -pergunta baixinho

━Claro que é. -sussurro sem deixar de encarar o objeto de minha admiração

Eu sabia que ele era rico porque: a) ele havia chegado em um carro caríssimo e luxuoso; e b) suas roupas eram de marca; além disso tenho a impressão de que o conheço de algum lugar. Seus traços delicados me lembram alguém que não consigo identificar.

A aula transcorre normalmente, comigo não prestando atenção em mais nada além da silhueta dele à minha frente. Mordo meu lápis durante todo o período, ansioso e impaciente para descobrir mais sobre esse garoto. Preciso conhecê-lo e vou conhecê-lo;  este torna-se, instantaneamente, meu objetivo nesse último ano escolar.

Não consigo conter minha agitação e balanço os pés sem parar, olhando para o relógio de segundo em segundo. O garoto bonito está apontando um lápis, concentrado e sério. Suas mãos são compridas e delicadas, como as de um pianista, sua pele é quase da cor da classe branca em que nos sentamos. Mordo os lábios com frustração, já imaginando como seria beijá-lo.

Eu estou realmente desesperado, quase salivando atrás dele. Talvez seja o tempo que passei sem nenhum interesse romântico, talvez seja o rosto dele... O fato é que ele me deixa deslumbrado. Há aquela aura misteriosa em sua volta e a sensação de que o conheço de algum lugar só aumenta minha percepção. 

Quando a chamada começa, aperto o lápis na mão ao descobrir que seu nome é Charlie Blanchard. O sobrenome é conhecido. Sento com rigidez na cadeira, tentando lembrar de onde o conheço.

O professor o pronuncia erroneamente e Charlie o corrige com um pouco de timidez, mostrando um sotaque francês bonito e elegante. Sinto os cabelos da minha nuca se arrepiarem ao ouvi-lo falar daquele jeito. Então, subitamente, me lembro: ele é uma ex-celebridade mirim. Os traços estão mais fortes, mas aqueles olhos azuis, aquele semblante de anjo... Como eu posso ter me esquecido? Ele havia protagonizado programas na televisão quando ainda era pequeno! Os pais são famosos, a mãe é bailarina e o pai pintor, ambos renomados em suas profissões. 

Uma sensação eletrizante atravessa meu corpo. Os programas que ele fez eram voltados para o público infantil, duraram cerca de 1 ano e depois foram cancelados. Percebo que ainda estou boquiaberto, sem acreditar. Passei muitas manhãs o assistindo em frente à televisão.

Durante o intervalo, me levanto num pulo ao vê-lo guardar os materiais. Coloco as mãos nos bolsos e ajeito meus cabelos(não os penteei antes de sair de casa). Caminho até sua classe e o encaro de cima. Espero ele me notar ali, parado.

Quando seu queixo levanta e seus olhos se fixam nos meus fico paralisado e boquiaberto. Esqueço o que ia dizer.

Os olhos azuis são amigáveis, mas também intensos demais; parecem encarar até o fundo da minha alma. Respiro fundo, sem conseguir prosseguir, travado, e ele ri baixinho, colocando os dedos finos nos lábios rosados para disfarçar.

Não me movo, estou petrificado com o som da sua risada.

━Olá, tem algo a me dizer?

Fico inquieto ao ver suas bochechas corarem. Adoro o jeito como sua boca forma as palavras, movendo-se com atenção para não errar a pronúncia do inglês. Os orbes azuis me estudam, agora com curiosidade e tento desesperadamente, encontrar as palavras que estava prestes a dizer.

━Oi. -minha voz sai mais grave que o habitual, contrastando com tom melódico da dele

━Qual seu nome? -Charlie morde os lábios e apoia o queixo na mão direita

Eu poderia gritar de frustração ao vê-lo fazer aquilo, mas acompanho com atenção seus dentes enquanto eles mordem a pele sensível dos lábios, fazendo-os ficarem mais vermelhos. Perco-me por um minuto, olhando fixamente, como um idiota, para sua boca. De repente, um cutucão em meu cotovelo me traz de volta a realidade.

━Ethan? -é Kanaam e ele olha de mim para Charlie com o cenho franzido, confuso

━Sim? -pergunto

━Vamos? Posso te ajudar a organizar suas coisas.

Eu quero dizer que não me importo com organização, que ele pode ir embora, porque eu apenas quero conversar com Charlie pelo resto do dia, mas não posso. Kenny sempre me ajuda no início do ano escolar, pois sou um desastre para estudar.

━Vamos -murmuro, sem tirar os olhos de Charlie

━É um prazer conhecê-lo, Ethan -ele murmura e se levanta, pegando a mochila em seguida

Sinto um perfume doce gostoso vindo dele. Quando me afasto, percebo que sou alguns que seu corpo é magro, baixo e pequeno perto do meu. Charlie é exatamente meu tipo. Por dentro estou pulando de felicidade por ter conversado com ele.

Quando Charlie sai pela porta, sei que minha vida mudará. Ele fará parte dela. Ao menos é o que eu desejo. 

KANAAM

O apartamento dele está uma bagunça, mas não me importo de ajudá-lo. Ethan guarda alguns livros na estante da sala enquanto eu organizo as coisas em cima da mesa e do sofá.

O olho de soslaio e percebo que ele está mais animado do que o habitual para um primeiro dia de aula.

━O que achou do aluno novo? -ele pergunta, tirando-me de meus devaneios

━Nada demais, -respondo rapidamente

Claro que minto. A verdade é que ele parece um desenho de tão bonito. Eu jamais poderei competir com tamanha beleza. Sou completamente o oposto dele: minha pele é marrom, num tom café com leite, meus olhos são verde-oliva e meus cabelos são castanhos e encaracolados. Além de tudo isso eu não sou nem um pouco rico e minha família é da Índia. Completos opostos.

Ver Ethan tão interessado me magoa, mas, como sempre, escondo meus sentimentos com maestria. Finjo não ligar enquanto ele fala sem parar, num tom animado, sobre o quão lindo Charlie é e sobre como encantou-se com o sotaque dele. Tento não ficar afetado com sua nova paixão, mas não consigo, porque cada palavra dele me machuca.

━Você lembra daquele programa para crianças, o Junior Cuisine? -franzo o cenho para a sua pergunta

━Não, por quê?

━Era ele quem apresentava, -ele ri, incrédulo- Eu via quando criança. Depois o programa acabou e ele nunca mais voltou a aparecer na mídia.

Arqueio as sobrancelhas com curiosidade. Além de rico ele é famoso. Suspiro com chateação pela minha falta de sorte. Não que eu pense ter chances com Ethan, mas saber que Charlie faz seu tipo me magoa. 

Seus cabelos pretos estão bagunçados, mas mesmo assim continuam lindos. Na luz do sol que entra pela janela posso ver as linhas de seu rosto, que nas férias haviam se tornado muito mais expressivas e masculinas. Ethan está mais musculoso e alto do que o ano anterior. Além disso, há um piercing em sua orelha, outro na sobrancelha e uma tatuagem de águia no antebraço esquerdo.

Seus pais odiariam aquilo, se eles se importassem com o filho que tinham. Sua mãe está ocupada demais cuidando da filha mais nova, irmã de Ethan, enquanto o pai dele gasta tempo e dinheiro com a nova esposa. Não sobra tempo para Ethan, mas o mínimo que fizeram foi comprar aquele apartamento em que estávamos (mesmo que Ethan sofra para pagar as contas).

Termino minha arrumação e sento no sofá.

━Kenny, acho que precisamos de um novo amigo, não? -engulo em seco ao observá-lo passar um pano na estante

Eu adoro esse apelido porque era ele quem o havia inventado. Toda vez que o ouço, na voz dele, algo dentro de mim se move, como as famosas borboletas no estômago. 

━Por quê? Sempre fomos eu e você, -murmuro, tentando não transparecer minha mágoa

Ele sorri de canto, aquele sorriso que me deixa um pouco desconcentrado. Os olhos azuis se fixam em mim e ele enfia a mão no bolso, vasculhando à procura de algo. O observo fixamente, sem deixar nenhum movimento seu passar. Eu o amo há tanto tempo...

━Não acha meio monótono, só nós dois? -suas sobrancelhas se arqueiam e ele comemora ao tirar uma carteira de cigarros do bolso

━Não acho, estamos bem assim, sempre fomos eu e você. -falo rapidamente, mais interessado no cigarro- Desde quando você fuma?! -arregalo os olhos ao vê-lo colocá-lo na boca

━Desde as férias. Fico mais relaxado assim, estou agitado demais hoje! -ele acende o cigarro- Já estou ansioso pela aula de amanhã. Acha que ele vai ter períodos com a gente? Aliás, como eu deveria me aproximar dele, Kenny?

Respiro fundo com frustração. Ethan não vai largar aquele assunto enquanto não conseguir o que quer. Algo dentro de mim pulsa, o medo de ser deixado para trás me preenche, mas me contento em fechar os olhos e tentar não ser tão pessimista. 

Ele quer minha opinião sobre como aproximar-se de Charlie. Dobro minhas pernas no sofá e olho pela janela com um pouco de tristeza.

Ethan fica mexendo no cigarro com nervosismo, o que me deixa estático. Ele havia mudado demais em poucos meses. Claro que o Ethan brincalhão, agitado e ansioso ainda estava ali, mas era uma versão diferente, mais... Intensa e rebelde.

Sempre fomos eu e ele na escola, unidos, estudando, fazendo trabalhos, brincando e contando piadas... Mas agora eu vejo que um interesse amoroso pode mudar tudo entre nós. Antigamente eu tinha que lidar com outros meninos e meninas com quem ele ficava, mas agora é diferente. Somos mais velhos e Ethan não parece querer apenas ficar com Charlie.

━Acho que devia convidá-lo para vir aqui.

Eu não quis dizer aquelas palavras, mas elas saíram como um tiro da minha boca. Comprimo os lábios com um pouco de arrependimento e impaciência. Não quero que ele convide Charlie para cá, porque é o nosso lugar, é também meu refúgio quando as coisas em minha casa ficam feias.

Ainda não sei o que eu realmente quero tirar dessa paixão que nutro por Ethan, mas posso apenas imaginar como seria beijá-lo e tocá-lo. Para piorar, eu sei que ele me considera como um irmão e melhor amigo, o que não ajuda em nada. Por vezes me pego pensando em como seria namorá-lo, mas logo mando esses pensamentos impossíveis para longe. Ele riria se eu sugerisse algo.

O amo tanto que só de vê-lo me sinto alegre. Além de tudo isso, eu o admiro como pessoa; Ethan é gentil e carismático e sempre cativa a todos. Todas suas características fizeram eu me apaixonar por ele ao longo dos anos em que fomos amigos. Meus sentimentos borbulham por ele, principalmente quando estamos tão perto um do outro, mas não há nada que eu possa fazer. Nunca terei coragem para falar ou tentar alguma coisa.

━Convidá-lo para cá? Mas preciso de uma desculpa para fazer isso, Kenny. -ele fica sério e sopra a fumaça longe

━Diga que pode ajudá-lo com o conteúdo.

O estou ajudando mesmo não querendo, mesmo sabendo o quanto aquilo me machuca.

━Boa ideia! -ele sorri largamente

Meu coração aperta e desvio o olhar para o chão, perdido em memórias felizes de nós dois juntos.

CHARLIE

Estou nervoso mas tento não aparentar. Eu sabia que ele estava a fim de mim, mas não fazia ideia de que iria investir assim tão rápido.

Eu já estou acostumado a ter a atenção das pessoas, principalmente por causa do meu passado e por causa dos meus pais. Mesmo assim ainda fico vermelho ao ter a atenção de um garoto bonito voltada para mim.

Também estou ansioso, até demais. Não deveria estar assim, mas eu quero muito causar uma boa impressão nos primeiros dias de aula. Tenho medo que alguém pense coisas idiotas e falsas a meu respeito. Admito que ser filho único me faz ser um pouco egoísta, mas fora isso tento, ao máximo, ser simpático e gentil com todos.

Nesse momento o sol toca minha pele e agradeço por ter colocado protetor antes de sair de casa.

No primeiro dia de aula minha mãe correu atrás de mim como uma louca, ansiosa e temerosa por me deixar ir para a escola sozinho (com o motorista, na verdade) em um país diferente. Havíamos nos mudado devido a uma oferta de emprego para minha mãe ministrar aulas de dança.

━Não é muito longe. -Ethan murmura, caminhando rápido e olhando para mim a todo instante

Sorrio. Parece que ele está mais nervoso do que eu.

Eu sabia bem que não havia conteúdo algum para ele me ensinar, mas eu não tinha nada melhor para fazer e havia o achado muito bonito. Enquanto percorremos o trajeto, permaneço olhando-o, apreciando os músculos na camisa de botões que fazia parte do uniforme escolar.

O piercing na orelha lhe deixa mais interessante e a tatuagem no antebraço me agrada bastante. Ele é o tipo de cara que eu gosto: mais alto, mais forte e mais masculino que eu. Coro com aqueles pensamentos. Há tempos eu não saio com ninguém. Na França eu tinha um namorado, mas tínhamos terminado há meses.

Enfim chegamos ao prédio em que ele mora. Parece bem modesto e pequeno, mas tento não julgar. Digo a mim mesmo que apenas por ter crescido em lugares luxuosos, não significa que locais mais simples sejam ruins. Eu nunca verbalizo esses pensamentos, que podem ser considerados mesquinhos, ou infantis, apenas quando estou estressado ou nervoso, aí não consigo segurá-los, infelizmente. Sempre tento esconder esses traços da minha personalidade.

Entramos pelo portão e subimos um lance de escadas pequeno, até ele abrir a porta no topo da escada, que nos leva para dentro do apartamento pequeno.

Está organizado, é pequeno e tem uma decoração... Simples. Algumas paredes têm rachaduras pequenas, alguns móveis são antigos demais, mas gosto do ambiente, porque tem um cheiro bom que vem de um incenso aceso na sala. Uma brisa fraca entra pela janela e levanta meus cabelos.

━Então... -ele fala nervosamente, mudando o peso do corpo de um pé para outro

━Sei que não me convidou para estudar, Ethan. -murmuro com um sorriso

Eu geralmente não sou tão direto assim, mas decido que um outro país merece umas mudanças de personalidade. Eu lidarei com a timidez e o remorso depois.

Ele está estático e me encara sem saber o que dizer, como da primeira vez em que falou comigo, dias atrás. Largo minha mochila em seu sofá pequeno.

━Podemos beber algo? -sugiro

Ele engole em seco e parece "acordar"; pisca e balbucia algumas coisas.

━Claro. Um suco? -franze o cenho com dúvida e eu rio baixinho

━Cerveja? -arqueio as sobrancelhas com um risinho e ele fica surpreso

━Não prefere vinho?

Rio mais.

━Não, cerveja está ótimo!

Ele prontamente anda até a cozinha e ouço os barulhos de copos e da geladeira abrindo. Em 1 minuto ele está em minha frente, me entregando um copo com um líquido escuro. Bebo um gole rápido, sem desviar meu olhar do dele.

Talvez ele me conheça da televisão? Provavelmente sim, porque me olha como se eu não pertencesse àquele ambiente.

━Não vai beber? -indago apontando para o seu copo

━Vou, mas... Você não prefere sentar para beber?

Estou em pé, apreciando o vento em meu rosto, mas sento-me no carpete da sala rapidamente. Ethan ainda parece surpreso com cada movimento meu.

━Por que está me olhando assim? -pergunto com curiosidade

━É que... Bom, pensei que pessoas como você não faziam essas coisas. -franzo o cenho com impaciência

━Pessoas como eu?

━Eu assistia ao seu programa. -ele não me olha ao falar aquilo e relaxo minha expressão, tentando não ser tão impaciente

━Eu nem estaria aqui se fosse como as outras celebridades ou filhos de celebridades. Mas não me importo em sentar no chão, ou beber cerveja. Você parece chocado demais, será que podemos conversar normalmente? -murmuro a pergunta e dou um tapa no chão, indicando para ele sentar-se

Parece que eu sou o anfitrião ali.

━Desculpe. Você fez programas de televisão quando pequeno, deu entrevistas... -ele senta-se

━Aquele programa durou o suficiente. Chegou num ponto em que eu não queria mais fazer aquilo, então meus pais resolveram me proteger daquela exposição toda. -tomo mais um gole da bebida- Mas não gosto de falar sobre isso, vamos falar sobre você. -sorrio e levanto meu copo em um brinde

━O que quer saber?

━Você me convidou para cá com quais intenções? -decido provocá-lo

Ficamos em silêncio e espero uma atitude dele, mas percebo que sou eu quem terá de fazer algo. O encaro de soslaio.

━Você é a pessoa mais bonita que eu conheci. -as palavras escapam de sua boca 

Suas bochechas estão coradas, como se tivesse acabado de dizer algo que não devia. 

Ele não é o primeiro a me dizer isso, mas fico lisonjeado mesmo assim. Sinto calor e largo o copo no chão ao meu lado.

━Obrigado, -murmuro- você também é muito bonito. -não o encaro ao dizer aquilo, sentindo um pouco de vergonha por flertar de uma maneira tão descarada

Fico surpreso quando ele segura meu queixo e o levante levemente.

━Posso te beijar? -Ethan pergunta

Sorrio e mordo os lábios.

━Só depois de tomar sua cerveja. -aponto para o copo cheio dele- Não posso ser o único a ficar bêbado aqui.

Ele ri e, pela primeira vez, o vejo descontraído. Gosto do jeito como seus olhos se fecham conforme o sorriso se alarga. Meu coração acelera e tento relaxar, sem sucesso. Estou nervoso, mas talvez seja porque aqui, nos Estados Unidos, tudo é muito diferente e intenso.

A tarde passa com rapidez, entre cervejas e conversas, até não aguentarmos mais beber, até ficarmos num silêncio constrangedor. A quietude se quebra apenas pela voz rouca e gostosa dele, contando que, quando me viu pela primeira vez, quis desesperadamente me conhecer e me beijar. Nós dois já estamos bêbados e eu só consigo rir e me sentir zonzo.

Estamos deitados no chão e a brisa está mais forte agora. Fico preocupado ao constatar que já está quase noite. Eu preciso ir embora, mas também quero beijá-lo antes de ir..

Engatinho pelo carpete até ficar em cima dele, com uma perna de cada lado de sua cintura. Ele sorri e acaricia meu pescoço. Seu sorriso bobo e bêbado me faz rir até minha cabeça latejar.

Inclino-me para frente, ainda rindo, e o beijo lentamente. O beijo tem gosto de álcool. Sentimos nossas bocas sem pressa e eu o exploro com lentidão, como há muito tempo eu não faço com alguém. Gosto da sensação dos lábios dele sobre os meus e do jeito como sua boca me pressiona. Adoro o toque das mãos dele percorrendo o interior das minhas por cima do jeans... Os toques me deixam arrepiados e sorrio quando sua boca desce para meu pescoço.

━Preciso ir embora -digo com dificuldade, sem querer afastar-me dele

━Pode dormir aqui -ele murmura, beijando meu queixo

━Minha mãe teria um ataque -rio e o empurro para o chão

━Posso te levar, a pé. -fala com a voz sonolenta

━Eu sei andar sozinho.

━Você recém se mudou e já está escurecendo. Eu te levo.

Nos levantamos com dificuldade e ajeitamos nossas roupas. Havíamos consumido umas 5 latas de cerveja. Imagino o que minha mãe dirá ao me ver nesse estado.

______

━Charlie, você está louco? E você, quem é? -ela está furiosa 

━Ele veio me trazer, mãe. -reviro os olhos

━Vocês dois estão cheirando à bebida! -minha mãe quase grita

Ethan está envergonhado, mas eu já estou acostumado com aquele comportamento superprotetor dela. Tivemos que caminhar bastante e, quando chegamos aqui,  ele pareceu deslumbrado com o condomínio onde eu morava.

━Me desculpe. -Ethan murmura

Minha mãe está olhando para o piercing dele e sua tatuagem; o nariz dela se torce quando me puxa para dentro e fecha a porta na cara dele. Bocejo ao ser arrastado para o sofá com agressividade.

━Eu espero, honestamente, Charlie que esse não seja outro garoto com quem você está saindo. As roupas dele estavam amassadas! E aquele piercing? E a tatuagem? -põe as mãos na cintura e me olha com irritação- Recém começaram as aulas e você já arruma confusão?

Não respondo, pois fico zonzo demais com suas palavras, por conta da bebida. Fecho os olhos e adormeço no mesmo instante, ali no sofá. 

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