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1 Ano Atrás

ETHAN

A distância ainda me deixa triste, mas não reclamo disso. Não o procuro mais. Todo dia ao acordar tenho vontade de ligar, de tentar reatar, mas não o faço. Talvez estejamos melhores assim. Mas quem eu quero enganar? Estou triste e nada parece conseguir me deixar feliz.

Esses pensamentos me invadem conforme olho para a câmera. O estúdio está gelado, não tão gelado como lá fora, mas gosto da temperatura assim. Os flashes ainda me deixam incomodado, mas estou perdido demais em pensamentos para protestar.

O barulho da câmera para e me dou conta de que o fotógrafo parece irritado. Pisco várias vezes, finalmente entendendo que a sessão terminou.

—Algo errado?

—Suas expressões não estão nada fotogênicas hoje. -sua voz sai baixa e impaciente

—Desculpe, podemos tentar de novo?

Tento ser o mais prestativo possível. Sei que o trabalho dele é difícil porque envolve controlar expressões faciais e posições corporais. Além disso nunca quis fazer uma inimizade, ainda mais nesse meio. Meu agente, Brent, sempre me diz que tenho que evitar ao máximo polêmicas, exposição pessoal e brigas, e isso está sendo difícil sem Charlie.

—Não, acho melhor eu conseguir outro modelo.

Fico irritado. Não fui rude com ele. Tento me acalmar e penso em Brent, em como seus conselhos me fizeram ser um idiota com Charlie ao não querer assumir nosso relacionamento. Brent me aconselha apenas para se beneficiar. Fiquei deslumbrado demais para colocar tudo em risco e acabei comprometendo meu relacionamento por medo do que as pessoas achariam. Mesmo que ele tenha me traído eu também tenho culpa, afinal, não estava lá quando ele precisou de mim.

—Então consiga outro modelo. O que vai dizer para a revista quando não for o meu rosto na capa? -pergunto com raiva

Vejo seus lábios se comprimirem, hesitantes, e decido sair dali. Pego minhas roupas e me visto lentamente, ainda pensando em Charlie. Por vezes decido ignorar o fato de ele ter me traído, mas ele está sempre me rondando e me lembrando do porquê não posso perdoá-lo. Não aceito suas desculpas, nem quando ele me visita ou quando nos encontramos na rua, porque vê-lo com outra pessoa, na minha frente, me mostrou que talvez ele não gostasse tanto assim de mim, que eu sou facilmente substituível.

—Me desculpe, ok? -ele fala nervosamente, tentando me fazer ficar, mas já não estou irritado com ele e sim com meus pensamentos.

Saio sem falar nada e, na rua, a temperatura bem mais fria do que a de dentro do estúdio me acerta em cheio. Fecho a jaqueta até em cima e caminho com as mãos nos bolsos, sentindo as pontas dos dedos geladas.

Ainda não consigo descrever para mim mesmo a sensação de ver Charlie com Octave. Eu fui muito idiota por não ter notado que aquela aproximação era estranha demais. Eu acreditei e aceitei o fato de que eles pareciam amigos, que estavam com saudades. Talvez eu tenha merecido? Todas hipóteses me deixam maluco. Sinto uma raiva feroz ao pensar em quantas vezes eles deviam ter se beijado e transado enquanto eu não estava por perto.

E isso me lembra que eu nunca estava por perto. Agora minhas sessões de fotos estão mais flexíveis e posso escolher onde e quando quero trabalhar, mas no início não podia, dependia da agenda e dos contratos. Charlie nunca foi muito paciente e sempre quis tudo na hora, era óbvio que ele iria me trocar, não?

Algumas pessoas estão pulando na neve da noite anterior enquanto outras caminham cabisbaixas, perdidas em pensamentos. A neve nunca parou Nova York. Os telões continuam piscando na Times Square, os turistas ainda tiram milhares de fotos da estátua da Liberdade e todos continuam consumindo fast food com alegria.

Comida, outra coisa pela qual brigávamos. Sorrio com amargura. Nesse quesito eu fui um completo idiota. Devia tê-lo acompanhado naquela prova, aceitado suas sugestões de jantares e almoços, mas estava obcecado com o novo emprego e em como meu corpo deveria ser perfeito nas fotografias.

Mesmo que eu o culpe nos momentos de raiva, sei que nós dois erramos, mas me trair foi a gota d'água. Eu jamais o trairia e isso me deixa enraivecido: saber que ele me trocou tão facilmente.

Lembro que o deixei de lado, assim como fiz com Kanaam no ensino médio, e relaxo um pouco. Não fui um bom amigo e talvez não tenha sido um bom namorado. Tudo isso me irrita porque já não sei mais quem culpar. Mas acredito que, ao me trair, Charlie errou muito mais. As lembranças surgem e me deixam triste.

Não percebo que já estou na frente do hotel. Quando olho para cima e vejo a fachada elegante dou um suspiro. Toda vez que nos encontramos damos um jeito de brigar. Eu começo a briga, claro, porque penso que é o que ele merece, por ter me traído tão descaradamente, e Charlie, surpreendentemente aceita, retruca pouco, mas entende. Nunca o vi tão passivo e tão desesperado por algo como pelo meu perdão. O fato de que eu gosto de vê-lo sofrer por isso me deixa perturbado.

Não é algo que controlo. Quando ele aparece tenho vontade de machucá-lo, de dizer coisas horríveis, porque a cena volta com tudo em minha cabeça. Ele na cama, com Octave. Na maioria das vezes ele chora e espera que as lágrimas produzam o mesmo efeito que produzem em seus pais, afinal, Charlie sempre teve um talento para o drama.

Entro no saguão e respiro fundo. Nada está como imaginei que minha vida estaria, anos atrás, mas não posso reclamar, pelo menos agora consigo me sustentar sozinho.

______

—A revista me ligou, querem outro modelo.

Não estou alegre com a presença de Brent no quarto. Sigo seu olhar de reprovação, direcionado às muitas latas de cervejas e caixas de pizzas espalhadas pelo quarto.

—Não gostei do fotógrafo que eles contrataram. -murmuro sem vontade

—Você não está em posição de exigir nada! -ele coloca as mãos na cintura, embaixo do paletó

Alguns cabelos grisalhos aparecem entre seus fios pretos e me pergunto se não é pelo estresse da profissão que eles estão ali. Brent já deve ter uns 45 anos e já descobriu vários modelos famosos mundialmente, o que lhe faz pensar que pode pedir satisfações para qualquer pessoa.

Fico em silêncio. Não sei o que ele espera que eu diga. Não sinto vontade de trabalhar, só penso em tudo que poderia ter feito de diferente, e em Charlie, no quanto estou magoado e no quanto ele me machucou.

—Sabe o que você vai fazer, Ethan?! -ele grita, me assustando enquanto abre as cortinas da suíte

—Pare com isso! -falo com irritação- Me deixe em paz.

—Você vai limpar essa sujeira do seu quarto, vai tomar a porra de um banho e vai ir para a academia, imediatamente. Quantas pizzas você comeu? Dez?!

A voz dele, alta e reverberante me deixa tonto. Sinto meu próprio hálito de álcool e torço o nariz. Minhas roupas também não estão em suas melhores condições. Faz quanto tempo que não tomo um banho? Pensar na água quente sobre mim me faz suspirar de olhos fechados.

—Quatro revistas te querem na capa. Duas marcas de cueca querem você no catálogo. O dinheiro não cai da árvore, sabia? Esse hotel é caro, não pode viver para sempre aqui, a não ser que esteja trabalhando, e seu trabalho não é moleza! Academia, comida saudável...

—Pare de falar, por favor! -grito com raiva e ele suspira- Já estou indo.

Caminho em direção ao banheiro e, enquanto isso, ele anota alguma coisa em um bloco de papel.

—Os horários das fotos estão aqui, o endereço também. Não sou sua babá pra ficar te levando, só marco os compromissos, entendeu?

Fecho a porta atrás de mim e logo em seguida ouço a porta do quarto batendo. Suspiro aliviado. Brent não é uma má pessoa e só é rude com modelos irresponsáveis, como eu. Ele precisa fazer o trabalho dele, e isso inclui me xingar por faltar compromissos e sair no meio de sessões de fotos já agendadas.

Tiro as roupas lentamente, sentindo meus membros moverem-se devagar e morosamente. Entro no box e ligo o chuveiro no quente. Minha pele reclama com a temperatura alta da água, mas ignoro. A fumaça logo deixa o banheiro úmido e abafado. Meu corpo agradece pela limpeza, ao mesmo tempo em que pede para eu diminuir a temperatura da água.

Lavo-me sem pressa, passando o sabonete por toda minha pele, gostando do cheiro doce de flores que ele exala e da sensação macia contra meus membros. 

Ao mesmo tempo em que meu corpo relaxa, meus pensamentos me levam para outro lado nada calmo. Lembro que Charlie demorou 5 dias para ir atrás de mim e me pedir desculpas pela traição. Não sei como ele encontrou o hotel em que estou, mas apareceu na minha porta, chorando.

—Não tive coragem de vir antes. -sua voz estava embargada e os olhos estavam vermelhos. Antigamente eu me comoveria com seu choro, mas na hora fiquei enraivecido.

—Por quê? Não consegue encarar seus erros? Acho que nunca te ensinaram a ser responsável por algo, não é? -eu estava tremendo e me controlei para não gritar

Ele parecia acabado. Os cabelos loiros estavam desgrenhados e embaraçados e vestia roupas que só usava dentro de casa, largas e antigas.

—Fui um idiota, agora eu sei. -nunca pensei que a voz dele poderia me irritar, mas naquele momento só quis que ele parasse de falar- Octave... -Charlie estremeceu ao pronunciar o nome- Éramos adolescentes quando namoramos, na França. -me irritei ao constatar que o sotaque dele ainda me dava arrepios de alegria

—Não quero que você tente justificar nada. Não suporto saber que enquanto eu estava trabalhando, algo que você não sabe o que é, -ver a mágoa em seus olhos me machucou, mas ao mesmo tempo me senti melhor- você estava com ele, embaixo do meu nariz. Eu nunca tive nada, sempre corri atrás de você e, quando consegui algo, você começou a agir como a criança mimada que é.

As palavras escaparam. Não tentei consertá-las. Ele chorou e pareceu desesperado, machucado. Não sabia o que me dizer, então acho que desistiu de tentar conversar.

—Me desculpe. -limpou o rosto, que estava vermelho, na manga do moletom, virou as costas e saiu cabisbaixo

Fiquei na porta, tremendo de raiva, tristeza e arrependimento. Ele mereceu, mas eu nunca fui maldoso, sempre me controlei. Não gostei da pessoa que me tornei ao xingá-lo, mas não podia voltar atrás.

Só percebo que fiquei vários minutos embaixo do chuveiro quando meu celular toca na pia do banheiro. Saio com rapidez, enrolado em uma toalha qualquer, e a mensagem me deixa um pouquinho feliz. Charlie desistiu de me enviar mensagens, visto que ignorei todas que ele mandou, mas Kanaam continua sendo meu melhor amigo, depois de tudo.

"Oi Ethan! Você pode jantar aqui em casa amanhã? Owen está insistindo em te conhecer, e me disse que já te conhece de várias propagandas espalhadas pela cidade. Também estou com saudades!"

A cada dia que passa penso mais no quão melhor teria sido se Kenny fosse meu namorado, e não Charlie. Talvez eu estivesse feliz agora.

Não o incomodo mais como antes, prefiro ficar sozinho e descontar na bebida minhas mágoas, mas continuamos conversando amigavelmente. Ele é o tipo de amigo que se preocupa, que pergunta como estou, que é sincero e gentil. A diferença entre ele e Charlie é gritante e fico chateado por não conseguir deixar de compará-los.

Releio a mensagem e penso em Owen. Não o conheço, mas Kenny só o elogia e parece feliz, de um jeito radiante, como nunca o vi antes, só ao falar dele. Quando leio o "aqui em casa" me sinto um pouco triste. Ele tem um lugar para chamar de casa, mesmo que divida com o namorado, e eu só tenho esse hotel. Nada mais, ninguém mais.

Respondo rapidamente sua pergunta.

"Me espere amanhã então. Abraços, também estou com saudades."

Penso se não pareço rude com frases tão sucintas, mas não me importo mais, não estou no clima para fingir alegria.

Suspiro e aperto o botão de enviar. Olho para a cama e ela parece convidativa, mesmo bagunçada, mas ouço a voz de Brent gritar em meus ouvidos e reviro os olhos com resignação. Preciso ir para a academia e pedir para o serviço de quarto limpar as coisas por aqui.

Não tenho mais tempo para pensar em Charlie, ao menos por enquanto.

______

Owen é melhor do que eu esperava. Por vezes o observo, enquanto não está olhando, tentando entender como uma pessoa pode combinar tanto com Kanaam. Ele é simpático, gentil, extrovertido, amigável... e bonito, claro.

Há mais pessoas no apartamento, mas não consigo socializar com elas. Sinto um toque em meus ombros e, quando me viro, vejo os olhos verde-oliva de Kanaam. Seu sorriso o deixa ainda mais bonito e a camisa de botões azul ressalta a cor de seus olhos. Por uns segundos me perco nas hipóteses em minha cabeça, mas desisto delas rapidamente. Não quero magoá-lo e nem usá-lo, só quero que ele seja feliz.

—Estou feliz que tenha vindo!

Kenny parece outra pessoa. A timidez ainda está aqui, mas ele tornou-se mais aberto e mais relaxado na frente dos outros. Sorrio e levanto minha taça para brindar.

—O apartamento é bonito e a comida está deliciosa! -o vejo corar e rio ao perceber que ele ainda fica vermelho por coisas bobas

—Obrigado, Ethan. -ele senta-se ao meu lado e suspira, o cotovelo encostado ao meu

Ficamos em silêncio, sem saber o que dizer. Ele sabe que estou triste, mas não quero estragar a noite falando sobre mim.

—Vocês dois combinam. -murmuro

—Concordo com você. -sua risadinha me deixa alegre

E o silêncio, novamente. Mesmo que as pessoas a nossa volta estejam conversando, ficamos constrangidos, sem saber o que dizer.

—Você cozinha melhor do que Charlie.

Não sei porque digo aquilo. As palavras escapam e me sinto um idiota por tê-las dito. Sinto sua mão tocar meu pulso e pressionar de leve. Nos encaramos diretamente e Kanaam suspira.

—Ele não apareceu mais? -sua voz calma me tranquiliza e respiro fundo

—Não. Não quero ir atrás dele, mas estou preocupado.

—Tenho certeza de que ele está bem. Caso contrário a mãe dele já estaria gritando na porta do seu hotel.

Nós dois rimos alto. Nossas pernas estão encostadas por baixo da mesa. Kanaam parece brilhar no meio da sala, ao meu lado. Sinto a felicidade emanar dele. Amo-lhe ainda mais ao saber que ele não quer se gabar de nada e que não quer me deixar constrangido ao falar sobre sua própria felicidade.

—E seus pais? -mudo de assunto, não querendo monopolizar a conversa

—Estão bem, consegui comprar passagens para eles virem me visitar essa semana.

—É seu aniversário sexta, não é? -arregalo os olhos ao lembrar e ele ri

—Sim, eles virão sábado.

—E... Owen?

Ele entende minha pergunta. Seus pais não sabem de nada. Kanaam fica tenso ao meu lado. Arrependo-me da pergunta, mas ele começa a falar com tranquilidade.

—Não quero mentir para eles, vou ser sincero. Já tenho minha vida agora, um emprego.

—Emprego? -arqueio as sobrancelhas com a novidade e ele sorri encabulado

—Sim, estou dando aulas de inglês para crianças.

Sorrio ao imaginar a cena, e não fico surpreso por ela combinar com Kanaam. A presença calma e  a voz tranquilizante o transformam em um professor qualificado e dedicado. Parabenizo-lhe com um abraço apertado. O cheiro dele, de ervas e tempero, me traz recordações da escola, das comidas que a mãe dele fazia, e fecho os olhos, perdendo-me nas lembranças, mesmo que por alguns segundos.

—Cheguei em uma má hora? Ou boa? -somos interrompidos pela voz de Owen

Kanaam se levanta e o abraça logo em seguida. Eu me levanto e tusso baixinho, ouvindo as risadas dos dois. Owen aperta minha mão em um cumprimento rápido e tento ser simpático com ele.

—Devo dizer que suas fotos estão fazendo sucesso no metrô. -ele ri- Quando Ken me disse que tinha um amigo famoso eu disse que precisava te conhecer! -ele me dá dois tapinhas nas costas.

—Ainda não me acostumei a ver meu rosto por toda a cidade.

—Imagino como deve ser estranho. Mas sendo sincero, Ken fala de você o tempo todo e tem várias histórias para contar.

Aquele apelido "Ken", em seus lábios, me deixa um pouco desconfortável e não sei por quê. Também não sei se ele está sendo irônico ou sincero. Seus olhos castanhos revelam pouca coisa, apenas uma personalidade direta e amigável.

—Não contei nada de ruim, Ethan.

—Isso eu tenho que concordar! Mas contou o suficiente pra me deixar com um pouquinho de ciúmes. -ele pisca para mim e rio com nervosismo, coçando minha testa

Kanaam se afasta para cumprimentar mais alguém que chega e caímos num silêncio desconfortável.

—Você tem muita influência sobre ele. Ken poderia falar de você por horas. Quando ele começa não gosto de interrompê-lo porque ele é a pessoa mais incrível que já conheci. -seu olhar parece perdido, admirando Kenny ao longe e eu sorrio ao tomar o último gole da taça

—Ele é a melhor pessoa que eu conheço, você é sortudo.

—Eu deveria me preocupar?

Sei o que quer dizer. Que eu sou uma ameaça. Não nos olhamos enquanto conversamos, parecemos dois desconhecidos falando sobre algo secreto enquanto olhamos para a parede.

—Não. Eu o amo como amigo. Se eu pudesse voltar no tempo as coisas seriam diferentes, mas estou feliz por ele. Vocês combinam. Não o magoe, ele não merece. -sussurro a última frase

—Não irei. Você parece ser um cara legal, Ethan. -ele finalmente me olha e sorri com sinceridade

Não respondo, porque não sei mais que tipo de cara eu sou.

______

Isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. Encaro minha mãe como se ela fosse de outro planeta. Agarrada em sua saia está minha irmã, que agora deve ter 5 anos. Fico olhando de uma para a outra, esperando que digam alguma coisa.

Minha mãe parece mais velha, com marcas de expressão pelo rosto, mas continua bonita e com os cabelos cacheados.

—Mãe?

—Meu filho, faz tanto tempo que não te vejo!

Franzo o cenho com irritação. Todo esse tempo ela não se importou comigo e só está aqui porque de certo me reconheceu em alguma revista.

—O que veio fazer em Nova York? -pergunto, como se não soubesse a resposta

—Eu vim te ver. -ela sorri- Sei que passamos muito tempo longe, mas...

—Você nunca se importou comigo, por que está aqui?

—Eu tinha que cuidar da sua irmã! -ela está tremendo enquanto passa os dedos pelos cabelos pretos de Mary, que parece alheia à nossa discussão

—Só desculpas. Eu me virei sozinho todos esses anos, não é agora que preciso de você.

Vejo como a magoo, mas ela não merece minha pena. Havia me deixado sozinho e me disse que eu precisava ser homem e me virar. Foi o que eu fiz. Mesmo que seja tentadora a ideia de ter uma mãe presente, não preciso de mais estresse em minha vida. Sei que ela está aqui com segundas intenções.

—Já que... Você não me quer aqui, -ela diz com a voz embargada- Podia ao menos pagar nossas passagens de volta? Ou mostrar a cidade para sua irmã? Ela está tímida, mas queria muito te conhecer.

A última vez que a vi ela era um bebê. É como um beco sem saída, estou encurralado. Mary me olha com os olhos azuis arregalados, não sei se de medo ou alegria por me ver. E então eu cedo, sem saber o que estou fazendo com a minha vida.

______

Paguei o almoço, um sorvete para Mary e comprei algumas recordações de Nova York para minha mãe. Comprei as passagens e me despedi delas, dei um abraço apertado em Mary e lhe comprei um videogame portátil antes de pagar um hotel para ficarem até o voo sair.

Eu poderia ter uma família se quisesse, não? Apenas teria que aceitar o fato de que minha mãe só estaria perto de mim pelo dinheiro, e eu não quero fazer isso.

Enquanto caminho algumas pessoas me param para tirar fotos; recuso com delicadeza alguns pedidos e cedo a outros, sem querer ser antipático. Imagino como minha expressão deve estar: cansada e com olheiras.

O hotel não é longe e apresso o passo para chegar lá sem mais importunações. Ao entrar no saguão fico surpreso ao ver Charlie ali, sentado e olhando para o teto. Não gosto da pontinha de felicidade que se espalha por meu peito só por vê-lo e tento me controlar para não ser idiota ao ponto de perdoá-lo. Quando ele me encara seu rosto se ilumina e ele se levanta, caminhando em minha direção. É como se tambores estivessem batendo no lugar do meu coração. Engulo em seco, perguntando-me se ele não conseguiria ouvir o que causava em mim apenas com uma aproximação.

Afasto-me alguns passos, certo de que ele vai me dar um abraço, mas é inútil. Seus braços estão em meu pescoço, seu rosto em meu peito e o cheiro do shampoo de morango em seus cabelos me deixa quase desorientado. Eu quero beijá-lo, segurar o rosto dele e tocá-lo para ter certeza de que é real. Quero voltar no tempo, fazer tudo diferente, mesmo que eu não tenha feito nada errado. Então as palavras saltam, me relembrando do que ele fez e sinto raiva. Ele me traiu, ele foi egoísta, mesquinho. Afasto-lhe com rapidez, tentando controlar minha expressão.

—O que você quer?

—Ethan, faz tempo que não te vejo. -ele murmura

Meu Deus, ele é lindo... O jeito como os olhos azuis brilham, grandes, implorando para que eu fale algo. Não consigo desviar o olhar por vários segundos, sentindo meu peito aquecer com aquela proximidade.

—Por que está aqui?

Uma parte minha, idiota e fraca, implora para que eu o perdoe. Eu o amo e não devia, porque ele não é uma pessoa boa, ele oscila entre o bom e o mau, pendendo mais para o último lado. Mesmo assim ele parece vulnerável, irresistível, pequeno e lindo como um anjo.

—Vim te convidar para a minha formatura. Mandei um para Kanaam também. -ele sorri com tristeza e tira um convite do bolso da calça, o estende para mim com lentidão, com medo de que eu o rasgue ou o xingue

—Seu namorado vai estar lá? -vejo um lampejo de irritação em seu olhar, mas ele respira fundo enquanto eu analiso o papel

—Ele não é meu namorado. Não, ele está ocupado com outro garoto.

Encaro-o rapidamente e dou uma risadinha irônica que eu raramente dou. Ele sorri com amargura.

—Sabia que isso ia te deixar feliz. -murmura com tristeza e olha para os próprios pés

Não falo nada e viro o convite em minhas mãos. Ele está triste, mas será que é por causa de Octave? Por que ele o deixou? Além do mais, ele tinha esperanças de ficar com Octave?

—Você está triste porque ele te deixou? -Charlie me olha com o cenho franzido

—Não! Estou triste por que estou longe de você, e por tudo que eu fiz. -sua voz sai baixa e mansa, de um jeito que nunca ouvi- Octave foi um erro, quis te magoar com ele, porque você não estava me dando atenção. Sei que isso é idiota e mesquinho, não sou mais uma criança pra querer atenção.

—Mas age como uma. -acrescento num murmuro- Vou ver se tenho tempo para ir.

—Ethan... -Charlie segura meu pulso com hesitação- Eu prometo que farei o que você quiser se voltarmos a namorar.

Pisco, sem acreditar no que ouvi. Suas bochechas estão vermelhas e percebo o quanto ele deve ter deixado o orgulho de lado para falar aquilo. Charlie parece tenso e ansioso.

—Tchau, Charlie.

Minha mente grita para que eu faça o que ele quer, para que eu o perdoe aqui e agora, o beije, o leve para o quarto e o ame lá, mas já aprendi a ignorar esses desejos que só mostram o quão fraco sou. Viro as costas e caminho até o elevador. Quando entro, o vejo lá, parado, me olhando com tristeza. Meu coração aperta ao vê-lo acenar.

KANAAM

Os gritos deles me deixam um pouco zonzo, mas respiro fundo antes de dar prosseguimento à aula. Enquanto escrevo no quadro, penso em Ethan e no quão abatido ele parece toda vez que nos vemos.

Estou preocupado com ele. Charlie o traiu e desde então sei que ele tem bebido mais do que o normal. Não posso imaginar o que Ethan sentiu ao ver Charlie com o ex namorado. Fecho os olhos por um instante, respirando fundo e tentando não sentir tanta tristeza por ele. Ethan não mereceu aquilo, foi egoísta da parte de Charlie exigir tanto dele logo no início da carreira.

Sei que Charlie nunca se preocupou com essas coisas, com trabalhar duro e com dinheiro, mas para Ethan isso sempre foi importante porque nunca quis depender de ninguém. Admiro-lhe por ser tão esforçado e ter conseguido chegar onde chegou. Não acho que a culpa tenha sido sua, porque ele não queria acabar com uma carreira que havia recém começado, era perigoso assumir um relacionamento logo no início, publicamente. Charlie só precisava ter sido mais paciente...

As crianças parecem terem sentado em suas classes finalmente e gosto do silêncio e concentração delas ao copiarem as palavras do quadro-negro. Os únicos barulhos que ouço são dos lápis deslizando pelo papel e das borrachas sendo esfregadas sobre as linhas dos cadernos. Termino de escrever no quadro e sento-me, observando-os terminarem de copiar.

Passo tempo demais preocupado com Ethan, como sempre, quando eu devia dedicar-me apenas a Owen e ao meu trabalho. Minha mente sempre divaga e volta ao passado, ao beijo, à nossa proximidade... E então volto para a realidade, sabendo que Owen não parece feliz com a proximidade que tenho com Ethan. Por vezes ele me alfineta com ciúmes, mas nada sarcástico, apenas de brincadeira. Sinto que estamos caminhando para um desentendimento, porque sempre fomos muito calmos e nunca brigamos, no entanto agora temos um motivo para discutir. Não quero brigar, só conversar, porque nunca foi do meu feitio gritar ou discutir com os outros.

Ele sabe que Ethan é importante para mim, mas tem medo de que ele esteja se tornando tão importante quanto antigamente; eu compartilho desse medo. Anda amo Ethan, mas não é algo tão forte assim. Quando o vejo em cada revista, ou mesmo pessoalmente, meu coração ainda acelera e sinto um friozinho na barriga.

Meu celular vibra dentro da bolsa e o pego rapidamente, observando que os alunos continuam concentrados no quadro negro.

"Chegamos no hotel , Kali está com saudades, nunca vimos tanta gente em um lugar só!"

Rio com a mensagem de minha mãe e lembro de como eu tentei me acostumar nos primeiros dias com os barulhos e a quantidade de gente em Nova York. Em seguida recebo outra mensagem de Owen, que vem com uma foto dele anexa, de terno. Sorrio largamente ao analisar sua aparência. Ele fica bonito de qualquer jeito, ainda com com uma barba rala crescendo por seu rosto.

"Acha que seus pais vão gostar de mim?"

Essa é uma pergunta difícil. Fico nervoso, pois não sei como meus pais vão reagir. Eles não sabem sobre meu relacionamento com Owen, nem ao menos sabem que gosto de homens. Suspiro e mordo os lábios com hesitação. Sei que tenho que contar e hoje é o dia. Murmuro um mantra baixinho, controlando minha respiração, e dou continuidade à aula.

______

O restaurante que escolhi é especializado em comida indiana e é meu jeito de deixá-los confortáveis em uma cidade tão diferente das nossas tradições.

Minha mãe está vestindo uma bata com estampas coloridas, típicas da Índia, e uma calça da mesma cor da blusa. Meu pai optou por uma roupa mais neutra, um terno na cor bege. Enquanto isso Kali, minha irmãzinha, veste um sari que a deixa mais adorável ainda. As vestimentas e os perfumes deles me transportam para minha infância, para nossa casa no interior, para o altar dos deuses hindu e quase consigo sentir o cheiro do incenso doce que acendíamos todos os dias.

Owen aperta minha mão por baixo da mesa, me trazendo de volta dos meus devaneios. Percebo que minha mãe o olha com desconfiança, enquanto meu pai come um prato muito conhecido em nossa casa: a versão vegetariana do Rogan Gosht, carne de soja ao molho de cebolas. Owen também parece estar gostando das comidas, pois não para de morder uma samosa atrás da outra.

Minhas mãos estão suando e tento secá-las em minhas calças antes de começar a falar.

—Estão gostando de Nova York? -sorrio, incentivando-os a falar

—É muito barulhento! -meu pai fala com o cenho franzido- Mas aqui tem de tudo, nunca vi tantos indianos em um lugar só.

—Os hambúrgueres da mamãe são melhores que os do McDonald's. -minha irmã torce o nariz e todos rimos com a comparação

—Kanaam faz os melhores hambúrgueres que já comi, preciso provar o seu para decidir qual é melhor, sra. Havesh.

Owen é tão educado e simpático que minha mãe não consegue encontrar nada de ruim para falar e apenas sorri. Enquanto isso tomo coragem para contar o motivo por trás do jantar.

—Mãe, pai, preciso contar algo. -nunca estive tão nervoso e com tanto medo antes

Eles sabem que moro com Owen, mas não sabem que somos namorados. Nós nos encaramos, eu e ele, e vejo um brilho em seu olhar que me dá a coragem necessária para continuar a falar.

—Owen é meu namorado.

O silêncio não me deixa surpreso, apenas incomodado. Não consigo olhá-los diretamente. Nunca senti tantas emoções ao mesmo tempo. A palma das minhas mãos suam, meus pêlos arrepiam-se por todo o corpo. Kali me encara sem entender nada e sorrio sem graça para ela, sem saber o que dizer.

Meu pai tosse baixinho e minha mãe limpa a boca em um guardanapo. Owen aperta meu joelho por baixo da mesa, tentando me tranquilizar e me fazer lembrar de que ele ainda está aqui comigo.

—Não esperávamos isso. -ela murmura sem encarar-me

—Você é nosso único e primeiro filho, Kanaam. Como vai continuar com nossa família? Quando eu morrer quem vai sustentar Kali e a sua mãe?

Alguns arrepios de tristeza percorrem meu corpo e fico tenso na cadeira. Já imaginava que ele ia reagir assim, mas mesmo assim eu tinha esperanças. Suspiro profundamente, sabendo que tudo que ele diz é por conta da tradição indiana, que diz que o filho homem deve prover a família após a morte do pai; também somos encarregados de administrar os negócios e herdar todo o patrimônio dos pais.

Não consigo olhá-los, por mais que eu tente. Percebo que Owen está um pouco tenso ao meu lado. Ele talvez esteja se segurando para não discutir com meu pai, mas não me importaria se o fizesse.

—Kanaam, acho que fizemos mal em virmos aqui. -minha mãe se pronuncia com um suspiro de resignação- Viemos para os Estados Unidos procurando um lugar melhor para criar nossos filhos, mas talvez as tradições daqui sejam muito incompatíveis com nossa cultura. Nova York pode ter essa influência na cabeça dos jovens. -ela parece desapontada

Não falo nada, apenas sinto meus olhos arderem e encherem-se de lágrimas. Olho para meus pés, sem coragem de olhar para ninguém. Não fico surpreso ao perceber que eles estão se levantando para irem embora.

—Desculpe por fazer vocês virem até aqui. -murmuro baixinho

—Vocês vieram ver o filho de vocês e vão embora assim? Por quê? -Owen diz ao meu lado, sem aumentar o tom de voz, de maneira calma e educada- Ele estava ansioso pela visita de vocês, com saudades. Não se importam com o que ele sente, só com o que ele é?

Ele comprime os lábios e levanta-se. Meu pai está nervoso, porque seus dedos estão apertados nas palmas das mãos. Kali não está entendendo nada e me olha com confusão.

—Conversaremos depois, Kanaam.

Aquelas palavras sempre me deixaram com medo e agora não é diferente. Não percebo quando eles vão embora e, só após alguns minutos, sinto as lágrimas escorrendo por minhas bochechas. Owen aperta meus ombros numa massagem reconfortante e o abraço com força.

Algumas pessoas do restaurante nos olham com pena, outras com confusão.

—Vamos para casa. -ele sussurra em meu ouvido

Não discuto e nem digo nada, perdido demais em meus pensamentos para ouvi-lo. Não esperava que fosse acabar da melhor forma, mas também não tinha ideia de que iria acabar da pior forma.

______

Mesmo que eu tente puxar algum assunto, Ethan não parece interessado na conversa. Ele tem um ar distraído, preocupado, e, por isso, desisto de tentar conversar. Dou uma garfada em meu pedaço de bolo com calda de chocolate, feito por mim

É a primeira vez em dias que o vejo comer algo com vontade. Ethan também parece mais magro que o habitual, mas acho que é por causa do emprego, que exige um físico desse tipo. Paro de reparar nele, corando um pouco ao pensar no que estava fazendo, lembrando que Owen chegará a qualquer momento.

—Então seus pais simplesmente saíram do restaurante?

—Sim, e minha mãe ligou para dizer o quão desapontada comigo ela estava. Nem perguntou sobre meu trabalho.

Ainda estou tentando assimilar o que aconteceu dias atrás, mas as expressões faciais incrédulas dos meus pais ainda me deixam com vergonha, como se eu tivesse feito algo ruim, como se eu fosse culpado.

—Eles precisam de um tempo para pensar nisso, Kenny. Deve ter sido um choque para eles. Não estou defendendo o que fizeram, mas com toda tradição, ter vindo da Índia, deve ter sido difícil processar a notícia.

—Eu também vim da Índia. -rio baixinho- Mas concordo com você.

Alguns momentos de silêncio pairam sobre nós enquanto comemos. Estou surpreso com minhas habilidades para sobremesas, tanto que não paro de mastigar meu bolo como se cada garfada fosse a última. Ethan ri com a boca cheia e acabo sorrindo também. Os olhos azuis dele parecem cansados, mas em momentos como esse consigo ver o mesmo brilho de quando estudávamos juntos.

Seus cabelos também estão mais compridos, quase no ombro. Os piercings da orelha e da sobrancelha nunca mais apareceram, mas consigo ver parcialmente a tatuagem de águia no antebraço esquerdo, embaixo da manga do suéter verde que ele veste.

—Tem falado com Charlie? -entro no assunto delicado

—Ele me convidou para a formatura dele.

—Sim, me convidou também, esqueci de te dizer.

—Cada dia fica mais difícil longe dele. -ele suspira, larga o prato na mesa central e recosta-se no sofá

Tento parecer interessado, mas suas palavras ainda mexem comigo e, por mais que eu tente não sentir nada, um arrepio passa pelo meu corpo ao ouvi-lo falar sobre Charlie de uma maneira que sempre quis que fosse sobre mim. Respiro fundo, mandando os pensamentos para longe, porque sentir ciúmes, ainda mais de Ethan, não combina mais comigo.

—Eu sei que ele errou, que me traiu, mas mesmo assim quero perdoá-lo. Sou um idiota, não? -ele sorri com tristeza

Inclino-me, sorrio e seguro sua mão. O toque é sincero e delicado, sem nenhuma intenção senão a de confortá-lo.

—Não, você só é bom. Se você o ama não perca tempo fingindo o contrário. Conversem e resolvam isso logo, Ethan.

Ele aperta minha mão com carinho e sorri com gentileza. Sinto meu rosto esquentar com seu toque carinhoso.

—Não me cansaria de dizer o quão incrível você é, Kenny.

Estou perdido demais em seus olhos azuis, na sua boca curvada num sorriso, nos cabelos que caem pelo ombro, distraído demais com seus traços bonitos para ouvir a porta da frente batendo. Ethan se assusta com o barulho e tiro minha mão da dele rapidamente, vendo que Owen nos encara com um sorriso estranho no rosto. Em suas mãos há sacolas plásticas que parecem pesadas.

—O que você comprou? -tusso baixinho, envergonhado, me perguntando se ele viu nossas mãos

—Sucos naturais, verduras, frutas, vegetais e carne para mim, porque estou com vontade de comer.

Ele havia parado de comer carne por 2 semanas por minha causa, mas não fico chateado com a notícia. Owen pode comer o que quiser, ainda mais na própria casa, e fico feliz apenas por fazer minha própria comida e dar dicas de preparo para ele.

—Não sabia que você viria, Ethan. -ele arqueia as sobrancelhas conforme guarda as compras na geladeira

Não acho mais estranho vê-lo de terno, pelo contrário, combina demais com ele e com o novo curso de direito. Além disso, agora que está trabalhando em um escritório de advocacia, Owen precisa vestir-se desse jeito. Ele é bonito de qualquer jeito. Ver os dois no mesmo aposento ainda me dá um friozinho na barriga, sem motivo aparente. É inevitável compará-los, mesmo que por alguns minutos... Ethan é mais alto e tem um porte mais atlético enquanto Owen é mais robusto e possui ombros mais largos.

—Estava voltando de uma sessão de fotos e decidi passar para ver como Kenny estava, mas vou indo agora.

—Só por que cheguei?! Kanaam fez um bolo para você? -ele arregala os olhos ao ver o bolo em cima do balcão da cozinha e sorri- Não é todo mundo que recebe um doce dele.

—Eu estava com medo que desse errado. -protesto com as bochechas quentes- Por isso esperei você sair para fazer.

—Você estava com vergonha de errar um bolo na minha frente? -Owen gargalha e inclina-se por cima do encosto do sofá para dar um beijo estralado na minha bochecha

Rio baixinho, sentindo-me melhor com a presença dele. Ethan levanta-se, me olha, um pouco nervoso, depois encara Owen.

—Preciso passar na academia agora, ordens do Brent. Até mais, Kenny, me ligue se precisar de algo.

—Eu te levo até a porta! -Owen diz, animado

Suspiro profundamente e tento me acalmar ao notar o quão rápidas estão as batidas do meu coração. Ouço a porta fechar e caminho até a cozinha, curioso para saber o que mais ele havia comprado.

—Atrapalhei alguma coisa quando cheguei?

A voz dele é baixa e percebo um pouco de nervosismo nela. Franzo o cenho e me viro para olhá-lo. Ele parece desolado, não me olha e não sabe o que fazer com as mãos. Sei que deve ser difícil para ele, eu sei, e não quero de jeito nenhum vê-lo dessa maneira. Relaxo minha expressão e me aproximo, beijando-o nos lábios com doçura.

—Não, ele estava me contando que ia reatar com Charlie na hora que você chegou.

—Certo.

Não gosto do clima na sala. Owen está estranho e não quero brigar, mesmo achando que é algo inevitável em qualquer relacionamento. Nós dois somos calmos o bastante para conversarmos sobre nossos problemas.

—Owen, não fique assim... -murmuro baixinho

—Eu amo você.

Sua fala me atige com força e sou obrigado a respirar lentamente ao me situar, entendendo-a com dificuldade. Seus olhos analisam meu rosto com ansiedade e não sei como reagir à suas palavras. É a primeira vez que Owen diz isso, é importante para ele e posso notar por sua expressão. Então por que não respondo?

Vejo sua expressão desfazer-se aos poucos, de ansioso para decepcionado.

—Eu também te amo. -digo baixinho, sentindo meu coração doer

Não minto, jamais mentiria sobre isso, mas meu amor por ele não é intenso ou doloroso como por Ethan. Ouço a mentira em meus lábios enquanto ele me olha e dá um sorrisinho fraco.

—Mas de um jeito diferente, não é? -Owen recomeça a guardar algumas frutas na geladeira

—Não. Você sabe que Ethan é importante para mim, mas... -suspiro com nervosismo- Ele tem Charlie. E eu tenho você.

Ele franze o cenho com confusão e sinto meu coração acelerar. Quero chorar, porque ele não me merece. Estou sendo uma péssima companhia e um péssimo namorado. Estou mais nervoso do que nunca e vejo minhas mãos tremerem na minha frente.

—Se ele não tivesse Charlie você estaria com ele?

A pergunta me deixa incrédulo e ele engole seco ao me encarar, sustentando meu olhar. Seguro-me na cadeira, tentando parar de tremer, mas não paro. Ele vê a mágoa em meu olhar e suaviza a expressão.

—Me desculpe, Ken, não quis dizer isso. Estou sendo idiota. Não devia ter te cobrado um eu te amo. -ele se aproxima e me abraça

Estou triste porque Ethan ainda é importante demais para mim e Owen não merece isso. No entanto, não posso nem quero deixá-lo. Eu o amo, amo sua companhia, sua voz, seu toque, sua calma e a tranquilidade desse apartamento. Fecho os olhos e inspiro o perfume dele, com medo de perdê-lo. Afasto Ethan de meus pensamentos o máximo possível, mas o sorriso fraco dele ainda brilha em minha mente como uma placa neon.

—Tudo bem. -sussurro

Owen tenta me animar, fazendo alguma piada com o bolo que fiz, mas não ouço direito, perdido demais em pensamentos para rir. Estou decepcionado, triste comigo mesmo e chateado com Owen. A imagem dos olhos azuis e do sorriso largo de Ethan ainda pairam sobre mim, mas desisto de mandá-la para longe. Estou cansado.

CHARLIE

O rosto do espelho é triste, mas não passo muito tempo me olhando, porque já estou acostumado com esse novo eu. Estou com olheiras horríveis e dores nas costas de tanto cozinhar. As provas finais já aconteceram e agradeço por terem passado tão rápido. Aliás, tudo aconteceu muito rápido.

Mesmo assim Octave não desiste de tentar me fazer ficar com ele. As mensagens são quase diárias, mas não respondo, não desde que o vi aos beijos com um garoto da minha faculdade. Não sei no que estava pensando ao ficar com Octave. Tudo bem, eu estava irritado com Ethan, por não querer assumir nosso relacionamento, mas eu esperava o quê? Ficar com Octave, o cara que nunca foi fiel a nada nem ninguém? Pensar nisso me faz constatar no quanto não quero ficar igual Octave. Só quero melhorar, tentar não cometer tantos deslizes, e quero tudo isso com Ethan, porque o amo demais.

Demorou muito tempo para eu admitir meus sentimentos, mas agora já não me importo mais em declará-los. Passei muito tempo sem coragem de verbalizá-los para Ethan e me arrependo amargamente disso. A distância entre nós foi o suficiente para me mostrar o quanto o amo.

Minha mãe me dá um beijo na bochecha e sorri para mim, tentando me encorajar. Ela ajeita minha gravata, feliz com a formatura.

—Você acha que ele vai estar lá? -ela torce o nariz para a pergunta

—Octave talvez vá.

—Você o convidou?! Mas eu convidei Ethan! -entro em pânico com a possibilidade de um encontro entre os dois

—Eles que se resolvam.

—Octave não quer nada comigo, mãe, pare de insistir nisso! É Ethan quem eu amo.

Mesmo que nos últimos dias do nosso namoro ele tenha se mostrado irritante eu ainda o amo. Não gosto de pensar que o magoei tanto. Não era para ele ter nos pego. Octave e eu iríamos acabar antes mesmo de terminar, não iria para frente, mas ele nos viu... Fui um completo idiota. As pessoas me dizem que eu deveria me colocar no lugar dos outros, mas é difícil para mim. Às vezes acho que sinto muito pouca empatia e talvez esse seja meu problema, a razão de eu ser egoísta desse jeito.

—Se eu voltar com Ethan você vai tratá-lo direito, ouviu? -estreito o olhar

—Ahan -ela resmunga- Seu pai está te esperando lá embaixo.

Meus pais passam o caminho todo conversando animadamente. Eu não estou feliz, estou ansioso. Quero me formar logo, quero ver Ethan, e ajeitar nossa relação. Mesmo que eu não saiba como mudar meu comportamento eu preciso tentar ou vou perdê-lo. Também não quero ficar sozinho.

Todos esses pensamentos me deixam nervoso demais.

—Seu pai tem uma surpresa pra você! -minha mãe fala, quase cantarolando

Meu pai tira do bolso do paletó um papel e me entrega. Fico confuso e analiso o texto ali escrito. Meus olhos vão aumentando conforme começo a ler, a decifrar aquelas palavras.

—Você comprou um restaurante pra mim?! -quase grito

—Sim! Já está reformado, pronto para um chefe usar.

—Obrigado, pai. -falo com carinho

É uma surpresa incrível e me deixa emocionado. Minha mãe pisca para mim e respiro fundo ao ver que estamos quase chegando. Não consigo parar de sorrir. Espero que Ethan esteja lá, caso contrário me sentirei ainda mais sozinho do que já estou.

E Kanaam? Será que ele vai, ou está com raiva de mim? Acho impossível para ele odiar qualquer coisa, e relaxo com o pensamento. Quero que ele vá, pois talvez sua presença possa me tranquilizar.

______

Não os vejo e começo a ficar chateado e irritado. Desisto de procurar naquele mar de pessoas se abraçando e rindo. Não encontro nem meus pais. O auditório parece estar lotado e o ar condicionado deve estar estragando, porque estou suando demais.

Recebo alguns abraços de colegas e os retribuo sem muita vontade. Eles não virão. Sinto meus olhos começarem a marejar com as lágrimas conforme caminho para fora, para o ar livre. Estou preso e me sinto sufocado aqui dentro. Quando enfim consigo respirar fecho os olhos, sentindo a brisa leve do dia levantar meus cabelos.

Ao abrir os olhos vejo 2 pares de sapatos em minha frente. Levanto o olhar e vejo Ethan e Kanaam me encarando.

—Estamos atrasados? -Kanaam pergunta

—A cerimônia já acabou -não consigo tirar os olhos de Ethan

Ele está lindo demais. Suas mãos estão nos bolsos da calça do terno e ele não me olha diretamente, parecendo analisar o lugar. Sei que não mereço a atenção que queria dele, mas não a cobro, só por ele estar aqui fico feliz.

—Obrigado por terem vindo. -sorrio e abraço Kanaam

Não abraço Ethan, porque ele parece desconfortável e não tira as mãos dos bolsos. Olho para os meus pés e me sinto ridículo vestindo aquela toga. O que faço agora? Estou nervoso perto dele, sem palavras. Acho que nunca o vi tão bonito. Seus olhos azuis me olham de soslaio e sinto meu rosto esquentar. Eu o encaro com admiração e arrependimento, mas ele está sério.

—Ethan -Kanaam o cutuca- dê os parabéns ao Charlie!

Coço meu pulso com nervosismo, tentando pensar em algo para dizer.

—Parabéns, o que vai fazer agora em diante?

Suas palavras não saem grosseiras, mas me machucam mesmo assim. Quero que ele faça parte do meu futuro, é tão difícil perceber? Namoramos por tanto tempo que é desesperador estar longe dele.

Abro minha boca para falar sobre o restaurante, mas a fecho imediatamente, sem querer soar arrogante. Dou um sorriso amarelo e penso em uma resposta prática.

—Quero trabalhar em um restaurante. Nós podemos ir almoçar em algum lugar agora, o que acham? -sugiro rapidamente, ansioso por uma resposta positiva de Ethan

—Por mim tudo bem. Ethan? -Kanaam sorri e vejo que tenta acalmar o clima a nossa volta

—Pode ser.

Mando uma mensagem para meus pais e espero que eles não fiquem chateados com minha saída repentina. Tento pensar em algum lugar bom para comermos, mas só lembro de lanchonetes por perto.

—Me dão um minuto? Preciso tirar essa roupa. -não queria ir vestido daquele jeito

Ethan dá uma risadinha e meu coração acelera. Preciso que ele me perdoe. Eu faria qualquer coisa para beijá-lo e para sentir seus braços em volta de mim novamente.

______

Olho de um para o outro com um pouco de constrangimento. Kanaam sabe o que eu fiz e isso me envergonha ainda mais. Ele sabe e sempre soube como eu sou no fundo. Seu olhar, apesar de calmo e tranquilizador me deixa nervoso, porque acredito que ele tem uma capacidade grande para desvendar as pessoas.

Mexo meus pés com nervosismo embaixo da mesa enquanto nossos pedidos chegam. Não comento nada sobre Ethan ter pedido o hambúrguer mais gorduroso do cardápio, apenas o olho de soslaio e desvio o olhar ao perceber que ele também me encara seriamente. Será que ele não vai mais sorrir?

—E Dixie? -ele pergunta casualmente, reparando no lugar

—Está bem, comendo demais como sempre. -respondo sorrindo

Apesar de ser uma lanchonete, é uma lanchonete um pouco gourmet, que serve pratos de chefes famosos, da culinária contemporânea e moderna.

Agora que tenho um pouco da atenção dele tento pensar em algo para dizer, mas não consigo, com medo de estragar o momento.

—Tudo bem com o seu emprego? -pergunto timidamente

Ele suspira com resignação e senta-se de um jeito mais confortável no banco. Kanaam está tomando um milkshake e parece não querer intrometer-se na conversa. Reparo rapidamente que ele parece um pouco triste, mas não comento, dando mais atenção à Ethan.

—Tudo ótimo. -a resposta curta me deixa triste porque não sei mais o que dizer

Olho para Kanaam e ele arqueia as sobrancelhas, entendendo meu recado.

—Não pensa em fazer faculdade, ou um curso? Ou está feliz com o emprego?

A voz dele sai equilibrada como sempre, sem uma entonação negativa, apenas curiosa. Kanaam jamais seria capaz de ser malvado, nem com uma mosca. Respiro fundo e tento controlar minha respiração, que está acelerada sem motivo algum.

—Estou feliz com o emprego, ganho mais dinheiro do que se estivesse em um trabalho normal.

—Mas é um trabalho normal! -protesto e ele apenas me encara

—Você entendeu o que eu quis dizer. Tenho paparazzis correndo atrás de mim aos fins de semana.

Não falo nada e dou uma mordida em uma batata frita. Ethan começa a comer seu hambúrguer calmamente. Várias vezes nossos olhares se cruzam e sinto meu rosto esquentar a cada olhada. É como se estivéssemos no início do namoro novamente.

—Esse hambúrguer está bom, mas prefiro os seus, Kenny.

Estremeço com um pouco de ciúmes, mas fico calado, comendo minhas batatas. Vejo Kanaam corar e começo a me perguntar se eles não estiveram juntos nesse tempo em que estivemos separados. Fico irritado com o pensamento. Será que Ethan ficou com alguém? Não suporto imaginá-lo beijando outra pessoa... Mas então lembro quão hipócrita estou sendo.

Olhando-os, lado a lado, penso que eles completariam um ao outro totalmente se fossem namorados. Fico triste ao perceber isso, porque jamais serei como Kanaam. Ele é gentil, doce, calmo, enquanto eu sou explosivo e egoísta. Estou perdido em pensamentos do tipo, olhando para o vazio quando a voz de Ethan me traz para a realidade.

—Vou ao banheiro. -ele limpa a boca no guardanapo e levanta-se rapidamente

Ficamos sozinhos e estou mais nervoso do que estaria com Ethan. Kanaam me analisa com seriedade e respira fundo antes de começar a falar.

—Ele te ama, se é o que quer saber. Não acho que ele vai parar de te amar algum dia na vida. -ele sorri tentando me animar- Muitas pessoas vivem sem nunca experimentarem um amor como o de vocês, Charlie.

Não acho que ele ainda ame Ethan, ao menos não da mesma forma, mas sei que ainda há algo ali, escondido, à respeito dos sentimentos dele. Talvez ele prefira ignorá-los? Kanaam nunca foi uma ameaça para mim e me pergunto se isso tem a ver com o fato da minha arrogância não me deixar enxergar certas coisas. Comprimo meus lábios com irritação, tentando colocar no passado esse Charlie mesquinho, no entanto sei que as mudanças não são mágicas, elas precisam de tempo.

—Kanaam, desculpe não ser um amigo tão bom pra você como Ethan. Nunca fomos muito próximos, mas eu realmente gosto de você.

—Não gostei do jeito como o magoou.

Ele tenta ao máximo não soar irritado e o agradeço mentalmente por isso, porque nunca o vi usar um tom que não fosse calmo. Tenho certeza que começarei a chorar caso ele queira me xingar, mas sei que ele não é assim.

—Eu também não, agi como um idiota.

—Não pode esperar que ele te perdoe rápido.

Ele mudou muito. Analiso-lhe de perto e sorrio um pouquinho ao ver que ele fica constrangido. Ele está bem mais direto e menos inseguro. Será que tentaria algo com Ethan? Com esse pensamento fico um pouco em alerta com a proximidade entre ambos.

—Mas conhecendo Ethan acho que ele está pronto pra te perdoar. Só não o machuque novamente, ele está aprendendo a se virar sozinho. Agora ele finalmente tem o próprio dinheiro e consegue se sustentar, vocês precisam conversar sobre várias questões. -Kanaam suspira- Relações amorosas não podem se basear em hierarquia, vocês precisam ser iguais.

Sinto meu rosto esquentar ao perceber que aquela frase é direcionada a mim. Quando eu tinha tudo e quando eu reclamava, Ethan não falava nada, mas quando nossas posições se inverteram eu exigi demais dele. Não gosto de lembrar que eu estava com inveja.

Ouço passos em direção à mesa e Ethan logo volta e senta-se em seu lugar, seus olhos estreitos, sabendo que estávamos falando sobre ele.

—Acho que vocês precisam conversar. -Kanaam diz baixinho e levanta-se

Ethan o olha com confusão e sinto uma dorzinha ao saber que ele não quer ficar sozinho comigo.

—Kanaam?

—Sim, Ethan, vocês precisam conversar, porque se amam. Parem de perder tempo.

—Perder tempo?! -Ethan irrita-se- Ele me traiu.

Franzo o cenho enquanto sinto meu corpo tremer de irritação. Contenho meu ímpeto de brigar com muita força de vontade, porque quero me reconciliar com ele e não piorar as coisas.

—Sim, e Charlie já teve tempo de pensar sobre isso. -Kanaam sai rapidamente, sem olhar para trás

Ethan está irritado, vejo isso na maneira de sentar-se, de braços cruzados, tenso e reto no banco. Mordo meus lábios com nervosismo e olho para meus pés. Tenho que conseguir coragem para pedir desculpas novamente.

—Não aguento mais ficar longe de você, Ethan. Por favor, podemos resolver as coisas?

Ethan me encara com um sorriso irônico. Não gosto de vê-lo sendo sarcástico, não combina com ele, mas talvez ele esteja cansado e essa seja sua forma passivo-agressiva de se defender?

—Está sendo adulto agora?

—Tentando, por você. -respondo com um resmungo e sua expressão se suaviza

—Você não vai mais falar com Octave. Eu não vou aceitar mais sua mãe falando mal de mim. Vou pagar metade do aluguel. Vou continuar trabalhando como modelo e comprar um apartamento para mim. Não quero depender de você ou da sua família.

As frases curtas são ditas rapidamente, com uma expressão séria e concentrada. Ao final de suas palavras não contenho meu sorriso largo. Rio para mim mesmo com a resposta, entendendo que vamos voltar a ser namorados, voltar a ficar juntos. Ethan tenta continuar sério, mas um sorrisinho de canto escapa ao meu olhar. Ele ainda é o mesmo Ethan e ainda me ama. Sinto um alívio enorme e quase choro de felicidade.

—Podemos ir para meu hotel?

Franzo o cenho e rio alto, sem conseguir parar. Ele coça os cabelos com nervosismo. Eu também estou morrendo de vontade de beijá-lo. A certeza de que ele está comigo me deixa mais tranquilo e sinto uma alegria genuína só de olhá-lo. Como pude machucá-lo tanto? Tenho que pensar em me tornar alguém melhor por ele, mas agora só consigo pensar em beijá-lo.

______

A decoração do restaurante me deixa contente porque é simples e combina o conforto das poltronas com um ambiente agradável para um refeição. Olho com orgulho para todos os cantos do lugar, tentando encontrar algo para melhorar, mas não encontro. Está tudo perfeito.

Ethan me abraça e beija meu pescoço com carinho. Fecho os olhos com seu toque gentil e me viro para beijá-lo melhor. Fiquei tanto tempo sem ele que sinto vontade de tocá-lo e beijá-lo toda hora. Ele não reclama.

Seus dedos apertam minha cintura e me arrepio com seu toque, mesmo por cima da camiseta. Sua boca desce pelo meu queixo até meu pescoço e suspiro baixinho ao senti-lo pressionar os lábios em minha clavícula.

Envolvo seu pescoço num abraço carinhoso. Meu corpo inteiro está quente, ansioso por mais, mas há algo me incomodando. Gemo baixinho, sem saber de onde vem aquela dor, até que ela torna-se uma sensação de queimadura interna.

Afasto-me e me encolho um pouco. Minhas costas doem, mas deve ser por causa da cozinha, não? Tento ficar reto novamente, mas dói demais. É uma pontada funda e dolorida na base das costas.

Ethan para de me beijar e me olha com preocupação, em seguida segura minhas mãos e me olha diretamente. Tento pronunciar alguma palavra, mas nada sai. Minha visão fica turva e, de repente, tudo se apaga. A última coisa que vejo são os braços dele me segurando.

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