Capítulo X ( pt.1 )
Já faz duas semanas que eu e o Rodrigo começamos a nos conhecer melhor, e eu estou achando que não foi uma boa ideia dar uma chance para o meu coração. Ele é um homem incrível, somos muito parecidos em diversos aspectos e eu me sinto segura com ele, o único problema é que eu estou começando a olhar para aquele homem com outros olhos.
Sempre fugi de um relacionamento como o Diabo foge da cruz, mas agora estou até gostando da ideia de ficar com Rodrigo. Nunca fiz planos de me envolver com alguém, mas ele está mudando minha mente em relação a isso.
Eu sou CEO, sempre tenho tudo sobre meu controle, mas não consigo ter controle sobre meus sentimentos e isso me assusta um pouco.
— Bom dia! - escutei a voz de Rodrigo - No que está pensando?
Ele estava com uma toalha enrolada na cintura e o cabelo molhado, o sorriso em seu rosto chegava a ser cativante.
— Nada demais, só lembrando se algumas coisas da Mt'. - menti e ele chegou perto da cama para me dar um beijo rápido.
— Preparada para hoje? - perguntou enquanto entrava no closet.
Hoje é o dia em que minha tia e meus primos irão saber que o Edgar é meu pai, não faço ideia de como vai ser a reação deles, mas espero que não seja ruim. Pedi para o Rodrigo ir comigo usando a desculpa de não poder sair sozinha, mas na realidade eu só queria passar mais tempo com ele.
— Nem me fale, ainda não parei para pensar nisso! - suspirei - E o evento na casa do seu pai amanhã? - perguntei.
— O que tem?
— Você vai? - questionei enquanto ele vestia uma camisa.
— Infelizmente sim, já que sou o único filho. - me encarou - Você vai?
— Eu sou, quase que obrigada a ir. - ele franziu o cenho e ficou tenso.
— Por que?
— A empresa do seu pai manteve laços comerciais com a minha por um bom tempo, seria uma grande falta de respeito eu não ir.
— Eu acho que você não deveria ir, Aksa. - mudei de expressão ao ouvir aquilo.
— Por que? - perguntei e ele sentou ao meu lado na cama.
Em uma fração de segundos o olhar dele ficou triste.
— Meu pai é racista, Aksa. - ele nem conseguiu olhar nos meus olhos.
— É por isso que ele não vem na sua casa, não é? - engoliu seco - Por causa de mim.
— Lembra aquele dia que eu tive uma crise e você me encontrou lá no chão da cozinha? - assenti - O motivo foi ele, na verdade, meu medo dele descobrir que eu estava começando a gostar de você!
— Não precisa se preocupar comigo. Sem ofensas, mas eu lido com pessoas como o seu pai todos os dias. Além disso, eu já conheço ele, já notei a indiferença que ele tem quando se trata de mim. - passei o polegar por sua bochecha e ele me encarou - Precisa se preocupar consigo mesmo, Rodrigo!
— Como assim?
— O que pode acontecer com a relação de pai e filho, caso surja algo sério entre nós dois. - consegui ver claramente a tristeza tomar conta de seu olhar.
Rodrigo sempre agiu de acordo com as vontades do Victor, e algo me diz que ele ainda não estava totalmente convencido de que lado ficaria se seu pai fosse contra nós dois. Eu não queria ser mais um problema na família, mas racismo é algo que eu aprendi a não admitir, e eu não vou ficar ao lado de Rodrigo caso a decisão dele seja acobertar o pai.
Senti que o clima ficou tenso pela primeira vez entre nós dois, o que acabou me deixando apreensiva. Graças a Deus meu celular começou a tocar e tive que sair do quarto para atender, aquela tensão entre nós dois era insuportável.
— Alô. - disse ao deitar na minha cama.
— Eae gatinha. - era o Dante - Só liguei para confirmar o horário do jantar.
— Eu acho que é melhor você, seu pai e o Henrique virem até a casa do Rodrigo, aí nós vamos juntos.
— Tudo bem então, que horas podemos ir? - perguntou.
— Às 19:00.
Ele concordou e desligou a chamada.
O sábado passou muito rápido, até mais rápido do que eu queria. Eu e o Rodrigo não tocamos mais no assunto do Victor, percebi que ele ainda não se sentia confortável para falar sobre aquilo comigo e eu, óbvio, entendi o lado dele.
Comecei a me arrumar às 17:50, tomei um banho, lavei o cabelo e escolhi um vestido amarelo curto, bem simples, com poucas estampas azuis e alças finas. Optei por uma sandália rasteirinha com poucas tiras, trancei as laterais do meu cabelo e dei um jeito das tranças se ligarem na parte posterior da minha cabeça.
Saí do quarto às 19:00 em ponto e encontrei Rodrigo no corredor. Ele estava usando uma calça jogger cinza escura, uma blusa branca de manga comprida dobrada até os cotovelos, um tênis branco e aquele relógio preto que parecia ter sido feito exclusivamente para aquele pulso.
Esse homem conseguiria abalar minhas estruturas até usando uma burca!
— Você fica linda de salto, mas gosto de te ver sem eles de vez em quando. - disse enquanto vinha em minha direção.
— Sério? - franzi o cenho - Por que?
— A nossa diferença de altura fica mais perceptível. - ele me abraçou e me deu um selinho ao passar os braços em minha cintura.
— Como você consegue ser tão lindo desse jeito, Rodrigo? - perguntei depois de alguns instantes, como resposta ele soltou uma risada quando seu rosto adquiriu uma leve tonalidade de vermelho - Ficou com vergonha? - perguntei sorrindo e ele assentiu sem olhar em meus olhos - Que bonitinho!
Nunca tinha visto o Rodrigo com vergonha e achei a coisa mais fofa do mundo. Ele me deu alguns selinhos e ficou encarando meus olhos, como se estivesse em frente à uma obra de arte, quando percebi já estava perdida dentro daquele mar em seus olhos.
Droga, não é possível que eu esteja mesmo gostando desse delegado.
༺
É real e agora oficial, eu estou gostando muito dessa empresária.
Chega ser duvidoso a forma como tudo naquela mulher me faz ficar bobo, como ela consegue despertar minha melhor versão. Não sei explicar direito, só sinto que ela é diferente de tudo que já vi na vida!
Enquanto estávamos nos encarando, eu só conseguia pensar em uma coisa:
Deus, faz o tempo parar, por favor. Só pra eu ficar mais tempo perdido nesses olhos!
Saímos do transe quando escutamos o barulho do interfone, provavelmente era o Dante chegando. Ela se desvinculou dos meus braços e desceu as escadas, voltei para o meu quarto para pegar meu celular, depois fui ao encontro deles.
Quando cheguei na sala de estar, vi a Aksa abraçando o marido do Dante, enquanto ele a levantava a ponto de tirar seus pés do chão. Mesmo sabendo a sexualidade do Henrique, que ele é casado e totalmente apaixonado pelo Dante, senti um leve incômodo ao ver aquela cena.
Cumprimentei o Edgar, em seguida o Dante, e por último o Henrique, já que a Aksa não queria soltá-lo.
— Você quer ir no meu carro, junto comigo filha? - Edgar perguntou.
— Claro. - ela sorriu gentilmente - Só vou pegar a minha bolsa e já volto.
Ao passar do meu lado, a Aksa me encarou com uma expressão que simbolizava um pedido de desculpas. Eu pensei que ela iria comigo, mas não fiquei chateado por ela ir com o Edgar, até porque ele é pai dela e provavelmente quer passar mais tempo com ela.
Dante e Henrique foram no carro deles, Edgar foi com a filha, e eu fui no meu carro.
Quando chegamos, vi os cabelos ruivos da Ariella balançando enquanto ela vinha correndo para os braços da Aksa. Logo em seguida, ela veio em minha direção.
— Oi. - disse sorrindo e eu me agachei.
— Oi. - sorri - Alguém já te disse que você é muito parecida com a Merida, do filme Valente?
— Já. - ela riu e estendeu os bracinhos para mim.
— Você já ganhou o coração dela, sabia?! - ouvi a Aksa dizer.
— Como assim? - perguntei enquanto pegava-a no colo.
—Qual você acha que é o filme preferido dela?
— Será que foi por influência de quem? - ela riu novamente.
— Como uma amante de animações, eu não podia ser mais feliz. - olhei-a com dúvida - Sou a própria Tiana do Princesa e o Sapo, tenho o cabelo da Moana, e uma mini Merida só pra mim. - ela fez menção de morder o braço da Ariella e a pequena riu ao se esconder no meu pescoço.
A relação da Aksa com a sobrinha era muito fofa, as duas tinham uma ligação quase de mãe e filha.
— Agora vai ser assim, Ella? - ouvi a voz do Dante - Só vai dar atenção para o Rodrigo? - a garotinha riu.
Ainda em meus braços, ela se inclinou para dar um abraço em Dante, Henrique e até em Edgar. O carisma de Ariella, com a apenas 4 anos, era surpreendente.
Fomos para dentro da casa e encontramos todos na sala de estar, até o Murilo estava lá. Fiz a feição mais amigável que consegui no momento para cumprimentá-lo, mesmo não tendo esquecido o que ele fez com a Aksa na última vez que estive aqui.
— Já era Dante, você perdeu seu posto. - ouvi a voz de Alice - Agora o Rodrigo é o melhor amigo da Ella!
— Acho que posso viver com essa traição. - ele disse e a Ella se prendeu ainda mais em mim.
A Aksa decidiu soltar a bomba ali, enquanto estávamos todos na sala. Com certeza ela queria acabar com aquilo logo porque a curiosidade de sua família chegava a ser palpável!
Eles ficaram paralisados, ninguém conseguia dizer nada.
— Falem alguma coisa, pelo amor de Deus. - a mesma disse depois de um tempo.
Teresa foi a única que conseguiu ter uma reação. Lentamente ela se levantou do sofá e se aproximou de Edgar, que por sua vez, estava tenso e nervoso.
— O colar. - ela disse com a voz trêmula - Foi você que deu o colar para ela?
— Sim, fui eu. - ele sorriu gentilmente - E em troca, sua irmã me deu isso. - ele levantou a manga da camisa social e mostrou uma pulseira.
Não sei o que Diabos tinha naquela pulseira, mas parece que a Teresa conseguiu perceber o detalhe que ligava aquele objeto diretamente à mãe da Aksa porque imediatamente ela começou a chorar e deu um abraço apertado em Edgar.
Letícia se levantou e deu um abraço em Aksa, Alice fez o mesmo com Dante, eu, Henrique e Carol ficamos parados olhando aquela cena. Só depois de alguns instantes, Murilo saiu de onde estava e foi até a Aksa.
Nenhuma palavra foi dita, mas eu a vi começar a chorar quando ele estendeu os braços, rapidamente ela se sentou no colo dele e os dois se abraçaram como se estivessem se reencontrando. Consegui ler a expressão "meu perdoa" se formar nos lábios de Murilo, ela não respondeu, mas consegui ouvir seus soluços se intensificarem enquanto ele a apertava.
Aquele gesto dele pareceu ter um significado especial para todos ali porque até a Carol começou a chorar.
Depois de muita emoção, jantamos e fomos para um local que parecia ser a área de lazer da casa. A Letícia tomou a iniciativa de colocar música e pouco tempo depois, ela, Aksa, Alice, Carol e Henrique já estavam dançando, Teresa aproveitou para falar com Edgar e Dante sobre algum assunto que parecia ser importante. A Ariella estava sentada no meu colo, brincando com as minhas mãos, enquanto eu conversava com Luiz.
— Ella, meu amor, porque você não vai lá em cima pegar aquele desenho que você fez da nossa família, para mostrar pro Rodrigo? - ouvi a voz de Murilo - O vovô pode te ajudar!
— Ta, papai. - ela disse sorrindo de um jeito animado enquanto se levantava do meu colo desajeitadamente - Já volto! - disse e eu assenti sorrindo também.
Ficamos em silêncio por um tempo depois que Luiz e Ariella saíram.
— Eu não sabia que ela dançava tão bem. - disse tentando aliviar o clima.
— A Aksa é um mistério, quando você pensa que já descobriu tudo, ela ainda consegue te surpreender. - ele disse sorrindo meio sem jeito - Imagino que você não tenha uma boa impressão sobre mim.
— Não é das melhores. - olhei-o rapidamente.
— Uma das coisas que eu sempre admirei na Aksa é a habilidade que ela tem de sorrir, mesmo quando o mundo em volta dela está desabando. Minha tia não podia ter escolhido um nome melhor para ela!
— Como assim? - perguntei.
— "Aksa" é um nome africano que significa força. - ele olhou para o chão - Eu queria muito ser como ela, mas quando algo deu errado na minha vida, eu reagi da pior forma possível! - encarei-o - Escolhi me fechar e me revoltar, o que resultou no maior arrependimento da minha vida. - senti a tristeza em suas palavras - Fui a pior pessoa para Aksa nesses últimos anos, foi ela quem praticamente moveu o mundo para devolver o que o acaso tirou de mim, e eu virei as costas quando ela mais precisava de apoio, falei coisas que, de verdade, eu preferiria sofrer outro acidente do que ter que repetir para ela.
— É, algumas pessoas não merecem o que tem! - olhei em seus olhos.
Sei que eu estava sendo muito duro com Murilo, mas não consigo ser gentil com alguém que fez tanto mal para a própria família.
— Só que o mais incrível é que mesmo assim, ela continuou insistindo, me ajudando e me perdoou. - ele sorriu.
— Sua prima é uma mulher incrível. - olhei para a Aksa, enquanto ela dançava - Mais incrível do que eu achei que fosse capaz de existir!
— Já disse para ela? - direcionei meu olhar para Murilo rapidamente.
— Disse o que? - ele riu.
— Que você tá apaixonado!
— Eu não estou apaixonado. - falei e ele fez uma cara sinica - Eu acho que não.
— Fala sério, Rodrigo. - ele riu novamente - Você olha para ela do mesmo jeito que eu olho para a Carol, do mesmo jeito meu pai olha para minha mãe, que o Dante olha pro Henrique.
Fiquei calado por um tempo e decidi ser sincero.
— Não sei explicar o que está acontecendo, só sinto que é forte ao ponto de eu não conseguir controlar. - olhei para a Aksa de novo - Já amei alguém uma vez, mas está sendo tudo diferente com ela!
— Amor não se explica, só sente.
— Não é amor, Murilo. - voltei minha atenção para aquela mulher - Pelo menos, ainda não!
— Tudo bem, se você está dizendo. - deu de ombros - Uma dica de quem cresceu com essa CEO: a Aksa é uma mulher de certezas, nunca aposta sem saber que vai ganhar. - encarei ele - Tenho certeza que ela ainda não te disse o que sente, e é bem provável que isso demore acontecer, mas quando ela disser, você não vai ter dúvidas que é real.
— O que você quer dizer?
— Que você vai precisar ser paciente, vai precisar dizer que está apaixonado sem esperar que ela diga também. A Aksa gosta de você, mas ainda não aprendeu a lidar com os próprios sentimentos, por isso ela vai precisar ter certeza que é um sentimento recíproco antes de demonstrar.
"Mas para isso dar certo, preciso que você seja sincero e compreensivo..."
A voz dela ecoou na minha cabeça, como um aviso. O Murilo conhece a Aksa a muito mais tempo que eu, as chances dele estar errado são mínimas!
— Aqui titio Rodrigo, achei. - a voz de Ariella fez eu desviar a atenção.
Durante toda a festa, tive que me esforçar para não olhar para a Aksa a cada fração de segundo.
Na volta, decidimos que seria melhor ela voltar comigo para que o Edgar não precisasse dar tantas voltas antes de ir embora. Chegamos em casa depois das 02:30 da manhã.
— Eu quero nadar! - disse quando passamos perto da sala de jantar.
— Todas as vezes que nós formos na casa da sua família você vai querer entrar nesse piscina? - ri.
— Alguém tem que utilizar a coitada. - fez uma pausa - Só que hoje tá meio frio, acho que é melhor nós entrarmos na hidromassagem.
— Nós? - perguntei - Quem disse que eu vou entrar?
— Eu disse! - sorriu - Vou te dar a oportunidade de trocar de roupa enquanto eu ligo a hidro. - encarei-a sem acreditar que ela realmente estava falando sério - Vai Rodrigo, antes que te taque lá dentro com roupa e tudo! - revirei os olhos enquanto sorria e subi as escadas.
Ao entrar no closet, escolhi um short de banho qualquer, peguei uma toalha, meu chinelo e saí do quarto. Não encontrei a Aksa lá embaixo no primeiro momento, então coloquei os pés dentro da hidro enquanto a água esquentava.
— Você foi rápido, em?! - escutei a voz dela atrás de mim depois de minutos.
— Achei que você até tinha desis... - me virei e vi ela usando um biquíni branco que se destacou perfeitamente nela - Nossa.
Eu ainda vou enfartar por causa da beleza dessa mulher!
Ela sorriu, entrou na água e eu fiz o mesmo, logo em seguida ela encostou as costas na borda da hidro e eu fiquei em sua frente, abraçando-a. Conversamos e rimos das coisas mais aleatórias da vida durante um bom tempo, até que ela cessou o riso e começou a me encarar.
— O que foi? - questionei.
— Afinal Rodrigo, o que diabos nós estamos tendo? - perguntou rindo.
— Bom, - pensei antes de continuar - acho que nós já passamos da parte de amizade colorida.
— Mas, também não estamos namorando! - afirmou.
— Então, eu acho que estamos ficando. - ela franziu o cenho - É ué, porque nós não assumimos um relacionamento, mas também não estamos ficando com outras pessoas.
— É, tem razão. - sorriu de leve - O que você estava conversando com o Murilo, lá na festa?
— Nada demais, coisas de homem. - ela revirou os olhos e eu ri - A gente só resolveu aquela tensão que tinha entre nós dois!
— Humm, entendi.
Ficamos mais alguns minutos lá, depois subimos. Eu fui para o meu quarto e ela foi para o dela, já havíamos concordado que não seria muito bom criarmos o hábito de dormir na mesma cama todos os dias.
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Senti que o Rodrigo ficou distante de mim durante todo o domingo, minha intuição tinha certeza que era por causa do evento na casa do pai dele, mas minha versão sensata decidiu não pressionar ele ainda mais. Ele não só precisava, como também queria espaço, e eu compreendi isso.
Passei o dia revisando papéis da empresa, só precisei sair de casa por volta das 14:00. Vesti um conjunto - short e cropped - de viscose vermelho com algumas estampas, usei a mesma sandália rasteira de ontem, peguei minha bolsa juntamente com meu celular e desci as escadas.
— Vai sair? - escutei Rodrigo dizer enquanto passava pela sala de estar.
— A Carol me chamou para ir na pracinha aqui perto. - sua expressão demonstrou compreensão - Quer ir?
— Eu ainda preciso resolver algumas coisas, acho que não dá tempo. - assenti.
— Okay, já vou então. - fiz menção de sair.
— Ei, espera. - me virei novamente e ele se aproximou para acariciar meu rosto - Cuidado, e me liga se precisar de alguma coisa. - assenti - É sério Aksa, toma cuidado!
— Vou me cuidar, prometo. - sorri e ele deixou um beijo em minha testa.
Saí de casa e fui direto para a praça que a Carol havia falado, não demorou mais de 3 minutos para chegar. De longe já consegui enxergar o cabelo esvoaçado da Ariella, balançando enquanto ela corria.
Eu sou tão apaixonada por essa garota.
—Vem correndo pra mim hoje, mas ontem nem me olhou direito, né boneca? - ela riu - Só ficou com o "titio Rodrigo".
— Te amo, titia. - ela me apertou ainda mais.
— Vou pensar se te perdoo ou não. - disse rindo e ela voltou a brincar - Eae, Carol. Como você tá?
— Estou bem, quer dizer, um pouco apavorada.
— Como assim? - me sentei no banco que ela estava - Aconteceu alguma coisa?
— Eu tô grávida, Aksa! - fiquei sem reação - Fala alguma coisa, mulher.
— M-meus parabéns. - sorri e dei um abraço nela - Espera, isso é possível?
— Eu achei que não fosse, mas é. - ela mostrou 2 testes de gravidez - Os tratamentos que você têm pagado para o Murilo nos últimos anos vem dando resultados, um pouco lentos por ele não cooperar, mas notáveis. - vi algumas lágrimas em seus olhos - Não sei como ele vai reagir Aksa, estávamos convencidos que o Murilo não pode mais ter filhos. Certeza que ele vai achar que essa criança é fruto de uma traição!
— Calma Carol, não desespera que vai ser pior. - enxuguei algumas de suas lágrimas que estavam descendo - Você já contou para alguém?
— Não, você é a primeira a saber. - me encarou - Achei que você pudesse ter mais controle emocional e me ajudar a resolver a situação, como sempre né?! - ela sorriu.
— Vocês dois vão para Brasília daqui uma semana, te aconselho a contar quando vocês já estiverem lá porque vão estar longe de tudo que possa pressionar ele. - ela assentiu - Você já vai ter que separar o laudo dos exames que o Murilo fez nesses últimos 2 anos porque a clínica é diferente das outras, então mostra os resultados com mais evolução de tratamento quando for contar a gravidez, caso ele tenha essa dúvida.
— Ta. - respirou fundo - Vou fazer isso.
— E você? - ela sorriu - Como está se sentindo com relação ao baby?
— Minha ficha ainda não caiu, parece mentira. Sempre quis ter uma família grande, mas tinha me convencido que não realizaria esse sonho!
— Mas, agora vai realizar e eu vou ser titia de novo. - sorri e a abracei animadamente - Parabéns Carol!
Fiquei surpresa e inexplicavelmente feliz com a notícia, eu amo tanto ser tia, nem consigo acreditar que vou passar por esse sentimento outra vez. Fiquei algumas horas conversando com a Carol sobre a gravidez e os possíveis planos que ela já estava fazendo para o neném.
Deixei as duas na casa dos meus tios e cheguei na casa do Rodrigo às 19:00, ele já estava se arrumando para o evento então decidi não ir falar com ele. Fui para o meu quarto e comecei a saga de me arrumar também.
Tomei banho e fiz uma hidratação no rosto, depois de sair do chuveiro, defini os cachos do meu cabelo, em seguida sequei as partes que haviam molhado.
Escolhi uma calça justa, um top de bojo, um blazer, - todas as peças na cor branca - e uma sandália de salto Scarpin nude, com tiras que cobriam boa parte do peito do meu pé. Fiz um rabo de cavalo alto e uma maquiagem um tanto quanto forte, aproveitei a oportunidade para usar um batom vermelho que não usava há tempos.
Saí do quarto às 19:55, o evento começava às 19:30, não me importei de estar atrasada já que os discursos são feitos mais tarde. A porta do quarto de Rodrigo estava fechada, e ao descer as escadas vi que ele já havia ido.
Minha insegurança aumentou.
Por que ele foi sem me avisar? Já havíamos combinado de cada um ir em seu carro, mas ele podia ter me esperado.
Respirei fundo e balancei a cabeça.
Calma, às vezes ele só foi mais cedo para fazer companhia ao pai e receber os convidados. Não pira, Aksa!
Peguei minha bolsa, tranquei as portas, ativei o alarme, liguei o carro e fui. O trajeto era até curto, cerca de 15 minutos no máximo.
A casa de Victor era extremamente luxuosa, o valor dela poderia ser maior que a minha e a casa de Rodrigo juntas.
Passei os primeiros 30 minutos cumprimentando antigos e recentes parceiros comerciais da Mt', dentre eles reencontrei pessoas não tão queridas assim. Hugo Tavares (presidente de uma agência de moda) e Oliver Santos (CEO de uma das maiores companhias áreas do país), foram meus reencontros mais inconvenientes da noite. Os dois haviam algo em comum: preconceito extremo e contratos comerciais com a minha empresa interrompidos devido à alguma desavença pessoal. Eu sempre ressalto a importância do respeito dentro da Mt', e estupidamente, ambos decidiram dizer coisas ofensivas na minha presença, assim como Luís Caetano fez à alguns meses atrás.
Não avistei Rodrigo nesse primeiro momento, mas não me importei, continuei andando, e alguns metros à frente, enxerguei sua silhueta ao lado de Victor. Tentei disfarçar e fingir que não havia visto, mas já era tarde.
— Srta. Fernandez, venha até aqui. - ouvi a voz de Victor.
Droga.
— Como vai, Victor? - forcei meu melhor sorriso.
— Bem, na medida do possível. - ele sorriu e apontou para Rodrigo - Creio que já conhece meu filho, delegado Santiago.
Rodrigo estava lindo, vestido com um terno sob medida e o cabelo cuidadosamente alinhado de forma perfeita. Sua postura era contraditória a sua aparência, ele estava tenso e não dizia uma palavra, apenas sorriu forçadamente quando o pai tocou em seu nome.
— Sim, já nos conhecemos. - fui simpática.
— Se lembra do Sr.Morais, dono da Kárrus? - revirei os olhos internamente.
— Claro que me lembro, nos vimos pela última vez em uma reunião há algumas semanas atrás. - mantive o sorriso.
— Bom te ver, Aksa. Vejo que se recuperou bem daquele incidente! - ele segurou minha mão - Inclusive, queria dizer que sinto muito pelo ocorrido.
— Agradeço os sentimentos.
No mundo do empreendedorismo você aprende a adquirir uma segunda personalidade quando está com pessoas que não te agrada, mas precisa manter a educação devido a contratos comerciais.
— Ah, aí está quem eu estava esperando. - Victor disse - Aksa, quero lhe apresentar a filha do Luís Caetano, Clara Morais. Minha filha de consideração! - riu.
Já ouvi o Noah falar da filha do Luís Caetano algumas vezes, ela parecia ser uma pessoa bem melhor que o pai. Olhei para Rodrigo e tive a prova de que ela era ainda mais familiar do que eu imaginava!
Ele estava paralisado, tenso e com a respiração pesada, quase não conseguiu cumprimentá-la quando a mesma lhe estendeu a mão.
— E minha ex-nora também, infelizmente. - Victor sorriu - A Clara voltou para o Rio à alguns dias e dessa vez a mudança é definitiva!
Só pode ser brincadeira com a minha cara.
A química entre a Clara e Rodrigo, além de perceptível, era quase palpável. Ele ainda era perdidamente apaixonado por ela, e não era para menos, já que ela é uma mulher incrível.
— Então você é a Aksa, CEO da Mt'MCA? - ela disse animadamente e me abraçou - Eu estava tão ansiosa para te conhecer, você praticamente respira empoderamento e eu acho isso tão lindo.
— É, sou eu sim. Obrigada pela admiração! - sorri - Já ouvi falar muito sobre ti, você é médica não é?! - ela assentiu - É uma profissão incrível e admirável também!
— Obrigada. - sorriu largamente - Fiquei sabendo que você e o Rodrigo estão morando juntos.
— Mas, é temporário. - Victor disse antes que eu pudesse abrir a boca - É só para manter a segurança dela enquanto os culpados pelo crime não são encontrados, não é filho? - Rodrigo engoliu seco e desviou o olhar do meu.
— É-é, só por um tempo. - gaguejou e colocou as mãos nos bolsos da calça social.
Minha intuição estava balançando uma plaquinha de "Eu avisei" nesse exato momento, e comecei a me sentir ingênua por ter dado a chance do meu coração falar mais alto.
Mas, no fundo, Rodrigo estava certo. Isso tudo é temporário, não é?!
O toque do meu celular me salvou pela segunda vez neste fim de semana, dessa vez por uma ligação do Noah.
— Desculpem, mas eu preciso atender. Licença! - me distanciei daquele grupo de pessoas o mais rápido possível e atendi - Alô.
— Oi, onde você está?
Olhei em volta e vi que já estava na área de lazer da casa.
— Perto da piscina, na parte sem muros que tem uma vista linda. - disse ao reparar bem o local - E você? Onde está?
— Atrás de você. - me virei e vi ele sorrindo, com duas taças de champanhe na mão.
— Você acabou de me salvar.
— Te vi de longe e percebi que estava desconfortável, então decidi ligar. - disse ao me entregar uma das taças.
— Agradeço muito.
Ficamos conversando por um bom tempo até ele começar a ficar inquieto.
— O que foi? - perguntei.
— Parece que o delegado não está gostando muito de me ver com você. - olhei para cima e vi Rodrigo encostado no guarda-corpo de um dos cômodos do segundo andar, nos encarando com uma expressão nada boa - Ele já saiu e voltou umas quatro vezes. - Noah sorriu.
— É, pois é. - olhei as horas e ignorei sua observação - O discurso vai começar daqui a pouco, você vai ficar?
— Vou assistir por educação, depois vou embora. - ele me olhou - Quer eu vá com você até o condomínio? - assenti com a cabeça.
Durante o discurso de Victor, preferi ficar um pouco mais afastada e me surpreendi ao ver Rodrigo subindo no palco para parabenizar o pai. Ele escolheu palavras muito bonitas, com certeza o ego de Victor subiu uns 40% depois do que seu filho disse.
Quando o evento recomeçou, voltei a me misturar no meio da multidão para não ser percebida por Victor ou por Rodrigo. Noah ficou ao meu lado o tempo todo!
— Eu acho que já vou embora, Noah. - disse ao olhar no relógio.
— É, já esta tarde mesmo. - ele pegou as chaves no bolso - Vamos, eu acompanho você!
Liguei o celular e vi algumas mensagens de Rodrigo, decidi ignorar todas e apenas avisar que eu já estava indo embora. Menos de um minuto depois meu celular vibrou.
"Aconteceu alguma coisa?" - Delegado Santiago
"Não, só estou cansada. Preciso dormir!" - respondi.
"Quer que eu vá com você?" - Delegado Santiago
"Não precisa, pode ficar. O Noah vai me acompanhar!" - digitei e fui em direção ao estacionamento.
Confesso que meu corpo se arrepiou de medo quando tive que pisar em um estacionamento, aquela hora da noite, mas me senti mais segura por Noah estar comigo. Entrei no meu carro e dirigi até o condomínio, quando chegamos, ele se despediu e foi embora.
Olhei algumas vezes para o portão, peguei meu celular, que estava só com 1% de bateria, e decidi fazer uma ligação. Tocou algumas vezes até eu ouvir uma voz carregada no outro lado da linha.
— Alô.
— Alice, você tá sozinha?
— Tô. - ela bocejou - Por que?
— Destrava o portão que eu tô chegando. - desliguei a chamada e liguei o carro novamente.
O apartamento de Alice era um pouco longe da casa de Rodrigo, mas não me importei, só acelerei e fui. Quando cheguei ela já estava me esperando na portaria, com uma feição não muito agradável.
— Eu posso saber o que você tem na cabeça para vir na casa das pessoas às 01:30 da manhã? - disse ao me ver saindo do carro - Eu preciso viajar amanhã ao 12:00, Aksa.
— Que pena, vou sentir saudades. - ativei o alarme do carro - Já podemos subir? - ela revirou os olhos e saiu andando.
Assim que entramos no apartamento, tirei meus saltos e fiquei descalça. Deixei minha bolsa em cima do sofá, fui até o quarto dela e sentamos em sua cama.
— E então, o que te traz até minha humilde residência a essa hora madrugada Srta.Fernández?
— Achei que nunca mais fosse falar desses assuntos com você. - ela franziu o cenho - É sobre o Rodrigo.
— É sério? - abriu a boca e começou a sorrir em seguida - EU SABIAAAA. - me encarou ainda sorrindo - Vocês estão namorando?
— Não, só estamos ficando mesmo. - não demonstrei animação - Só tem umas duas semanas, é bem recente!
— Pela carinha que você fez, imagino que o motivo que te trouxe aqui não é tão bom assim. - ela se aproximou - O que foi?
—É uma longa história! - sorri.
—Então vem comigo, vamos precisar de doces. - ela segurou minha mão e me arrastou até a cozinha.
Enquanto ela fazia uma panela enorme de brigadeiro, contei as partes mais importantes da minha "história" com Rodrigo, só para ela conseguir me entender.
— Pera aí, então você achou uma aliança dentro da gaveta dele? - assenti enquanto ela mexia a panela - E ele achou normal?
— Exatamente, essa foi a minha reação! - disse entre uma mastigada e outra de algumas balas Fini - Mas, me deixa terminar se não eu perco o raciocínio.
Continuei contando e quando o brigadeiro ficou pronto, voltamos para o quarto de Alice, deitamos na cama outra vez e intercalamos às colheradas de doce com as falas.
— Que estranho ele ficar calado quando o pai dele, meio que perguntou se vocês se conheciam, isso não faz sentido. A personalidade do Rodrigo é tão forte, chega a ser difícil imaginar ele sem um posicionamento!
— Mas, o pior nem é isso. - coloquei a colher na boca - A Clara Morais, filha do Luís Caetano que eu te falei, é a ex-esposa do Rodrigo!
— Mentira?! - seus olhos se arregalaram.
— Pois é. - arqueei as sobrancelhas rapidamente - Fui pega de surpresa assim como você.
— Mas, e você? O que tá sentindo em relação à isso? - pensei um pouco.
— Não sei explicar, não consigo decifrar se é ciúmes ou "medo" de perder a intimidade que eu tenho com ele.
— Sabe que não pode tirar conclusões precipitadas sobre isso, não sabe?! - ela me encarou - A Clara voltou, mas isso não quer dizer nada. Você mesma disse que eles estão separados há 6 anos!
— Você não estava lá Alice, não viu o jeito que as pupilas dele dilataram ao vê-la. - sorri ironicamente - Ainda existe muito sentimento entre os dois, até porque eles cresceram juntos. Sem contar que ela se tornou uma puta mulher incrível!
— Aksa Fernández se sentindo intimidada, essa é nova! - Alice riu.
— Não me sinto intimidada por mulheres bem sucedidas, pelo contrário eu admiro cada uma delas, mas de acordo com o roteiro dos clichês, era para a ex do cara que eu estou me envolvendo ser desprezível. - rimos juntas - Mas, a Clara parece uma princesa vindo diretamente da Disney!
— Por que você diz isso? - perguntou.
— Porque ela é extremamente educada, fofa, carismática e inteligente, além de ser muito linda! - fiz uma pausa - O cabelo loiro longo e aqueles olhos verdes fazem ela se parecer até com um anjinho, Alice! - ela sorriu.
— Você disse que ela é médica, não é?!
— Fisioterapeuta, para ser mais exata. - fiz uma pausa - Para você ter uma noção do que eu estou falando, ela me elogiou Alice, disse que me admirava mesmo sabendo que estou morando na mesma casa que o ex dela.
— Caramba, então ela é mesmo uma forte concorrente. - admitiu.
— Minha intuição diz que quando se trata dos sentimentos do Rodrigo, não existe competição entre nós duas. Os dois se casaram Alice, e ele me disse que amava a Clara antes mesmo de entender o que isso significava!
— Sua intuição pode estar errada. - tentou me tranquilizar.
— Esse é o problema. - ela me encarou - Você me conhece desde que eu tinha 17 anos, em todos esses anos, quantas vezes minha intuição errou?
— É, realmente. - admitiu pela segunda vez.
Pensar naquele assunto estava me deixando abatida, e eu não queria ficar triste no mesmo dia que descobri a vinda do meu segundo sobrinho.
— Não quero mais pensar nisso. - me joguei de costas na cama - Vamos assistir filme?
— Claro, mas antes, tira esse batom para não correr o risco de sujar meu travesseiro enquanto estiver dormindo. Eu tenho um relacionamento e pretendo dar continuidade a ele por muito tempo! - ri e fui até o banheiro fazer o que ela pediu.
Eu e Alice assistimos dois filmes, depois acabamos pegando no sono sem ver.
Acordei, mas meus olhos ainda estavam muito pesados, minha cabeça estava doendo como se eu estivesse de ressaca. Me levantei da cama, saí do quarto e encontrei a Alice na cozinha.
— Bom dia, flor. - disse ao me ver.
— Bom dia! - bocejei - Que horas são?
— 10:11. - arqueei as sobrancelhas.
Deve ser por isso que minha cabeça está doendo tanto, fui dormir às 05:15 da manhã.
— Acho que já vou embora, ainda preciso trabalhar hoje. - me aproximei para dar um abraço nela - Boa viagem meu amor, me manda mensagem quando chegar em Florianópolis e volta logo!
— Vou voltar antes que você sinta minha falta! - sorrimos e lhe dei um beijo na bochecha.
Antes de sair, lavei o rosto, escovei os dentes com uma escova reserva da Alice, fiz um coque no cabelo, peguei minha bolsa e fui até a garagem. Demorei um pouco mais de tempo no trajeto de volta graças ao trânsito e aos semáforos, mas consegui chegar no condomínio antes do 12:00.
Ao abrir a porta da sala de estar, vi Rodrigo descendo as escadas enquanto falava com alguém no celular, ele passava as mãos no cabelo como se estivesse aflito. Quando me viu, arregalou os olhos, desligou a chamada e andou em passos largos até mim.
— Meu Deus Aksa, eu já estava quase mandando uma equipe atrás de você! - me abraçou com força - Tá tudo bem?
Merda, nem lembrei de avisar que não iria dormir em casa.
— Eu estou bem, fui para a casa da Alice depois que saí do evento. - respondi com um pouco de peso na consciência.
— Liguei para o Noah, perguntando sobre você, e ele disse que te deixou aqui na portaria ontem. - explicou - Tentei te ligar, mas só caía na caixa postal.
— Meu celular descarregou um pouco depois que eu cheguei na casa dela. - ele me abraçou outra vez.
— Ôh preta, faz isso comigo não. - consegui sentir ele respirando fundo, enquanto beijava o topo da minha cabeça - Que susto que eu levei!
— Desculpa. - levantei a cabeça para encará-lo.
— Tudo bem, sei que não foi por querer. - ele acariciou meu rosto e se aproximou para me dar um beijo, mas não consegui retribuir.
Eu não estava com raiva ou com remorso de Rodrigo, até porque ele não fez nada demais ontem, mas não consegui beijá-lo no primeiro momento.
— O que foi? Por que tá fugindo do meu beijo? - não consegui responder, apenas olhei para baixo - É por causa de ontem, não é?! - ele colocou as mãos sobre as minhas bochechas - Aksa, eu juro que não sabia que a Clara tinha voltado para o Rio, nem que meu pai estava com planos de juntar nós dois outra vez.
— Eu sei, e acredito em você. - finalmente pude olhar em seus olhos - Como se sentiu quando viu a Clara? E quando seu pai perguntou se minha estadia aqui é temporária?
— Pressionado e confuso, eu acho.
Era isso que não queria ouvir, ele estava confuso por causa dos sentimentos. Eu estava triste internamente por saber que minhas suposições estavam certas, mas não deixei transparecer.
— O que? - ficou preocupado - Eu fiz alguma coisa de errado?
— Você sente que fez algo de errado? - perguntei tranquilamente.
— Sendo sincero, não.
— É isso que importa, Rodrigo! - me olhou com dúvida - Se sua consciência não está apontando nada, não sou eu que vou dizer onde você errou.
Respirei fundo e relaxei a tensão do meu corpo, pressionar Rodrigo ainda mais só iria piorar as coisas. Passei meus braços em volta de seu pescoço e lhe abracei, imediatamente senti seu corpo relaxar quando o mesmo se apertou ao meu.
— Fiquei tão preocupado com você! - sussurrou enquanto me abraçava.
— Que fofo. - me distanciei um pouco para lhe encarar e ele sorriu.
— Preciso ir para a delegacia agora, te vejo mais tarde.
— Antes de você ir, pode dizer aquilo de novo? - perguntei com uma voz fofa.
— Aquilo o que?
— Quando você me chamou de preta. - ele sorriu.
—Você me desmonta com esse sorriso e esses olhinhos, sabia?! - sorrimos juntos - Se cuida, minha preta! - disse olhando em meus olhos, juntou nossos lábios e depois foi embora.
Depois de tantos anos, senti as famosas🦋🦋🦋no estômago ao ouvir o Rodrigo dizer aquilo. Eu deveria sentir um pouco de receio por estarmos indo rápido demais, ou até mesmo um pouco invadida por ele ter usado a palavra "minha", mas eu só consegui ficar inexplicavelmente feliz.
༺
Não consegui ir trabalhar de manhã sabendo que a Aksa poderia estar correndo perigo, mas agora que eu sei que ela está bem, consegui iniciar a rotina de delegado novamente. Enquanto estava na minha sala, ouvi alguém bater na porta.
— Entra. - disse em alto som.
— Boa tarde, Rodrigo. - ouvi a voz de Rogério.
— Boa tarde, senhor. - disse e me levantei para apertar sua mão - Já voltou?
— Tem que voltar né?! - ele sorriu - Férias não são eternas, infelizmente.
Rogério Ribeiro era um dos 3 delegados federais que trabalhavam dentro do meu departamento de polícia, e o mais antigo também, por isso achava importante demonstrar respeito ao chamá-lo de senhor.
— Vim avisar que você já está livre para voltar à sua antiga jornada de trabalho.
— Enfim, um pouco de descanso! - brinquei.
Na delegacia onde trabalho, os 3 delegados são divididos em turnos: eu e Rogério trabalhamos em dias úteis, e César é responsável pelos fins de semana. Antes eu trabalhava na segunda, terça e sexta-feira, mas depois do Ribeiro entrar de férias, assumi o cargo de delegado de segunda à sexta.
Meu horário de trabalho é das 7:30 às 19:30, mas nesse último mês comecei a finalizar meu turno muito mais tarde em alguns dias específicos por causa dos casos que Rogério estava responsável, já que tive que assumi-los temporariamente.
— A partir de amanhã eu volto para o meu cargo, então você já vai poder descansar Delegado. - assenti.
Meu dia de trabalho foi longo e cansativo, mas nada além do normal. A Aksa disse que voltaria para casa sozinha hoje porque precisou sair mais cedo da empresa, mas não quis especificar qual era o motivo.
Enquanto guardava minhas coisas, meu celular tocou.
— Alô.
— Eae, Rodrigo.
— Jorge? - franzi o cenho - Tá tudo bem?
— Para mim sim, mas não sei se a Aksa está do mesmo jeito. - engoli seco e senti as batidas do meu coração acelerar.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nós pegamos os caras, Rodrigo. - meu corpo relaxou e suspirei de alívio ao passar as mãos pelo cabelo - Contei a notícia para a Aksa à algumas horas, mas não sei se ela reagiu bem.
— Por que você acha isso? - perguntei desconfiado.
— Porque ela não falou para você!
Jorge estava certo, estranhamente a Aksa não comentou nada sobre isso comigo, mesmo sabendo que eu também estou envolvido no caso.
— Ela precisa vir até a Delegacia amanhã às 7:30 para fazer o reconhecimento, só para termos certeza que não vamos levar os suspeitos errados à frente do juiz. - concordei.
No mesmo instante que desliguei a chamada, andei em passos rápidos até o estacionamento e fui direto para casa. Não tinha certeza se a Aksa havia ido para casa mais cedo por causa do que o Jorge falou, fiquei com medo dela ter tido uma crise ou algo do tipo.
Assim que passei pela porta da sala de estar, chamei seu nome e alguns segundos depois, vi a mesma correr em minha direção depois de sair da cozinha.
Ela estava usando uma calça vermelha listrada, meio larga, e uma regata curta da cor preta, além dos óculos de grau que sempre deixavam ela ainda mais linda. O sorriso em seu rosto me proporcionou um alívio inexplicável.
Quando se aproximou um pouco mais, ela pulou no meu colo e entrelaçou as pernas na minha cintura, logo em seguida me abraçou com força.
— Acabou, Rodrigo. - disse sorrindo - Finalmente acabou!
Nunca tinha visto a Aksa feliz daquele jeito, e se tornou impossível conter meu sorriso.
— Por que não me contou mais cedo? - perguntei.
— Eu queria fazer um suspense, aí pedi pro Jorge te dizer aquilo!
Ela aproveitou que os braços estavam em volta do meu pescoço e me beijou.
— Sabe que amanhã precisa ir até a delegacia, para fazer o reconhecimento, não sabe?!
— Uhum, o Jorge me falou. - disse ao descer do meu colo - Você pode ir comigo?
— Claro.
— Preciso ir em um lugar agora, você vem? - ela perguntou.
— São 20:15 da noite. - olhei no relógio - Não acha que tá um pouco tarde?
— Vai ser rápido, prometo. E você vai gostar!
Acabei aceitando a proposta da Aksa, fui para o meu quarto apenas para trocar de roupa, depois desci as escadas novamente. Ao chegar no andar de baixo, vi que a Aksa havia trocado a calça por um short jeans preto e uma regata cinza com listras também pretas.
— Acho que vai ser mais rápido se formos de moto.
Fiquei um pouco surpreso ao ouvi-la dizer aquilo, já que a Aksa nunca pediu para sairmos de moto, mas não contestei, apenas peguei os capacetes e as chaves. Durante todo o caminho fiquei sem ter a mínima noção de onde estávamos indo, só segui as instruções que a Aksa me dava.
— É ali. - disse apontando para uma casa.
Assim que parei a moto, ela desceu e tocou o interfone da residência, segundos depois o portão abriu revelando aquela casa enorme. Eu achava que a casa do meu pai era luxuosa, mas vi que estava errado.
Quando atravessamos o pátio, vi Edgar passando pela porta de entrada e indo em direção à Aksa com os braços abertos, momentos depois eu o cumprimentei também.
— Eu vim ver meus bebês! - franzi o cenho depois de ouvir a fala da Aksa e Edgar sorriu.
— Fique à vontade, a casa é sua! - ele respondeu.
— Deixa isso aqui. - disse se referindo aos capacetes - E vem comigo!
Ela segurou a minha mão e saiu me puxando para dentro da casa, atravessamos todos os cômodos, passamos pela área da piscina e descemos algumas escadas que pareciam estar nos levando a um porão.
— Aonde você tá me levando, Aksa?
— A um matadouro para poder vender seus órgãos no mercado negro daqui algumas horas! - ela riu ao me ver revirar os olhos, depois acendeu um interruptor de luz - Rodrigo Santiago, seja bem vindo ao depósito de carros da família Gonzáles.
Fiquei boquiaberto ao prestar atenção na quantidade de carros luxuosos que haviam lá, deviam ter no mínimo uns 20 guardados.
— Só 3 desses carros são meus, um é do Dante e os outros são de Edgar. - olhei surpreso para ela.
— 3? - perguntei - Achei que você só tinha mais dois carros além do Audi e do Civic.
— O outro foi presente do Edgar, ainda não tive a oportunidade de estrear ele.
— Agora eu sei de onde surgiu sua paixão por carros. - ela sorriu.
— Tá no sangue, fazer o que?! - deu de ombros.
Comecei a andar dentre aquelas máquinas e a cada passo ficava mais surpreso, trilhões de reais se encontravam dentro daquela garagem. Havia todos os tipos de carros lá: Porsche, Bugatti, BMW Gran coupé, o clássico Dodge Charger da Aksa, só que foi outro modelo que chamou minha atenção. Ele era lindo, sua cor tinha um tom de cinza prateado, a pintura estava tão brilhante que parecia nunca ter sido tirado da garagem.
— Gostou? - ouvi a voz da Aksa de longe.
— Se eu gostei? - sorri ironicamente - Uma Lamborghini Aventador SVJ, esse carro é um monstro de quatro rodas. Nunca achei que chegaria a ver uma tão de perto!
— Já pensou em dirigir? - ela perguntou e eu me virei.
Assim que olhei em seus olhos, ela jogou as chaves do carro para mim.
— Você só pode estar brincando!
— Não estou. - disse ao destravar o alarme de uma Lamborghini Veneno Roadster que se encontravam ao lado da SVJ - Essa é uma oportunidade única, eu não desperdiçaria se fosse você! - sorriu ao entrar dentro do carro.
Fiquei um pouco receoso de dirigir um carro tão caro, mas a Aksa não ia deixar eu ir para casa sem dar pelo menos uma volta com o carro dela, por isso criei coragem para ligar aquela máquina. O barulho daquele motor chegava a ser satisfatório de tão lindo!
— O Edgar é sócio de uma pista de corrida que fica aqui perto, vai se sentir mais confortável para acelerar enquanto estiver lá! - ela disse quando saímos da garagem e eu concordei.
Não consigo explicar o quanto é bom desfilar com um carro daquele no meio da cidade, você se torna, literalmente, o centro das atenções por onde passa. Confesso que meu ego cresceu muito ao ver todos aqueles olhares curiosos.
A pista que a Aksa mencionou era utilizada para corridas, e como os motoristas tinham que ter uma autorização para correr, não consegui competir, mas tive a chance de acelerar aquele carro quase no seu limite. Fiquei um pouco preocupado ao ver a Aksa competindo, mas relaxei ao perceber que ela era praticamente uma motorista profissional!
Assim que uma das corridas terminou, me aproximei dela para dar os parabéns.
— Você não muda mesmo, em nega?! - ouvi o adversário da Aksa dizer - Passa meses sem vir aqui, mas nunca perde o pique!
— Esse talento é para poucos, Ti! - ela respondeu sorrindo.
Minha expressão mudou antes que eu pudesse impedir. Não vou negar, odiei escutar aquele cara chamando a Aksa de "nega", e sim, era por ciúmes.
— Quer ir para algum lugar depois que sairmos daqui? - escutei a voz do cara outra vez.
— Vou dispensar o convite, tô de boa hoje. - escutei a Aksa dizer.
— Ah qual é? - o cara sorriu - Só para relembrar os velhos tempos, vai?!
Quando cheguei mais perto da Aksa, passei o braço em volta de seu pescoço e ela me encarou sorrindo.
— Já disse Tiago, eu tô de boa hoje! - ela respondeu calmamente.
O tal Tiago me olhou de cima a baixo, depois sorriu cinicamente.
— Você que sabe. - mesmo eu estando ao seu lado, ele se aproximou e deu um beijo na bochecha dela - Quando quiser, só chamar e eu vou!
Esse cara deve ter perdido a noção do perigo, só pode!
Antes de entrar no carro, ele ficou me encarando por alguns instantes e eu semicerrei os olhos por não acreditar que ele realmente estava fazendo aquilo.
— Eae, o que achou? - ela perguntou.
— Incrível, o carro é surreal e a pista é muito boa! - disse entusiasmado - E você tava escondendo ouro, em?! - ela sorriu - 8 disputas e 8 vitórias?!
— Só fico em segundo lugar quando o Edgar vem competir, dele eu nunca consegui ganhar. - ela fez uma pausa - Quero te mostrar outro lugar antes de irmos embora!
Ela pegou na minha mão e entramos dentro dos carros. A segui até entrarmos dentro de um caminho que parecia uma trilha de terra, mas com espaço suficiente para carros conseguirem passar. Dirigimos durante uns 4 minutos, no máximo, até chegarmos em um lugar que parecia um "morro" alto, onde conseguimos ver boa parte da cidade.
— Bem-vindo ao meu cantinho de paz. - ela disse olhando para as luzes brilhando lá embaixo.
— Nossa, que lindo! - disse ao reparar a vista - Como você descobriu esse lugar?
— Na primeira semana que me mudei para o Rio, tive uma crise muito forte por causa da dificuldade para me adaptar, saí andando na rua sem rumo e, depois de horas, cheguei até aqui. - ela sorriu - Desde então, ele tem sido o local pra onde corro quando as coisas saem do controle!
Abracei-a por trás e beijei sua bochecha.
— Sabe que agora você pode correr até mim, não sabe?! - ela me encarou e assentiu sorrindo.
A Aksa virou de frente para mim, passou os braços em minha cintura e escorou a cabeça em meu peito, senti como se estivesse confortando uma criança quando escutei seu suspiro aliviado.
— Não quero quebrar o clima, mas eu preciso falar. - ela levantou a cabeça - Os caras daqui são folgados, né?! - ela riu.
— É porque eles estão acostumados a sempre me ver sozinha. - disse sorrindo - Na visão deles, sempre que sentissem vontade de ficar comigo, eles poderiam pedir, já que eu sempre estive disponível. - fez uma pequena pausa - E para falar a verdade, eu ainda estou disponível! - sua cara entregava o fato dela ter dito aquilo só para me provocar.
— Ah, tá? - perguntei sorrindo.
— É claro que sim, que eu saiba, não tenho compromisso com ninguém.
— Então vamos mudar isso agora. Quer namorar comigo? - ela riu e eu franzi o cenho - Qual o motivo da risada? - perguntei tranquilamente e ela ficou séria.
— Você tá falando sério?
— É óbvio, por que eu iria brincar com isso? - dei de ombros.
— Sei lá, eu só não estava preparada pra essa proposta assim, do nada.
— Nós dois somos maiores de idade, independentes e gostamos um do outro. Qual o motivo de você falar "não"?
— Insegurança, talvez.
— Não vou dizer que serei o melhor namorado do mundo e que nunca vou errar contigo, mas prometo dar o meu melhor e ser transparente enquanto você estiver ao meu lado. - coloquei minhas mãos em seu pescoço de forma delicada e me aproximei para lhe dar um beijo calmo - Namora comigo, preta? - perguntei quase em sussurro quando separei nossas bocas.
Ela respirou fundo e encarou meus olhos atentamente por alguns segundos, que mais pareceram séculos. Meus batimentos dispararam quando vi, lentamente, um sorriso se formar em seus lábios, pensei que meu coração iria sair pela boca quando a vi assentindo com a cabeça.
— Sim. - sorri largamente - Eu quero namorar com você!
Abracei-a com a maior força que pude, até tirar seus pés do chão. Depois dela pedir para que eu a soltasse porque estava sem ar, beijei-a novamente, mas dessa vez com intensidade.
Ôh, boca gostosa do caralho!
Eu nunca me cansaria daquele beijo, a forma como eu ficava totalmente rendido à ela com o simples toque dos nossos lábios era surreal. A Aksa abriu a porta do passageiro de um dos carros e, em instantes, ela já estava em cima do meu colo.
— Droga. - disse entre o beijo e ela me encarou com dúvida.
— O que foi?
— Eu não trouxe camisinha! - afirmei.
— Você tem alguma doença? - neguei - Eu também não tenho, então tá tranquilo. - ela voltou a me beijar, mas eu interrompi novamente.
— Confesso que tenho sonho de ser pai, mas, não faz parte dos meus planos realizar ele agora!
— Relaxa, eu uso DIU. Concentra só em mim agora! - sorriu.
Já era de se esperar que uma mulher como a Aksa tomasse todas medidas possíveis para não ter filhos, certamente foi por isso que ela não engravidou quando foi estuprada.
Fizemos só uma rapidinha no carro, mas terminamos quando chegamos em casa. Estávamos na cama e eu com a cabeça deitada em seu peito, enquanto ela acariciava meu cabelo.
— Rodrigo, olha para mim. - levantei a cabeça para encará-la ao escutar sua voz - Não gosto muito de promessas, mas já que começamos mesmo a namorar, preciso que você me prometa uma coisa. - me escorei em meus próprios cotovelos.
— O que?
— Você nunca, em hipótese alguma, vai dizer que me ama sem amar de verdade. E que não vai ficar bravo se, quando isso acontecer, eu não dizer de volta. - seus olhos carregavam um pouco de receio misturado com insegurança.
"A Aksa é uma mulher de certezas, nunca aposta sem saber que vai ganhar!" - lembrei dos conselhos de Murilo e percebi que ele realmente estava certo.
— Eu prometo. - fiz questão de olhar dentro de seus olhos ao dizer aquilo.
Agora, mais do que nunca, a Aksa precisa que eu seja sincero com ela independente da situação.
Se virem algum erro, relevem por favor.🥺
Depois de semanas, voltei bebês, mas postei só a primeira parte do capítulo 10 porque ele é enorme. Ainda essa semana eu posto o final dele!
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