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Capítulo VII

Era dia 19 de abril, 7:20 da manhã. Acordei às 7:00, tomei um banho, vesti uma calça Jogger na cor mostarda e uma blusa regata preta; fiz um rabo de cavalo e calcei um salto preto de bico redondo. Eu precisava ir na delegacia hoje para colherem o meu depoimento!

Enquanto estava mexendo no notebook, escutei o interfone tocar, olhei no vídeo porteiro e vi quem era. Ele se assustou um pouco com o barulho do portão, quando o abri.

— Bom dia, delegado Santiago.

— Bom dia! - respondeu com um meio sorriso.

— Você se incomoda de entrar? - ele fez uma cara de dúvida - Preciso finalizar a análise de alguns papéis da empresa, mas, vai ser rápido.

— Tudo bem. - ele entrou e deu de cara com a garagem - Pelo visto você não é muito chegada em carros pequenos, com menos de seis marchas, né?! - sorri e ele também.

— Falou o homem que tem um Ford Mustang GT500 Shelby Jelly Bean. - ele me olhou surpreso - Não é só de Empreendedorismo e arquitetura que eu entendo, delegado!

Entramos em casa, fui em direção à mesa e voltei a mexer no notebook para finalizar o que eu havia começado a fazer.

— Seus olhos pareciam diferentes quando eu achei você, naquele dia. - ele disse com as mãos nos bolsos e olhei-o rapidamente.

— São as lentes de contato. - continuei digitando - Nunca consegui achar um par de lentes com a cor exata dos meus olhos, por isso uso as de tom castanho escuro mesmo. - salvei os arquivos e fechei o notebook - Poucas pessoas sabem a verdadeira cor dos meus olhos, então sinta-se privilegiado!

Enquanto ele sorria, peguei minha bolsa e as chaves.

— Você vai dirigindo? - Rodrigo perguntou quando me viu destravando o alarme do carro e eu assenti com a cabeça - Eu acho melhor você vir comigo, no meu carro.

— Por que? - franzi o cenho.

— Preciso te explicar algumas coisas antes de chegarmos na delegacia. - estreitei um pouco os olhos - Assim você me poupa de ter que gastar meu tempo digitando uma mensagem.

Senti um pouquinho de grosseria na fala dele, mas, decidi não comentar nada. Precisávamos estar na delegacia daqui dez minutos, então só aceitei a carona e entrei no carro dele.

Rodrigo tinha a mesma mania que eu: dirigir com uma mão no volante e a outra no câmbio, mas a forma que ele ficava ainda mais bonito com um gesto tão simples, conseguiu me surpreender.

— Se em algum momento durante o depoimento você se sentir desconfortável, pode pedir um tempo para respirar. - ele me olhou rapidamente e eu continuei olhando para frente - Sei que iria se sentir mais confortável se o Dante estivesse aqui, mas a partir de agora, só quem está envolvido no caso pode ficar "por perto" durante as etapas.

— Eu entendo. - olhei para a janela - Talvez seja até melhor assim!

— Você quer contar alguma coisa? - ele ficou me olhando por algum tempo e eu voltei a olhar para frente, sem encará-lo.

— Não, tá tudo bem!

Quando chegamos ao nosso destino, senti os mesmos olhares pesados da última vez, mas, alguns foram mais discretos por causa da presença de Rodrigo.

Não consigo descrever o quanto foi difícil relatar com os mínimos detalhes tudo que havia acontecido, fiquei o tempo todo com vontade de chorar e me esconder, mas lutei contra isso até o último segundo que estive na sala de interrogatório. Meu corpo havia melhorado, mas, eu precisava tratar o meu psicológico com urgência.

Enquanto Rodrigo era interrogado, fui para o banheiro e vomitei praticamente todo meu café da manhã. Relembrar aquelas cenas me fez sentir nojo até da minha própria pele, acho que nem se eu ficasse horas dentro de álcool puro, aquela sensação horrível iria sumir por completo.

Aproveitei aquele tempo sozinha para derramar todas as lágrimas que segurei; me sentei no chão e coloquei a cabeça entre o joelhos tentando afastar as lembranças, mas, era impossível. Não sei por quanto tempo fiquei lá dentro, mas, saí do transe quando escutei meu celular tocar.

— Alô. - disse com um tom de voz que denunciava o quanto eu havia chorado.

— Onde você tá? - Rodrigo parecia irritado - Faz dez minutos que eu estou te procurando!

— Desculpa. - me levantei e parei em frente a pia - Encontro você daqui cinco minutos no estacionamento!

— Tá bem.

Desliguei a chamada, enxaguei o rosto, encarei meu reflexo por alguns segundos, depois peguei minha bolsa e saí do banheiro. Andei o tempo todo de cabeça baixa para evitar que alguém notasse meu rosto inchado e olhos vermelhos, mas antes mesmo de chegar perto do carro de Rodrigo, escutei sua voz um pouco exaltada.

— Achei que tivesse pedido para você ficar na sala de espera.

— Eu já pedi desculpas. - respondi ainda de cabeça baixa.

— Onde você tava? - não respondi, apenas continuei andando - Eu te fiz uma pergunta e nós não vamos sair daqui até você responder ela!

— No banheiro. Eu tava no banheiro! - ainda não olhava nos olhos dele, mas, senti vontade de chorar por ter que lembrar o motivo de eu ter ido lá.

— Ficou uma hora e meia dentro do banheiro, fazendo o que? - não consegui responder - Em?! - as lágrimas estavam a ponto de descer - Responde, porra.

— Não faz isso, por favor. - olhei para ele, sem conseguir segurar as lágrimas que já estavam descendo - Não me obriga a tocar nesse assunto de novo!

Eu não chorava na frente de ninguém, nem da minha familia, mas o asunto do estupro me deixava vulnerável demais. Naquele momento, eu só queria ficar sozinha por horas para colocar para fora tudo que eu prendi ao máximo dentro de mim.

— Aksa me desculpa, eu nã...

— Só me leva para a minha casa, por favor. - pedi enquanto enxugava as lágrimas.

— Claro. - ele destravou o carro e eu entrei.

Fiquei em silêncio o tempo todo, apenas olhei para a janela durante o trajeto de volta. Quando chegamos na porta da minha casa, não consegui me despedir, só saí do carro sem olhar nos olhos de Rodrigo.

Fui direto tomar um banho, e como de costume, chorei por mais algumas horas; depois saí do banheiro enrolada na toalha. Peguei meu celular em cima da cama e vi uma mensagem:

"Desculpa te pressionar daquela forma, juro que não foi a intenção. Se precisar de alguma coisa, me liga!" - Delegado Santiago

Ver a Aksa chorando no estacionamento da delegacia e calada durante todo o trajeto, me fez querer voltar no tempo para desfazer aquelas perguntas. Pela pressa que saiu do carro, sem falar nada, ela estava segurando aquele sentimento a muito tempo.

— Boa, Rodrigo. - falei para mim mesmo quando a vi entrando em casa.

Não tenho costume de me sentir mal por ser grosso com alguém que não faz parte da minha família, mas, a forma que ela pediu para não falar daquele assunto, fez minha consciência pesar. Peguei meu celular e digitei uma mensagem para ela, pedindo desculpas, depois liguei o carro e fui embora.

Quando cheguei na delegacia, fui direto para minha sala e fiquei um pouco estressado ao ver a Eloísa lá dentro.

— Quantas vezes vou ter que repetir que não quero ninguém aqui dentro, enquanto eu estiver fora? - fechei a porta e cruzei os braços com a expressão séria.

— Achei que essa regra não se aplicasse a mim. - ela escorou as mãos na mesa só para deixar o volume dos seios, marcados na camiseta preta, um pouco mais aparente.

— Pois é, achou errado! - passei por ela, e sem encará-la fui sentar na minha cadeira - Fecha a porta quando sair.

— Por que você chegou mais tarde hoje? - ela perguntou depois de alguns segundos em silêncio.

Odiava o fato dela achar que podia se referir a mim como "você" dentro do nosso local de trabalho, só por já termos transado.

— Estava sendo interrogado. - comecei a mexer no computador.

— É o caso da empresária; né?! - assenti com a cabeça sem olhar para ela - No dia que ela e aquele cara vieram aqui, eu não sabia quem ela era. Até comentei alguma coisa sobre o celular e o carro dela!

— "Aquele cara" é capitão do BOPE, tenha mais respeito! - olhei para ela - Agora, você pode sair da minha sala? Tenho coisas importantes para resolver! - ela baixou o olhar quando a encarei.

— Sim, senhor! - se virou e saiu.

Respirei fundo e voltei a fazer meu trabalho. Pela quantidade de reuniões que eu precisei participar, emboscadas que tive que finalizar e casos que eu precisava avaliar, o dia passou bem rápido.

Não mexo no celular quando estou em horário de trabalho, mas, quando terminei meu turno, vi uma mensagem.

"Esquece isso, sei que você não fez por mal. Obrigada por ter ido comigo!" - Aksa.

Não sei porque, mas, me senti aliviado por ler aquilo.

Liguei para Celeste, avisando que iria jantar em casa. Salvei o restante dos arquivos, guardei alguns papéis e antes de juntar minhas coisas, escutei alguém bater na porta.

— Entra! - disse em voz alta.

— Eae Rodrigo. - ele entrou na sala.

— O que aconteceu com a formalidade para falar com o seu superior? - olhei rapidamente para ele e sorri.

— Seu turno já acabou, não preciso mais te chamar "senhor". - ele se sentou - Para onde a gente vai?

— Você eu não sei, mas, eu vou para a minha casa!

— Fala sério Rodrigo. A Flávia e a Eloísa concordaram em sair com a gente. - ele sorriu malicioso - Vai perder mesmo essa chance?

— Eu não preciso sair com a Eloísa para transar com ela! - peguei minha jaqueta - E, não sei se você sabe, mas eu já fiquei com a Flávia.

— É, mas, eu não fiquei. - ele se levantou - Qual é Rodrigo, faz isso por mim!

— São 22:43, eu tô quebrado, Alex. Não tô com cabeça pra mulher hoje!

— E tem como não estar com cabeça pra transar? - ele veio atrás de mim, quando saí da sala.

— Quando você tem uma lista, disponível em qualquer horário que você quiser, isso pode acontecer!

— Pra você é fácil falar, um delegado federal, bonito e rico. Como que um cara como eu vai arrumar essa lista?

— É só você fuder bem! - entrei no carro - Até amanhã!

Eu estava muito cansado, só queria dormir, por isso fui direto para casa. Quando cheguei, tomei um banho e depois fui jantar. Deitei na minha cama às 00:00 e apaguei.

Acordei às 05:00 da manhã, não consegui dormir por causa da ansiedade. Já faz alguns dias que fui na delegacia prestar depoimento, e hoje é dia de levar os policiais até o local do crime. Mesmo sabendo que o Rodrigo vai comigo, ainda me sinto mal por ter que ir até lá. Eu não estou pronta para fazer isso, mas é a única forma de pegar quem fez aquilo com mais rapidez.

Vesti uma calça jeans preta, uma regata branca, uma jaqueta jeans clara e um tênis preto. Soltei o cabelo, coloquei as lentes e me sentei às 6:30 no sofá para esperar o Rodrigo.

Coloquei um filme para me distrair um pouco, mas, trinta minutos depois, escutei o interfone tocar; abri o portão e fui ao encontro dele.

— Bom dia! - ele sorriu e eu forcei um sorriso, depois voltei para dentro - Você tá bem? - perguntou quando entramos na sala.

— Depende, qual é o real significado de "estar bem" para você? - disse com um sorriso fraco, quando me sentei no sofá novamente.

— Se não quiser, não precisa ir até lá. Podemos procurar o local! - ele disse se sentando também.

— Isso vai demorar e nós já perdemos muito tempo. Eu preciso ir, Rodrigo! - olhei dentro de seus olhos.

— Tudo bem, a escolha é sua! - ele olhou para a televisão - ToyStory? Sério?

— Pois é. - ri e ele sorriu - Tenho 29 anos e sou completamente apaixonada por filmes de animação, eles me ajudam a distrair!

— Temos mais meia hora até o horário de irmos, dá tempo do filme acabar? - ele disse ao olhar no relógio.

— Por que isso te preocupa? - perguntei sorrindo.

— Sendo sincero, eu não queria que você fosse até lá, porque mesmo com tantas viaturas e policiais, ainda é arriscado! - olhei para minhas mãos - Mas, já que você quer ir, não quero que aquela cena na delegacia se repita, por isso preciso que você esteja calma. - ele se virou, ficando de frente para a televisão - E já que você disse que o filme te distrai, vamos terminar de assistir.

— Obrigada! - sorri quando vi seu sorriso.

— Encare isso como um pedido de desculpas por aquele dia.

Eu não queria que a Aksa fosse junto com os policiais porque era perigoso. O Dante até pediu para o Jorge, delegado que está responsável pelo caso, não deixá-la ir, mas é óbvio que ele não concordou.

A Aksa não estava pronta para fazer aquilo e ela mesma sabia disso, mas por algum motivo, ela concordou.

Depois que o filme acabou, ela desligou a televisão e trancou a casa.

— Eu preciso ir no seu carro de novo? - perguntou quando chegamos na garagem.

— Seria melhor, mas, pode ir dirigindo se quiser! - ela olhou para o carro e depois para mim.

— Vou facilitar seu trabalho! - veio em direção ao meu carro.

Enquanto dirigia, consegui ver que ela estava tensa e isso podia acabar atrapalhando na hora de lembrar o local.

— Já tem noção de quando vai voltar a trabalhar na sua empresa? - perguntei depois de um bom tempo em silêncio.

— Amanhã eu volto com a minha rotina. - olhei para ela rapidamente.

— E você está se sentindo bem para voltar? - ela se ajeitou no banco.

— Minha recuperação física foi bem rápida, e eu comecei a fazer tratamento com psicólogo à alguns dias. Acho que já está na hora de ocupar o cargo de CEO outra vez! - ela deu de ombros.

— O que você fez para manter a empresa nos trilhos durante esse tempo?

— Costumo dizer que a minha empresa é uma equipe. - ela me olhou - Eu estou trabalhando da mesma forma, só que em casa, e o Noah, Diretor de Operações da Mt', têm organizado as coisas para elas não saírem do controle até eu voltar!

— Entendi. - parei o carro entre duas viaturas - Chegamos. Tá pronta?

Ela respirou fundo e sem olhar nos meus olhos, assentiu com a cabeça. Saímos do carro e vimos Jorge perto de uma das viaturas, o cumprimentei e ela fez o mesmo.

— E então delegado Santiago, onde você achou ela? - Jorge perguntou.

— Aqui! - respondi depois de andar alguns metros.

— Agora é contigo, Aksa! - o delegado perguntou enquanto ela analisava cada centímetro do local.

— É por ali! - apontou um pouco para a esquerda.

Todos ficamos surpresos com o fato dela lembrar o caminho tão rápido.

— Vamos entrar com calma, sem bagunça, igual a gente faz normalmente. - Jorge dizia para a equipe dele - Se encontrar alguém suspeito lá dentro, faz a abordagem, mas não libera porque a gente não sabe se é um rato, um olheiro ou um usuário comum! - ele apontou para a Aksa - E, principalmente, ela sempre vai ficar no meio! Entenderam?

— Sim, senhor! - os policiais disseram.

— Depois que a gente achar o local, você já pode levar ela para casa. Quanto menos tempo ela passar aqui, melhor! - ele disse olhando para mim e eu assenti com a cabeça - Pega suas coisas e vamos!

— Tá. - dei alguns passo em direção ao meu carro, mas voltei - Vocês vão equipar ela?

— Vou dar o colete para ela vestir! - ele chegou perto da Aksa - Fica tranquila, mais nada de ruim vai acontecer contigo!

— Eu confio em vocês! - ela disse com convicção e foi atrás de um dos policiais para vestir o colete a prova de balas.

Fui até meu carro, peguei meu colete, o coldre, a arma e o distintivo. Ao voltar, fiquei meio paralisado ao ver a Aksa toda de preto, com o cabelo amarrado em um rabo. Ela seria facilmente confundida com uma policial civil e aquilo deixava ela ainda mais linda que o normal.

Para Rodrigo, agora não é hora pra isso!

— Toma, fica com essa. - Jorge disse enquanto me entregava uma espingarda calibre 12 - Tá com munição de elastômero, então se acontecer alguma coisa, desce bala nesses filhos da puta!

— Nem precisa pedir! - respondi rindo.

Fui até a Aksa, perguntei se estava pronta para ir e ela assentiu com a cabeça.

Começamos a caminhar no meio daquela mata, e a cada centímetro que andávamos, a Aksa parecia mais assustada por estar ali. A insegurança dela era visível, mesmo eu estando ao seu lado o tempo todo!

— Acho que chegamos. - um policial que estava na frente disse depois de andarmos uns 200 metros.

— Os desgraçados acharam mesmo que você estava morta. Nem voltaram para limpar a bagunça! - Jorge disse ao se aproximar do local.

A cena era horrível. Havia sangue por toda parte, no chão, nas árvores, e duas barras de ferro também cobertas de sangue, além de alguns pedaços de tecido espalhados.

Quando me virei um pouco para trás, vi a Aksa paralisada, olhando diretamente para as manchas de sangue. Me aproximei dela rapidamente e chamei seu nome algumas vezes, mas parecia que ela estava em outro universo. Me coloquei em sua frente, impedindo-a de ver aquilo, chamei seu nome novamente e depois de alguns segundos ela levantou o olhar para me encarar.

Não havia uma lágrima, mas, o olhar dela carregava um nível de tristeza chocante. Pela primeira vez eu enxerguei uma menina frágil e assustada dentro daquela mulher, por algum motivo aquilo me comoveu.

— Vamos embora! - disse olhando para ela, que por sua vez, olhou de novo para a cena atrás de mim e engoliu seco.

— Ei, olha para mim, - Jorge se aproximou com calma - ele vai te levar para casa agora, tá?! - ela o encarou - Vem, eu vou com você até o carro!

Jorge passou um dos braços nos ombros da Aksa em um gesto carinhoso e levou-a até meu carro, fui na frente para "checar o caminho" e outro policial veio atrás. Ela se encolheu nos braços dele como se estivesse precisando de conforto!

Quando chegamos no carro, Jorge abriu a porta do passageiro para Aksa, disse alguma coisa para ela, deixou um beijo em sua testa e fechou a porta.

— O que foi isso? - perguntei para Jorge ao entregar a arma para ele.

— Eu sou casado e tenho uma filha de 9 anos, Rodrigo. Elas são as coisas mais importantes da minha vida e eu não consigo imaginar o que faria se elas passassem pelo que essa mulher passou! - ele se aproximou um pouco mais de mim e disse em um tom mais baixo - A Aksa precisa se sentir segura agora, nem que seja por poucos minutos. Ninguém consegue ser forte o tempo todo! - ficamos em silêncio por alguns segundos - Vai. Ela precisa sair daqui!

Assenti com a cabeça e fui até o carro.

Quando entrei no lado do motorista, vi a Aksa encolhida no banco do passageiro. Não disse nada, apenas liguei o motor e fui embora, ela precisava ficar um pouco sozinha!
Ao chegarmos em frente à sua casa, a Aksa parou de olhar para frente por alguns segundos e direcionou o olhar para as mãos.

— Obrigada por ter ido comigo. Seria traumatizante se eu estivesse sozinha!

— Não precisa agradecer! - olhei em seus olhos tristes e tive vontade de abraçá-la - Se acontecer qualquer coisa, me liga e eu venho; tá?!

— Tá bom. - ela sorriu e saiu do carro - Tenha um bom dia, delegado!

Depois que ela entrou em casa de cabeça baixa, me escorei no banco, tentando digerir o que tinha acabado de ver. Algumas vezes tentei imaginar pelo que a Aksa havia passado, mas, a dor e o trauma dela eram imensuráveis.

Sacudi um pouco a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e fui direto para a delegacia.

Já era 7:00 e eu não consegui dormir mais de dez minutos durante a noite toda. Todas as vezes que fechava os olhos, as cenas do dia do crime e de ontem, vinham em forma de pesadelos.

Levantei da cama e fui tomar um banho. Soltei o cabelo, vesti uma calça jeans preta, uma blusa social branca com botões pretos, calcei um par de saltos pretos e passei uma maquiagem leve para disfarçar as olheiras.

Peguei as chaves e tranquei a casa.

Quando entrei no carro, senti uma coisa ruim dentro de mim, como se fosse um mal pressentimento, mas, decidi deixar isso para lá. Liguei o carro e fui para a Mt'.

Ao entrar no piso principal, fui recebida com abraços, beijos e até presentes. Eu senti tanta falta daquele contato com os funcionários da empresa, nada daquilo seria possível sem eles!

Cheguei no 13°andar às 8:30 e andei um pouco mais rápido quando saí do elevador para chegar até a Laura. Tive que deixar as embalagens dos presentes em cima do balcão para conseguir abraçá-la, mas, quando seus braços envolveram meu corpo, senti um conforto inexplicável.

— É tão bom te ter de volta! - ela sorriu e seus olhos encheram d'água.

— Eu que diga. - sorri e olhei em volta - Senti tanta falta de vocês e da empresa!

— Imagino. - sorriu e olhou para o balcão - Pelo visto, eles quiseram mesmo agradar você.

— Pois é, não imaginei que ia receber tanta coisa. - cocei o topo da cabeça.

— Será que ainda tem espaço para mais um presente? - uma voz masculina disse atrás de mim.

Ao me virar, vi o Noah com buquê de flores na mão e um sorriso lindo no rosto. Me apressei para chegar até ele e o abracei com a maior força que pude.

Ele estava sem blazer e com as mangas da camisa social dobradas até os cotovelos, deixando as tatuagens do braço direito à mostra. Noah é descendente de família coreana, tem os olhinhos puxados e escuros, cabelos em um tom quase preto cortados de forma simples - sem topete muito grande ou degradê nas laterais - e cerca de 1.76 de altura.

A presença dele consegue me deixar mais leve, mais calma e mais à vontade. Ele tem o dom de acalmar o coração das pessoas!

— Vou com você até a sua sala porque precisamos conversar sobre a situação da Mt! - Noah disse enquanto me ajudava a pegar os presentes.

— Tudo bem, vamos.

No trajeto até a minha sala, ele me relembrou de todas as medidas que precisou tomar enquanto eu estava fora. Continuei por dentro de todos os assuntos da empresa durante aqueles dois meses, só não consegui participar das reuniões, mas, estava ciente de todos as propostas e resultados finais.

— Fiz o máximo para não te sobrecarregar nesses primeiros dias. - ele colocou as mãos no bolso e ficou parado na porta - Pedi para a Laura marcar só duas reuniões por dia, vou te passar todos os assuntos que serão resolvidos com antecedência, e adiei os eventos que você precisaria ir nesse mês!

— Você é incrível! - ele sorriu - Obrigada, Noah!

— Não precisa agradecer, esse é o meu trabalho. - ele deu de ombros.

— Não é só sobre o que você fez aqui na empresa, - ele arqueou uma das sobrancelhas - fiquei sabendo das visitas que você me fez, enquanto eu estava em coma! - sorri ao vê-lo rindo.

— Você sabe o real motivo de eu me preocupar tanto contigo! - ele me encarou por alguns segundos.

— Nós já conversamos sobre isso! - disse em um tom meio humorado enquanto me inclinava na cadeira e cruzava os braços.

— É, infelizmente. - ele olhou para o chão e eu ri - Enfim, bem-vinda de volta Aksa! - agradeci novamente e ele saiu fechando a porta.

Sacudi a cabeça e me concentrei nos papéis a minha frente. Não havia nenhuma reunião marcada para hoje, mas, uma pilha de contratos para serem analisados e assinados se acumularam em cima da minha mesa, já que só eu podia fazer isso.

Nem sei dizer quantas horas passei sentada atrás daquela mesa, lendo contratos, revisando tabelas, comparando lucros e mentalizando alguns futuros projetos, mas fui tirada do meu transe ao ouvir alguém batendo na porta.

— Pode entrar! - disse em voz alta, sem tirar os olhos do computador.

— Não vai mais sair dessa sala hoje? - Laura disse aproximando-se.

— Acho que não. - sorri ainda olhando para a tela do computador.

— Já são 16:30 da tarde e você nem saiu para almoçar!

— Sério? - olhei para o meu relógio - Bem que eu notei minha barriga roncando.

— Humm. - ela arqueou a sobrancelha - Toma!

— O que é isso? - perguntei enquanto pegava um pacote de papel Kraft de suas mãos.

— Lanche. - sorri - Os restaurantes já fecharam, então achei que um lanche seria melhor que nada!

— Só você mesmo. Obrigada, Laura!

— Por nada. - ela se sentou na minha frente enquanto eu abria as embalagens - Não se esforça tanto assim, Aksa. Você voltou a trabalhar hoje!

— Você tá parecendo a minha tia! - disse sorrindo enquanto comia as batatinhas fritas.

— Alguém tem que ficar de olho em você, né?! - fiz uma cara fofa - Mas, é sério, não se esforça tanto assim, você voltou a trabalhar hoje. O Noah fez de tudo para você não ficar tão atarefada e no primeiro dia você já nem sai para almoçar, Aksa?

— Desculpa, é que eu me concentrei demais nesses papéis aqui! - esperei um pouco para mastigar - Não quero parecer ingrata, o Noah ficou tão preocupado comigo nesses últimos meses.

— É verdade. - vi um sorriso abrir em seu rosto - Esse jeito que ele gosta de você é tão bonitinho, não acha?

— Não começa, Laura! - sorri e me levantei para pegar alguns papéis dentro do armário.

— Por que você não dá uma chance para ele? - ela veio andando atrás de mim - Ele já deixou claro que é completamente apaixonado por ti!

— É sério que você tá me perguntando isso? - olhei-a rapidamente, com um sorriso.

— Eu não vejo motivos aparentes para você não querer ter alguma coisa séria com ele! - Laura gesticulava - Ele é incrivelmente inteligente, super responsável, um ótimo profissional, cuidadoso contigo, ótimo ouvinte, educado e além de tudo isso, é muito gato! - eu ri - Existe química entre vocês Aksa, admite logo.

— Existe só um motivo para eu não querer me aproximar dele dessa forma!

— E qual é? - ela cruzou os braços.

— Eu não sentir nada pelo Noah, além de amizade! Esse é um motivo válido para você? - ela revirou os olhos.

— Porque você não se permite gostar de alguém!

— Eu não consigo gostar de ninguém, é diferente! - caminhei até minha mesa - Acho que não fui feita para ter relacionamentos sérios!

— Por que você acha isso? - ela se sentou novamente.

— Porque a única pessoa que eu me apaixonei, me bateu durante três anos consecutivos! - sorri ironicamente ainda olhando para os papéis - Talvez seja algum tipo de trauma, mas, depois de toda aquela problemática com o Leandro, não consegui me apegar a mais ninguém!

— Você tem medo? - ela ficou séria - Tipo, medo de acontecer novamente?

— Não, só não consigo me apaixonar mesmo!

— Você nunca sonhou em casar? - sorri novamente - Se sentir amada?

— Eu me amo e isso tem sido suficiente para mim! - comi outra batatinha - Além disso, o único sonho que eu tenho, está sendo realizado nesse exato momento: construí minha empresa e sou uma mulher completamente independente desde os meus 17 anos.

— E engravidar? Talvez, até adotar.

— Ter um filho nunca fez parte dos meus planejamentos de vida! - comecei a digitar algumas coisas no computador - Para ser sincera, nunca me imaginei sendo mãe.

— Por que não? Você seria uma ótima mãe!

— Não sei, só nunca pensei nisso! - menti.

— Entendi. - ela se levantou - Vou deixar você trabalhar agora! - sorri - É pra você comer; viu?!

— Tá! - sorri e ela saiu da sala.

Continuei concentrada no meu trabalho e acabei esquecendo das horas, quando olhei no relógio já era 19:30 da noite. Arrumei minhas coisas e ao sair da sala, percebi que eu era a única que ainda estava dentro da empresa.

Ao chegar no estacionamento, senti um frio na barriga e uma dor no peito horrível, como outro mal pressentimento. Olhei ao redor, caminhei mais rápido até meu carro, destravei as portas rapidamente e entrei; respirei fundo e dei a partida.

Quando passei do terceiro quarteirão, começou a chover, olhei pelo retrovisor e percebi um carro prata à uns cinco metros de distância do meu; virei em três esquinas e ele virou também, acelerei um pouco e ele acelerou também. Fiquei preocupada e peguei meu celular, continuei na mesma velocidade que o outro carro, disquei um número e implorei mentalmente para que ele atendesse.

O carro prata começou a acelerar e eu aumentei a velocidade do meu, virei em outras esquinas para tentar despistar, mas não deu certo. A chamada caiu na caixa postal!

— Droga. - disquei em outro número - Atende, por favor. - olhei outra vez para o retrovisor, mesmo sabendo que a chuva iria atrapalhar a minha visão.

— Alô.

— Graças a Deus você atendeu! - quase chorei de felicidade.

— Aconteceu alguma coisa? - ele pareceu preocupado.

— Jorge, tem um carro me seguindo! - meu coração estava acelerado.

— Onde você tá?

— Vou te mandar minha localização. Não desliga a chamada, por favor!

— Tudo bem, vou ficar aqui. - mandei uma mensagem para ele - Fica calma, não apavora. Continua falando comigo, eu já tô chegando!

— Tá. - engoli seco e coloquei a chamada no viva-voz.

Estava dirigindo a 75km/h dentro de um bairro, enquanto chovia, eu podia machucar alguém ou até causar um acidente feio, não tinha como continuar com aquilo. Acelerei ainda mais quando o carro prata tentou ficar ao lado do meu, virei em mais algumas esquinas e eles me perderam de vista.

Parei o carro em uma rua escura, tirei os saltos rapidamente, peguei meu celular, saí do carro e comecei a correr sem direção; seria mais fácil me esconder se estivesse a pé.

— Onde você tá? - Jorge perguntou do outro lado da linha.

— Larguei meu carro em uma rua, estou a pé agora. - me escondi para recuperar o fôlego - Estou atrás de um caminhão-tanque, a uns seis quarteirões de onde deixei meu carro.

— Respira, você está com muita falta de ar. - fechei os olhos e tentei respirar fundo - Fica calma, estou chegando.

Sentei no chão e encostei as costas no pneu do caminhão, queria chorar, mas não conseguia. Os pingos frios da chuva fizeram eu me acalmar mais rápido, recuperei o fôlego e comecei a pensar no que faria se o Jorge não me achasse.

Depois de quase dez minutos pensando, escutei o barulho de um carro se aproximando bem devagar. Me levantei rapidamente quando o carro chegou perto do caminhão, meu coração voltou a acelerar em um milésimo de segundo, meus olhos se encheram d'água e fiquei desesperada por não ter para onde ir.

A sirene alta de algumas viaturas assustaram quem estava dirigindo e o carro foi embora em alta velocidade. Quando notei que eles já tinham se afastado, saí de trás do caminhão e fui ao encontro das viaturas.

Corri de novo e chorei ainda mais quando vi o Jorge saindo de dentro de uma das viaturas, abracei-o com a maior força que pude.

— Tudo bem, já passou. Está segura agora!

Jorge me deu um pequeno cobertor e começou a conversar comigo, mas um Mustang estacionou perto do local que estávamos e pude ouvir a voz grossa de Rodrigo.

— Cadê ela?

— Aqui! - eu disse, levantando um pouco a mão.

— Você tá bem? - ele perguntou enquanto se aproximava.

— Estou, o pior já passou.

— Eu não teria tanta certeza! - Jorge disse colocando a mão na cintura - Pedi para alguns policiais irem até a sua casa e quando chegaram, encontraram tudo revirado. Os caras entraram no carro que você deixou a alguns quarteirões, mas não levaram nada! - ele passou a mão pelos cabelos - Eles querem terminar o serviço, e não vão parar até te ver morta, Aksa!

— Vamos para a delegacia, não é bom deixar ela aqui depois de tudo isso! - Rodrigo disse e Jorge assentiu com a cabeça - Vem comigo, seu carro precisa passar por uma inspeção!

Concordei e fui até o carro de Rodrigo; chegamos ao nosso destino uns vinte minutos depois de sairmos daquela rua.

— Precisamos fazer alguma coisa. Agora eles sabem onde a Aksa mora e onde fica a empresa dela! - Jorge disse assim que entramos em sua sala.

— Ela pode ficar lá em casa, até a gente pegar esses caras! - Rodrigo disse e olhei-o desconfiada - É um condomínio fechado para policiais e delegados, ela vai estar segura lá!

Morar com Rodrigo? Isso é intimidade demais para mim, eu nem o conheço direito!

— Ou eu posso ficar na casa do Dante. - sugeri - Ele é Capitão do BOPE!

— Eu acho melhor não envolver ele nisso. - Rodrigo disse.

— Eu concordo com o Delegado Santiago. - Jorge afirmou - Por enquanto, eles querem você, mas, podem usar pessoas próximas a você para te pegar. Quanto menos eles souberem da sua vida pessoal, melhor!

— Não tem como eu comprar uma casa no lugar onde você mora? - perguntei para Rodrigo.

— É um condomínio fechado para profissionais dessa área. Eu, que sou delegado federal, tive que esperar um ano para conseguir comprar uma casa lá. - ele se sentou em uma das cadeiras.

— É uma boa ideia. - Jorge disse.

— Não sei, não. - olhei para Rodrigo - Sem ofensas, mas eu nem te conheço direito.

— Eu salvei sua vida! - ele disse.

— Te agradeço eternamente por isso, mas, eu continuo não te conhecendo direito!

— A decisão é sua. - ele me encarou - É só uma sugestão você morar lá, mas pode continuar correndo o perigo de perder a vida a qualquer momento, se quiser!
Jorge se aproximou de mim.

— Pensa direito, Aksa. Vai ser só até a gente pegar esses caras! - olhei para Jorge e depois para Rodrigo.

— Tudo bem, eu aceito sua proposta. - disse para Rodrigo depois de pensar um pouco - Quando eu posso ir para sua casa?

— Agora. - ele se levantou da cadeira e pegou as chaves do carro.

— Mas, agora? - perguntei espantada - Não posso "me mudar" para a sua casa só com a roupa do corpo!

— Ok. A gente passa na sua casa, pega suas coisas e vai para a minha casa depois! - assenti com a cabeça e me despedi de Jorge.

Durante o trajeto, eu ainda tentava me adaptar a ideia de que iria morar na casa de um homem que eu mal conhecia. Meu coração começou a acelerar quando relembrei de algumas imagens do meu relacionamento com Leandro, fiquei inquieta e Rodrigo acabou percebendo.

— Tá tudo bem? - ele me olhou preocupado.

— Ta! - respondi e voltei a olhar a vista através da janela.

A resposta da Aksa não me convenceu, mas achei melhor não pressioná-la outra vez. Dirigi por mais algum tempo e chegamos na casa dela.

— Merda! - ela disse quando ficamos em frente ao portão social - Como os policiais entraram se essa droga tá trancada?

— Pularam o muro e arrombaram a porta da frente, se os ratos já não tinham feito isso. - ela me olhou com dúvida - É mais fácil estourar uma porta do que um portão!

— "Ratos"? - ela franziu o cenho.

— É uma gíria policial, depois eu te explico! - tirei o celular, a carteira e as chaves do bolso - Segura pra mim?

— O que você vai fazer? - perguntou enquanto pegava as minhas coisas.

— Vou pular o muro, abrir o portão pelo interfone e ver se não tem mais ninguém lá dentro. - peguei uma distância do muro - Se acontecer algo, grita! - ela concordou.

Foi fácil pular o muro porque ele não era muito alto. Peguei minha arma e, como a porta de entrada já estava aberta, olhei todos os cômodos da casa antes de abrir o portão.

A Aksa entrou e foi direto para o quarto.

— Por que você tem tantas malas? - perguntei ao entrar no closet.

— Eu viajo muito por causa da empresa, e às vezes, não dá tempo de desfazer uma mala para arrumar de novo, por isso eu só coloco outras roupas em outra mala! - ela disse enquanto tirava as peças de roupa das gavetas.

Demorou um pouco mais de uma hora para arrumar todas as coisas dela e colocá-las no carro.

No caminho, a Aksa cismou que tava com fome, e mesmo eu dizendo que tinha comida lá em casa, ela parou em um supermercado e em uma pizzaria. Não tinha como eu impedir já que ela estava dirigindo o carro dela.

Quando chegamos, aproveitei que estávamos na portaria e fiz o "cadastro" da Aksa no condomínio, deixando claro que ela ia morar comigo a partir daquele dia. Dirigimos por mais alguns metros, estacionamos os carros na garagem da minha casa e descemos.

— Vou te mostrar seu quarto, depois te ajudo a levar as suas coisas! - disse quando ela abriu o porta-malas.

Quando chegamos na cozinha, tratei de fazer as devidas apresentações.

— Aksa, essa é a Celeste, diarista e cozinheira. Celeste, essa é a Aksa, ela vai passar um tempo morando aqui. - Aksa deu um abraço rápido na mulher de meia idade a sua frente.

— Prazer em conhecer a senhora! - Aksa disse sorrindo ao se afastar.

— O prazer é todo meu! - Celeste sorriu também.

— Vamos, seu quarto fica lá em cima. - eu disse e a Aksa veio atrás de mim.

Subimos as escadas, abri a segunda porta à esquerda e dei espaço para ela entrar.

— Esse é o seu quarto. O closet é naquela porta e o banheiro é naquela outra. - ela olhava em volta - Meu quarto fica na última porta do corredor, se precisar de alguma coisa pode falar comigo. Ou com a Celeste, já que ela passa mais tempo aqui do que eu, mas, o quarto dela é lá em baixo!

— Sua diarista dorme aqui? - assenti com a cabeça - Por que?

— Ela é responsável pelas três refeições do dia, e como eu saio de casa às 6:45 da manhã, ela não precisa madrugar para chegar aqui na hora certa. - ela me encarou - Mas, ela vai embora nas sextas as 17:00 e volta na segunda às 9:00.

— Humm. - ela arqueou uma das sobrancelhas.

Depois de subir e descer aquela escada umas três vezes, e todas as malas estarem dentro do quarto dela, a Aksa foi para a sala de jantar e eu fui para o meu quarto, mas, me lembrei que precisava conversar algumas coisas com ela. A sala de jantar estava vazia quando cheguei, mas escutei algumas risadas vindas do cômodo ao lado.

Ao chegar na cozinha, vi a Aksa escorada no "balcão" que ficava em frente à pia, ela estava descalça, usando óculos de grau e com o cabelo preso em um coque; segurava uma fatia de pizza em uma das mãos e uma das garrafas de Heineken que comprou, na outra. Ela e a Celeste estavam conversando e rindo, enquanto a mesma lavava as louças.

— Não acha que precisa tomar um banho e trocar de roupa? - ela me encarou - Você pegou muita chuva!

— Minha roupa já secou. - sorriu.

— Okay, então. - coloquei as mãos nos bolsos - Preciso conversar algumas coisas contigo!

— Vou deixar vocês a sós, licença. - Celeste disse se retirando da cozinha.

— Aconteceu alguma coisa? - a Aksa virou de frente para mim, com os braços cruzados.

— Tenho que te fazer algumas perguntas, já que não nos conhecemos direito. Preciso saber quem eu tô colocando dentro da minha casa e você precisa saber com quem você vai conviver a partir de agora!

— A Celeste disse que você tem uma sala de jogos, verdade? - assenti com a cabeça - Tem mesa de sinuca? - assenti novamente - Te proponho um jogo de perguntas e respostas, só pra não ficar um clima de interrogatório.

— Que jogo é esse? - cruzei os braços.

— Me mostra a sala de jogos que eu te explico! - encarei-a e ela deu um meio sorriso.

— Tá. - concordei e saí andando.

Quando chegamos na sala de jogos, ela foi direto para a mesa de sinuca.

— Vamos precisar de uma bebida forte, de preferência, com teor alcoólico acima de 40% e um copo de shot. - ela disse enquanto colocava as bolas em cima da mesa e eu arqueei uma das das sobrancelhas - Confia em mim! - olhei um pouco desconfiado, mas, fui até o refrigerador.

— Essa serve? - levantei a garrafa.

— É whisky? - ela perguntou ao me olhar.

— Bruichladdin x4+1, Quadrupled. Já ouviu falar? - perguntei ao chegar mais perto da mesa.

— Eu tinha uma dessa. - olhei-a surpreso - Sabe que ela tem 65% de álcool, né?!

— Isso é ruim? - perguntei.

— Se você é uma pessoa que não gosta de falar sobre sua vida pessoal; sim, é ruim. - sorriu ironicamente.

Ela foi até a parede para pegar dois tacos e o giz.

— O jogo é o seguinte: a cada bola que você matar, tem direito a uma pergunta. Sem regras, sem pontos e sem penalidades. - ela me entregou um dos tacos e foi para a outra lateral da mesa - Se errar uma bola, o direito de pergunta passa para o outro. E se não quiser responder alguma das perguntas, é só tomar um shot do Whisky. Fácil, não é?

— Eu posso te fazer qualquer pergunta? - perguntei e ela assentiu.

— Pensa bem, você pode me fazer só sete perguntas. - concordei - Pode começar!

Acertei a bola branca primeiro para espalhar as outras, como de costume, depois matei a bola vermelha.

— Primeira pergunta! - ela disse.

— Por que você achou melhor que o Dante ficasse fora dos processos da Investigação?

— Eu conheço ele há muitos anos, e por algum motivo, ele desenvolveu a mania de achar que pode decidir as coisas por mim. Eu sabia que ele ia acabar atrapalhando a investigação por causa disso. - ela explicou - Minha vez!

Confesso que perdi um pouco da concentração quando vi a Aksa se inclinando para jogar. Por ela ter as pernas longas, sua coluna ficou reta e seu quadril "empinado", se ela não estivesse tão concentrada em acertar a bola, arriscaria dizer que ela havia feito aquilo só para provocar. Depois de matar a bola preta, ela se levantou e me encarou.

— Qual a sua idade? - perguntou.

— 31. - respondi e me preparei para jogar.

— Qual a sua relação com Edgar Gonzáles? - perguntei depois de matar outra bola e ela me encarou por alguns segundos.

— Imagino que você seja uma daquelas pessoas que acreditam que eu e o Edgar temos um relacionamento, por sermos muito próximos e eu ser rica. - ela sorriu ironicamente.

— Qualquer pergunta, lembra? - dei de ombros.

— Fiz estágio na filial da G-Arts que fica em Florianópolis quando tinha 19 anos. Depois disso, eu vim para o Rio com o Edgar e com o Dante, ele me ajudou a montar a Mt' e nunca mais perdemos contato. Mas, não, eu não tenho e nunca tive nenhum tipo de relacionamento amoroso com ele!

— Okay. Sua vez, então. - ela se inclinou e acertou outra bola.

— De onde você conhece o Dante?

— Do treinamento do BOPE. - ela fez uma cara de dúvida.

— Fez o treinamento e não se tornou um agente. Por que?

— Você não tem direito de fazer essa pergunta. Uma bola, uma pergunta! - comentei e ela se inclinou novamente.

— Agora, eu tenho! - disse ao matar outra bola e eu sorri.

— Eu nunca tive um emocional bom pra lidar com vagabundo na rua, sempre fui muito impaciente. O treinamento do BOPE ampliou minha resistência corporal e emocional, mas, os oficiais que me treinaram disseram que eu tinha o coração ruim demais para ficar na rua, por isso decidi virar delegado. - ela ficou surpresa e eu ri. - Minha vez! - acertei outra bola - Quem é Leandro?

Vi o sorriso dela se desfazer aos poucos, e quase pedi para trocar a pergunta.

— Ele é meu ex, na verdade, o único namorado que eu tive na vida. - sorriu um pouco e olhou para o chão - Ele me bateu e me obrigou a ficar com ele durante três anos. Inclusive, o Dante foi uma das pessoas que me ajudaram a terminar o relacionamento! - acertei mais uma bola.

— Ele foi o motivo de você sair de Florianópolis? - ela assentiu com a cabeça - Sua vez!

— Por que me perguntou sobre o Leandro, se as informações estavam na minha ficha? - fiquei surpreso.

— Como sabe que eu puxei sua ficha? - perguntei franzindo o cenho.

— Você não perguntou meu nome completo e nem minha idade, até agora só fez perguntas da minha vida pessoal. - ela deu um gole na cerveja - Além disso, era isso que eu faria se fosse um delegado federal e uma estranha viesse morar na minha casa.

— Você sofreu violência doméstica, isso é um assunto delicado. Não tinha o direito de invadir sua vida dessa forma, por isso perguntei ao invés de ler na sua ficha! - nos encaramos por alguns segundos, depois eu matei outra bola - Qual o maior desentendimento que você já teve com os seus pais?

Ela me encarou de novo, e outra vez vi seu sorriso sumir. Ela parecia estar decidindo se iria responder ou não, mas para a minha infelicidade, ela começou a andar em direção à garrafa de Whisky. Ri quando ela contou até três para virar o copo.

Depois de tomar o líquido, ela riu de um jeito tão espontâneo que eu sorri junto. Por algum motivo, o som daquela risada e aquele sorriso fizeram eu me esquecer de qualquer complicação que tivesse no momento.

— Já bateu? - perguntei rindo.

— Vamos acabar com isso logo, pelo amor de Deus. - ela riu de novo e eu também.
Ela matou outra bola e pegou outra fatia de pizza.

— Você é filho do Victor Santiago, dono de uma empresa de eletrodomésticos. - fiquei surpreso por ela saber quem é meu pai - Mas, quem é sua mãe?

Minha família sempre foi um assunto que me incomodou, principalmente quando se tratava da minha mãe. Não fiquei bravo por ela ter perguntado sobre isso, mas achei melhor não responder.

A bebida desceu queimando, já que fazia um bom tempo que eu não mexia naquelas garrafas.

— Mais duas perguntas, senhor delegado! - ela deu outro gole na cerveja.

Me posicionei para jogar, mas errei.

— Merda! - eu disse e a Aksa riu - Qual a sua pergunta?

— A quanto tempo você é dominador? - fiquei um pouco sem reação - Qualquer pergunta. - ela disse antes de tomar outro gole.

— Como sabe que eu sou um dominador?

— Sua postura, a forma que você espera que as pessoas desviem o olhar quando te encaram, e sua notável satisfação quando uma mulher te chama de "senhor". - sorri por ela ter notado tanta coisa.

— Sempre gostei de dominar, mas, faz 7 anos que sou dominador de BDSM. - sua expressão continuou normal - Você não ficou impressionada com essa informação, igual as outras mulheres ficam!

— Eu não sou igual as outras, e você já deve ter percebido isso. - tive que concordar.

— Você não tem cara de submissa. - comentei.

— É por que eu não sou!

— Você é dominatrix?

— Por que a surpresa? - ela riu - Você é um Dom e eu sou uma Domme, ambos dominantes na prática de BDSM. - deu de ombros.

— Nunca tinha visto uma de perto, achei que vocês fossem só uma lenda urbana! - ironizei e ela riu.

— Não, nós somos reais! - sorriu e matou outra bola - Você costuma ir nas masmorras?

— Quando eu estou com uma submissa, sim. Não considero o BDSM como uma "forma de vida", eu gosto muito, mas não é uma coisa que eu pratico toda semana! - ela me lançou um olhar compreensivo.

Para ser sincero, antigamente eu praticava o BDSM quando precisava inflar meu ego, mas, hoje eu pratico só quando dá saudade de toda aquela submissão. Faz uns oito meses desde a minha última sessão!

— Você costuma ir? - perguntei.

— Desde que me mudei para a minha casa atual, a cerca de um ano atrás, não fiz mais nenhuma sessão. Na minha antiga casa eu tinha um quarto específico pra isso, mas, nessa não tem!

— Um quarto vermelho? - nós dois rimos.

— Não vai me perguntar qual a palavra de segurança? - rimos de novo - Era só um quarto, com uma cama de casal e os brinquedinhos que faziam eu me divertir. Ai ai, saudades! - ela sorriu e deu outro gole na cerveja.

— Mas, por que você não frequenta as masmorras?

— Não me importo com o que as pessoas falam sobre mim, mas, um CEO carrega a imagem da empresa nas próprias costas. - explicou - O mundo do BDSM ainda é muito criticado e julgado, por isso não pegaria bem a criadora de uma empresa multinacional frequentando esses espaços!

— Tem medo de sujar o nome da empresa? - perguntei.

— Se vazar na mídia que eu sou uma dominadora, patrocinadores e divulgadores vão cortar laços. Existem dezenas de funcionários que dependem do sucesso da Mt', preciso pensar neles também. - ela ficou um pouco séria - Deixei de fazer muitas coisas por medo de prejudicar quem me ajudou a conquistar o que eu tenho hoje!

— Você é uma das poucas pessoas do ramo de Empreendedorismo que se importa tanto com os funcionários! - ela agradeceu e sorriu.

Deus, como alguém pode ter um sorriso tão lindo?

— Posso fazer minha última pergunta, primeiro? Antes que eu esqueça. - assenti com a cabeça e ela matou outra bola - Mais alguém trabalha aqui, além da Celeste?

— Só o jardineiro, o cara que limpa a piscina e a moça que passa as minhas roupas! - me inclinei para jogar.

— Última pergunta! - ela disse depois que matei a última bola.

— Você é boa em muitas coisas, já percebi isso. - ela fez um gesto com a cabeça, demonstrando que concordava comigo - Mas, você é boa em seguir ordens? - aqueles olhos castanhos claro me fitaram de um jeito que nenhuma mulher havia feito.

— Normalmente sou eu quem dá as ordens, mas, podemos entrar em um consenso! - respondeu depois de alguns segundos.

Eu tenho certeza que em algum momento iríamos ter problemas por causa da nossa personalidade forte, mas prefiro não pensar nisso agora.

Depois que o jogo acabou ficamos conversando sobre outras coisas durante um bom tempo, tive a oportunidade de conhecer um lado da Aksa que poucas pessoas conheciam.

— Já são 02:49 da manhã. - ela disse entre risos quando olhou para a tela do celular e eu arregalei os olhos de surpresa - Eu preciso dormir e você também, garotão. Vamos!

Ela desceu da bancada, eu levantei da cadeira, e fomos andando para nossos quartos.

— Por que você se interessou em saber sobre meu tempo como dominador? - perguntei enquanto subíamos as escadas.

— O fato de você ser um dominador diz muito sobre a sua personalidade. - ela explicou - O tempo que você atua como um, só serviu para confirmar algumas das minhas teorias! - ela abriu a porta e entrou no quarto.

— Teorias? Sobre mim? - franzi o cenho e ela soltou uma pequena risada que me fez sorrir.

— Sim, teorias sobre você!

— Você sabe que eu sou delegado, não sabe?! Descobrir as coisas é meu trabalho!

— Boa sorte com a sua busca, então. - deu de ombros e sorrimos juntos - Boa noite, Rodrigo!

— Boa noite, Aksa!

Virei as costas quando ela começou a fechar a porta. Ao chegar em meu quarto, fui direto para o banheiro, tomar um banho, e enquanto a água caía em minhas costas, pensei em quanto tempo fazia que eu não passava tanto tempo conversando e rindo com alguém daquela forma.

Deitei na minha cama e apaguei.

*Se virem algum erro, relevem por favor!* 😬

Quem aí conhece o mundo do BDSM?🔥

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