Capítulo 6.
Como prometido, apenas acabamos o nosso treinamento acompanhei Lúcifer e Miguel na sua busca pelo Taphiel. Dizer que me sentia feliz com isso seria uma mentira, só pensar o nome do meu irmão me provocava arrepios, uma sensação de desconforto crescia dentro de mim e detestava me sentir daquela forma, pois constantemente me repetia que meu Pai estaria tremendamente decepcionado se soubesse toda a desconfiança que existia em mim quando o assunto era o anjo de olhos azuis.
A sensação de incômodo foi substituída por um sentimento de extrema preocupação no momento em que encontramos Taphiel, mas ele estava acompanhado por Laylah. Nenhum deles tinha notado a nossa presença e olhei Miguel com inquietação ao perceber que a ruiva estava tocando o braço do nosso irmão com um olhar perdido, enquanto ele a encarava com seriedade analisando-a.
Sem dizer uma palavra andei com passo firme até onde eles estavam, ignorando os sussurros de Miguel pedindo que voltasse. Segurei com firmeza a minha espada me auto parabenizando por não ter feito nem ela e nem a armadura desaparecerem, eu não iria hesitar em proteger a minha irmã caso fosse preciso.
-Está tudo em ordem? – Perguntei me colocando ao lado de Laylah, fazendo com que ela se afastasse rapidamente de Taphiel.
-Sebastiel, não me lembro de ter te convidado para ser parte da nossa interessante conversa – Disse o anjo sarcasticamente. – Mas já que você está aqui, por que não leva nossa linda irmã a dar um passeio? Acho que ela está precisando.
Segurei a mão da ruiva e coloquei protetoramente o seu corpo atrás do meu quando Taphiel tentou encostar nela, ele poderia ser um tanto quanto assustador, mas com certeza não chegava nem na metade do que eu seria se se atrevesse a fazer mal a ela. O Arcanjo e o Querubim chegaram rapidamente até nós quando ficou perceptível que a situação estava tensa, Miguel se juntou a mim para proteger nossa irmã e Lúcifer ficou em pé no meio, não querendo escolher lados.
-Querendo causar problemas de novo, Taphiel? – Miguel estava colérico. – Não bastou com perder a sua foice?
O anjo problemático sorriu maldosamente com a menção da sua arma.
-Apenas estávamos dividindo um tempo de irmãos antes que seja tarde demais, não é assim Laylah? – Respondeu ele.
-Não se atreva a falar com ela – Falei ignorando o calafrio que me recorreu causado pelo que ele tinha dito.
-Nosso querido Pai está ciente destes maus tratos que vocês me dão? Ele ficaria tão desapontado se soubesse, ainda mais com você Miguel, o primogênito favorito.
-Não ouse usar o nome do Pai em vão e muito menos para tentar criar discórdia, algo que ele aborrece – O castanho apontou o contrário com a espada. – Você é cruel, mesmo podendo ter todo o amor do mundo você escolhe errar, uma e outra vez. Esta é nossa família, minha família, e eu não vou permitir que você acabe com ela. Não consigo ter sentimentos ruins, nenhum de nós consegue porque somos seres de luz, não se esqueça disso. O que quer que seja isso que tem dentro de você, nunca poderá ser maior que aquilo que te criou. Nós podemos te ajudar, eu posso, apenas se permita isso, Taphiel.
Admirava o autocontrole e a paz interior de Miguel, ele tinha até abaixado sua arma e suavizado o tom de voz enquanto eu ainda segurava a mão da ruiva temendo que algo lhe acontecesse.
-Você me deixou tão entediado com as suas palavras cheias de amor, carinho e bondade – O de olhos azuis revirou os olhos. – Não é nada pessoal Miguel, este apenas não é o meu lugar.
-Acho que estamos esquecendo o verdadeiro porquê de estarmos aqui – Falou Lúcifer pela primeira vez. – Onde você estava na hora do Juramento?
-Eu não queria estar ali, irmão – Replicou Taphiel olhando o Querubim com adoração, coisa que me fez franzir as sobrancelhas. – Sabia que não seria escolhido, estar naquele lugar seria uma perda de tempo.
-Isso não responde o perguntado por Lúcifer – Disse com irritação.
-Quem é você agora? O porta-voz dele? – Ele me olhou com desprezo.
-Não, mas isto sim é uma real perda de tempo totalmente desnecessária. Você pode apenas responder a pergunta? – Eu não possuía o mesmo autocontrole que o Arcanjo.
-Eu estava treinando – Contestou finalmente o meu irmão encolhendo os ombros.
-Sem uma arma? – Interroguei confuso.
-Combate corpo a corpo.
-Sozinho? – Nada fazia sentido.
-Acho que é hora de eu partir, muitos momentos familiares em muito pouco tempo me deixam enojado – Lúcifer nos interrompeu e olhou Taphiel. – Você vem comigo.
Miguel não teve tempo de reclamar, pois velozmente os dois anjos desapareceram das nossas vistas me permitindo relaxar e virar para olhar Laylah.
-Você está bem? Ele fez alguma coisa contigo? Quer conversar? – A enchi de perguntas segurando-a pelo rosto.
-Você fala do Miguel e de mim, mas você às vezes chega a ser pior – Ela sorriu. – Eu estou bem irmão, de verdade. Só estávamos conversando.
-Pequena – Falou Miguel. – Você... Viu alguma coisa?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
-Não, está tudo em ordem.
Eu e Miguel nos olhamos não muito convencidos com a resposta, mas tínhamos que confiar. Por que ela mentiria para nós?
-Vocês estão ocupados? Quero dizer, precisam fazer algo importante? – Perguntou a ruiva e ambos negamos. – Eu quero levá-los ao jardim, nunca fomos juntos.
-Eu nunca fui lá irmãzinha, você não me levou – Disse brincalhão o Arcanjo. – Só Sebastiel teve essa honra.
-Desculpa, irmão – Ela o abraçou fortemente. – Pensa na melhor parte, agora você pode ir com os seus dois irmãos favoritos, e nada de dizer que não existe favoritismo.
-Ela está certa, Miguel. Não fique com ciúmes, agora pelo menos podemos ter um tempo de irmãos os três juntos. Será ótimo para esquecer esse momento que tivemos com o Taphiel.
Notei como nossa irmã ficou tensa quando falei o nome do anjo, mas depressa tentou disfarçar dando o seu melhor sorriso.
-Mas então, vamos? – Laylah estendeu suas mãos para que as segurássemos.
Com sorrisos nos rostos e de mãos dadas começamos a recorrer o caminho que nos levaria até o jardim, o amor que sentia pelos meus irmãos era algo que nem mesmo o Pai poderia explicar. Quando chegamos à ala, ela repetiu as mesmas ações de quando viemos juntos: Primeiro fez o cajado aparecer e logo depois já nos encontrávamos no jardim, o qual tinha ficado ainda mais majestoso.
-Quando vocês falaram deste lugar eu imaginei que deveria ser realmente bonito para tê-los tão embelezados, mas nunca conseguiria pensar que seria... Perfeito – Miguel não conseguia parar de olhar as flores que pareciam se multiplicar com cada passo que dávamos.
-É incrível, não é? – A ruiva nos soltou e um pequeno pássaro pousou em sua mão. – Olha, Sebastiel! Ele não estava aqui quando viemos.
-Irmãos, eu acho que ele não veio sozinho – Olhei o castanho e comecei a rir sem parar, pois três belos pássaros tinham pousado na sua cabeça. – Sebastiel! Você poderia vir me ajudar ao invés de ficar rindo de mim.
-Sim, realmente eu poderia – Segurei minha barriga em uma falha tentativa de deter minha risada. – Mas estou me divertindo demais vendo você assim, eles acham que teu cabelo é o ninho deles.
-Você é tão engraçado irmão, não consigo parar de rir – O Arcanjo me olhou de braços cruzados. – Eu não quero me mexer e assustá-los, você pode, por favor, me ajudar?
-Deixa que eu te ajude, irmão – Disse Laylah avançando até ele enquanto fazia carinho na ave em sua mão. – Acho que Sebastiel não irá conseguir parar de rir tão rápido.
-Já estou calmo, já estou calmo – Falei enquanto ia ajudar Miguel. – Mas você Miguel, com pássaros na cabeça, é uma imagem mental que vou guardar para sempre. Eu preciso contar pro Lúcifer!
-Ah, Sebastiel! Ele vai ter motivos para implicar comigo.
-Ele já implica com você mesmo sem ter motivos, Miguel.
-Por que lhe dar razões?
-Vocês juntos são tão infantis – Nossa irmã nos olhou com diversão.
-É assim que você nos ama, pequena – Falou o castanho já livre das aves.
-Sim... Isso é uma completa verdade – Ela ficou cabisbaixa. – Eu realmente amo muito vocês, irmãos.
Laylah nos olhou com um sorriso triste e novamente eu e Miguel nos vimos invadidos pela preocupação, pois ela estava agindo de maneira estranha. Mesmo achando invasivo tentei entrar na mente dela, mas por algum motivo não conseguia ver nada, apenas branco.
-Como foi o treino de vocês? – Perguntou a ruiva repentinamente criando um assunto para me distrair, como se soubesse o que tentava fazer.
-Como você sabe que estávamos treinando? – Perguntou curiosamente o Arcanjo.
-Por qual outro motivo estariam usando as suas armaduras? – Ela nos assinalou. – Fiquei surpresa quando vi que Lúcifer também usava a dele, nunca imaginei que vocês três compartilhariam momentos assim.
-Você diz que eu e Miguel nos comportamos infantilmente, mas isso é porque você não o viu com o Lúcifer. Eles sim são infantis, só sabem brigar!
-Em minha defesa, Lúcifer é quem briga comigo. Eu apenas me vejo na obrigação de me defender das suas implicâncias.
-Infantis – Eu e Laylah falamos ao mesmo tempo.
Ao mesmo tempo em que Miguel argumentava com o Anjo da Guarda sobre a implicante relação de irmãos que tinha com o Querubim, eu decidi explorar os lugares do jardim ficando surpreso com a imensidão do mesmo. Existiam flores de diversos tamanhos e cores, aves de distintas espécies, mas o que obteve minha atenção foi uma imponente cachoeira que se alçava frente a mim.
Aproximei-me dela a passos rápidos e fiquei ajoelhado na beira, onde terminava a grama dando espaço para se criar um grande lago graças à queda de água da cascata. Levantei minha vista e consegui ver um penhasco, sentindo mais uma vez o desconforto de quando conheci Rafael: meu corpo começou a tremer e a cabeça a latejar, só que com muita mais força que a primeira vez.
Tentei, bobamente, me segurar na grama quando senti que perdia o controle sobre o equilíbrio do meu corpo. Ele não me obedecia e insistia em se inclinar em direção à água para que eu caísse nela, e isso teria ocorrido se não fosse pela súbita aparição de uma fumaça que me jogou fortemente para trás me afastando do lago.
Não sabia se eu tinha chegado ao ponto de imaginar coisas ou era uma realidade, mas aquela fumaça era igual a que Lúcifer podia criar com suas mãos. Mas, Lúcifer não estava ali, como ele poderia ter me salvado de cair?
-Sebastiel! Sebastiel, onde você está? – Escutava meus irmãos gritando o meu nome, mas eu não conseguia falar e muito menos levantar, estava tonto e em estado de choque por tudo o que tinha acontecido.
-Irmão! – Senti os braços da ruiva ao redor do meu corpo. – Por que você sumiu desse jeito?
Fiquei calado, ainda perturbado.
-Sebastiel? O que há de errado? – Perguntou desta vez Miguel.
-Eu... Lúcifer está aqui?
-Lúcifer? – O Arcanjo olhou-me alarmado.
-Irmão, só estamos nós aqui – Laylah acariciou meu cabelo, mas se deteve quando olhou ao nosso redor, levantando aceleradamente e me puxando junto. – Vamos embora daqui, agora. Miguel ajude-me a levar ele.
-O que? Por que? – Mesmo sem entender nada o castanho ajudou a nossa irmã, quem não suportava sozinha o peso do meu corpo.
-Apenas vamos embora, por favor.
Queria questioná-la pelo seu bizarro comportamento, mas faria isso depois, eu também queria ir embora o mais pronto possível do jardim. Teríamos tempo para conversar sobre.
Os três saímos em completo silêncio do local e assim nos mantivemos o caminho todo, estávamos focados demais em nossos próprios pensamentos como para falar sequer uma palavra. Já me sentia bem e podia andar sozinho sem a ajuda dos meus irmãos, mas ainda assim eles se mantiveram ao meu lado.
Quando chegamos ao lugar que os anjos havíamos adotado como "ponto de reunião", Laylah nos fez parar e nos abraçou imprevistamente fazendo com que quase caíssemos.
-Eu amo vocês mais do que tudo – Ela segurou nossos rostos. – Vocês são os melhores irmãos que alguém poderia ter e eu sou tão feliz por tê-los comigo. Miguel, nosso Pai fez a escolha perfeita quando te colocou como o nosso protetor, e Sebastiel... Você com certeza será um admirável guerreiro e nem falar do quão abençoado será o humano que tiver você como Anjo da Guarda. Eu os amarei eternamente, e antes que eu esqueça, continuem treinando, se mantenham juntos e lembrem-se: Vocês juntos não são fortes, são invencíveis.
Não pudemos responder ou pelo menos dizer que também a amávamos, pois ela tinha simplesmente sumido, nos deixando desconcertados e com um esquisito sentimento dentro nosso.
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