Capítulo 5.
A cerimônia tinha chegado ao fim, motivo pelo qual Laylah e eu decidimos nos afastar dos nossos irmãos para poder conversar, eu sabia que tinha algo a incomodando.
-Laylah – Detive nossa caminhada. – O quê está acontecendo?
-Você está começando a me conhecer demais, irmão – Ela sorriu levemente. – Eu estou preocupada com o Lúcifer.
-Preocupada com o Lúcifer? Por que?
-Eu não sei, eu... Eu sinto que tem algo errado, sabe? Só não consigo decifrar se é algo errado com ele ou ao seu redor.
-Ei, Laylah, tal vez você esteja se sentindo assim pela reação que ele teve. Lúcifer está bem, não se preocupe – Disse abraçando-a, mas sem poder evitar ser contagiado pela sua preocupação.
-O que houve? Vocês estão bem? – Miguel apareceu nos assustando.
-Miguel! Por que você sempre aparece do nada? – Perguntou a ruiva ainda assustada.
-Desculpa irmã, não era minha intenção assustá-los. Estava procurando vocês, e quando os acho, nosso irmão está te abraçando como se algo tivesse acontecido. Não pude evitar me preocupar.
-Bom, acho que sei com quem Laylah divide essa qualidade de se preocupar tanto pelos outros – Falei rindo.
-Do que você está falando, irmão? – O Arcanjo me olhou confuso.
-Nada demais – Respondeu minha irmã antes que eu pudesse falar alguma coisa. – Por que estava nos procurando?
-Ah, é verdade! Sebastiel, eu fiquei sabendo que você tem algo para me perguntar, o que é?
-Eu? Mas o que eu-? – Lembrei-me da minha conversa pós-treino com Lúcifer. – Como você soube?
-Eu tenho os meus truques – Ele piscou o olho.
-Não sei se é boa ideia, por que melhor não esquecemos isso?
-Acho que vocês precisam conversar e eu também preciso ir, ainda tenho que parabenizar nossas irmãs pelo Juramento – Laylah deu um beijo na minha testa e na de Miguel. – Eu amo vocês, por favor, não aprontem nada sem me chamar!
Olhamos ela se afastar correndo enquanto ríamos, a nossa irmã era única.
-Não ache que vai fugir da conversa, irmão – O de cabelos castanhos me olhou divertido. – O que você precisa?
-Você pode me treinar junto com o Lúcifer? – Perguntei vendo cada canto do nosso lar, evitando olhá-lo.
-Quando começamos?
-Não precisa se desculpar, eu sei que você e Lúc- espera, o quê? Você aceitou?
-Sim, Sebastiel, eu aceitei. Por que tão surpreso? – Tinha certeza de que ele queria rir da minha reação.
-Você e o Lúcifer não se dão muito bem, então achei que você iria recusar – Encolhi os ombros.
-Lúcifer é... Difícil, mas ele é meu irmão e eu disse que lhe daria uma chance. Além disso, eu jamais colocaria tua proteção em risco por diferenças bobas.
-É uma pena você não ser um Anjo da Guarda, o humano que tivesse a tua proteção seria extremamente amado e cuidado.
-Eu irei cuidar dos humanos, mas não como você e nossos outros irmãos irão cuidar. Eu não só protejo-os, também protejo vocês e irei cumprir o que prometi pelo resto da minha eternidade.
Abracei Miguel fortemente, eu sempre seria grato ao nosso Pai por nos dar um irmão tão bom como o Arcanjo.
-Eu sei de um lugar no qual podemos treinar – Disse após nos separarmos. – Já estive lá com Lúcifer.
-Falando dele, onde ele está?
-Eu não sei, mas vamos precisar achá-lo para começar o treino.
Meu irmão e eu recorremos parte do paraíso na procura do Querubim, mas não obtivemos sucesso algum. Desanimado aceitei a proposta de Miguel de treinarmos sozinhos, estava empolgado demais com a ideia de treinar junto aos dois melhores guerreiros, mas um deles tinha decidido simplesmente sumir.
Levei o Arcanjo ao local no qual tinha treinado com Lúcifer pela primeira vez e ficamos surpresos ao vê-lo em pé ali, de costas a nós, já vestindo a sua armadura e segurando sua espada.
-Achei que vocês não viriam nunca – Falou o de cabelos escuros virando para olhar-nos.
-Só para confirmar, você sabia que estávamos te procurando? – Perguntei cruzando os braços.
-Exatamente.
-E você esteve aqui o tempo todo? – Foi a vez de Miguel perguntar.
-Não, quando eu vi vocês juntos soube que você – Apontou para o castanho . – Tinha aceitado a minha proposta, então era óbvio que Sebastiel iria te trazer aqui.
-A tua proposta? A proposta dele? – Miguel me olhou estranhado.
-Quando Lúcifer ofereceu me treinar ele disse que você também me treinaria, mas, resumindo, ele fez com que eu te perguntasse se você podia me treinar porque era algo difícil para o orgulho dele – Sorri com diversão vendo como Lúcifer me olhava com raiva.
-Agora tudo faz mais sentido.
-Vão ficar perdendo o tempo ou vamos treinar? – O Querubim estava chateado e eu já estava me arrependendo por ter feito aquela brincadeira.
Andamos até nosso irmão, mas eu parei repentinamente os fazendo me olhar com estranheza. Não sabia como não tinha pensado naquilo antes.
-Existe um lugar muito melhor do que aqui onde podemos treinar! Bom, não existe realmente, mas se nós quisermos que ele exista, ele existirá.
Comecei a caminhar em direção contrária a onde eles estavam e ainda sem entender o que estava acontecendo eles me seguiram. Lembrava do caminho pelo qual tinha ido com Laylah quando ela me levou até o jardim, e parei quando chegamos a aquele local vazio.
-Esse lugar é exatamente igual ao que estávamos, Sebastiel – Falou Lúcifer irritado.
-Na verdade, não é não – Respondeu Miguel começando a entender o que acontecia.
Sorri bastante empolgado, desejando conseguir fazer o mesmo que a ruiva. Virei de costas e fechei os olhos, imaginando um ambiente no qual fosse seguro e confortável treinar e para a minha surpresa, realmente funcionou. Frente a nós tinha uma espécie de arena de luta bastante extensa, era simples, mas suficiente para treinarmos.
-Devo confessar que achei que você estivesse brincando – Falou Lúcifer impressionado.
-Como você soube da ala invisível? – Perguntou o Arcanjo.
-Laylah me trouxe aqui, só que ela criou um jardim, realmente maravilhoso. Você tem que pedir a ela te levar também, mas agora, por que vocês não lutam um pouco? Eu preciso ver como agir, movimentos, golpes... Vocês sabem – Na verdade estava tentando evitar que a raiva de Lúcifer me atingisse.
-Vou ignorar o fato de você estar assustado e vou lutar com o nosso irmão para você ver que não sou nem um pouquinho rancoroso - Disse o de cabelos escuros sorrindo com falsidade.
-Sem truques desta vez – Falou Miguel enquanto a sua armadura e espada apareciam em seu corpo.
-Quanta desconfiança, diria que doeu, mas nosso Pai não gosta de mentiras.
Juntar esses dois era criar uma bomba relógio, Lúcifer adorava implicar e seu alvo favorito sempre era Miguel. Vi como os dois se colocavam em guarda e o primeiro dava um sorriso de suficiência, avançando até o segundo dando um golpe que foi perfeitamente bloqueado.
O Querubim não tirou o sorriso do rosto mesmo com o seu ataque não sucedido e conseguiu se defender facilmente de uma sequência de três golpes por parte do Arcanjo, tinha certeza de que essa luta não iria acabar tão cedo. Miguel atacou rapidamente com a espada o seu oponente ao mesmo tempo em que chutava o seu joelho conseguindo desestabilizá-lo, mas velozmente Lúcifer ficou estável e devolveu o chute com mais força fazendo o contrário cair no chão. Estava começando a achar que eu só tinha vencido o meu irmão porque ele permitiu.
Quando achei que a disputa entre os dois anjos tinha acabado, o castanho levantou-se num pulo fazendo um corte no ar com a espada que fez com que a sua arma colidisse com a do seu adversário. Era perceptível a força que ambos estavam exercendo sobre as suas espadas para fazer com que o outro desistisse, mas conhecendo-os, isso nunca aconteceria.
-Acho que eu já vi suficiente, agora é a minha vez de treinar – Falei me achegando a eles.
-Se afasta! – Gritaram ambos ao mesmo tempo.
-Desiste irmãozinho, não façamos Sebastiel continuar nos aguardando – Lúcifer falou e eu pude ver uma pequena fumaça em suas mãos que com rapidez desapareceu. Será que ele já controlava o seu poder?
-Desistir para deixar o teu ego ainda maior? Não, obrigado.
-Bem, eu posso ficar aqui o tempo que for preciso. O que acha de conversarmos? Precisamos melhorar a nossa relação.
Sério que ele queria ter essa conversa em um momento assim?
-Ah! Que bobo eu sou, quase me esqueço de algo muito importante. Diz-me, Miguel, você tem visto o Taphiel? Não o achei na cerimônia.
Era verdade, eu tampouco o tinha visto na hora do Juramento. Todos estávamos ali, sem exceções, mas ele não, e nem mesmo o Lúcifer sabia sobre ele. Miguel retrocedeu e franziu as sobrancelhas olhando o nosso irmão, ele não tinha notado a ausência do anjo de olhos azuis.
-O quê você sabe? – Perguntou o Arcanjo com desconfiança.
-Nada além de que eu acabei de vencer, foi um prazer lutar com você – Respondeu o Querubim fazendo uma sarcástica reverencia.
-Lúcifer, isto é sério – Miguel estava impaciente. – Não consigo entender como passei isso por alto. Onde Taphiel estava na hora da cerimônia e onde ele está agora?
-Eu não sei, aproveitei o momento para tirar informação e te vencer.
-Lúcifer, por uma vez, colabore.
-Eu estou colaborando! Te avisei sobre a ausência dele.
-Mas não sobre a sua localização.
-Pois eu não a sei. Pergunte ao Pai, não é ele quem sabe de tudo?
Miguel e Lúcifer se encararam e eu já estava rezando para eles não brigarem, esse treino estava longe de ser como tinha imaginado.
-Sempre vai ser assim? – Ambos me olharam. – Eu vou juntar vocês em um mesmo lugar e vão acabar brigando? Do que se supõe que tenho que aprender a me defender? Do perigo, ou das suas brigas sem sentido? Pelo amor do Pai, quando será o momento em que iremos poder estar os três juntos em um mesmo ambiente sem ter que me preocupar com uma possível discussão? Vocês são meus irmãos, eu vejo em vocês aquilo que eu quero chegar a ser, não acabem com isso.
-Eu sin-
-Não Miguel, não se desculpe, realmente não precisa. Podemos apenas treinar? Eu os ajudarei a procurar pelo nosso irmão quando acabarmos.
O Arcanjo e o Querubim assentiram e eu fechei os olhos sentindo como a minha armadura grudava em meu corpo e a espada aparecia, iria esquecer por alguns momentos tudo o que acontecia ao meu redor e focaria em dar o meu melhor.
-Sem treinamento de choque? – Perguntei a Lúcifer enquanto Miguel ficava confuso.
-Não prometo nada.
Surpreendentemente, eles conseguiram me ajudar a reforçar as coisas básicas sobre luta que eu precisava aprender sem brigas no meio, mas Lúcifer não resistiu implicar vez ou outra. Estava feliz, realmente feliz. Poder estar com eles em paz me fazia feliz, principalmente se estávamos dividindo algo que os três gostávamos de fazer.
-Eu quero lutar com o Lúcifer – Falei quando tínhamos dado uma pausa.
-O quê? – Perguntaram os dois e se olharam com diversão ao perceber que novamente tinham falado ao mesmo tempo, mas rapidamente ficaram sérios.
-Quero comprovar algo, e para isso preciso lutar com ele – Expliquei a Miguel, sabendo que ele seria o impedimento.
-Tem certeza disso, Sebastiel?
-Não é a primeira vez que eu o enfrentaria Miguel.
-Isso aí, Miguel. Não seria a primeira vez que nos enfrentamos, deixa o anjinho voar – O de cabelos escuros sempre achava espaço para fazer com que Miguel perdesse a paciência.
Mesmo não convencido, o castanho acabou aceitando a minha luta com Lúcifer. Admitia que estava nervoso, isso acabaria em uma vitória da minha parte ou em uma humilhação, e tinha esperança de que fosse a primeira opção.
-Você sabe porquê estou fazendo isto, não sabe? – Perguntei ao meu rival enquanto ficava em guarda.
-Separa mais os pés, e sim, eu sei. Os teus pensamentos me chamam, eu realmente tento te dar privacidade, mas é mais forte do que eu.
-Já que você sabe, por que então não me diz? Sim ou não?
-E perder a oportunidade de lutar? – Falou dando um golpe que por pouco consegui defender. – Quando isso tudo acabar você terá a sua resposta.
Sentia como o meu corpo formigava com cada golpe que executava com a espada, como se algo dentro de mim quisesse sair. Estava utilizando a minha habilidade nata combinada com o que Lúcifer e Miguel tinham me ensinado, mas ainda assim manter o ritmo de luta que o meu irmão tinha era extremamente complicado.
Após minha armadura receber o quarto golpe que não pude deter, tive a maior certeza de qual era a resposta: Ele tinha me deixado vencê-lo em nosso primeiro treino. Mesmo já sabendo a verdade eu não ia parar, ia lutar até o fim.
Enquanto tentava que a minha arma chegasse pelo menos perto de Lúcifer, Miguel me dava indicações e dicas dos movimentos que devia fazer. Seguindo as suas instruções consegui atingir o anjo frente a mim duas vezes consecutivas, mas depois disso ele me atingiu sete.
Lúcifer conseguiu me desestabilizar completamente ao avançar depressa batendo sua espada no cabo da minha, bem perto da minha mão, o que me fez soltar a arma lhe dando a chance de pegá-la e me dar uma rasteira certeira que me deixou no chão. Com ambas as espadas no seu poder, ele repetiu a minha ação em nosso treino: as entrelaçou e colocou uma em cada lado do meu pescoço.
-Acho que está faltando algo – Colocou seu pé no meu peito. – Agora sim! Ainda precisa de uma resposta?
-Para ser sincero, sim – Ele me olhou com dúvida. – Por que me deixou ganhar?
-Precisava estudar os teus movimentos, reconhecer as tuas fraquezas. Não pode ter um padrão de luta, o inimigo sempre estará um passo a frente se conhecer cada movimento seu.
-Por isso Lúcifer e eu iremos te ajudar – Falou Miguel me ajudando a levantar. – Vamos te ensinar cada golpe e defesa existente, depois dependerá de você a forma em que irá utilizar os seus conhecimentos.
-Sabe por que nosso irmãozinho e eu nunca conseguimos nos vencer?
Neguei levemente.
-Porque estamos continuamente mudando as nossas sequências, nossos ataques e defesas, e isso nos torna os melhores guerreiros.
-Lúcifer, não somos melhores que ninguém – Disse o Arcanjo. – Nossos irmãos podem se tornar tão bons quanto nós com um pouco de treino, podem até mesmo nos superar.
-Está vendo o que acontece quando tem bondade demais dentro de você? – Me perguntou o Querubim. – Ela vai até sua mente e não te permite pensar coerentemente.
Não pude evitar rir um pouco junto com Lúcifer, escutando pela primeira vez a sua risada. Miguel olhou-nos com seriedade até que se contagiou das nossas risadas e prontamente os três nos encontrávamos ali, em um lugar quase oculto do céu, rindo como se nada mais importasse. E realmente, naquele momento, nada mais importava.
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