Capítulo 4.
Atordoados pelo forte som chegamos até o ponto de encontro principal no céu, o mesmo no qual acordei após ser criado. Não fiquei surpreso ao ver todos os meus irmãos reunidos, obviamente isso iria acontecer em algum momento e nada era um motivo melhor do que o fim da criação.
Lúcifer e eu andamos até Laylah quando a avistamos, percebendo que fizéssemos o que fizéssemos ninguém nos notaria, pois todos pareciam hipnotizados olhando uma mesma coisa.
-Onde vocês estavam? – A ruiva sussurrou.
-Trein... – Lúcifer me deu uma cotovelada. – Estávamos por aí.
-Sei... Vou fingir que acredito – Ela nos olhou entrecerrando os olhos. – Miguel estava que nem louco perguntando por vocês, só vocês faltavam.
-O quê estão todos vendo? Acho que nem mesmo Miguel notou nossa chegada – Me sentia confuso e ao mesmo tempo ansioso por saber o que estava acontecendo.
-Veja por si mesmo – Minha irmã apontou aos nossos pés e mesmo estranhado olhei nessa direção, arregalando meus olhos ao perceber como as nuvens se transparentavam deixando ver um jardim e nele dois seres desconhecidos.
-Quem são eles? O que são? – Não sabia identificar se estava me sentindo emocionado ou um pouco assustado.
-Humanos, Sebastiel. São humanos. – Meu irmão de cabelos escuros respondeu.
-Exatamente, irmão. Especificamente Adão e Eva, os primeiros humanos na Terra – Laylah sorriu feliz.
-Você parece feliz demais com a criação desses dois – Disse Lúcifer cruzando os braços.
-Por que não estaria? Eles são a maior criação do Pai!
-Nós somos a maior criação Laylah, nós, não eles – O tom de voz do nosso irmão passou a ser intimidador.
-Bem... Por quanto tempo temos que olhá-los? – Comentei para aliviar a tensão ao ver como minha irmã engolia em seco após as palavras do Querubim.
-Não acho que por muito tempo, antes de vocês chegarem Miguel nos disse que mudanças vão acontecer e precisa conversar com todos nós.
Como se tivesse sido planejado, o Arcanjo, acompanhado de Gabriel e Rafael, se posicionou no meio de todos os anjos nos obrigando a criar um círculo gigante ao redor deles.
-Irmãos, como todos podem ver a criação do nosso Pai foi finalizada. Na Terra, o tempo de criação foi de sete dias, mas para nós aqui no céu, foram apenas horas. O tempo aqui e na Terra é completamente distinto, o que para os humanos serão dias para nós serão horas, os meses se transformarão em apenas dias e os séculos em meses.
-A partir deste momento cada um de vocês terá uma missão – Disse Gabriel. – Serão separados em anjos e anjos da guarda. Quem nasceu Querubim continuará sendo Querubim, quem nasceu Arcanjo continuará sendo Arcanjo e assim acontecerá com todos os que já nasceram com uma respectiva hierarquia. Apenas, e só apenas os que foram criados como simples anjos terão uma mudança hierárquica, com exceção de alguns nomes que o Pai catalogou como "ainda em capacitação".
-Ainda em capacitação – Bufou Lúcifer. – Isso soa bobo demais.
-Alguma coisa que queira dividir conosco, Lúcifer? – Miguel o olhou seriamente.
-Claro que não meu querido irmão, não ousaria interromper tão interessante momento. Prossiga.
O castanho olhou fixamente para o Querubim por alguns segundos se assegurando de que ele realmente não interromperia, e quando teve a confirmação que precisava, acenou para Rafael que começou a falar.
-O que vocês veem em minhas mãos é o Sagrado Livro dos Anjos, nele se encontra até o menor detalhe da nossa criação e nossas vidas. Todos temos um espaço dedicado a nós aqui – Disse o anjo da cura dando leves batidas no objeto. – Mas esse não é o motivo pelo qual o livro está aqui, e sim o juramento que nele se encontra.
-Juramento? Que tipo de juramento? – Questionou uma das minhas irmãs.
-O juramento, ou melhor, "A proteção do Anjo" é uma rápida cerimonia na qual vocês recebem a bênção divina que vai transformá-los oficialmente em anjos da guarda – Explicou Miguel. – Serão chamados um a um e terão que ficar dentro da esfera dourada.
-Qual esf-? – Antes que Laylah pudesse terminar a frase uma grande redondeza foi se criando no centro do círculo formado pelos anjos, brilhando tão intensamente que nos fez cobrir nossos olhos.
-Você realmente precisava perguntar? – Falou Lúcifer ainda cegado pelo brilho.
-A culpa não é minha! Foi uma coincidência – Respondeu Laylah quando nossa visão se acostumou com o resplendor.
-Podem parar? Estão gritando e todos olham vocês – Disse envergonhado pela atitude dos meus irmãos.
-Se Laylah e Lúcifer já terminaram sua discussão, acho que podemos continuar e ir ao ponto principal – Miguel começava a perder a paciência.
A ruiva se encolheu envergonhada enquanto o de cabelos escuros revirava os olhos, e eu só conseguia implorar a Miguel com o meu olhar para que nos tirasse daquela constrangedora situação.
-Eu chamarei cada um de vocês e irão adentrar na esfera, terão a sensação de estar flutuando e apenas poderão escutar a voz de Rafael e a própria – Agora era Gabriel quem dava as indicações. – Sei o que estão se perguntando. Como vamos saber o que falar? Bem, a resposta é simples: As palavras aparecerão na sua mente como se sempre estivessem estado ali, mas em um estado de bloqueio mental.
-Aqueles que não se transformem hoje, saibam que em algum momento a sua hora irá chegar – O Arcanjo de cabelos castanhos se pronunciou – Nosso Pai não esquece ninguém e muito menos deixa para trás, mas Ele sabe melhor do que qualquer um que todos temos tempos diferentes para alcançar uma hierarquia maior.
-Agora, por gentileza, quando um irmão ou irmã entrar na esfera, se afastem o mais que vocês puderem, vão me agradecer o aviso depois – Rafael sorriu com diversão após suas palavras.
Um longo papiro se estendeu pelas mãos de Gabriel, o que me fez deduzir que aquela era a lista feita pelo Pai com o nome dos anjos que iriam se converter. O loiro Arcanjo olhou a lista com um sorriso de orgulho, minha ansiedade naquele momento já se encontrava no seu ápice e não me achava capaz de controlar ela por mais tempo.
-Sophia, anjo da sabedoria, você é a primeira escolhida – Uma das minhas irmãs que ainda não conhecia se aproximou dos Arcanjos ao escutar o chamado de Gabriel, adentrando na redondeza como tinha sido pedido.
Naquele instante as palavras de Rafael fizeram sentido, uma luz muito mais potente que a da criação se desprendeu do local no qual Sophia se encontrava, cobrindo absolutamente tudo ao seu redor deixando quase impossível poder ver o que ocorria. Senti como alguém puxava o meu braço para que recuasse, percebendo pelo suave tacto que era Laylah quem estava fazendo aquilo e instintivamente procurei Lúcifer até encontrá-lo e arrastá-lo conosco.
-Deveria existir alguma proteção contra tanta luminosidade – Reclamou o meu irmão. – Tenho certeza de que se fôssemos como os que estão ali embaixo já estaríamos cegos.
-Nisso concordamos, irmão – Comentou a ruiva.
-Por que não escutamos nada? Será que estamos longe demais? – Perguntei confuso.
-Não, Sebastiel. Provavelmente eles colocaram alguma proteção ou tal vez o que é dito lá dentro só pode ser escutado na mente de Rafael – Respondeu Lúcifer.
-Eu não sabia que você era tão esperto – Disse Laylah assombrada.
-Não se trata de esperteza e sim de saber o que ocorre ao seu redor. Ser observador é quase um dom, se você souber utilizar com inteligência, é claro.
-Por que sempre tenho a impressão de que as tuas palavras vão além do compreensível? – Questionei.
-Já disse, Sebastiel. Tal vez eu esteja falando mais do que você pode imaginar.
Ia continuar com as minhas perguntas, mas repentinamente a luz diminuiu e tudo voltou ao normal, menos a esfera que tinha deixado de ser dourada para ser azul, combinando com as novas roupas de Sophia. No entanto, não foi a redondeza e muito menos as vestes que ganharam a atenção de todos no céu, e sim as grandes e belas asas que se encontravam sobressaindo nas costas da minha irmã.
Eu sabia que todos tínhamos asas, mas elas não sempre apareciam, só em um caso extremamente preciso. Se antes já queria ser anjo da guarda, agora queria ainda mais.
Quando a nova anjo da guarda se afastou da esfera, foi recebida com muitos abraços de parte das nossas irmãs, todas claramente admiradas com o acontecido. Gabriel pigarreou e pediu silêncio, muitos nomes ainda esperavam ser ditos.
-Dina, nossa mensageira, venha aqui.
O processo se repetiu, mas desta vez já estávamos preparados para o impacto da luz da esfera que tinha voltado a ser dourada. Depois de Dina veio Anaita, e logo após ela Angélica, Samuel, João, Sean... Lembrava perfeitamente de cada um dos nomes pronunciados, mas nenhum deles era o meu.
Começava a desanimar quando Laylah foi chamada, automaticamente substituindo o desanimo pela felicidade que sentia por minha irmã. Enquanto ela avançava ainda um pouco chocada, pude perceber como Miguel sorria disfarçadamente ao ver como nossa pequena irmã estava nervosa demais, provavelmente já sabendo como tudo aconteceria graças ao seu dom.
Em um abrir e fechar de olhos a esfera dourada já era azul e soube que as asas de Laylah tinham aparecido, era o mesmo padrão para todos os anjos: Primeiro luz azul e depois asas. Ela já se encontrava correndo feliz em minha direção e quando chegou a envolvi em um abraço meio desastrado, precisava me acostumar com a presença das asas.
-Aquilo é tão legal e eu fiquei tão feliz e ao mesmo tempo confusa porque sentia que estava voando e...
-Laylah – Falei rindo. – Se acalma, não estou entendendo nada.
-Sebastiel – Escutei a voz de Gabriel. – Anjo guerreiro, é a tua vez.
Eu não conseguia acreditar que era o meu nome o qual tinha sido dito, o meu, de mais ninguém. Fiquei tão atordoado que Laylah teve que me dar tapinhas no rosto para me fazer reagir, enquanto Lúcifer me empurrava para que começasse a andar.
Tentei não olhar em volta de mim ao mesmo tempo em que andava, eram muitos anjos e isso me deixava um pouco nervoso. Mantive meu olhar fixo em Miguel e no seu sorriso orgulhoso que não se preocupou em disfarçar, pelo menos assim focava em apenas uma coisa. Ao chegar frente à esfera hesitei em entrar, o nervosismo tinha aumentado consideravelmente, mas não podia deixar que isso estragasse o momento.
Adentrei-me na dourada luz e senti que tinha sido levado a outra realidade, não escutava e tampouco podia ver nada além do dourado da redondeza.
-Sebastiel, consegue me ouvir? – Escutei a voz de Rafael em minha mente.
-Consigo – Respondi. – Estou realmente flutuando ou é apenas uma sensação?
-É uma sensação, um efeito da esfera – Ele se calou por alguns segundos. – Você está pronto?
-Sempre pronto.
-Você consegue visualizar em sua mente o juramento? Consegue ver o que precisa dizer?
-Acho que sim, está um pouco confuso, como uma imagem embaçada.
-Feche os olhos e se concentre, você verá como tudo fica mais nítido.
Fiz o que Rafael me disse e realmente funcionou, o texto ficou nítido e eu tinha certeza de que podia falar ele uma e outra vez sem errar.
-Já posso ver ele, Rafael. Estou pronto para o juramento.
-Enquanto você recita A proteção, será preciso que você desenhe com o seu dedo uma cruz na capa do livro, mas por nada desse mundo tire o seu dedo antes de terminar de recitar.
-De qual livro você está fal-? Esquece, já o vi.
Frente a mim se encontrava literalmente flutuando o Livro dos Anjos, o que me fez assustar levemente já que não tinha percebido o momento em que ele tinha aparecido. Estiquei meu braço direito e antes de começar esperei a permissão do Arcanjo, a qual não demorou em chegar.
-Pode começar Sebastiel.
Com o meu dedo indicador e de olhos fechados comecei o desenho da cruz, ao mesmo tempo em que dizia o juramento e sentia como algo me envolvia.
"A cada passo dado você me terá ao seu lado.
Em cada conquista sua ambos teremos ganhado.
Em cada momento de tristeza você terá quem te fortaleça.
Em cada momento de fraqueza a luz te abraçará, minha proteção te reconfortará e o meu amor nunca te faltará.
Eu teu protetor, e você a minha salvação.
É assim como deve ser.
É assim como sempre será.
Você saberá que acontecer o que acontecer, sempre me terá.
Momentos bons ou momentos ruins, o teu anjo sempre estará.
O teu anjo sempre te cuidará, ele sempre te protegerá.
Seja feita a vontade de Deus.
Amém."
Ao terminar o juramento e o desenho senti um forte desconforto em minhas costas, sabendo que a causa eram com certeza as asas, pois a esfera tinha novamente ficado azul.
-Sebastiel, você está bem? – Perguntou Rafael.
-Estou ótimo, apenas tentando me acostumar a ter essas asas – Me sentia extremamente feliz, eu era oficialmente um anjo da guarda.
-Você já pode sair, e parabéns irmão, estamos orgulhosos de você.
Após o consentimento para me retirar, saí da esfera e não consegui tirar o sorriso do rosto. Felicidade era um sentimento tão bom, queria dividi-lo com todos os meus irmãos, mas primeiro precisava comemorar com o anjo da guarda e o Querubim que estavam me aguardando.
-Irmão, eu estou tão feliz por você! – Laylah me abraçou apenas cheguei. – Somos anjos da guarda, vamos proteger humanos, não vejo a hora de saber quem será o meu protegido!
-Tenho que admitir que achei que o Pai não tinha me escolhido, já havia desistido de ser chamado – Respondi e logo depois olhei Lúcifer. – Se você não fosse um Querubim, você acha que teria sido anjo da guarda?
-De jeito nenhum – Disse ele com convicção. – Meu lugar não é protegendo alguém.
-Por que você diz isso? Você é um incrível guerreiro, muito melhor do que eu e pode proteger qualquer um – Coloquei minha mão no ombro do de cabelos escuros.
-Para ser anjo da guarda é preciso mais do que habilidade para lutar, são precisas muitas coisas que eu não possuo. Eu não sou alguém a quem se deva confiar uma vida, seria loucura.
-Então acho que sou um louco Lúcifer, pois eu confiaria minha vida a você. Somos irmãos, eu confio em você, sei que você nunca me decepcionaria.
-Você pensa muito positivamente Sebastiel, tanta positividade nunca é boa – Eu podia jurar que mesmo por segundos, Lúcifer tinha ficado atingido pelas minhas palavras.
-Somos uma família, você, Laylah, Miguel, eu, todos... Eu te protegeria até o fim, assim como faria com todos os nossos irmãos.
-Você não entende Sebastiel, e para ser sincero, é melhor que continue não entendendo, pelo menos por enquanto.
Inconscientemente avancei até o meu irmão e o abracei, me afastando rapidamente ao perceber o que tinha feito.
-Desculpa, Lúcifer. Sei que você não é fã do afeto e muito menos do contato físico.
-Lúcifer – Falou a ruiva, quem se manteve calada esse tempo todo. – Como o Sebastiel disse, somos uma família. Admito que você tem atitudes um pouco estranhas que deixam os anjos apreensivos, mas todos merecem uma oportunidade, não é mesmo? Ninguém deixa ninguém para trás e muito menos ignora um irmão. Você não é fã do carinho, então se para você se sentir confortável precisa de distancia entre nós para conversar, ou até mesmo ficar em silencio olhando um para o outro, saiba que faremos isso. Queremos que você se sinta parte de nós, mas acima de tudo que se sinta bem.
Lúcifer olhou fixamente para Laylah e depois me olhou, deixando-nos confusos ao partir rápida e repentinamente.
-Eu falei algo errado? – Perguntou minha irmã.
-Não, pequena – Beijei a testa dela. – Acho que Lúcifer não está pronto para aceitar o amor de irmãos, ou apenas o amor.
O de cabelos escuros era um completo enigma, tentar conhecê-lo era como conseguir abrir uma porta, mas se encontrar com outra fechada. O problema era que não sabia quantas portas existiam no caminho até encontrar o verdadeiro Lúcifer.
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