Capítulo 2.
O paraíso era um lugar de beleza inigualável e isso era indiscutível, cada lugar dele sendo extremamente chamativo e bonito deixava a escolha de qual conhecer primeiro muito difícil. Ainda podia ver Miguel e Gabriel discutindo, só que agora Rafael também era partícipe dessa discussão e na minha mente ainda não existia uma explicação lógica que explicasse o comportamento deles.
Uma estranha sensação me invadiu ao pensar em Taphiel, se meu irmão suspeitava dele era porque algo de errado tinha e, se essas suspeitas fossem confirmadas, poderíamos estar nos enfrentando a um anjo perigoso e isso não me dava tranquilidade. Eu protegeria meus irmãos até o fim.
Ter esses desconfiados pensamentos sobre um membro da família me produzia um sentimento de culpabilidade, pois sabia que não era correto. Meu Pai não estaria orgulhoso de mim e, afinal, Ele colocou Taphiel junto a nós. Ele não podia ser perigoso.
Senti suaves cutucadas no meu braço e levei um leve susto ao ver outro anjo do meu lado, estive tanto tempo distraído que não notei que tinha companhia. Olhos castanhos, cabelo longo e ruivo eram as características da minha acompanhante, era uma das minhas irmãs.
-Oi Sebastiel - Disse ela animada e sorrindo levemente. - Meu nome é Laylah, estive esperando Miguel te deixar um pouco sozinho para poder me apresentar.
-Você é a primeira irmã que eu conheço, até agora só tinha conhecido meus irmãos - Me sentia feliz, saber que tinha irmãs me alegrou. - Onde estão as outras?
-Um pouco mais afastadas daqui, algumas de nós iríamos vir juntas até você, mas não gosto de esperar - Ela revirou os olhos. - Também estava entediada, já conversei com todas elas e não sabia mais o que fazer.
-Não sabia que sou um anjo tão interessante ao ponto de te fazer fugir das nossas irmãs para vir falar comigo - Ri levemente. - Como você sabe meu nome? Eu não sabia o teu até você dizer.
-Escutei Miguel falar o nome Sebastiel no meio da discussão com Rafael e Gabriel sem contar que ele apontou pra você, não percebeu?
-Não... Acho que estou muito focado nos meus pensamentos.
-Aconteceu alguma coisa? É pelo desentendimento entre eles? São irmãos, não vão ficar assim por muito tempo.
-Não é por isso, na verdade não sei, eles ficaram estranhos de um momento pro outro.
-Parece que Taphiel está provocando tanto coisas boas quanto coisas ruins.
-O quê você quer dizer com isso?
-Bom, ele fez com que Lúcifer focasse nele e parasse de olhar todos nós de um jeito estranho, mas também causou aquela confusão entre os Arcanjos porque sim, todos sabemos que é por causa dele.
-Você sabe algo sobre o Taphiel? - Tentei disfarçar meu interesse com indiferença.
-Não muito, só sei que, como eu disse antes, ele não sai do lado de Lúcifer e isso não tem Miguel muito contente. Pelo que escutei no caminho até aqui, ele não confia em Taphiel e acha estranho o fato de ter se interessado em nosso irmão logo após ele ter gritado aquilo para você.
-E o quê Gabriel e Rafael pensam ao respeito? - Estava começando a achar que o castanho não estava tão errado. - Miguel está preocupado e eu sei disso, ele apenas quer proteger todos nós.
-Ainda não existem motivos para pensar em proteção Sebastiel, Gabriel e Rafael pensam que nosso irmão está se precipitando e tal vez estejam certos.
-Mas e se não estão? Se na verdade quem está certo é Miguel? Desconfiar do Taphiel e ainda mais do Lúcifer não está nos meus planos, mas as circunstâncias estão se tornando um pouco estranhas, você não acha?
-Não sei exatamente o que está acontecendo ou pode acontecer irmão, mas precisamos confiar uns nos outros, nosso Pai sabe o que faz.
Suspirei e olhei Laylah com preocupação, ação que a fez botar a mão no meu ombro numa tentativa de me reconfortar. Era perceptível através do seu toque a intranquilidade que também sentia, mas já tinha reparado que ela gostava de manter uma personalidade que demostrasse fortaleza.
Miguel e Gabriel estavam vindo em nossa direção com sorrisos no rosto, minha irmã e eu nos olhamos estranhando a mudança no humor deles e até mesmo ficamos sem reação ao ter eles tão felizes na nossa frente.
-Irmão, irmã - Claramente Miguel tinha que ser o primeiro a falar. - Precisamos que nos acompanhem. Sebastiel, você vem comigo e Laylah você precisa ir com Gabriel.
-Estou começando a pensar seriamente que você tem algum tipo de preferência pelo Sebastiel - Laylah cruzou os braços e olhou ameaçadoramente Miguel. - Você está toda hora com ele.
-Não se comporte assim minha pequena irmã - Respondeu ele penteando os cabelos dela. - Não tenho preferências, pois eu amo todos vocês por igual, mas é hora de começar os treinamentos e eu sou responsável pelos nossos irmãos enquanto Gabriel se responsabiliza por você e nossas irmãs.
-Treinamentos? Você não me falou nada sobre isso - Eu estava realmente surpreso. - Por que precisamos treinar?
-É preciso que todos saibam se defender irmão, ordens do Pai - Desta vez foi Gabriel quem me respondeu. - Mesmo vivendo em paz, a defesa é algo fundamental e tem que ser ensinada.
-Mas o quê vamos fazer nesses treinamentos? Guerra de olhares? - Ainda não conseguia encontrar um sentido a esses treinos.
Os dois arcanjos riram, mas eu me mantive sério enquanto nossa irmã nos olhava analisando a situação. Por acaso iríamos nos machucar uns aos outros?
-Não Sebastiel, não vamos nos machucar, pois isso é impossível e antes de você perguntar, posso ler o teus pensamentos - Miguel respondeu ainda rindo. - Você também vai poder fazer isso, o poder só está adormecido. Os treinamentos não são entediantes quanto seria uma guerra de olhares, prometo.
Ainda levemente desconfiado sobre os treinamentos comecei a caminhar junto ao meu irmão, um pouco mais a frente estavam Laylah e Gabriel, os ruivos cabelos dela e os loiros dele brilhavam graças a pequenos raios de sol que faziam ato de presença no nosso lar.
Eles se afastaram completamente de nós e ao mesmo tempo eu e Miguel chegamos ao local onde treinaríamos, mas eu não consegui evitar que o nervosismo me atacasse novamente me deixando estático no meu lugar. Recebi um empurrão de parte do meu irmão e entendi que estava me sinalando que devia me juntar a uma das filas de anjos que estavam formadas frente a nós, e só aí consegui perceber totalmente que éramos muitos anjos, muitos mesmo.
Procurei algum rosto conhecido, mais precisamente o de Lúcifer, mas ao encontrar ele também encontrei Taphiel e por esse motivo me juntei à fila oposta. Ao meu lado estavam muitos anjos ainda desconhecidos para mim, nem sequer Rafael se encontrava no meu grupo e pelo que tinha notado tampouco estava no outro. Sentia-me desconfortável, não saber o que iriamos fazer e estar longe de quem conhecia só aumentava esse sentimento, mas a voz do Arcanjo que nos treinaria chegou para me acalmar.
-Irmãos, fomos criados não só para cumprir as missões que nosso Pai nos deu, mas também para proteger o reino d'Ele, nosso lar. Além de sermos anjos somos soldados e guerreiros e é por isso que esses treinamentos existem, cada um de nós tem um poder dentro de si que está pronto para ser revelado, mas não esqueçam: o poder é algo especial, forte, e vocês precisam ser sábios e utilizar ele para o bem, para ajudar e para se defender. O poder não existe para ferir, o poder existe para curar.
Miguel realmente sabia como dar discursos motivacionais, sem dúvidas.
-Como iremos saber o que devemos fazer? Quero dizer, como vamos controlar o poder? - Um anjo desconhecido falou.
-Isso está dentro de cada um de vocês, o controle. A diferença é a força que cada poder possui, mas nós nascemos com isso, fomos abençoados com o poder e também com a sabedoria para controlar ele, além da habilidade para lutar que será aperfeiçoada nesses treinamentos. Agora, preciso que todos mantenham uma pequena distância entre si porque o que vem agora pode... Incomodar um pouco.
Todos os irmãos nos olhamos com a mesma pergunta em nossos pensamentos, o quê Miguel quis dizer com isso? Nenhum de nós tinha resposta aquilo, mas suas palavras começaram a ser compreendidas quando senti como algo se aderia ao meu corpo apertando meus braços e pernas. Não podia enxergar o que estava me gerando desconforto, uma luz parecida com a do momento em que fomos criados estava envolvendo cada um de nós.
Quando a luminosidade diminuiu, pude ver que o Arcanjo agora estava parado no meio das duas filas e não mais na ponta como a princípio, vestindo uma armadura completamente dourada com uma longa capa vermelha que envolvia parte do seu torso e braço esquerdo. Suas roupas pareciam extremamente pesadas, mas ele caminhava com leveza sem se incomodar fazendo com que suas botas também douradas produzissem um som agradável que combinava com seus passos.
Miguel já era um ser de imponência, e agora tendo uma armadura ninguém conseguia deixar de admirar como a áurea dele se refletia no dourado deixando ele quase intocável pelo medo de acabar com tão angelical imagem. Olhando os braceletes que cobriam seus braços percebi que em suas mãos ele segurava uma espada e um escudo, ambos cor platina possuindo detalhes dourados: a espada tinha uma cruz na sua empunhadura e o redondo escudo tinha escrituras que faziam parte do Livro dos Anjos.
Meu olhar foi até as minhas mãos na procura de também ter uma arma e fiquei chocado ao encontrar, também, uma espada só que maior que a do meu irmão. Ela também era platina e olhando ao meu redor percebi que todas nossas armas tinham a mesma cor, e o que diferenciava umas das outras eram pequenos detalhes com cores diferentes. A empunhadura da minha espada, por exemplo, tinha um pequeno raio azul metálico.
Estava tão impressionado com o que tinha me sido entregue que não dei importância aos olhares admirados que meus irmãos me dirigiam, tampouco tinha conhecimento do porquê estarem me olhando assim até que um deles falou.
-Sebastiel, a tua armadura... Ela é incrível.
Olhei lentamente para o meu corpo e entendi porquê estava ganhando tanta atenção, minha armadura era realmente bela. Um azul igual ao do raio da empunhadura e o dourado se juntavam formando uma boa combinação de cores chamativas, uma capa azul saía da ombreira dourada e cobria todo meu braço esquerdo, as roupas totalmente azuis com partes douradas chegavam até meu pescoço e no centro delas, precisamente no meu peito, uma cruz templária brilhava levemente. Eu também tinha braceletes e botas, ambas as peças totalmente confortáveis que me fizeram entender porquê Miguel andava com tanta elegância.
Maravilhado era o que me definia nesse momento, era como se a armadura estivesse estado sempre no meu corpo ao igual que a espada, tocar ela me provocava arrepios.
-Espero que se sintam bem com suas armaduras e estejam satisfeitos com suas armas, nosso Pai criou cada peça e objeto especialmente para cada um de nós e jamais irão existir artefatos iguais. Se existem perguntas a serem feitas sobre o que lhes foi entregue, este é o momento para fazê-las.
O silêncio reinou, mas eu tinha uma dúvida que precisava ser respondida e sabia que só meu castanho irmão teria a resposta.
-Miguel - Ele e todos nossos irmãos me olharam. - Essa espada... Eu sinto que ela é diferente, mas por quê?
-Ela é especial, é uma espada de duas mãos própria de grandes guerreiros. O Pai deve ter bons motivos para ter dado ela a você - Um sorriso de orgulho apareceu no seu rosto. - Se ninguém tem mais perguntas...
-Eu tenho uma - Não reconhecia essa voz, mas ao seguir o olhar dos anjos percebi que era Taphiel quem tinha falado. - Se nosso Pai lhe deu essa arma por ele ser um "grande guerreiro", por que a minha é uma foice?
Sussurros invadiram o paraíso, ninguém tinha reparado na foice até ela não ser nomeada e ela era de alguma forma perturbadora. Ela parecia perigosa.
-Não sei o porquê d'Ele te dar uma foice Taphiel, tenho certeza de que também existem bons motivos para você ter ela.
-Hm, afinal, parece que o Arcanjo não sabe tudo - O de cabelos escuros estava provocando Miguel. - Achei que poderia me responder assim como respondeu Sebastiel.
Miguel apertava fortemente a empunhadura da sua espada enquanto o clima ficava cada vez mais tenso, e isso não era nada bom.
-Vamos começar o treinamento, quero que olhem para o irmão que esteja na sua frente na fila oposta e fiquem em guarda - Tentei disfarçar minha risada ao perceber que Taphiel tinha sido ignorado. - Isto vai lhes permitir proteger seu corpo e ao mesmo tempo atacar rapidamente o seu oponente, na hora que forem executar seu golpe nunca movimentem sua arma de cima para baixo, pois se deixariam expostos facilitando ser atacados. O movimento certo a se fazer é da esquerda para a direita ou vice-versa aplicando força, tentem seguir o que eu disse, mas, por favor, sem sair dos seus lugares e mantendo as distâncias.
Segurei a empunhadura da espada com minhas duas mãos e fiquei em posição, meu corpo sabia o que fazer e realizava inconscientemente os movimentos. Com as pernas ligeiramente flectidas, coloquei meu pé direito na frente e o esquerdo atrás mantendo meu tronco na vertical e distribuindo o peso do meu corpo nas minhas duas pernas.
Inclinei levemente a espada para a direita, os braços continuavam grudados ao corpo e minha arma estava um pouco afastada dele. Fiz o movimento de direita à esquerda que o Arcanjo tinha dito e senti meus braços formigando, como se alguma coisa tivesse sido ativada em mim. Repeti a ação várias vezes e vi que meus irmãos faziam o mesmo, Miguel estava certo quando disse que todos havíamos sido criados com habilidade para lutar.
Após umas quantas repetições mais, o castanho se colocou no meio de nós novamente fazendo com que todos parassem e dessem atenção a ele.
-Vocês se saíram muito bem nessa primeira parte do treinamento, sinto-me orgulhoso, mas isso está recém começando. Vão se enfrentar uns com os outros, mas nada muito arriscado, pois conhecem os limites - Não tinha tanta certeza de que todos conhecessem. - Lúcifer, já que você está aqui se enfrente a mim, ambos sabemos lutar perfeitamente e eles precisam ver e memorizar os golpes.
-Achei que nunca pediria irmãozinho, já estava ficando entediado.
Lúcifer caminhou e ficou frente a frente com Miguel, sua armadura era vermelha e preta, mas o que obteve minha atenção foi a espada: Completamente platina, mas de uma cor mais escura na empunhadura. A lâmina tinha pequenos cortes nela, o cabo parecia ter umas estranhas asas no seu começo e uma pequena chama da mesma cor da arma no final. Estava nervoso, não tinha certeza de que esse confronto fosse dar certo. E se um deles perdesse o controle? Como iríamos parar isso?
-Não seja previsível nos seus movimentos Miguel, espero não ter que te vencer tão rápido.
-Não seja egocêntrico Lúcifer, não quero ferir teu ego.
Okay, nada bom poderia sair disso.
Lúcifer conseguiu bloquear o primeiro movimento do nosso irmão, mas após isso acompanhar ambos batalhando ficou quase impossível, eles eram rápidos demais e demonstravam melhor do que ninguém que nós, os anjos, nascemos com o dom pra batalha.
Esse treinamento nunca deveria ter acontecido.
Meus irmãos eram perfeitos no que faziam, afinal, éramos criação do nosso Pai, devíamos ser perfeitos, mas ficar tão admirado me fez não perceber que a luta tinha parado repentinamente e os olhares caíam sobre o de cabelos pretos, mais precisamente na espada dele. Por que a arma de Lúcifer tinha uma leve fumaça saindo dela?
-Acabou o treinamento - Miguel parecia nervoso, ou melhor, de fato estava nervoso. - Preciso ter uma conversa a sós com nosso irmão. Agora.
Sério? Deixar eles sozinhos depois do que acabava de acontecer? Nenhum deles precisava de proteção, mas não me sentia bem deixando-os.
-Sebastiel - O castanho me chamou. - Você também precisa ir.
-Não seja assim com nosso irmão, o deixe ficar.
Sabia que Lúcifer só falou aquilo para contrariar Miguel, mas foi inevitável agradecer internamente a sua ação.
-Não precisamos envolver mais anjos nisso.
-Sinto te contrariar, mas já te contrariando, você realmente acha que ninguém viu nada? Não seja ingênuo, terei que ter uma conversa séria com nosso Pai pela sua escolha de Arcanjos.
-Como você ousa em sequer pensar na possibilidade de julgar as ações do Pai? Por que melhor não explica o que fez para criar aquela fumaça?
Definitivamente, ainda bem que não fui embora junto com os outros.
-Eu não fiz nada, a espada que fez. Brigue com ela e não comigo, desculpa se te decepcionei.
-Mas Lúcifer - Era meu momento de acabar com uma possível discussão. - Eu vi como a fumaça começava a cobrir tua mão e só parou quando você também parou de lutar. Nenhuma arma faz isso, e acredito que Miguel esteja apenas preocupado.
-Sebastiel, acredite em mim, eu não criei a fumaça.
Era a primeira vez que ele tinha um tom suave para falar comigo, com alguém na verdade, e tal vez por isso acreditei nas suas palavras.
-Bom, então, acho que devemos descobrir porquê a espada faz isso, não é verdade Miguel?
-Não tem como descobrir irmão, só o Pai pode responder isso, mas Ele ainda está terminando a criação.
-Acho que essa é a hora de me retirar e deixar vocês tendo uma conversa que com certeza será sobre mim.
-O céu não gira em torno a você Lúcifer, não mesmo - Miguel olhou com cansaço para ele. - Sebastiel, eu preciso encontrar Rafael e Gabriel, acho que Laylah já não deve estar treinando e você pode ir com ela.
-Não, quero dizer, não agora. Vou andar um pouco, conhecer mais deste lugar.
Ele acenou, se afastou e eu estava prestes a fazer o mesmo quando a voz de quem eu achava que já tinha ido embora me interrompeu.
-Eu não disse a verdade.
-O quê?
-Eu não disse a verdade - Lúcifer cruzou os braços e olhou diretamente para mim. - Eu criei a fumaça.
-Por que você não falou isso para o Miguel? Eu não quero ter que esconder coisas, por que você me disse?
-Quero aprender a controlar isso, quero saber se posso fazer de novo. Só depois de ter respostas tal vez conte a ele.
-Tal vez? Tal vez?! - Passei as mãos pelo meu rosto em sinal de frustração. - Por que você contou pra mim?
-Digamos que tenho certa confiança em você. Não peço que você esconda, apenas me dê tempo.
Confiança, não sabia que você era tão perigosa.
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