Súile Dubh
Quando eu era criança ficava horas na janela do meu quarto a tarde.
Eu não lembro bem disso, mas meu avô me falava que toda tarde meus pais e ele podiam me encontrar lá, parado, coisa tão pouco usual minha. Quando me perguntavam o que eu estava olhando, eu respondia que estava esperando o pôr-do-sol.
Com o tempo eu esqueci, eu cresci e deixei de esperar, mas aquele vazio sempre me batia, todo fim de tarde. Como se estivesse faltando algo. Como se a qualquer momento esse algo fosse chegar, subindo a colina.
Eu não lembro de que ficava na janela, mas eu lembro da sensação que nunca me abandonou.
Apenas anos depois eu entendi que não esperava o pôr-do-sol.
Eu esperava meu destino.
Península Olímpica, Washington, EUA, 2016
OLHAVA PARA FORA DO CARRO, DESCRENTE DO QUE VIA.
Aquele mar de verde parecia zombar de sua capacidade desumana de destruir tudo de bom que tinha em sua vida patética. Sabia que não adiantava rebelar-se à decisão de seu pai, era inútil. Estava a se mudar para um colégio interno, colégio esse que parecia se situar no meio das montanhas já que desde que saiu de Seattle não havia visto nada além de árvores, e isso já durava horas. Seu pai não havia falado uma palavra desde que entrara no carro, nem ligado o som para passar o tempo.
E o porquê disso?
Havia sido expulso de seu antigo colégio por causa de sua última briga, essa que envolveu um professor. Foi realmente muito prepotência sua achar que depois de dar um soco na cara de seu antigo professor de aritmética e tentar o sufocar não iria sair perdendo, mesmo tendo ganhado a briga. Não se arrependia, nunca se arrependeria de ter ensinado uma lição aquele maldito professor, depois de dois meses inteiros tentando se controlar. Claro que não foi somente aquela briga que o levou a expulsão, foram várias. Naruto tinha uma fama como o tipo que não levava desaforo para casa, explosivo, que entrava em brigas onde estivesse, com quem fosse.
Admitia que tinha culpa naquela fama, embora a verdade fosse bem mais complexa do que aquilo.
Enfim, seus pais não gostaram da notícia, nem um pouco, Naruto até achava que nunca havia visto em sua vida seu pai tão enfurecido. Seu tio Tobirama havia dado a ideia, e Minato decretado: iriam se livrar da ovelha-negra, neste caso Naruto.
Não com essas palavras, mas ele havia sido claro o bastante para entender que não era mais bem-vindo em casa por enquanto.
E se aquilo não doía, não sabia o que podia doer. Preferia levar uma surra a receber aquele olhar desapontado de seu pai, ou os olhos tristes da sua mãe, querendo interceder, mas não tendo como ajudar na sua causa, se o próprio Naruto não se ajudava.
Agora teria de repetir o terceiro ano, com dezenove anos. Aquela não era sua primeira expulsão, acabou ficando um pouco para trás com isso, sabia que seria o mais velho na sala. Isso não o incomodava tanto quanto ter de rever todo o conteúdo do ano passado, sabia que seria perda de tempo – e dinheiro – o despachar para o fim do mundo. Porém não podia opinar, nem devia se quisesse continuar vivo.
— Estamos chegando. – A voz firme de seu pai soou pelo carro silencioso, despertando Naruto de seu semi-coma no assento do passageiro.
Estremeceu, aquela voz tão séria parecia ser uma sentença, seu pai sentia um desgosto intenso de ter de tomar decisões tão drásticas para colocar o filho na linha. Naruto sabia, mas de algum modo não queria rebelar-se a essa decisão, talvez por medo da reação dele.
Talvez por sentir que merecia o que acontecia.
— Espero que você leve a sério dessa vez, Naruto, é sua última chance.
Sim, última chance. Não duvidava.
— Certo.
— E outra coisa, se você descumprir qualquer regra, qualquer uma, irei te tirar daqui e você terá de trabalhar para se sustentar. Entendeu?
Naruto se encolheu contra o estofado de couro cor creme. Seu pai não mentia, ele nunca mentia, se falava que o colocaria para trabalhar, ele o faria.
— Certo.
— Confio em você.
— Eu sei.
Mais nenhuma palavra foi trocada, o clima pesado continuava e Naruto parecia relutar a retirar o olhar da paisagem verde de fora para olhar seu pai. Achou melhor continuar em seu lugar quieto.
Aos poucos a vegetação do outro lado do vidro fumê mudava de árvores frondosas de verde intenso para uma vegetação mais rasteira e árvores de porte médio, cortadas de forma oval, que sublinhavam a estrada, cercadas pelas típicas montanhas e morros. Uma grande placa com escrita elegante dizia: 'Bem-vindos à Boarding School Middleford Mir'.
Sim, havia chegado para seu novo purgatório pessoal em tempo integral.
— Middleford... Um belo nome, não? Expressa poder. – Seu pai disse sorrindo de maneira pouco exagerada, o que não era algo assim tão estranho, ele era conhecido por seu um homem gentil e afável.
O estranho é que momentos antes ele estava de cara amarrada.
Naruto nada disse, preferiu ficar calado diante a bipolaridade de seu pai. E que o que achava sobre aquele nome era contraditório a opinião do mais velho.
Logo, mais ao horizonte, em meio ao verde, uma grande construção se erguia. Tão bela que parecia existir ali desde os primórdios da humanidade e ter crescido juntamente a aquelas magníficas árvores. O estilo medieval era revelado cada vez mais que o carro aproximava-se descendo pela ladeira de terra batida, seus tijolos acinzentados cobertos por algumas plantas que a escalavam e com musgos verdes, davam um aspecto de velho a aquela construção, quase fundindo a floresta característica do estado de Washington. Mais atrás da masmorra era possível ver a enorme montanha que se erguia, uma das várias que rodeavam a instalação situada ali no meio. Naruto tentou não demonstrar o qual surpreso ficou, já que achava que sua nova "casa" seria cercada por muros altos, arames farpados e vigias armados.
Podia-se ver o jardim, ornamentado com flores coloridas, formando o brasão do colégio, que era um escudo com duas espadas cruzadas e um leão no meio. Tudo em um vermelho escarlate e azul cintilante, bem retratado pelas belas flores. O jardim era cortado pela estrada que serpenteava por entre as flores.
Naruto não era supersticioso. Quando criança, seu avô lhe contava histórias fantasiosas sobre a terra natal da sua família, Irlanda. Ele sempre dizia que era sua herança. E naquela época, eram verdades em que acreditava. Não recordava da maioria, e desde que o avô morreu ele deixara de acreditar em qualquer superstição ou algo do tipo.
Ele havia deixado de acreditar em muita coisa, na verdade.
Ainda assim, ao avistar aquele lugar um arrepio subiu por sua espinha, fazendo os cabelos loiros de sua nuca ficarem ouriçados. Era como um mau agouro, uma sensação estranha que lhe dava medo. Não que o lugar fosse feio. Verdade que era pateticamente... Verde demais. Era algo mais do que isso.
Balançou a cabeça, já tinha problemas demais para pensar além disso.
Viu de soslaio que seu pai se inclinou um pouco no acento, tendo uma vista melhor da paisagem, parecendo tão curioso quanto o adolescente.
Sabia que seu pai não havia ido até o colégio antes, todo o processo de matrícula fora feito pelo pessoal de seu trabalho e seu tio Tobirama. Minato trabalhava na NSDA¹ como diretor de intercomunicações mundiais, um alto patamar daquela agência o que o tornava um "chefão" em monitoramento mundial. E foi em seu trabalho que ficou sabendo daquele internato que tinha uma espécie de convênio com as várias instituições federais e dava um desconto generoso a eles, e resolveu que era bom que seu filho provasse uma boa dose de limites ali. Até porque o colégio era quase que somente constituído de filhos e parentes de agentes. Naruto ali não se sentiria tão deslocado quanto em seu antigo colégio, onde tinha amizades restritas pelo emprego de seu pai (ou seja, não tinha amizade nenhuma).
Mais à frente a estrada começava a ser coberta por brita acinzentada e se dividia em duas vias. Minato diminuiu a velocidade ao alcançar tal ponto, abrindo o vidro elétrico do carro, escorando o antebraço na janela do carro para alisar os cabelos loiros para trás. O som da brita sendo esmagada pelos pneus do carro era quase que reconfortante dentro de todo o silêncio que se estendeu pela viagem. Naruto sentiu aquele cheiro de terra molhada e musgo, típicos de mata fechada como a que os rodeava, e franziu o cenho achando aquele cheiro extremamente deplorável. Preferindo mil vezes o ar poluído da cidade grande. Aquele cheiro lhe lembrava da infância. De estar na mata com seu avô. Era para ser algo reconfortante, mas hoje em dia só lhe trazia más lembranças.
— Ah! O ar puro! Não se sente o qual mais fácil é respirar esse ar, Naruto? – Minato se virou com um sorriso, seriamente esperando uma resposta afirmativa, e contrariando suas expectativas Naruto deu de ombros. Se dissesse o quanto aquele cheiro era insuportável para si...Naquelas horas entendia que seu pai não o conhecia tão bem. E de quem era a culpa se não do próprio Naruto? – Até eu gostaria de ficar aqui.
Então fique no meu lugar! Naruto pensou histérico, mantendo suas feições o mais neutras possíveis, apesar de estar, literalmente, enlouquecendo com toda aquela bizarra realidade.
A frente, podia-se ver a entrada principal da grande masmorra, uma ampla varanda coberta por duas pilastras que alcançavam dois andares acima sustentando um teto de mármore brilhante, assim como as escadas abaixo, de mármore escuro. Á sua frente uma fonte simples, mas não menos grandiosa jorrava água para todos os lados. A estrada de brita a rodeava e seguia para a esquerda, onde uma pequena placa de "pare" indicava a preferência para quem saia do estacionamento. Estacionamento esse que era coberto pela sombra das frondosas árvores.
Minato contornou a fonte, parando atrás de outro carro que também esperava para entrar no estacionamento, quando o sedan que atrapalhava seguiu seu caminho, entraram no estacionamento, que estava relativamente cheio. Minato achou uma vaga já no fim, debaixo de um salgueiro.
Destravou as portas, ambos saindo para o ar frio da montanha, Naruto sentindo aquele cheiro ainda mais concentrado e o frio mais intenso queimando seus pulmões, fechou com força a porta do carro descontando um pouco toda sua ira. Minato tentou não dar um sermão ao filho do quanto eram frágeis as portas e que não as deveria bater com tanta força, mas se calou, entendendo o quanto seu filho estava se esforçando para não fazer um escândalo, tentando ser o mais maleável possível para não agravar aquela situação.
Fechando o zíper de sua jaqueta de couro, Naruto acompanhou o mais velho para a traseira do carro, onde, após ter apertado um dos botões acoplados a chave o porta malas se abriu. Naruto retirou a mala de rodinhas preta e uma mochila camuflada a qual jogou sobre o ombro.
— Onde vamos agora? – disse olhando para os lados, Minato parecia fazer o mesmo, tentando captar um pouco do teor daquele lugar, era sim sombrio, o modo em que se erguiam aquelas paredes. O modo em que altos salgueiros e pinheiros cresceram ao redor daquela construção, como uma mata fechada, não podia-se ver nada além de árvores. E mesmo o estacionamento estando pouco movimentado e ainda ter a claridade do dia não deixava de ser um lugar amedrontador.
— Sejam bem-vindos!
A voz estridente viera de uma moça, que havia se materializado literalmente ao lado dos dois loiros, assustando-os. Ela era baixa, corpo miúdo como o de uma criança, assim como suas feições delicadas com o de uma fada. Vestia roupas leves, uma camiseta branca de flanela e um jeans desbotado. Os cabelos negros eram curtos na altura dos ombros e lisos, olhos grandes de um verde esmeralda cintilante, davam a impressão de ela ser um desenho. Ela sorria, sua boca brilhante pelo gloss rosa.
— Obrigado. – Minato devolveu o sorriso cordialmente. – Você trabalha aqui?
— Oh! Perdoem-me, sou Rebecca Heigh, recepcionista. – Inclinou a cabeça para o lado, para enxergar o outro loiro, que estava a alguns passos atrás do pai, fora de sua visão. Sorriu de uma maneira meio estranha, na opinião do Namikaze, que somente observava, desviando o corpo para o lado para que a garota pudesse ver melhor seu filho.
— Sou Minato Namikaze, esse é meu filho, Naruto Uzumaki.
—Uzumaki? – A mulher perguntou, curiosa pela diferença nos sobrenomes.
Naruto sabia que seu pai fazia aquilo para protegê-lo. O nome Namizake poderia abrir tantas portas quanto causar problemas. Ainda assim, sempre era estranho ouvir isso. Como se fosse um bastardo ou um segredo sujo, por mais irracional que fosse pensar em algo assim.
— E essa é uma conversa que tenho que ter com o diretor. – Minato respondeu de forma firme e ela assentiu seriamente, a expressão de repente menos infantil
— Prazer, Naruto. – Ela cumprimentou com um breve aceno. – Estávamos todos esperando você.
E até a forma como ela falou isso lhe pareceu agourenta. Era observador o bastante para sentir como se ela estivesse lhe avisando algo, os olhos verdes mostrando que a expressão alegre e cabeça de vento seria apenas uma fachada.
Ou talvez estivesse apenas pensando demais.
Sacudiu a cabeça e sorriu, o máximo que conseguia com a situação em mãos.
— O prazer é meu.
Desviou o olhar da pequena garota, para a grande masmorra ao seu lado. Observando as janelas, que lhe lembravam catedrais, pois os vidros tinham desenhos e eram coloridos, impossibilitando de qualquer luz solar entrar, sem ser colorida. No entanto, não foi isso que chamou a atenção de Naruto, mas sim os desenhos ilustrados ali, num deles, um homem fincava uma espada no peito de outro, e pelas roupas a época em que era retratado era talvez no século XVII, divagou.
— Sabe, somos novos aqui então se puder nos ajudar...
— É claro! Acompanhem-me, vou levá-los a sala da diretoria. – Ela acenou com as mãos para que a seguissem.
Rebecca parecia fisicamente uma criança, mas não agia como uma. Seu andar era manso, como um felino gracioso. Naruto a seguiu levando a mala junto com o pai. Ambos observavam agora aquela masmorra por dentro, que se mostrava imensa, e como antes, a imagem antiga do local também era retratada em sua mobília, no longo corredor eles eram os únicos.
A luminosidade do local, feita somente pelas janelas coloridas fez Minato lembrar-se de um convento a que ficou morando por algumas semanas em sua pré-adolescência, quando seus pais viajaram às pressas. Não foi uma experiência muito boa, e, nem se lembrava do porquê dessa viagem dos pais, só sabia que eles de repente, fizeram suas malas e o levaram a aquele convento no meio do nada. Ficou assustado, com medo, todos ali sempre o olhavam como se fosse um tipo de animal peçonhento que precisava ser exterminado. Enfim, quando seus pais retornaram, Minato, estava mais magro que o normal e mais arredio.
Chegaram a uma parte do corredor, em que a parede da direita era completamente extinta, sobrando somente vigas grossas ornamentadas por gesso. Dando ampla visão do que no meio, dividindo a grande construção ficava um pequeno jardim, uma fonte pouco menor que a da entrada jorrava água e era rodeada por banquinhos pelo que podia ver, a frente do jardim na junção dos dois patamares da masmorra ficava a torre de um relógio, que tinha a mesma altura do resto a construção assim não podendo ser vista além de quem estivesse ali dentro. E do segundo e terceiro pavilhão e seus corredores abertos.
— Como podem ver é uma estrutura velha, mas bem conservada. Desse lado, Naruto, é onde acontecem às aulas, todas as salas ficam nesse pavilhão, térreo e segundo andar são salas normais, o terceiro são as salas dos clubes de aulas extracurriculares. Aquele lado e aquele. — Apontou para os respectivos. — São os dormitórios, feminino e masculino...
Rebecca continuou com seu falatório, do qual Naruto não se interessava nem um pouco a ouvir. Estava entediado, irritado e farto de tudo aquilo. Mesmo que não demonstrasse, mesmo que tentasse os excluir de si mesmo não adiantava. Odiava tudo aquilo, aquela história de ter de morar ali, de ter de obedecer a regras de pessoas estranhas...
E sem saber se aquele fim de mundo tinha rede de celular.
Droga. Pensou ao lembrar-se dessa hipótese.
Rebecca continuava a falar, agora sobre o quanto estava movimentado o colégio e que só o responsável mesmo pelo aluno que precisava falar com o diretor, sobre a reforma nos dormitórios e que teriam uma alimentação diferenciada. Naruto ignorou tudo mirando em seus tênis, caro e chamativo. Laranja neon, sua cor favorita.
Ele estava com uma ilustre vontade de voltar para seu quarto, seu belo quarto de paredes laranja, sua cama macia de casal, sua ampla TV LCD, sua estante de livros. Imaginava-se com seu amado skate, andando pelas ruas calmas de seu distrito, vento ao rosto, adrenalina nas veias...
— Chegamos! – Exclamou Rebecca.
Heigh se virou sorrindo e apontando para uma grande porta de madeira avermelhada, que parecia recém envernizada. A sala era ampla, o chão de lajota clara e paredes amadeiradas em tom vermelho, na parede esquerda uma grande pintura a óleo de um homem de cabelos ruivos e olhos acinzentados em pose atlética vestindo com um terno de modelo antigo com babados. Naruto julgou ser uma pintura bastante antiga pelas roupas "bregas". Mas além daquela pintura, a sala era ornamentada com algumas samambaias e outros quadros aleatórios.
Deus! Até aqui dentro essas plantas pegajosas?
Um aquecedor estava escondido no canto entre duas estantes repletas de livros, mas nenhuma janela. No centro, um sofá de três lugares de couro e uma poltrona de cada lado, uma pequena mesa no centro. Havia um garoto na poltrona da direita, mas ele sequer levantou o rosto quando os três entraram. Toda a sala dava um ar refinado, sendo o único lugar que achou realmente parecido com o de um colégio normal.
Minato continuou de pé enquanto Naruto se sentou num dos cantos do sofá cruzando os braços jogando a mochila no chão deixando a mala ao lado. Tentando ao máximo não bufar.
— Espero que goste daqui, realmente. – Ela se aproximou parando poucos centímetros de seus joelhos se chocarem aos de Naruto, sorrindo cordialmente antes de se afastar e se despedir. Minato nada disse somente lançou um olhar significativo enquanto ia em direção da grande porta. Bateu duas vezes e entrou.
E foi ali, sentado naquela sala pensado em como sua vida poderia dar um giro de trezentos e sessenta graus em somente uma semana, que o viu pela primeira vez.
Aquele garoto entrou, empurrando a pesada porta e arrastando uma mala maior que a sua. A princípio Naruto não o olhou, preso em suas lamúrias internas e preocupado demais com quem seria seu colega de quarto. E só o notou quando este praticamente jogou sua mala de encontro a lateral da poltrona, fazendo um barulho oco. Naruto se virou, sobressaltado e por fim o olhou, encontrando aquele par de íris quase negras fixas em si. Inconscientemente sua respiração se acelerou, e suas bochechas ruborizaram levemente. Sentiu o corpo retesar, uma sensação estranha se apossou de seu corpo, algo que nunca sentiu em sua vida.
Noland
Balançou a cabeça, levemente atordoado.
Pela segunda vez no dia, um arrepio lhe subiu, uma sensação que mesclava sentimentos que não entendia bem, um pressentimento que era uma mistura de medo, nervosismo e coisas mais que fugiam de sua compreensão.
Foram poucos segundos que os olhos quase negros ficaram presos aos seus, até o rapaz, que notou ter feições levemente asiáticas, parecer incomodado e abaixar o olhar para o chão. Naruto fez o mesmo, tentando normalizar a respiração. Algo dentro de si gritava para que saísse dali o mais rápido possível arrastando seu pai e fosse de volta para casa. Que ficasse longe daquele rapaz. Longe daquele lugar.
Deus, isso é loucura. Fechou as mãos em punhos, aquela tensão sentida momentos atrás voltando. Não entendendo as próprias reações fechou os olhos tentando se acalmar.
Após alguns poucos minutos de um clima estranho, Naruto passou a mão sobre os cabelos, os jogando para trás, sentindo-se pouco mais relaxado com o passar do tempo, mas não menos sufocado.
Sua respiração havia se normalizado finalmente e seu coração desacelerado, enquanto repetia para si mesmo várias vezes que aquela reação era patética e exagerada ao ver um simples estranho, um estranho de olhos estranhamente familiares.
Então, permitiu-se dar uma espiada no garoto sentado na poltrona do canto, para saciar sua curiosidade. Naquele instante o mundo e o tempo pararam.
Tinha cabelos tão escuros quanto os olhos, em um corte desfiado, de longas franjas e arrepiado atrás de uma maneira que desafiava a gravidade. Sua tez tão branca como porcelana parecia completamente imaculada, como se um toque pudesse quebrá-lo por completo. Seu rosto, em um formato levemente oval, continha traços delicados, o nariz fino e reto, os lábios pequenos e pouco carnudos eram rosados de maneira discreta e os olhos repuxados, quase asiáticos. Sobrancelhas graciosas eram os únicos pelos que tinha no rosto, sem resquícios de barba ou bigode como os outros adolescentes com sua aparente idade. Já que Naruto o julgava ter menos que sua idade; talvez dezessete, dezoito anos. Era realmente um rapaz bonito.
Então tudo voltou ao normal, sua análise não durou mais que três segundos, e nesse tempo o garoto manteve-se ocupado com o chaveiro em forma de bola de bilhar, o girando entre os longos dedos brancos.
Novamente um sentimento diferente o assolou, não se sentia mais nervoso e sim curioso. Quem era aquele rapaz afinal? Ele era alguém amigável ou tão frio quanto parecia ser? Mesmo sem nem ter ouvido sua voz, já queria saber mais sobre ele. Queria ficar próximo dele.
Queria fugir.
Queria ficar.
Fugir...ficar... fugir...
Ah! Pro inferno com esse cara! Gritou mentalmente e antes que começasse a dar um chilique em voz alta viu seu pai sair pelas grandes portas de mogno.
— Naruto! — O loiro se levantou ao mesmo tempo, ao ouvir a voz do pai. Minato estava parado ao lado da porta, com um singelo sorriso. O adolescente engoliu em seco. – Vamos.
Pendurou a mochila no ombro e pegou a mala, acompanhando o pai para fora da sala. Ciente que tinha aqueles dois olhos escuros voltados para si, uma sobrancelha erguida em clara curiosidade em sua direção.
— Como foi lá? – perguntou, quando se viu livre daquela sala sufocante, sentindo-se aliviado por não ter mais a presença daquele sujeito.
— Ele disse que terá amanhã uma reunião no auditório e que tudo será esclarecido. Já que terá de te explicar como as coisas funcionam e... – Retirou do bolso algumas folhas dobradas e duas chaves emendadas em um chaveiro com o número '472' escrito no metal com tinta vermelha. – Essas são as chaves de seu quarto, as relações das aulas e salas... – o entregou. – Um pequeno mapa e lista de regras e horários.
Naruto olhou superficialmente para a folha de horários, engolindo um xingamento ao ver que devia acordar às seis da manhã.
Mas que porra!
— Ele também disse que os uniformes estarão dentro do armário...
—Espera aí, como sabem meu tamanho? – Voltou-se ao pai, surpreso.
— Esqueceu quem fez sua inscrição? – Perguntou retoricamente.
Deu de ombros, voltando a olhar para o corredor onde tinha algumas poucas pessoas. Se tinha coisa que tinha aprendido sobre o trabalho de seu pai era que eles sempre sabiam de tudo. Tudo mesmo.
Será que ele também é filho de um agente? Perguntou-se, seus pensamentos novamente voltando para aquele rapaz, o moreno. Droga! Agora deu uma para ser stalker? Hein, Naruto, seu besta!"
— ... se quiser é claro. – Seu pai falava praticamente sozinho, enquanto olhava para o mapa imprimido na folha, onde o quarto que ficava no segundo andar estava marcado de caneta. – Talvez poderia ir ao clube de tiro na próxima semana depois... Naruto está me ouvindo!?
— Sim, pai. – Estava entediado, realmente, devia ter cuspido na cruz para merecer isso. Todas as pessoas que viu até agora nos corredores eram estranhas, garotas esquisitas procurando por seus quartos, ou somente caras evidentemente antissociais arrastando suas mochilas por aqueles corredores gelados.
— Então... – desligou-se novamente, seu pai sempre tagarelava muito quando tentava passar o tempo. Isso era extremamente chato, mas naquele momento Naruto ficou satisfeito, era o sinal de que não estava mais tão bravo consigo. – Este!
Ambos pararam a frente a tal porta acinzentada, o número '472' incrustado nela reluzia, abaixo uma pequena placa tinha dourada tinha os nomes escritos elegantemente com tinta prata seu nome e o de um desconhecido abaixo.
"Naruto Uzumaki"
"Sai Shimura"
—Sai? Já estão me expulsando daqui é? – Naruto riu, achando engraçado o nome de seu colega de classe. – Alguém não gostava dele quando escolheu esse nome!
Minato não deixou de rir também, enquanto destrancava a porta. Ambos entraram, o quarto era de tamanho médio, com duas camas de solteiro em paredes opostas. Entre as camas ficava uma janela e a frente dela duas escrivaninhas alinhadas com abajures e duas cadeiras de rodinha. Aos pés das camas um armário de roupas de duas portas. Na parede da esquerda tinha uma porta branca, da qual julgava ser o banheiro e ao lado dessa porta um aquecedor. Todos os moveis eram rústicos de tom avermelhado, as paredes azul-claro e o chão de madeira amarelada. Um quarto bem simples.
Naruto odiou.
—Legal! – Minato avançou pelo quarto indo até a janela que estava fechada, a abrindo.
Falta de criatividade...
— Tem razão. – Jogou a mala e a mochila no canto direito, já se sentando na cama macia que havia escolhido já de cara. – Se eu fosse um velho caquético e estivesse em um asilo. Pai, isso é deprimente.
Disse sem se conter, Minato o olhou, seus olhos azuis o avaliaram antes de dar de ombros. Não demonstrando nada em suas feições. Naruto por outro lado suspirou, já não conseguindo esconder sua indignação. Iria ter de ficar ali mesmo, naquele lugar estranho cheio de gente estranha, no meio do nada.
— Sinceramente, não me importo com o que acha daqui. Você fez por merecer tudo isso, agora aguente. – Minato ergueu a voz, alta como uma trovoada, forte e intimidadora.
Seu coração doeu um pouco. Odiava ser alvo da raiva de seu pai. E parece que ultimamente era a única coisa que conseguia. Ainda assim, rolou os olhos, rebelde como era.
— Tanto faz... – Murmurou baixo, brincando com a alça da mochila.
Minato ficou ali por mais alguns minutos, vasculhando o quarto em silêncio, parecia um pouco irritado. Mas também não queria sair dali, era visível o quanto hesitava ter de deixá-lo ali.
Devia estar lembrando, tanto quanto Naruto, da última vez que havia o deixado longe de casa. Das circunstâncias em que o levaram a deixar seu único filho, de apenas sete anos, na casa do avô por anos.
Agora era diferente, seu avô não estava mais ali para o ajudar. Iria ficar sozinho. Não teria a quem recorrer. Sua respiração ficou mais pesada ao pensar nisso e tentou se controlar, ou acabaria se agarrando ao pai e o pedindo para irem embora dali.
E provavelmente sendo rejeitado.
Enquanto isso Minato reunia suas forças também. Seu filho parecia alheio a sua luta interna no momento. Queria mais que tudo sacudir Naruto. Se apenas ele lhe contasse a verdade do que estava acontecendo nos últimos tempos. Não queria acreditar que seu menino fosse apenas um encrenqueiro. Não queria acreditar nos relatórios da arrogância dele, das confusões em que se metia.
Aquilo não era seu Naruto. O que teria acontecido nos últimos tempos para ele se tornar assim? Mesmo quando tudo dera errado, seu Naruto nunca era alguém cruel ou arrogante. Ainda assim, vendo o medo que ele tentava disfarçar, sabia que se ele lhe olhasse agora e pedisse para voltar para casa, tinha grandes chances de que acabaria sucumbindo. Se ele lhe contasse a verdade— tinha que ter uma verdade! – ele diria que tudo aquilo fora um teste e correria com ele dali.
Mesmo que Tobirama tivesse garantido a segurança do lugar, que ninguém o machucaria ali dentro – e confiava em Tobirama —, Naruto e segurança nunca pareciam termos que se casavam bem.
Suas câmeras não estavam ali, nem seus agentes que pudessem o olhar.
Naruto estaria sozinho.
E isso o assustava mais do que conseguia acreditar.
Diga alguma coisa Naruto! Me ajude aqui!
Reunindo toda sua confiança, disse baixo:
— Então, eu vou indo.
Sentiu que ele queria falar algo. Os olhos grandes e azuis o fitaram longamente da cama. Viu o conflito por segundos no rosto do seu garoto. Os lábios dele pareceram tremer um pouco, e os olhos desviaram para janela.
Seja firme. A voz de Tobirama se fez ouvir na sua cabeça. Ele precisa disso, ele tem que aprender. Ele não é frágil. Não é mais um menino.
Naruto retornou o olhar para si, parecendo totalmente composto, deu um simples sorriso e se levantou para abraçar o pai. Ambos engolindo a vontade de chorar.
— Juízo aqui, filho.
—Pode deixar, pai. E cuide da mamãe. – Naruto apertou-o mais, sentindo uma dor no peito. A sensação de um mau presságio o assolando novamente. – Desculpe...Só...me desculpe, tudo bem?
— Sem problemas. – Minato sentiu um nó na garganta. Se ao menos desculpas fossem o bastante. Se afastou olhando no filho, seus olhos azuis brilhando ao encarar sua imagem no mais jovem. — Tem uma arma no fundo falso da mala e uma caixinha de primeiros socorros ok?
—Pai! Não precisava disso. – Sussurrou. — Não vou matar ninguém.
— E nem é para matar, pirralho. – O soltou esfregando os cabelos loiros. Naruto riu o empurrando.
— Vai embora, velho!
Minato grunhiu algo saindo e gritando um "tchau" já pelo lado de fora. Naruto continuou rindo, até seu sorriso sumir devagar e dar lugar a uma expressão apática.
Então era isso.
É melhor assim. Tentou se convencer, como fazia nos últimos minutos. Mam e daidi não vão brigar por minha causa pelo menos.
Continuou olhando para a porta, esperando alguma coisa.
Talvez você só queira que ele volte
Não, era melhor assim. Seu pai tinha razão, precisava de disciplina.
Não foi falta de disciplina que te trouxe até aqui. Sabe disso.
Balançou a cabeça, tentando parar esses pensamentos.
Seu pai não ia voltar. Aquele era seu castigo. Seu calvário.
Solitário, seguiu até o banheiro, ali era pequeno e abafado, se debruçou sobre a pia de mármore jogando água no rosto e um pouco dessa molhando as pontas de sua franja. E pela primeira vez naquele dia tinha sentindo a real condição de sua situação.
Queria gritar.
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Minato entrou no carro e suspirou, colocando a cabeça no volante. Olhou a estrutura intimidadora a sua frente. Sabia que apesar de não parecer, havia vigias por toda parte. Todas as crianças ali eram filhas de pessoas importantes, o lugar era seguro.
Tobirama passara semanas lhe explicando sobre câmeras de segurança, a equipe, passando a ficha de todos os professores. Todos eram bons profissionais, com boa conduta.
Naruto estaria seguro ali. Mais seguro do que em casa até.
Por via das dúvidas havia falado com Fugaku. Sabia que seus filhos estudavam ali. E o diretor era seu cunhado. Ficariam de olho em seu Naruto.
Tudo ficaria bem.
No final do ano viria buscá-lo. Daqui há alguns meses talvez estivessem fazendo uma viagem para o campus da universidade.
Tudo ficaria bem.
Continuou repetindo isso como um mantra, até perder a visão da estrutura pelo retrovisor.
Ignorou o arrepio que sentia desde que chegara ali.
Não devia ser nada.
Tudo ficaria bem.
...........
Naruto não achava que poderia odiar alguém mais do que odiava seu colega de quarto.
Ele é o filho da puta mais filho da puta que eu já conheci! Pensou cinco minutos depois de conhecê-lo. Já que a terceira frase que ele lhe disse foi:
— Pretty boy, você tem um pinto pequeno né?
Naruto quase abriu sua mala, pegou sua arma e deu um tiro na cabeça dele.
Claro que não fez isso, somente sorriu ironicamente e lhe mostrou o dedo do meio.
Apesar de tudo, Sai lhe pareceu uma boa pessoa. Bem sem noção, idiota e extremamente parecido com o moreno da diretoria, mas para sua sorte não era do tipo que falava demais, não que Naruto não fosse esse tipo.
—Sabia que são proibidos fones de ouvido aqui? – Perguntou o ser estranho que desenhava algo.
Ele havia terminado de organizar suas coisas nos armários e dobrado as roupas. Diferente de Naruto que nem tirou sua mala do lugar, somente pegou uma muda de roupas depois do banho e seus fones para ouvir música em seu celular enquanto ficava deitado fingindo estar dormindo. Achava muito mais proveitoso ficar calado e quieto enquanto aquele ser estranho arrumava suas coisas.
— Não é muito educado ignorar as pessoas...
— Não é muito educado perguntar se as pessoas têm o pinto pequeno, Sai. – Devolveu irônico, o olhando de soslaio. Parte da franja tampando sua visão.
O sujeito riu dizendo algo que Naruto nem se deu ao trabalho de ouvir, somente se virou ficando de costas para ele. Fechando os olhos tentando esquecer que tinha uma besta na cama ao lado. Depois de alguns minutos acabou caindo no sono.
Tendo sonhos estranhos, com olhos escuros, que não conseguiu lembrar depois.
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Acordar às seis da manhã não foi fácil, muito menos convencer seus olhos a se abrirem quando seu celular despertou, nem quando sentiu algo frio no rosto. Só acordou quando alguém o derrubou da cama.
Logo após sua primeira briga do dia com Sai, Naruto brigou novamente com Sai para resolver quem tomaria banho primeiro. Tomou um banho depois do outro e vestiu o uniforme. Uniforme este que serviu perfeitamente e era composta por calça social azulão, camisa social branca com o brasão do colégio, gravata vermelha com dourado e blazer da mesma cor da calça também com o brasão. Calçou seus all star preto e ambos saíram. Sai acompanhou Naruto o explicando que teriam as mesmas aulas por serem colegas de quarto, então era só o seguir.
Os corredores pareciam bem mais animados do que no dia anterior. Garotas e garotos se misturavam no pavilhão das aulas, conversando. Exatamente como no seu antigo colégio. A única diferença que todos ali pareciam ausentes demais, como se estivessem somente agindo como mandava a etiqueta. Era superficial, notou. Como uma grande peça armada entre eles.
Eles sorriem... Mas é como se não fosse nada realmente engraçado... Olhou para Sai. E esse cara é exatamente como eles.
— Sai? – Ele se virou, o rosto pálido completamente indiferente. – Por que todos... agem assim?
— Assim como? – Sai pareceu confuso, virando o rosto.
—Falsos. – Sai ergueu as finas sobrancelhas escuras, virando o rosto para frente voltando para sua expressão indiferente.
— Não acho. — Sai desviou de uma garota, mantendo o olhar fixado no chão. – Por que pergunta, Naruto?
—Você não vê? É cego por acaso? – Naruto acenou freneticamente. – Todos são estranhos!
Ohou
Todos do corredor pararam, se virando para olhá-lo quando ele gritou. Sai também parou e depois de um segundo riu, cínico e falso. Naruto corou, sua boca abrindo minimamente. Abaixou o olhar envergonhado por tantos olhares hostis.
Ótimo Naruto, agora sim que você continua sua fama. Até no meio do mato você continua seu legado. Imbecil!
— Você realmente sabe fazer uma entrada, hein? – Sai comentou, recomeçando a andar. Naruto se apressou o seguindo. Tentando ignorar as conversinhas baixas que começaram enquanto começavam a subir para o segundo andar. – Então, Naruto, animado para o último ano?
Naruto o olhou, imaginando se ele sabia que estava repetindo.
— Deveria?
Ao voltar o olhar para o corredor quase totalmente vazio, a frente novamente o viu. O garoto da diretoria estava de pé ao lado da porta de uma sala e conversava pacificamente com uma garota de cabelos tingidos de rosa. Agora vestido com o uniforme, de pé, foi quando notou o quão alto era. Quase trinta centímetros maior que Naruto, tinha certeza. Seu olhar correu pelo corpo delgado e magro o vendo de perfil. Tinha de admitir, aquele garoto era realmente muito atraente. Seus cabelos negros pareciam mais brilhosos com a luminosidade do sol que entrava pelas pilastras do corredor, sua pele ainda mais branca.
Deslumbrado Naruto sentiu a boca secar e suas mãos suarem instantaneamente. Sentia-se atraído por aquele rapaz de uma maneira que nunca sentiu por ninguém.
Ai Santo Deus, eu não acredito no que estou pensando.
Parece que a famosa crise sexual havia finalmente chegado na sua vida.
Yay. Pânico bissexual, aqui vamos nós. Pensou sarcasticamente. Como se já não tivesse problemas o suficiente para lidar.
Como por exemplo, a mesma sensação do dia anterior lhe batendo forte ao ponto de quase tropeçar nos próprios pés ali mesmo. Aquele medo, aquela vontade de estar perto e estar longe. De fugir, mas de ficar. E uma nostalgia tremenda que fez seus olhos arderem em emoção abrupta.
Noland
Franziu a testa, novamente ao pensar aleatoriamente nesse nome estranho. Iria pirar se descobrisse que esse era o nome do sujeito. Não seria a primeira vez que algo assim acontecia. Quando criança era bem comum até.
Desviou o olhar, tentando conter aquela sensação.
Ridículo, todo esse mato deve estar afetando meu cérebro.
— A sala é essa. – Sai disse monótono. Apontando para uma porta antes da que o garoto da diretoria estava. Naruto suspirou forte, aliviado. Se tivesse que se aproximar daquele cara seria o fim.
Entraram, a sala grande tinha um quadro negro de forma arredondada na parede à direita deles com um relógio quadrado sobre ele, um quadro branco no fundo da sala junto a alguns armários de madeira e arquivos de metal.
Quadros com lembretes e avisos fixados pelas paredes, paredes essas pintadas de branco e azul-claro. As mesas e cadeias de madeira amarelada, o chão de lajota clara com palco baixo onde ficava a escrivaninha de mogno dos professores e ao redor do quadro. A parede a frente coberta por janelas amplas que iluminavam toda a sala, não precisando ligar as fluorescentes. A sala estava completamente vazia, parecia que ninguém estava animado com as aulas.
O cheiro de livro velho e algum tipo de alvejante parecia bastante acolhedor. Naruto atravessou a sala, sendo seguido por Sai, até a parede das janelas. Se sentando na quarta carteira da fila, Sai se sentou na carteira da sua frente.
Se vou aguentar isso, vou ficar pelo menos na janela.
—Então, quando começa? – Naruto se virou apoiando o antebraço no encosto da cadeira.
— Se eu estiver certo... – Sai olhou para o relógio acima do quadro negro. – Daqui um minuto e meio.
O loiro franziu o cenho. A palavra 'estranho' flutuando em sua mente.
E então o sinal tocou. Era como os sinais de colégios japoneses, o som vinha do relógio do jardim com certeza.
Não foi preciso mais um aviso para que os alunos começassem a entrar e ocupar seus lugares. Naruto abriu o caderno e pegou uma caneta no bolso da calça começando a rabiscar inutilmente no canto. Sabia que não receberia bons olhares, depois da gafe de gritar como um maluco que todos eram estranhos não deveria esperar menos.
— Bom dia alunos, sou o professor de matemática de vocês, Asuma Sarutobi e... – Naruto não ouviu mais nada depois do nome do professor, já sabendo todo o discurso de como gostava que tomassem nota de tudo, que contava vistos, o modo em que se dividiam suas provas, enfim, todo o papo chato de professores.
Mesmo sem prestar atenção, eu já sei tudo.
Naruto pensou olhando para a janela. Pouco abaixo as árvores de verde intenso balançavam ao vento forte, algumas nuvens no céu ameaçavam tapar o som e deixar o tempo bom de lado. A montanha, verde, parecia perto demais, mais perto até do que se lembrava em sua chegada...
—Naruto Uzumaki!
—Presente! – Gritou de volta se virando rapidamente na direção do som. Novamente atraindo atenção de todos. No fundo um grupinho começou a rir e algumas garotas cochicharam algo algumas carteiras a frente. Foi então que Naruto notou que quem o chamara fora Rebecca que estava na porta.
—Não é uma chamada, Naruto, só estou passando para avisar aos novatos quem serão os tutores de cada um. – Ergueu uma sobrancelha loira, sem entender o que isso queria dizer. – Seu tutor é... – Olhou em uma folha que trazia. – Sasuke Uchiha.
Pouco adiantou saber o nome, quem era ele, nem fazia ideia. Assentiu para a mulher estranha falsamente e quando ela saiu cutucou Sai com a caneta. O outro garoto se virou olhando-o interrogativamente.
— Explica.
O outro suspirou antes de começar a sussurrar:
— Ele será seu tutor por um mês até que se acostume à rotina. Ele vai ter que te acompanhar sempre durante as aulas por esse tempo.
—E quem é esse Sasuke? – Disse como se fosse óbvio o que queria saber.
A expressão de quase pena de Sai o alarmou. Não deveria ser um sujeito tão ruim, não é verdade? Não teria tanto azar.
Claro, havia pensado isso cedo demais.
Sai olhou ao redor, parando em algo ou alguém mais atrás.
—Ele. – Apontou para o fundo da sala.
Naruto seguiu a direção sugerida com os olhos e seu sangue gelou nas veias.
Era o garoto da diretoria.
....
Súile Dubh — Olhos negros
(¹): NSDA: National Security and Defence Agency / Agência de Segurança e Defesa Nacional – U.S.A
Daídi: Pai
Mam: Mãe
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