Pléascadh
Aviso: Cenas de tortura
Olhando para trás, tudo o que havia acontecido desde que havia colocado os pés ali eu percebia a quantidade de erros que fui cometendo um atrás do outro. E eu nem mesmo sabia o quanto daqueles impulsos haviam sido realmente meus ou a maldição de Morrígan tentando entrar em seu curso. Era como nadar contra uma correnteza que ficava cada vez mais forte, tentando me levar para a direção que eu sabia que resultaria não apenas na minha própria morte. Eu podia sentir, mesmo ali, o seu chamado.
Eu havia falhado seguidamente em coisas básicas que meu avô havia me ensinado para proteger a mim mesmo, e ainda assim eu sentia em meu âmago que tudo entrara em seu curso, para o bem e para o mal. Tudo o que eu fizera, e o que havia deixado de fazer havia me levado ao momento que viria.
E naquele momento crucial eu não podia falhar.
Não era apenas a mim mesmo que estava tentando proteger mais.
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INO EMPURROU A MÁSCARA DE OXIGÊNIO DO ROSTO, MESMO QUE AINDA ESTIVESSE TOSSINDO. Havia vindo no segundo grupo, o qual foi pego em uma explosão nos tuneis. Sem Shikamaru e um dos vencedores que era muito familiar com explosivos teriam sido soterrados lá.
— Cadê eles? Já deviam ter saído!
O terceiro grupo ainda não havia saído. Não havia sinal do Naruto ou Sasuke. Nove estudantes estavam ainda desaparecidos dentro do castelo, e quando Shikamaru tentara voltar para guiar o terceiro grupo havia sido barrado por agentes que entraram nos tuneis que pareciam prestes a colapsar.
— Ele disse que estava logo atrás. — Shikamaru empurrou um paramédico frustrado que tentava cuidar de uma queimadura em sua perna. Sai estava sendo interrogado, sendo o mais inteiro dos três no momento. Ino estava com uma perna imobilizada. Os dois haviam inalado fumaça. — Ele disse que ia buscar os professores e...
—Ali!
— Senhorita, sente-se. — Ino ignorou a mulher, que parecia prestes a amarrar os dois na tenda.
Ao redor outros alunos eram atendidos, em diferentes estados de saúde. Muitos haviam inalado fumaça, e dois deles haviam surgido dos tuneis em estado crítico por serem pegos em destroços, tendo sido levados em helicópteros. Tudo era um caos, e tudo o que Ino mais queria era fechar os olhos e descansar como aquela mulher queria, mas não conseguiria sem ver a cabeça loira do Uzumaki saindo daquele maldito túnel.
— Os professores! — Kurenai saia dos tuneis, junto com Asuma que trazia Kakashi. Havia mais dois alunos atrás deles, e alguns vencedores. E só. Apenas. — Não, não, ele não está com eles, Shikamaru, ele não está com eles!
— Eu estou vendo. Merda, eu estou vendo.
— Eles foram os buscar certo? — Os olhos azuis fitaram o túnel com afinco. — Os agentes, foram os buscar. Faltam sete deles ainda. Eles vão os trazer, certo Shikamaru?
Eles tinham que os trazer. Só assim Ino podia agarrar Naruto pelo pescoço e o sacudir até ele aprender a seguir o maldito plano que ele mesmo havia criado.
— Eles vão conseguir. Eles têm que conseguir.
Naruto sempre conseguia. Ele sempre fazia o impossível. Mesmo com o túnel colapsado, mesmo com as explosões que ouvia dali. Mesmo com o fogo que via ao longe em uma das alas. Mesmo com tudo isso, Naruto iria conseguir, porque ele era mestre em fazer o que ninguém esperava.
— Ele vai conseguir, certo Shikamaru?
Ele tinha que conseguir.
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Nagato sabia que tinha que ser rápido. Tudo ao redor era um caos. Havia perdido Naruto, e havia perdido Tobirama. Sabia que se encontrasse Tobirama, encontraria seu sobrinho. Tobirama não sabia ainda do rastreador que havia colocado no punhal favorito que o maldito usava para torturas.
Ao redor, ao comando de Danzou arquivos eram apagados, HDs destruídos completamente, as provas desaparecendo. Por pura sorte conseguira colocar as mãos em um dos servidores antes, todas as informações agora armazenadas e sendo enviadas, antes que se perdessem.
Nagato entrara ali por vingança. Queria destruir Minato. Agora não sabia mais o que estava fazendo. Seu sobrinho lhe abrira bem os olhos sobre isso.
Por isso digitara o endereço de email há muito não utilizado, mas nunca esquecido. Todas as informações, o bastante para uma caça às bruxas dentro da agência. O treinamento dos agentes, o jogo. Tudo.
Suspirou de forma trêmula, quase apertando o cancelar.
Anos de trabalho.
Quando finalmente a barra ficou verde, as informações enviadas, destruiu o HD. Na confusão, ninguém notou quando saiu da sala.
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O som da explosão foi alto. Sentiu o chão tremer e sem equilíbrio caiu, se levantando o mais rápido que podia, tropeçando nos próprios pés. Ofegante, retirou do bolso o cartão de Nagato que lhe dava entrada pelas portas que se fechavam. Havia perdido Sasuke de vista, mas sabia para onde ele ia. Só esperava que não fosse tarde.
—Droga, Sasuke!
A porta abriu na terceira tentativa e passou. Sabia que estava caindo direto em uma armadilha, mas não havia nada a ser feito. Passos podiam ser ouvidos nos corredores ao lado. Mais explosões ao longe. Sabia que seu pai havia chegado. E parte sua queria correr para ele, mas sabia que se não chegasse à Sasuke a tempo não o alcançaria mais. Podia perdê-lo, perder os dois. Tinha certeza de que Tobirama não estava com Itachi na diretoria, aquilo era uma armadilha, mas o levaria a ele também.
Mais uma explosão, mais perto dessa vez. Foi jogado ao chão e colocou as mãos sobre a cabeça para protegê-la. Parte do corredor desabou, fazendo uma nuvem de poeira e estilhaços se espalharem. Tossiu tentando se levantar, só naquele momento notando um novo ferimento que havia sido provocado pela explosão em sua panturrilha. Ignorou como podia aquele machucado e se pôs a correr novamente.
Aquelas explosões não deviam ter sido causadas por Anko, seu pai nunca arriscaria sabendo que podia estar lá dentro ainda. Os guardas deviam estar revidando os ataques. O lugar havia virado um campo de guerra. O corredor parecia três vezes mais longo que o normal, e seus pulmões três vezes menores. Sentia seus cabelos pregarem em sua testa suada, junto a fuligem.
Vamos! Vamos! Sasuke estou chegando! Está me ouvindo? Eu estou chegando!
Mordeu o lábio com força, os olhos azuis se escurecendo por momentos. Não podia fraquejar naquele momento.
Mais à frente no fim do corredor, à cem metros ou menos havia três homens em seu caminho. Quase escorregou tentando parar a tempo. Um deles o viu, pegando uma arma. O tiro veio rapidamente em sua direção, e por um segundo estranho conseguiu perceber que não era uma arma de fogo, mas sim com tranquilizantes. Estavam querendo capturá-lo.
Para o azar deles, esse não era seu caso. Se jogou no chão, caindo sobre o braço direito dolorosamente, perto dos pés de um deles. No mesmo momento sacou sua arma e atirou contra o braço que segurava a arma. O homem gritou. Desviou de outro tiro o usando como escudo e o homem caiu pesadamente, sedado. Atirou no joelho de outro, o golpeando no rosto com força.
—Não tenho tempo para isso.
Contorceu o braço do terceiro, que segurava a arma, o fazendo atirar em si mesmo, apagando também sedado.
Vejo que não quer matar ninguém. Não vai sair daqui assim.
Quase sorriu ao ouvir Aeron, a voz fraca. Sentia-se menos sozinho.
Quando chegou ao corredor da diretoria já estava imundo de fuligem. Havia escapado de mais guardas no caminho, e sabia, já quando chegara que seria tarde demais. Por isso não se surpreendeu ao ver Sasuke rendido, uma arma em sua nuca enquanto se contorcia no chão. Sabia quando estava em número menor, havia pelo menos quinze guardas que pareciam o esperar. O que segurava Sasuke engatilhou a arma. A ordem clara.
Soltou sua arma. Se Itachi estivesse ali, poderia dar um jeito dos três escaparem. Tinha que achar Itachi também.
Arregalou os olhos quando viu que um deles trazia as correntes conhecidas.
Não...
Claro que as coisas nunca seriam fáceis para si, não é mesmo?
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— Você é uma verdadeira obra de arte, Itachi. — Tobirama concluiu, olhando seu trabalho. O garoto havia ficado estranhamento calado. Por um momento achou que havia apagado. Ergueu o queixo que ele havia pendido contra o peito suavemente e, ah sim, os olhos fechados com força, a boca fortemente selada tentando conter os gemidos baixos.
Podia entender o apelo. Soltou seu rosto e o rodeou, focado de forma profissional nos desenhos que havia feito no corpo do outro. Não tão profundos para que o perdesse por perda de sangue, mas o bastante para se tornarem cicatrizes. Era uma pena realmente que não poderia fazer o mesmo com Naruto, já que ele tinha uma capacidade de cicatrização anormal. Bom, talvez com as correntes...Iria descobrir logo.
—Gosto de você Itachi. — Assentiu, rodando o punhal enquanto procurava algum outro lugar para desenhar. Havia um lugar ainda intocado perto das costelas. Aproximou a lâmina e o corpo pendurado se contorceu tentando se afastar em vão. — Você torna as coisas mais interessantes. Disse que sou bom observador. Eu posso dizer de certeza, que Naruto ama você também.
Isso fez o garoto parar. Sorriu. Então ele não havia realmente percebido isso, interessante. Olhou com a interesse a lâmina entrando na pele pálida. O outro respirou rápido, parece que a fase de gritar havia passado, o que era uma pena. Quatro letras agora. Tinha uma boa memória, lembrava todos os nomes que Obito havia gritado.
E
W
E
N
—Ah, perfeito. — Limpou um pouco do sangue com a gaze. — Como dizia, o menino ama você também. Por um momento achei que fosse escolher você ao invés do seu irmão. Me pergunto se colocar uma arma na cabeça de vocês dois, quem ele salvaria?
Silêncio.
—Vejo que não quer mesmo falar. Nem gritar mais. Sem problemas, logo seu irmão vai tomar seu lugar.
Ah, isso trouxe alguma reação.
—Não!
—Lealdade acima de tudo. Bom, eu sei quem você escolheria se colocasse uma arma em Naruto e Sasuke. E Sasuke, será que escolheria você?
Antes de ouvir a resposta, um som estático o chamou a atenção e pegou o rádio, ouvindo atentamente. Um sorriso tomou seus lábios. Havia sido mais fácil do que pensava.
—Os levem para o galpão, vamos pegar o furgão e sair daqui. Minato já deve ter entrado no castelo. — falou de forma despreocupada. — Não tire as correntes dele, por nada.
Desligou e olhou o rapaz pendurado, os cabelos úmidos de suor e sangue, os olhos escuros o olhavam com tanto ódio que pareciam vermelhos, insanos.
—Parece que seu irmão ama mesmo você, o bastante para cair direto em uma armadilha. E trazer Naruto junto nela. Embora — guardou o punhal, pegando algumas coisas na mesa que levaria. — Tenho certeza de que aquele moleque tem um plano, e se deixou capturar facilmente. Provavelmente ele quer salvar você. Sempre o mártir. Talvez por isso vocês dois se amam tanto, são parecidos.
O homem riu, as mãos na cintura, acessando o rapaz quase desmaiado e nu nas correntes.
—Eu pretendia matar você, Itachi, não preciso mais de você. Talvez deixar seu corpo aqui para ser encontrado por seu pai e Minato. Mas gostei mesmo de você. É um rapaz interessante. — Tocou o rosto quase gentilmente. — Muito bonito, formam um belo par vocês dois. Vou manter os três por enquanto. Espero que não se importe de ser a terceira roda, afinal, sempre foi seu papel.
Levantou o rosto do outro, removendo o punhal.
—Só mais um detalhe, no entanto. — Os olhos se arregalaram quando a lâmina se aproximou— Não se mova, ou vai ser pior.
Quando terminou as marcas, duas verticais abaixo de cada olho, ele estava límpido, apagado. O removeu das correntes com facilidade, quase com cuidado.
—Vamos lá, Itachi. Estou curioso para o que Naruto está aprontando se deixando capturar tão facilmente. É sempre uma boa surpresa.
.....................
As celas haviam aberto. Tudo se apagara por minutos, e as celas haviam aberto. Seu corpo estava machucado, quebrado depois de dias de tortura constante. Levantou-se e caminhou apenas por pura força de vontade.
Maldito Tobirama.
Todos eles iriam pagar. Todos eles. Ewen, Noland.
E Aeron. Iria punir Aeron também, não iria deixar suas transgressões impunes também. Ele iria se submeter, a força. Iria fazê-lo implorar em agonia, até perdoá-lo por tudo.
Entrou em um dos túneis, tinha alguma consciência que havia alguém lá. Um garoto de cabelos acinzentados e óculos. Parou apenas quando sua cabeça era uma massa sangrenta, os gritos irritantes haviam acabado. Pegou as armas que ele carregava e deixou o corpo para apodrecer.
Todos eles iriam apodrecer.
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Sasuke acordou com sua cabeça em agonia. Gemeu, mas não abriu os olhos, acessando sua situação. Mãos e pés contidos por algum tipo de metal gelado. Algemas. Moveu os dedos com cautela. Algemas eletrônicas.
O chão que descansava sua bochecha também era de metal. Tentou alcançar Naruto com sua mente, mas tudo o que encontrou foi vazio. Isso o fez respirar rápido e abrir os olhos com urgência, lembrando do que havia ocorrido antes de receber uma coronhada.
Itachi. Tinha que salvar Itachi. Ele não estava na diretoria, claro que não. No desespero havia sido um tolo. Emboscada. Naruto estava lá. Havia se entregado, sem lutar, largando a arma no chão. Sasuke gritara para que saísse de lá, mas ele não se movera. A arma que estava na sua cabeça pressionou com mais força. As correntes, aquelas malditas correntes, colocaram nele, lembrava da dor no rosto dele, da palidez.
Sua culpa. Ele se deixou capturar por sua culpa. Merecia o tiro na cabeça, Naruto devia ter fugido, fora descuidado. Devia tê-lo ouvido. Sabia que Naruto poderia ajudá-lo a resgatar Itachi. Ele nunca o deixaria para trás.
—Shh, calma. — A voz foi quase um gemido. Focou os olhos turvos em direção a ela. Naruto estava pendurado no teto. Estavam em uma caixa de metal. Furgão, devia ser um furgão. O que não era nada bom.
Focou no outro e recebeu um sorriso que tentava ser consolador, mas que lhe pareceu dolorido no rosto suado e pálido. As correntes o penduravam no teto do furgão. Outra seguravam seus pés.
—V.vai ficar tudo bem, Sasuke.
Sentiu ainda mais ódio por si mesmo naquele momento.
—Não tente me consolar — sua voz estava rouca. — Eu sei que a culpa foi...
—De Tobirama. Vamos resolver isso, eu prometo. Confia em mim?
—Com a minha vida.
—Bom. — Um gemido baixo. — V.vou tirar a gente daqui.
—Itachi...
—Está vivo. S.se conheço Tobirama. E eu o conheço.
Antes que pudesse falar algo mais ouviram barulho e a porta se abriu. Sentiu ódio e pânico ao ver o homem grisalho entrando com algo nos braços.
—Itachi!
—Reunião familiar! — o maldito riu, colocando, incrivelmente com cuidado o rapaz no chão. Perto o bastante para o outro vê-lo, longe o bastante para não o alcançar.
Focou no irmão de imediato. Ele estava apenas com calças, e por isso via que cada centímetro da parte superior do corpo estava marcado de sangue. O símbolo Uchiha havia sido retalhado em suas costas. Havia nomes escritos, que não conseguia identificar direito. Não conseguia ver seu rosto dali, mas Naruto sim, e pela expressão gelada, não era nada bom.
Pelo menos o peito dele subia e descia, devagar. Estava vivo, seu irmão ainda estava vivo. Tinha que focar nisso.
—Não me olhe assim, Naruto, raposinha do Obito. Reuni os três. Você pode ter os dois agora. — O homem fechou a porta, fazendo sinal para alguém.
O furgão entrou em movimento.
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Isso não era nada bom. Tinha certeza de que seu pai já estava ali dentro, e agora Tobirama estava os levando para longe dele. Sabia, e tinha certeza de que Tobirama também, que ele havia fechado todas as saídas. Estavam saindo pelos túneis, que davam na floresta. Ele não os arriscaria na estrada.
O furgão não poderia veicular na floresta sem algum trabalho, outro carro devia os estar esperando. Não podia deixar que chegassem a esse outro carro. Dentro da floresta Tobirama conhecia com certeza melhor o ambiente, seria mais difícil de serem encontrados a tempo. Olhou de forma disfarçada o comunicador que o homem deixava no banco do furgão. Não tinha dúvidas que seu pai havia já colocado as mãos em um deles e direcionado a frequência para si. Se conseguisse pegar um deles, poderia falar com ele... se ao menos...
Aquela maldita dor, como fogo em suas veias, tornava pensar quase impossível. Respirou fundo, trincando os dentes. Olhou Sasuke de rabo de olho. Ele havia finalmente removido os olhos do irmão e focava em outra coisa: Um taser pendurado no sinto de Tobirama. Naruto quase sorriu, entendendo seu plano. Sabia que Itachi estava acordado também, ele fingia bem. Enquanto estivesse desacordado seria descartado como ameaça.
Não era à toa que aqueles dois eram vencedores.
—Encontrei algo interessante na sua bolsa, Sasuke.
Isso fez o garoto focar. Primeiro confuso, depois em pânico. Os olhos nos seus. Naruto entendeu antes mesmo de ver o que Tobirama segurava nas mãos, agora se colocando na sua frente.
Não. Aquilo também não era nada bom.
—Pelas inscrições, e o cuidado, imagino que seja algo como essas correntes. Obito me falou bem delas. — O homem rodou a adaga nas mãos. Abriu uma maleta ao lado no banco, com outros objetos, alguns sujos de sangue de Itachi ainda. Sabia o que ele faria. Para Sasuke ver, claro.
Seus olhos tentaram não focar na adaga, mas era impossível.
— A rede se perdeu nas águas, caindo da ponte Victória na Austrália. Nunca foi recuperada. A máscara, derretida e transformada em balas. Vocês contaram a seu precioso o que aconteceu com essas balas?
—Não ouse...— um choque nas suas costas o fez arfar. Tobirama estava atrás de si agora, a mão em seu pescoço. Sentiu a dor quando a adaga percorreu sua pele devagar, removendo sangue. Seus olhos estavam em Sasuke, que o fitava de forma quase insana, ainda calado. Itachi abriu os olhos por segundos e os fechou.
Itachi sabia também. Ele estava lá, afinal.
—Sasuke, não...
—Ele merece saber, Naruto. — Tentou não gritar quando um corte mais profundo o atingiu, arfando e tentando se contorcer para longe, agora em pânico. Sasuke nunca deveria saber sobre aquilo. — Alemanha, segunda guerra mundial. Dois garotos judeus, amigos de um alemãozinho. No ápice da caça às bruxas, o alemãozinho tenta ajudá-los a se esconder, junto com um velho judeu. O alemãozinho os salva. E no dia que abre as portas daquele porão, ele os leva para fora, para comemorarem a liberdade, o fim da guerra, apenas para levar um tiro pelas costas de seu amado judeu.
Sasuke o olhava confuso agora.
—Uma dica. — O homem sussurrou divertido. — Não foi Davlin, o velho judeu, que o traiu.
Os olhos se arregalaram, entendendo.
—Calado! — Naruto gritou se movendo com mais força. A memória ainda viva, recente. Todo o ódio no rosto do outro quando caíra na neve, o sangue ao redor. Fora a última coisa que vira, o rosto de Alfred, Noland, acima do seu, os olhos insanos. Toda a confusão, a dor do momento engolida pelo sangue em sua boca, o sufocando. Um grito ao longe, alguém gritava o pedindo para parar.
—Eu matei você. —Sasuke sussurrou, a voz pequena.
—Não era você!
—Verdade. Era Noland. — O homem concordou. — Obito me contou como tentara salvar seu precioso Rodolfo, como matara Alfred depois quando não conseguira. Ele tinha um sentimento diferente pelo menino naquela época, era menos insano, mais paternal, como sempre deveria ter sido. Curioso como quando Davlin ficou são uma vez, Noland perdeu a cabeça. Ewen sobreviveu, como sempre. Aposto que achou que a maldição acabaria ali, pobre diabo.
—Não...Sasuke, olhe pra mim. — Ele obedeceu. — Não era você.
O outro assentiu devagar, os olhos ainda quebrados, mas focados novamente.
—Agora, chega de conversa. Não preciso que conserte ele quando tento quebrá-lo. Você é chato, Naruto. — O homem sorriu. Arregalou os olhos surpreso quando sentiu algo gelado em sua boca. O taser.
Não sabia se o grito que veio quando ele acionou era seu, de Itachi ou de Sasuke.
...................
Ele não estava ali. Seu filho não estava ali!
Haviam conseguido capturar todos que estavam dentro. Uma ordem de prisão havia sido dada para Danzou, Tobirama e Obito, que não haviam sido encontrados ainda. Danzou havia fugido do país, a Interpol em seu encalço.
—Não há mais ninguém aqui dentro. — Sasori confirmou.
Shisui veio correndo. Os olhos duros. Ele trazia algo nas mãos. Uma câmera.
—Tobirama os levou. Deixou esse vídeo para trás. E um pen drive. Há um recado para você na câmera.
Ligou a câmera, pela cara do garoto não devia ser nada bom.
Entendeu assim que viu o corpo pendurado atrás de Tobirama. Lembrava o bastante para saber quem era.
—Fugaku...
—Não viu ainda.
—Nem vai ver.
Voltou a focar no outro, apertando com força o objeto.
—Se encontrou isso, eu estou longe. — O homem falou com divertimento. — No pen drive deixo alguns presentes sobre a estádia do seu bebê por aqui. Tenho certeza de que vai gostar. Não tenho dúvidas que meu querido Itachi já enviou todas as provas que precisavam para capturar os velhos. Que queimem no inferno. Eu já consegui o que queria, peguei o que vim buscar. Nos vemos um dia, Minato! — O homem fez menção de fechar a câmera, Minato já ordenando ao redor para entrarem em contato com as guardas nas estradas. — Ah, só mais uma coisa. Seu precioso Nagato também está envolvido nisso tudo. Mas não se preocupe, tenho certeza de que ele vai vir atrás de mim para salvar seu menino. Eu deixo os restos dele em algum lugar para você.
Minato quebrou a câmera.
..........
Sei o que você passou agora, Aeron
—Naruto!
Abriu os olhos, tinha que permanecer acordado. Apesar de precisar do alívio da inconsciência, se apagasse poderia acordar em outro lugar, e estaria perdido para seu pai. Os três estariam.
Sasuke havia deixado toda a máscara cair, o rosto mostrando seu desespero, por ele. Não conseguia ver Itachi. Por um segundo ficou em pânico, até virar o rosto e, sim, ele estava ali ainda. Os olhos tão cansados quanto os seus o fitando entreabertos. Os ferimentos em seu rosto haviam parado de sangrar, mas o sangue coagulado transformava a imagem em algo desesperador. Sabiam que se sobrevivessem, ele traria aquelas cicatrizes para sempre, como Naruto trazia as suas.
—Posso trocá-lo com algum deles, se quiser. — Tobirama falou de modo paternal. — Não parece muito bem, Naruto. Parece que as correntes impedem mesmo que cicatrize mais rápido. Talvez com Sasuke, ele ainda está bem inteiro.
—Não! — Itachi e ele gritaram juntos. Seu grito era gutural. A voz rouca, a língua pesada.
—Sim! — Sasuke pediu. — Não...não os machuque mais.
Tobirama riu.
—Isso não é lindo? Os dois querendo proteger você, Sasuke, e você querendo proteger os dois. Vou me divertir muito com vocês, até conseguir domá-los. Provar a minha teoria, talvez. Quem Sasuke salvaria de um tiro na cabeça. — O homem tocou seu rosto, os dedos passando suavemente por suas cicatrizes, passando para sua nuca e agarrando seus cabelos com força, o obrigando a olhá-lo. Segurou os olhos com fúria. — Tão qual uma planta carnívora. Toda essa dor poderia acabar se apenas se submetesse.
Queria falar algo, qualquer coisa, mas sua voz saiu estranha. O choque havia queimado sua mucosa e seus nervos, e o gosto de sangue era constante em sua boca. Sua língua não parecia trabalhar bem. O homem sorriu, o puxando para perto. O beijo lhe deu ânsias. Mordeu o lábio com força e quando o homem o largou jogou sua cabeça com força contra ele, ouvindo o barulho da fratura. Tobirama xingou, o impacto o fazendo tropeçar na maleta, as ferramentas de tortura caindo no chão.
Teve apenas segundos para apreciar a visão do rosto dele ensanguentado quando o choque percorreu seu corpo, o fazendo ter espasmos enquanto o taser era acionado nas suas costelas. O homem parecia bem furioso agora, a face dura quando taser foi de encontro outra vez a sua pele, com certeza causando queimaduras em seu peito, a arma contra seu esterno. Gritou angustiado, tonto quando ele finalmente parou. Estava quase desmaiado, mas notou que o homem tentava voltar a sua compostura fria, ajeitando os cabelos bagunçados, pegando um lenço e limpando o rosto ensanguentado, colocando o nariz no lugar.
Naruto riu, os dentes sujos de sangue. Sabia que tinha que chamar a atenção do outro para si. Apenas esperava que os Uchihas aproveitassem a chance. O homem não parecia ter o mesmo humor que o seu, a mão logo puxava novamente seu cabelo, jogando sua cabeça para trás. Gemeu baixo, os olhos insanos perto do seu rosto.
—Eu gosto quando eles são difíceis, Naruto. Sempre gostei. — O taser voltou a sua boca, forçando-o entre seus dentes com um puxão mais forte do seu cabelo para trás. Dessa vez fechou os olhos com força, esperando a terrível dor que sabia que viria.
Um impacto, no entanto, jogou o homem longe. Abriu os olhos e viu que Itachi e o outro eram uma bagunça de membros lutando. Sabia que o Uchiha não teria chance alguma, machucado como estava, ele devia saber também. Ele tinha se aproveitado das ferramentas derrubadas e aberto as algemas, e agora tentava golpear o outro com uma das facas.
Não tinham muito tempo até as pancadas na lataria chamarem a atenção dos guardas. Sasuke gritou, e por um momento pensou que fosse de medo pelo irmão até se dar conta do que ele fazia. O taser havia caído perto dele, e havia dado um choque nas algemas, dando um curto-circuito no sistema e as abrindo. Logo estava também em cima de Tobirama, o taser nas costas do homem na força máxima o fazendo largar seu irmão e cair no chão, apenas para receber outra carga, ficando imóvel. Ele estava pronto para descarregar uma terceira, um grito gutural e selvagem saindo dele, quando Itachi agarrou seu braço, o contendo.
Tudo fora muito rápido, e por alguns segundos os três ficaram parados, olhando uns para os outros com olhos arregalados, Sasuke segurando a arma com força, como se temesse que o homem fosse se erguer a qualquer segundo.
Naruto quebrou o silêncio, cuspindo sangue no chão, a língua ainda pesada, mas coerente o bastante para entenderem:
—Não me importo se me soltarem agora.
...........
Itachi reagiu antes de Sasuke, que ainda parecia em choque com tudo. Apenas quando já soltava Naruto o irmão surgiu do seu lado, aparando o peso do garoto que desceu. Jogou as malditas correntes longe no furgão. Lembrava bem quando Aeron lhe falara pela primeira vez sobre a lança. Sabia que agora o garoto devia estar em uma dor excruciante, se detendo apenas pelo bem do seu irmão em vê-lo em agonia.
O ouviu suspirar de alívio, Sasuke o amparando. O irmão beijou o rosto inteiro do garoto, em frenesi, e virou o rosto de lado, desviando da cena. Não por muito tempo. Surpreso, sentiu o irmão o puxar para o abraço.
Seu irmão nunca fora particularmente carinhoso, nenhum dos dois, mas agora ele o abraçava como se temesse que ele fosse sumir. Ele não chorava, mas podia sentir seu corpo tremer. Naruto o olhou de forma perdida, sem saber o que fazer para acalmá-lo.
—Está tudo bem, Sasuke... — murmurou rouco.
—Não está. — A voz do irmão tremeu, e só então Itachi lembrou que ele tinha apenas 18 anos, mais novo do que os dois. Às vezes esquecia que seu irmão ainda era apenas um garoto. Até meses atrás, livre de qualquer horror do mundo. Apesar dos treinamentos com o pai, Sasuke sempre fora menos inclinado para o que faziam, sabia que o irmão apenas treinava para impressionar o pai de alguma forma.
—Nós estamos bem agora. — Naruto murmurou, o rosto menos pálido. Puxou o rosto do seu irmão de onde estava em seu ombro e afastou os cabelos suados. — Estamos vivos.
—Vocês dois... — Sasuke o soltou com relutância. — Como podem estar tão calmos. Isso já aconteceu antes? Vocês dois já foram torturados antes... Vocês dois...
—Respira, Sasuke. — Ordenou, tomando o lugar de Naruto e segurando o rosto do irmão. Sasuke o obedeceu de imediato. Tomou uma golfada, duas e assentiu.
Não deve ter passado despercebido ao mais novo que os outros dois não haviam respondido à pergunta.
—Estou bem. — O irmão parecia envergonhado pela perda de controle.
—Meus heróis. — Naruto brincou, tentando aliviar a tensão. Seu irmão sorriu de leve. A voz do garoto parecia menos embolada, sem as correntes devia estar se curando, ao menos das feridas provocadas pelo taser. As da adaga ainda sangravam. — Não podemos sair até o carro parar. E quando parar, teremos que estar preparados. Amarrem o velhote, me tragam aquele rádio ali, e Sasuke, guarde essa adaga, bem longe desse cara. Não sinto minhas pernas muito bem no momento, vou me sentar.
—Sim senhor.
Dessa vez Sasuke riu.
............
—Você fala. Mudei a frequência para a que eu sei que meu pai usa, mas não podemos arriscar de alguém mais ouvir. Faça sua voz de malvado.
Itachi quase revirou os olhos. Os dois garotos o olhavam com expectativa. O carro ainda se movia, agora em terreno mais íngreme. Tobirama ainda estava apagado. Naruto o dera mais um choque, para ter certeza, segundo ele.
Apertou o botão do rádio.
—Corvo na escuta, requerimento de situação atual.
Estática. E então uma voz, incerta.
—Itachi?
Relaxou os ombros, seus olhos suavizando.
—Shisui.
—Itachi!
Afastou o aparelho com o grito do outro. Sasuke segurou o riso e Naruto olhou curioso.
—Nosso primo. Itachi é o favorito dele.
Ignorou o irmão.
— A linha é segura. Onde você está? Senju deixou uma fita, como está a sua situação física?
—Precisamos de extração. Estamos em um carro em movimento. Fomos removidos pelos túneis da ala oeste, em direção a floresta, perto do rio que corta a propriedade. Agora em terreno íngreme, provavelmente estamos já fora. Procurem nessa região. Não temos visualização, esperaremos o veículo parar.
Ouviu a voz do primo comandando alguém, e então passos, a voz dele mais arfante, como se estivesse correndo.
—Não enrola, Itachi, não disse ainda como está. Sasuke e Naruto Namikaze estão com você certo? Sasuke está bem?
—Sim. Estamos vivos e conscientes.
Ouviu um xingamento.
—Senju gravou a sua tortura, Itachi.
Não soube o que responder à isso.
Ouviu mais sons abafados e então o rádio ficou mudo por alguns instantes. Os três se entreolharam.
—Naruto!
Por um momento ficou paralisado ao ouvir a voz. Itachi praticamente empurrou o comunicador para si. —Naruto?
—Daidi. — Arfou, incerto. Era mesmo seu pai?
Ouviu um som de alívio do outro lado.
—Não vou perguntar como está fisicamente, sei que vai mentir. Estamos indo buscar vocês. Aguente firme.
Assentiu, até lembrar que ele não podia ouvir. Sorriu.
—Sim. Daidi...desculpe eu...
—Não peça desculpas. Vamos conversar quando tudo acabar. Sobre tudo. Vai ficar tudo bem, eu estou indo, estou indo te buscar, tudo bem?
—Sim. — Sussurrou.
—Tobirama? — a voz foi dita com tanto ódio que o acordou do torpor de ouvir seu pai.
—Desacordado, amarrado. O deixei para o senhor.
— Não corra riscos desnecessários.
Sabia que aquilo significava "mate-o se preciso."
—Okay.
—Nagato ele...
Um beep os impediu de continuar a falar.
—Na..ru..to..eu..
—Daidi!
—A bateria, temos que desligar para não descarregar tudo. — Itachi falou, fechando o aparelho. — Vamos precisar ainda, com certeza.
Nesse momento o carro parou de se mover.
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—O que...
—A bateria deve estar fraca, Senhor Namikaze. — Shisui apertou seu braço de leve em apoio.
Assentiu de forma ausente, a testa franzida.
—Minato. —Fugaku colocou a mão em seu ombro, havia parado no meio do caminho para entrar no jeep. — Minato!
Eu te amo, Naruto
— Precisamos ir.
Assentiu, assumindo o volante, Fugaku a seu lado, Shisui já entrava em outro veículo.
Só esperava que tivesse a chance de dizer aquilo a seu filho, o que ficara inacabado naquele momento.
Que aquelas não fossem as últimas palavras que trocaria com ele.
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Pléascadh — explosão
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