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Pian

AVISOS DE GATILHO: Violência, tortura, estupro e idealização de suicídio (essa última brevemente).

Morrígan, a rainha fantasma, sempre me deu medo; A deusa da guerra, associada com a vingança, premonição e a morte. Nas lendas, ela assume uma forma de corvo e sobrevoa o campo de batalha, pousando nos ombros de guerreiros.

Suas vastas formas, suas lendas contraditórias, sempre faziam os pelos da minha nuca se arrepiarem, e deixavam um gosto amargo na minha boca.

Quando menino, ao virar o rosto sempre via os corvos voando na janela, sem conseguir desviar deles quando invadiam meus sonhos. Seus bicos rasgando minha carne sem escapatória. Eles sempre estavam lá, vigiando. Esperando algo que não conseguia entender.

Morrígan também era a deusa do destino.

E o destino, é aquilo do qual você não escapa.


NÃO VÁ.

Eu não tenho escolha.

Odiava admitir, mas estava com medo. Sempre sentia medo perto de Obito, mas dessa vez era ainda pior. Por isso havia feito um desvio para seu quarto, lutando contra o cansaço que ainda sentia.

Hesitou por alguns segundos mirando o compartimento da mala, olhando para trás, mesmo sabendo que Sai devia estar ainda no refeitório naquela hora.

Por fim foi com seus instintos e pegou a arma e a colocou em seu cós nas suas costas, a cobrindo com a camisa. Apenas por precaução.

Olhou a adaga por alguns segundos, mas a deixou lá, voltando a fechar a mala com um suspiro.

Não vá Naruto, não vá.

— É só uma conversa. Ele não vai fazer nada.

Sussurrou, mas pareceu tão hesitante quanto se sentia, sentado na penumbra.

Eu não posso te proteger ainda. Não vá.

—O que quer dizer? — franziu o cenho. — Quem é você? Não é só uma alucinação, não é?

Quando falou isso, percebeu mais que era verdade. Havia cogitado transtorno dissociativo de identidade. Havia tentado reparar apagões, perguntar casualmente a Sai se agira estranho, mas não conseguiu nada.

Ainda assim, não parecia correto. Havia...um nome, às vezes, na ponta da sua língua. Uma lembrança, que sumia e o deixava exausto e frustrado quando tentava lembrar.

Sabe quem eu sou.

A voz falou mais quietamente,

Não tinha tempo para isso. Não agora.

—Estou com medo. — Admitiu. — Um pressentimento ruim.

Não vá.

Tinha que ir. Não tinha escolha nisso.

Nunca tinha.

............

Naruto apressou o passo. Em sua cintura a arma gelada lhe atrapalhava um pouco a andar. Havia passado por alguns alunos, mas simplesmente os ignorou.

Sabia a razão da convocação: prestar explicações por ter salvado Hinata.

Apesar de tudo, não se arrependia. Nunca poderia ignorar uma situação como aquela. E não apenas por ser Hinata.

Não era assim.

Tentou não pensar muito no que o esperava no gabinete, somente passava pelos corredores enquanto uma tempestade caia lá fora, ruidosamente, junto a raios e trovões incontroláveis.

Quando viu a porta da diretoria aparecer em sua visão, sentiu o coração acelerar. Tentou se acalmar, lembrando de tudo o que havia treinado, aprendido e até feito em sua vida. Se ele tentasse algo, iria honrar seus treinos exaustivos. Seu avô o havia treinado para isso, para que pudesse se proteger de seus monstros, certo?

E Obito era um deles no momento. O pior deles.

Engoliu em seco, a mão tocando a madeira, mas sem a abrir.

Terá a coragem de atirar se preciso?

A pergunta foi feita quietamente. Quase suavemente.

—Sim. — Sussurrou.

Esperava que sim.

O medo só piorava. Seus instintos nunca falhavam, confiava e os seguia sempre, mas naquele momento não havia escolha. Não poderia, por sua família, iria defender as pessoas que amava, tal como seu pai fazia sempre. Não queria ter arrependimentos no futuro por não ter ao menos tentado. E se negar agora, era colocar todos eles em risco.

Empurrou a porta, olhando a sala da qual lembrava bem, a semanas atrás ter visto Sasuke pela primeira vez, sentado naquela poltrona com suas feições sérias de sempre. Lembrava bem das sensações estranhas que ele lhe trazia, que agora não existiam mais, pelo menos parte delas.

Não queria mais fugir dele, e sim com ele. Fugir daquele inferno com ele.

Lembrava-se bem da atração que sentiu. Foi instantâneo. Tão simples como respirar.

Por um momento enquanto caminhava para a grande porta de mogno, imaginou como seria sua vida se fosse um garoto normal, se conhecesse Sasuke em um lugar qualquer, e pudessem ter uma vida simples como muitos outros. Onde pudessem ficar juntos sem ter medo do que aconteceria a seguir, sem ter medo de no fim, alguém acabar morto.

Um lugar onde eu pudesse realmente dizer o que sinto por ele, sem ter medo. Sem ter esse medo de até pensar nisso...

Atravessou a porta, a fechando em seguida. A sala de espera estava vazia, o computador da secretaria desligado, o aquecedor ligado zumbia baixo enquanto a chuva batia contra a janela como se quisesse invadir o local.

Parou, respirando fundo, se concentrando. Olhou para a grande porta de madeira escura e tomou coragem. Caminhou até ela, tocando a arma em sua cintura se certificando que ela continuava ali

Entrou na sala, vendo-o sentado em sua mesa, o olhar na tela do ultrabook. Seus olhos passearam pelo gabinete, parando em um dos animais, que notava nunca ter visto ali. A cabeça de uma raposa do ártico, de pelos brancos e olhos castanhos. Naruto engoliu em seco ao imaginar que aquela seria a nova aquisição para a coleção de Obito, e o quanto aquilo parecia ser uma coincidência bizarra.

— Que bom que veio rápido, Naruto, sente-se. — Obito acenou sem olhar para ele, começando a digitar. — Sabe bem qual o motivo, correto?

— Sim

Ouviu profanidades em irlandês na sua mente e franziu o cenho com isso. Estava começando a ter uma dor de cabeça com a potência da voz naquele momento. Parecia mais alta, mais clara.

—Sente-se, não vou me repetir.

Foi devagar até a mesa, se sentando torto pela arma, mas tentou disfarçar.

— Ajudou outro participante, isso lhe resultou num grande e redondo zero na prova. O que lhe fez despencar na tabela. Não acha que foi muito atrevimento o seu fazer tal coisa? Esqueceu do que pode acontecer se perder?

Seu tom havia se alterado, os olhos finalmente se direcionando a Naruto, o mesmo olhar homicida que havia visto no dia anterior; um misto de irritação e preocupação.

— Eu fiz o que tinha de fazer, ela iria morrer afogada. — Tentou falar o mais calmo possível

— Que morresse afogada! Isso não tem nada a ver com você, seria até um favor! — O homem bateu uma mão na mesa com força, o eco após sua voz alta agourento.

Havia prendido a respiração, os dois se fitando.

Soltou o ar devagar.

Um barulho o fez olhar para a janela e ver uma forma escura, mesmo na chuva. Um pássaro pousando no umbral.

Um corvo.

Sentiu os pelos da sua nuca se arrepiarem.

— Olhe para mim!

Os olhos voltando ao homem que o fitava com desagrado e fúria.

Naruto tentou manter a calma, não se exaltar e piorar tudo enquanto respondia devagar: — Eu não vou e nem irei ficar parado vendo uma pessoa morrer, sem que eu faça algo para impedir se puder. — Seus olhos se tornaram fixos nos do mais velho, determinados. — Eu não nasci para isso.

Obito o encarou frustrado, mas curiosamente menos irritado quando disse a última frase.

Naruto lembrou então do que ele havia lhe falado semanas atrás, de que sabia que Naruto iria tentar se recusar a fazer certas coisas. Ele já devia esperar por isso. Aquilo o desagradava, o fato do maldito parecer saber tanto sobre ele quando nem mesmo havia ouvido falar do sujeito até entrar ali.

— Eu sei que não. — Obito se levantou, seu tom abrandando — Não tem como alguém como você ter nascido para esse tipo de coisa. — O homem rodeou o mogno indo até umas das estantes, deslizando os dedos pela capa envelhecida de um dos livros. Naruto o seguiu a cada passo com o olhar, cauteloso. — Eu sempre soube disso.

A última frase foi sussurrada, mas Naruto a ouviu.

— O que quer dizer?

Obito parecia pensativo, ainda alisando o livro. Era um livro vermelho de couro, conseguia ver dali. Desgastado e, pela posição, ele provavelmente estava olhando-o pouco antes de Naruto entrar na sala.

Estreitou os olhos ao perceber as páginas estufadas. Não era um livro, era mais uma pasta. Havia algo ali, e pela forma como Obito estava agindo, possivelmente algo sobre Naruto; Apesar da situação delicada, queria saber.

— Nada de importante no momento. — O homem se virou dando um de seus típicos sorrisos cínicos. Que não alcançavam os olhos muito escuros. Estes ainda chispavam irritados. Aquelas mudanças de humor o deixavam ainda mais perigoso. — Somente uma divagação.

— Hum. — Naruto entoou, tentando não dar na cara que estava decorado a localização do livro.

—Por sinal, eu vi como se aproveitou do fato de ela estar inconsciente. — Obito disse subitamente, suas mãos começando a abrir e fechar, como se fosse um tique nervoso. — Aquilo foi mais um beijo que uma ressuscitação, Naruto.

Seu sangue gelou e suas mãos tremeram. Naruto não acredita que ele havia insinuado isso. Obito realmente era insano se pensava que ele poderia...ele não conseguia nem pensar nisso.

Respirou fundo.

—Está dizendo que eu... Olha aqui, eu nunca, escute bem, nunca me aproveitaria de alguém inconsciente. Diferente de você, Obito, eu respeito as pessoas.

— Eu luto pelo o que eu quero. — O olhar dele se fixou mais em seu rosto. E havia algo mais além de raiva. Que reconhecia bem.

Sentiu os olhos dele mais fixos enquanto se aproximava.

Ele tinha que sair dali. Agora.

— Se era isso que tinha para falar, acho que nossa conversa acabou.

Ergueu-se da cadeira devagar. A voz estava ainda mais agitada em sua mente, fazendo seu coração acelerar mais.

— Nossa conversa acaba quando eu digo, Naruto.

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As pupilas de Obito se dilataram, Naruto estava perto demais, e não estava recuando enquanto se aproximava, não sem ter para onde ir sem ficar ainda mais acuado. Obito ainda não havia terminado o que tinha que falar, mas o conteúdo da conversa não importava mais. Ele deveria saber que uma conversa sobre isso nunca adiantaria.

E não importava mais. Nada importava naquele momento, além dele ali, tão perto. Diferente das fotos que tinha guardadas, depois de todas as pesquisas histórias por anos. Ali era ele, real. Na sua frente.

Talvez seja melhor uma lição do que uma conversa. Falou para si mesmo, para se convencer. Que ele entenda de uma vez.

Podia ver as hastes de tom azul marinho que riscaram íris azul céu perfeitamente. Os cílios longos e loiros, as cicatrizes assimétricas, o modo que eram desenhadas as sobrancelhas angulosas perfeitamente esculpidas para aquele lindo rosto. Os cabelos de tom dourado sempre desalinhados de modo charmoso, caindo em sua testa e olhos. Mas não podia se esquecer dos lábios rosados e carnudos, que tinham as belas ondulações fornecidas pelo nariz pequeno e delicado, cheio de sardas. Ele era perfeito, de uma forma tão arrebatadora, que Obito se sentiu privilegiado pelo o que via.

— Eu sei o que me pertence. — disse suavemente, predatoriamente.

Os olhos dele estavam resguardados, ariscos. Notou que ele fitava a porta brevemente. Tentando escapar. Sorriu com a ingenuidade do garoto, se colocando entre ele e a porta.

Não dessa vez.

Ergueu uma mão para tocar no rosto do outro, mas não teve a oportunidade. Rápido como nem mesmo sabia que ele seria, o garoto desviou da sua mão e golpeou sua garganta. Deu um passo para trás, sem ar, segurando o lugar que foi golpeado e tossindo de olhos arregalados. Viu o movimento pelo canto dos olhos enquanto sufocava, ele tentando passar para a saída.

Não iria o deixar escapar. Ainda mais depois daquilo. Moveu-se rápido, já se recuperando do golpe, e o empurrou contra a estante com violência, agarrando o pescoço do garoto com as duas mãos.

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Naruto havia perdido sua chance de escapar sem uma luta. Com a garganta bloqueada e, sem escolha, arrancou da cintura a arma com a mão destra, prensando o bico dela em um "lugar especial".

Em outra situação, teria sorrido com a face surpresa do mais velho, que soltou devagar seu pescoço:

—Me deixe ir. — Falou entre dentes, sua voz rouca.

Não houve tempo de falar muito. Obito agiu rápido, sua mão direita pausando com força no seu ombro esquerdo. Tentou se desvencilhar, mas antes que conseguisse viu a mão fechada em punho vindo em direção ao seu rosto.

Da maneira mais rápida que pôde jogou o corpo para o lado evitando de ser acertado em cheio. O golpe atingiu os livros atrás da sua cabeça ao se agachar. Se desvencilhou da mão e recuou rapidamente. Infelizmente, para mais longe ainda da saída.

Com os livros caindo, notou rapidamente que um deles era o livro que Obito olhava antes. Seus olhos foram para as fotos no chão por alguns segundos, a expressão confusa ao ver fotos suas espalhadas no carpete.

Não...não são minhas.

Era sua cara, mas não ele, não era Naruto.

Fique atento!

Retornou a atenção total a Obito, que arrancava a mão de onde havia enterrado nos livros na estante. O homem não parecia nem mesmo estar levando aquilo a sério, pelo sorriso maníaco em seu rosto.

Naruto cerrou os dentes e calculou suas chances; teria que pular por cima da mesa para alcançar a porta. A essa hora os estudantes estavam saindo, ele não o perseguiria pelos corredores. Se ele impedisse sua saída, teria que passar por ele. Atiraria se preciso. Naruto nunca havia atirado em ninguém com a intenção de matar antes.

Balançou a cabeça. Não tinha tempo para isso. Não era como se fosse a primeira vez que mataria alguém...ele já...

Naruto!

Merda!

Não conseguia se concentrar quando mais precisava.

Eu estou com medo.

Seu intento de ir para a porta pareceu claro, o homem estava avançando em sua direção, bloqueando sua saída ainda mais. Puxou a arma por instinto, o cano escuro apontado para o mais velho, pesada em sua mão.

Atire.

—Não tem coragem de atirar, e sabe disso.

—Me deixa ir. — Sua voz soou firme, mas firme do que sentia. — Já deu seu recado, eu já entendi.

Os olhos escuros ainda pareciam mais insanos. A boca contorcida no que deveria ser um sorriso.

Atire nele, ele não vai te deixar ir!

—Não, não entendeu.

Ele continuou a avançar.

—Pare! Não se aproxime!

Dor. Medo. Traição. Olhos quase vermelhos na escuridão, enquanto a lâmina contornava seu rosto.

—Você prefere morrer...Pois bem, você vai morrer. Mas antes, vai aprender sua lição. Acha que não posso subjugar um deus?

ATIRE!

Seu dedo pesou no gatilho e disparou. A Beretta 93R¹ saltou em sua mão, mas quase não sentiu o tranco, seus olhos azuis arregalados não piscavam concentrado, e ao mesmo tempo perplexo. Por um segundo era como se não tivesse tido controle da sua mão. Se Obito não tivesse desviado, teria acertado na cabeça.

Obito havia desviado, se jogando no chão no exato momento em que o projétil o vidro da janela, que se estilhaçou em brilhantes cacos, deixando a chuva e do vento gelado entrarem. Formas escurecidas voaram com o barulho e os pedaços de vidro.

Se não vai matá-lo, fuja daí!

Balançou a cabeça, ele estava certo.

Correu em direção a porta, mas teve de praticamente se jogar para o lado direito. Sentindo o vento do punhal que passou por centímetros do seu rosto. Essa ação o pegando de surpresa.

— Ah, Naruto querido, você me pressiona tanto que eu tenho de fazer o que não quero. — Seu tom decepcionado surgiu juntamente consigo, que se levantou, ajeitando o terno escuro. — Mas quem começou foi você, então... — Naruto deu um passo para trás se posicionando, a arma sendo segurada pala mão direita e apoiada pela esquerda, sendo apontada para o homem que agora saia de detrás do mogno. Falando de maneira sarrista: — Terei de dar-te o troco a altura.

Atire!

Naruto hesitou por um momento, e esses segundos, em que hesitou puxar o gatilho da arma, foram bem aproveitados por Obito. Ele retirou de seu bolso mais um pequeno punhal, do qual havia pegue na gaveta de sua mesa, e o atirou na direção do outro, sutilmente.

Mal teve tempo para tentar sair do caminho, e sentiu a lâmina rasgar seu ombro esquerdo. Soltou uma exclamação de dor, abaixando instintivamente a arma que era segura somente pela mão esquerda, enquanto a direita era levada ao ombro ferido de raspão.

Fitou o mais velho contendo a expressão de dor. Uma outra cena clara na sua mente. Um barco, redes, cheiro de maresia. E uma faca rasgando seu rosto.

"Você me pertence agora, Isaak."

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Obito tentou se aproximar, mas foi repelido com um tiro no chão, que quase acertou seu pé.

— Não chegue perto de mim! —O garoto, ainda segurando o ombro, de onde uma quantidade relativamente grande se esvaia, molhando sua camisa. — Não chegue perto!

O medo ali o fez hesitar por alguns segundos. Um sentimento breve, em que cogitou em o deixar ir. O susto já deveria ter bastado.

Não. Uma voz se fez em sua mente, uma voz conhecida. Ele não aprendeu. Ele nunca aprendeu.

Obito mordeu o lábio, sua expressão se endurecendo com aquelas palavras.

Ele não é uma criança. Ele não é frágil. Ele te mataria se pudesse.

Sim, aquele não era mais o garoto que sempre idealizou em seus sonhos, não tinha nada de frágil, nem delicado, muito menos inocente. Era outro, outro completamente diferente.

Ninguém teve pena de você, misericórdia. Por que teria com ele?

Não. Ele não teria misericórdia também.

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Naruto ergueu-se ao notar que Obito havia parado de avançar, ofegando levemente pela maldita dor que ricocheteava de seu ombro e por todo seu braço.

Naquele momento de distração a arma foi arrancada de suas mãos.

Arregalou os olhos surpreso, pela rapidez incrível do chute certeiro do mais velho, que agora avançava. Naruto desviou dos primeiros golpes, ainda estupefato do que acontecia. Obito era simplesmente incrível lutando. Admitia que, ele chegava a ser melhor até que seu pai. Era rápido e tinha coordenação e equilíbrio exemplares. Naruto estava se esforçando ao máximo para conseguir fugir dele.

Tentou atacar, tomando espaço, mas nem tinha tempo de pensar em algo, e ele já estava a sua frente, com socos rápidos. Nem viu quando suas costas encontraram com a mesa de mármore que ficava perto da parede, ali era o ponto final para que pudesse fugir.

Viu-o se equilibrar sobre a perna esquerda, o corpo flexionando enquanto a perna direita vinha em sua direção, na altura de suas costelas. Iria ser atingido, iria, se não sentisse aquela descarga estranha em seu corpo e, num ato que surpreendeu a ambos, segurou o outro pelo tornozelo, centímetros de o acertar. E antes que Obito fizesse algo, agarrou com as duas mãos seu tornozelo e com força o jogou para o lado.

O mais velho bateu contra a porta fortemente, suas costas doendo com o impacto, e ofegante, viu o garoto se inclinar por debaixo da mesa de mármore, tentando alcançar a arma que havia caído em algum lugar ali. Grunhiu alguma coisa raivoso e trancou a porta, se recompondo tão rápido que era como se não tivesse levado uma pancada tão forte como aquela. Seus passos foram largos e rápidos e num segundo estava atrás do garoto.

Naruto via a arma a poucos centímetros de sua mão, debaixo da estante. Mas sentiu seu ar se extinguir quando notou a presença de Obito muito perto, e logo em seguida, antes de se mover para fora dali, teve a cintura agarrada e puxando para trás, para fora de debaixo da mesa.

Se moveu rápido, girando o corpo se livrando das mãos atrevidas, pronto para dar um chute para acertá-lo, quanto sentiu algo esmurrar sua testa. Tamanha a força o fez bater a cabeça no chão, um baque sendo ouvido pelo mais velho.

Fique acordado! Tem que sair daí!! A voz gritava em sua cabeça, de maneira descontrolada.

Naruto por segundos se desligou, uma dor pior que a de seu ombro alastrando por sua cabeça, começando pelo local, acima da nuca, e piorando junto aos gritos histéricos. Seus ouvidos apitaram alto quando conseguiu abrir os olhos, as imagens dançando em sua visão, mas pôde ver que acima dele tinha alguém. Isso o fez despertar um pouco mais.

Obito tinha uma perna de cada lado do corpo menor, seus braços sendo seu sustento, inclinado, seu rosto a centímetros do rosto do garoto. Os olhos dele estavam vidrados e vazios de uma forma que nunca havia visto. Era como se não houvesse ninguém ali.

Seu medo naquele momento foi tanto que não conseguia respirar.

NARUTO!!

Arregalou os olhos, alerta após o grito, retomando o movimento do corpo, mesmo de maneira descoordenada. Tentou o chutar, mas Obito foi mais rápido e sentou sobre suas coxas. Fechou as mãos em punhos e avançou sobre ele, mas ainda se sentia grogue pela pancada, e o outro lhe segurou facilmente, juntando suas duas mãos e as segurando.

— Me solta! — Grunhiu, movendo o corpo para os lados, tentando se livrar do maior. — Se afaste!

Anos treinando. Anos se preparando, e ali estava. Indefeso novamente.

Engoliu o choro ao pensar nisso. A voz continuava gritando em sua mente, e mal a conseguia entender.

—Caladinho... — Obito puxou seus braços o forçando a ficar cara a cara consigo. — Hum, perdeu seu brinquedo? Que pena meu amor, acho que sem ele, contra mim, você não tem chances.

Naruto sabia disso. E sentiu o seu pavor aumentar com a constatação.

— Me solta! Seu desgraçado! Me solta! — Gritou, se chacoalhando abaixo de Obito, tentando se soltar a todo custo. Em sua cabeça os gritos nunca acabavam, e agora se misturavam com gritos infantis, uma lembrança que a todo custo tentara enterrar em sua mente e que agora emergia de forma dolorosa.

Isso de novo. Não. Isso de novo.

Sentia a cabeça rodar pela pancada e latejar de forma aguda, mas não podia se render assim. Como um último esforço, em um movimento completamente inesperado e forte, se soltou das mãos do mais velho e conseguiu acertar-lhe um soco em sua mandíbula.

Obito caiu de costas no chão. Naruto levantou-se o mais rápido que pode, ou tentou, sem equilíbrio, se apoiando nas coxas. Sentia-se desorientado, sua cabeça latejando, os ouvidos zumbindo, a visão dupla. Levou o olhar para a direção em que o homem havia caído, tentando rastejar para longe enquanto se erguia. Devia ter batido a cabeça em algo pontudo ao cair. Levou a mão para o ouvido esquerdo, o tocando para levar a mão à frente do rosto.

Sangue. Seus dedos estavam sujos de sangue.

Concussão.

Isso explicava muita coisa.

Tentou caminhar para a porta, mas teve que se segurar na mesa e quase caiu de joelhos.

Já chega, me deixe assumir.

A frase o deixou confuso. Mais confuso do que já se sentia. Era...familiar.

Eu não consigo... pensar direito...eu não...

— Garoto... — Naruto se surpreendeu com a voz do mais velho, estava perto, a sua frente. Levantou o rosto estático para olhá-lo, quando levou um soco no estômago que o deixou sem ar. Quando se escolheu, uma mão agarrou seus cabelos pela nuca e sua cabeça foi contra a mesa.

Quando Obito o soltou, despencou no chão novamente. Demorou alguns segundos para recuperar o ar e a visão, apenas para se deparar com Obito o olhando de pé, imóvel. Um filete de sangue escorria pelo canto de seus lábios, os olhos negros não mostravam sentimento algum, somente um vazio sem igual.

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Obito já havia se sentido assim algumas vezes. Aquele ódio sem medida o fazia se mover. Nada mais existia além disso. Deu um passo duro na direção do garoto que estava estendido no chão e lhe acertou um chute, na altura das costelas. Dois, três, chutes com a mesma intensidade no mesmo local. Ouviu-o gemer, e logo gritar ao novamente o acertar, sentindo algo se partir abaixo de seu pé. Sabia que devia ter quebrado uma de suas costelas, mas isso somente o fez sorrir.

Naquele momento não importava se aquele era o homem dos seus sonhos, não importava que ele fosse o significado de estar vivo. Não importava com nada além da vontade de o ferir. Ele era só mais uma presa. Uma caça.

O garoto ofegou e tentou se encolher, virando para o lado esquerdo. Isso o fez sorrir e o empurrar pela barriga com o pé para que voltasse a posição anterior. Quando ele resistiu, lhe acertou um chute no estômago.

— Naruto, você não sabe quem irritou.

Mal ouvia a própria voz, mas ouviu a resposta dele de forma clara, assim como sentiu o cuspe sanguinolento vindo em sua direção.

— Vai se foder. — O sussurro sem fôlego foi como uma faísca na palha.

O empurrou com força para o lado ao receber aquela resposta, assumindo a mesma posição de antes, sobre as pernas do garoto.

O rosto pálido estava suado, sangue escorria por seus lábios entreabertos, um tom rosado tomava conta da lateral esquerda de sua face. Seus cabelos loiros estavam desgrenhados e sujos de sangue. Sua camisa preta amarrotada e suja do líquido carmim, que nela se tornava negro, mostrando um pouco de seu torso e tinha um rasgo no ombro onde havia sido esfaqueado.

Os olhos azuis estavam arregalados, desfocados. Ele parecia desorientado por alguns momentos, sem saber onde estava, mas no momento em que Obito tocou seu peito ele se moveu, as mãos se fecharam em punho e num ato débil em direção ao seu rosto, sendo segurados com facilidade.

— Vamos ficar agora com as mãozinhas para cima. Sim? — Levou as mãos dele para cima da cabeça com uma mão, e com rapidez retirou de seu torso um punhal. Contemplou o garoto por segundos antes de, com força e prática, o cravar no meio das palmas das mãos unidas do garoto, as atravessando e o fincando no chão de madeira com facilidade.

O grito foi rouco, longo e desesperado. Os olhos dele se encheram de lágrimas que transbordaram no mesmo momento.

Obito sorriu novamente.

Ele tem que aprender a lição. Ele acha que não posso subjugar...

—... um deus?

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A dor era surreal, pior que as que sentia antes, muito, muito pior. Sentia algo molhado em seu couro cabeludo, e sabia o que era. Seu raciocínio estava lento, sentia um torpor estranho e repentino.

Era incrível como seu corpo doía.

— Não! Não! — Gemeu ao se mover, mas não ficaria parado, estava à mercê dele, e isso não deveria acontecer!

Tentou chutar, espernear, mover o corpo de qualquer maneira, mas toda às vezes doía. Obito se levantou um pouco se inclinando sobre si, agarrando-lhe o queixo para que não fugisse, tomou-lhe os lábios num ato forte.

Ele tentou o invadir, mas cerrou os lábios com força, assim como os olhos, fazendo com algumas lágrimas escorressem por seu rosto. Sentiu uma mão agarrar seu pescoço e teve que eventualmente abrir a boca para respirar, engasgado, sentindo Obito se aproveitar para invadi-la. Moveu a cabeça tentando escapar dele, mas a tontura parecia piorar. Notou que tinha as pernas livres e chutou descontroladamente. Seus movimentos descoordenados, mas com força, só assim o beijo sendo quebrado abruptamente.

Tentou sair do lugar quando ele se afastou, mas a dor era demais. Não conseguia. Seus olhos estavam arregalados em desespero. Há anos não se sentia assim, tão impotente e indefeso.

E da última vez, havia acabado com seu avô morto.

Zonzo, grogue, seus olhos varreram ao redor em busca de uma solução uma saída, notando pela primeira vez os corvos na janela, parados na chuva. Os olhos vermelhos o fitando, e nem mesmo conseguia saber se eram uma ilusão ou não.

Obito voltou a se aproximar e tentou o chutar novamente, mas ele segurou sua perna e em segundos a sentiu paralisada.

Era isso, ele não tinha mais nada. Ele não iria conseguir fugir. E tudo aconteceria de novo.

Eu não vou conseguir passar por isso de novo.

Em um mundo ideal, aquele seria o momento em que seu daídi apareceria e o salvaria, mas ele sabia que não iria acontecer. Não era assim que acontecia.

Eu quero ir para casa.

Me deixe assumir.

A voz foi suave dessa vez. Fechou os olhos, sentindo que Obito estava o tocando novamente. Desnorteado, em agonia, apenas o pensamento mais estranho surgiu em sua cabeça.

Sasuke...

O rosto do outro surgiu com clareza, acima das imagens grotescas de seus monstros. Tentou chutar Obito com a outra perna, mas teve o mesmo destino. Quando sentiu ele puxar sua calça segurou um soluço.

Eu não quero mais estar aqui. Sasuke...por favor...

Das últimas vezes, sempre havia conseguido no fim salvar a si mesmo. Não daquela vez. Precisava ser salvo. E o rosto dele era de quem aparecia em sua mente. Sabia, de modo instintivo, que ele seria o único que poderia o ouvir naquele momento.

Sasuke...por favor...me ajude...Sasuke.

Tudo pareceu ficar fora de foco quando finalmente começou a chorar. Sentiu a boca na sua o mordeu, cuspindo o sangue na direção dele. Sentiu um tapa em seu rosto. Por um momento pensou no quanto poderia provocar Obito para que ele perdesse o controle e acabasse com aquilo de vez. Talvez ele lhe matasse.

Seria melhor.

Não.

Eu não posso passar por isso de novo.

Gritou ao sentir uma dor aguda. Os dedos dele... Obito falou alguma coisa, uma mão agarrou seu cabelo, a voz dele perto do seu ouvido.

Então a dor, a pior de todas, mesmo que já esperasse que fosse acontecer. Ouviu um grito tão distante que mal notou que era o seu.

Por favor, eu não quero mais estar aqui. Eu não vou aguentar isso de novo.

Eu estou aqui. A voz falou suavemente. Pode fechar os olhos agora.

Se sentiu ficar à deriva.

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Era como um animal selvagem, arisco. Aquilo o irritava em demasia, o fato de que não conseguia prevê-lo, contê-lo. Ele teria que domar Naruto, nem que fosse a última coisa que fizesse, ele ia quebrar aquela sua petulância. Iria quebrá-lo.

Removeu os dedos que vieram cobertos de sangue pelo ato brusco. No mesmo momento ouviu o primeiro soluço, mas nem isso o moveu. Nem os murmúrios o pedindo para parar enquanto ele continuava tentando se mover com vontade redobrada se impulsionando para trás, e se machucando ainda mais no processo.

Viu pela primeira vez na noite o sentimento de derrota no rosto dele, de saber que não havia saída para o que estava prestes a acontecer. Havia algo de extremamente gratificante em fazer alguém como Naruto se submeter daquela forma. Alguém que sabia que era poderoso, perigoso.

Conhecia aquela sensação. Não era nova. Estava ali, nos recantos da sua mente, como tudo que envolvia Naruto.

—Você me pertence. — Sussurrou em seu ouvido, lhe apartando as pernas com violência o trazendo para si. Ignorou o grito quando o movimento fez as mãos feridas se cortarem mais no punhal. Havia tentado ser gentil antes. Não era disso que Naruto precisava para aprender seu lugar. — Quanto antes entender, melhor.

Quando entrou nele, fitou o rosto abaixo de si e viu olhos azuis se dilatarem ainda mais, o corpo se arqueou do chão por segundos antes de cair novamente. A respiração pesada, o grito de dor saindo como um gemido estrangulado.

E então, ele parou de soluçar e se mover.

De forma repentina, a respiração ficando mais uniforme. Pensou por um momento que ele havia apagado. Não que isso fosse o impedir de fazer o que queria no momento.

Já era tarde demais para recuar.

Abaixou o rosto, lambendo as lágrimas que caiam devagar, suas mãos segurando o quadril dele com força, enquanto se afundava o máximo que conseguia de forma sádica. Tomando tudo, sem dar nada de volta, sem ele poder fazer nada além de calar a boca e aceitar.

— Davlin, solte-o.

A respiração quente em seu ouvido, a voz estranhamente aveludada e baixa.

Esse nome.

Foi como uma queda livre, aquele chamado. Arregalou os olhos, paralisando. Foi como um choque percorrendo todo o seu corpo. Ergueu o tronco de imediato para fita-lo. Sentiu um repentino terror percorrer a sua espinha. A expressão dele fria em sua fúria. Era como se fosse outra pessoa a sibilar a frase, um brilho sobrenatural nos olhos cinzentos.

Deve estar feliz, conseguiu o que queria de novo. — Havia sangue escorrendo pelos lábios machucados. A voz baixa e cansada, mas com um tom de puro rancor e ódio que nunca havia ouvido em ninguém na vida.

E de repente, ouviu a mesma frase. O mesmo tom.

A mesma voz.

Tu conseguiste o que queria tanto, Davlin? Estais feliz agora?

De repente, não era Naruto ali, a sua frente, quebrado, abrigando-o. Um rosto mais velho, uma expressão de puro pesar.

Como chegamos a isso?

Choque. Piscou e voltou a oscilar, os dois se alternando, até estar Naruto novamente ali, o fitando, o maxilar trincado pela clara dor que sentia quando se moveu de forma brusca.

Você apenas destrói tudo em que toca. — Os azuis se fecharam apertados, a voz saindo baixa e perigosa. Até ele praticamente urrar. — SOLTE-O!

As palavras foram como um tiro em seu peito que o fez despertar de vez do frenesi que a luta criara em si, que o deixara cego a tudo, a não ser da resistência que se mostrara ao ter o que queria, a tentativa de Naruto de o enganar, o chamado por Sasuke, suas palavras ferinas. Toda a raiva que o cegara e o deixara fazer apenas aquilo para que fora treinado: machucar quando traído.

Só então ele enxergara o que realmente tinha feito. Havia sangue por todo lado, em tudo, levando o brilho dos olhos azuis. Só havia dor no rosto pálido abaixo do seu.

Causada por ele.

Arfou. Sua respiração acelerou em desespero e saiu dentro dele ouvindo-o gemer, trêmulo. E notou que estava também coberto de sangue. O sangue dele, em suas mãos, suas pernas, em tudo.

Suas mãos...estavam cobertas com o sangue dele.

Ele estava o matando. Ele realmente estava matando seu menino.

—Naruto... — chamou em desespero ao ver que os olhos piscavam molemente, parecendo não o enxergar mais. Uma cor opaca na íris, uma expressão aérea.

E então, tudo aconteceu muito rápido. Ouviu um grito de algum lugar da sala e foi arrancado de cima de seu menino com violência batendo contra a parede.

Logo recebeu um chute no rosto.

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Naruto entreabriu os lábios machucados, quase ofegando. Sua visão turva pelas lágrimas e por sua consciência, que se extinguia junto ao sangue que fluía pelos seus ferimentos. Sentia o alivio de não sentir Obito mais dentro de si, e de assumir o controle de seu corpo novamente, assustado demais com o que acontecera há instantes.

A sensação de estar à deriva na escuridão. Apenas aquela voz o guiando.

Vai ficar tudo bem agora. A voz o consolou mais branda, o lembrando tanto da mesma situação, há 11 anos atrás. Aquela mesma dor também estava lá. Tudo acontecera de novo.

Novamente, fora fraco demais para se defender.

E ele sabia que ele estava mentindo, nada ia ficar bem.

Não entendeu o que estava acontecendo, somente via formas desconexas e ouvia sons abafados, o zumbido em seus ouvidos ficando mais alto. O corpo dolorido, as mãos já dormentes, tudo havia se tornado um grande nada com um sentimento estranho de segurança. Ia fechar os olhos, para se entregar de bom grado ao torpor, quando ouviu algo perto de seu rosto. Moveu devagar os olhos azuis na direção do som, encontrando um par de orbes escuros fixos em si, em pânico.

Era Sasuke.

Isso é uma ilusão?

Tentou sorrir, somente conseguindo um repuxar de lábios, mas parou, ao finalmente se dar conta do que via, Sasuke movia os lábios rapidamente, falando algo que não entendia, seu rosto contorcido em dor. E o pior, que fizera Naruto se sentir pior do que se sentiu em toda aquela noite, era ver Sasuke chorando. As lágrimas rolando por sua face enquanto parecia gritar algo, seus olhos passeando por seu corpo sofrido horrorizados, parando em algo acima de seu rosto.

Ele ficou em choque, os olhos vidrados. Ele se levantara rápido e sumiu de seu campo de visão. Seu coração acelerou ainda mais, e tentou se mexer, a dor ricocheteando por seu corpo. Resistiu a dor mordendo o lábio já machucado, não se importando tanto com isso. Tentando erguer a cabeça só para vê-lo novamente.

Sentiu sua visão embaralhar novamente, o bipe ficando mais alto em seus ouvidos, seu estômago se revirou e virou o rosto para o lado, vomitando mais em si mesmo do que no chão. Sentiu uma dor aguda nas mãos quando elas foram libertadas. Gritou sem voz, em um arfar mudo e desesperado.

Durma.

Sentiu ser tragado para a escuridão.

Na janela, os corvos voaram para longe.

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— Naruto...Naruto! Fale comigo!

Sasuke continuou o chamando desesperado. Ele queria que aquilo fosse um pesadelo, que não estivesse mesmo ali, vendo o corpo massacrado dele, a respiração fraca que mal subia no peito nu. Havia sangue demais por todo lado, marcas de mordidas e pancadas. Desviou os olhos horrorizados ignorando a voz de Itachi e Obito atrás, e se fixou no rosto, vendo os olhos azuis o fitando cansados, e ele parecia tentar sorrir, um leve repuxar nos lábios feridos, os olhos azuis com um brilho de alívio. Podia sentir, e só conseguia chorar por medo, impotência, por ter chegado tarde. Seus olhos então se fixaram com horror nas mãos presas acima da cabeça do loiro.

Um punhal.

— Meus Deus! — arfou.

Havia um punhal fincado nas palmas dele o prendendo ao chão, e era de onde vinha todo aquele sangue que o ensopava. Se inclinou para frente.

O sentiu se engasgar e virou seu rosto de lado ao ver que ia vomitar.

— Eu vou tirar isso de você. — Sussurrou deixando cair mais lágrimas. Era quase como se pudesse sentir a dor dele. O arrancou de uma vez tentando amenizar o sofrimento. Ele abriu a boca sem nenhum som, a expressão de agonia tomando conta de seu rosto para então os olhos azuis se revirarem nas orbitas e ele os fechar, o corpo amolecendo totalmente. O puxou para si sentindo a respiração fraca, o sangue o sujando enquanto prendia a cabeça do outro em seu peito, querendo o proteger de tudo, o tirar dali.

— Itachi! — chamou desesperado sem desviar os olhos o outro garoto desacordado. — Itachi! As mãos dele...

— Temos que tirá-lo daqui. — Itachi estava a seu lado, jogando um casaco que Sasuke mais que depressa usou para cobrir o corpo menor judiado.

—Obito... — cuspiu o nome se erguendo com seu embrulho nos braços.

— Ele não vai nos impedir. Pense no Naruto agora, temos que cuidar dele.

Assentiu ainda chorando, o apertando contra o peito e seguindo Itachi por onde haviam vindo de dentro da passagem, tentando não olhar para trás ou poderia acabar matando Obito e esquecendo o garoto sofrendo ali em seus braços.

Caminharam pela a passagem com Itachi a sua frente o guiando. O corpo, mesmo inconsciente, tremia em choque. Seguiu o irmão até um entroncamento e então pararam saindo em um corredor que Sasuke não conhecia, de frente a uma porta onde Itachi bateu duas vezes.

Sasuke estava ainda atordoado demais se quer para perguntar onde estavam, mesmo que soubesse que deveria ser a área leste. Uma luz se acendeu e a porta se abriu uma fresta e encontrou um homem albino que os olhou um por um, parando no embrulho nas mãos de Sasuke e então em Itachi.

— Kimimaro, hora de pagar o favor. — Itachi falou calmo, e o homem apenas assentiu novamente olhando o embrulho coberto de sangue que uma versão menor de Itachi segurava como se fosse sua própria vida.

— Me espere na minha enfermaria, estou indo. — respondeu calmamente fechando a porta em seguida.

— Vamos. — Itachi falou voltando a andar pelo corredor sendo seguido mais do que depressa pelo irmão mais novo.

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Era uma sala dez vezes mais moderna do que a enfermaria que ele conhecia do colégio. Sasuke viu o homem colocar um jaleco e luvas enquanto Itachi se movimentava dentro da sala cobrindo uma maca com um tecido esterilizado.

— Coloque-o na maca. — O albino falou ainda calmo. Sasuke olhou Itachi inseguro que assentiu.

Foi com pouca vontade que se separou do corpo frio e o colocou nu sobre o tecido. Parecia ainda pior. Ele gemia baixo ainda desacordado, os cabelos estavam rubros e ensopados de sangue. E sua palidez era mórbida. O homem o olhou com cuidado, o examinando, olhou as mãos com mais atenção e então olhou as pernas do mais novo, onde estava marcado o sangue seco nas coxas que por ali escorrera.

Sasuke desviou o olhar não querendo pensar nisso, e para sua surpresa o albino não comentou nada, apesar de ser óbvio ali o que ocorrera. Um estupro. Naruto sendo como era, apenas a capacidade que ele tinha de se defender muito bem e amedrontar o livrara daquilo, e entendia agora o porquê de ele ter se esforçado para ter aquela fama de ser perigoso, do ódio que ele sentia do seu rosto. A aparência do garoto era um perigo para si mesmo.

Não. Pensar nisso, era como culpá-lo pelo o que acontecera, o que não era verdade.

— Ele tem alguns ferimentos não muito graves que irão se recuperar quase sozinhos. Outros precisaram de pontos. Mas as mãos dele... irei precisar fazer uma cirurgia pequena, alguns tendões se romperam. E ele perdeu muito sangue, vai precisar de uma transfusão urgente, está quase entrando em choque.

— Vou entrar no sistema da escola e ver seu tipo sanguíneo. — Itachi falou e o albino assentiu.

— Sim, tenho algumas bolsas O negativo aqui, temos que começar urgente ou a possibilidade de dados permanentes irá aumentar.

Sasuke olhava tudo atordoado, a movimentação, acariciando o rosto do garoto desacordado na maca. E de repente ouviu a voz rouca e baixa.

— Sasuke...

Viu os olhos azuis abertos e turvos nos seus. Tocou seu rosto com uma mão e com a outra segurou um pulso do outro tentando não encostar em seu ferimento. Sentiu seus olhos embaçarem enquanto seus polegares passavam pelo rosto pálido e molhado ainda pelas marcas das lágrimas.

Os lábios carnudos machucados se abriram levemente enquanto ele piscava de forma preguiçosa, atordoado. E então ele começou a ofegar, como se desperto só naquele instante. Os azuis abriram mais e ele gemeu, as dores o atingindo de uma vez só por seu corpo ao mesmo tempo que o medo o tomava, como se ainda estivesse naquela sala, preso com Obito. Sasuke se desesperou ao ver os olhos do outro se fecharem com força e ele gritar rouco o corpo se arqueando quase caindo da maca se não fosse ele para o segurar. Naruto começou a se debater, se machucando mais.

— Naruto! Sou eu! — gritou enquanto Kimimaro corria para um armário pegando algo.

— Não! — O loiro gritava tentando empurrá-lo, como se não o visse, como se ele fosse outra pessoa.

Segurou os pulsos do garoto na maca, o chamou, mas ele parecia não ouvi-lo, vê-lo, gritando e chorando por ajuda o chamando como um mantra, a voz raivosa em soluços enquanto lutava para se libertar.

Itachi o ajudou a segurá-lo e o albino apareceu com uma injeção a aplicando no seu músculo. O corpo foi parando de se mover aos poucos, a respiração normalizando.

— Eu estou aqui, eu estou aqui. —Sasuke repetia sem parar segurando seu rosto. Os azuis o fitaram como se o reconhecesse. Chamando-o baixinho até se fecharem de vez.

— Apliquei uma dose forte, mas não temos tempo, tenho que fazer cirurgia agora ou ele irá ficar com sequelas. Vou precisar de você, Itachi. — O albino falou ajeitando o garoto de volta na maca.

— Tudo bem. — Itachi olhou o irmão mais novo que olhava o garoto ainda atordoado. — Sasuke. Sasuke!

O outro finalmente o olhou confuso.

— Você tem que esperar na outra porta enquanto fazemos isso.

— Mas...

— Sem mas, ele vai ficar bem, e você precisa ficar bem para quando ele acordar.

Itachi olhou para o irmão mais novo com pena. Era a primeira vez, desde que eram crianças, que o via tão perdido. Ele mesmo não estava em melhor estado, mas sabia fingir bem, Sasuke não. Pegou nos cabelos macios e o outro o olhou com os olhos vermelhos e inchados.

— Eu vou cuidar dele. Confie em mim.

O irmão o olhou incerto, mas assentiu. Ele tinha que confiar em Itachi. Não sabia o que estava acontecendo ao certo ali, mas por Naruto, por ele faria aquilo. Itachi havia o salvo aquela noite. Só podia confiar nele agora.

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Olhou para o albino apreensivo, esperando a conclusão de toda aquela demora. Ele ainda terminava de lavar as mãos quando começou a falar.

— A cirurgia foi um sucesso, ele terá de ficar cerca de um mês com as mãos enfaixadas pelos pontos, talvez mais dependendo de como tudo ocorrer. Tivemos de fazer suturas em seu ombro e na cabeça, além de alguns pontos em outras partes do corpo. Ele fraturou uma costela então terá de usar uma faixa protetora pelo tempo mínimo de três meses para ter certeza que estará novamente no lugar certo. — Se virou secando as mãos em uma toalha cor bege. A expressão monótona de sempre. — Ele sofreu uma contusão, o que resultará em desorientação, falta de equilíbrio, zumbido nos ouvidos. Ele não pode se mover muito e ter repouso absoluto, e ficará bem daqui alguns dias, e repito, repouso absoluto, ele quase sangrou fluido cerebrospinal, isso é muito grave. Além de que, como ele foi estuprado... — encarou Sasuke, que se mantinha calado e sério. — Ele terá de tomar o coquetel anti-DST's por um mês, sem falha. Acho que isso pode ficar por sua conta, não é? Ele não pode falhar nem um dia.

Sasuke acenou positivamente desviando o olhar e mordendo o lábio. Somente se lembrar daquilo o fazia se sentir mal.

Itachi pousou sua mão no ombro de seu irmão, num ato de conforto, tentando o acalmar. Sabia o que passava pela mente do adolescente, era o mesmo que passava em sua própria. A vontade de matar Obito da maneira mais dolorosa e lenta possível. Mas isso também era algo que não poderia acontecer, não naquele momento.

— Sasuke, o que acha se voltássemos para...

— Quero vê-lo. — se virou para Itachi, que o fitou nos olhos, vendo o mais novo com a sombra suplicante.

— Pode, mas não o toque muito, nem demore. — Kimimaro saiu da sala rapidamente, deixando os dois irmãos a sós.

Itachi foi até a pia e começou a lavar as mãos, já Sasuke não hesitou em marchar até a sala em que Kimimaro indicou.

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(¹)—Beretta 93R (M93R)= É uma pistola semi—automática italiana 9mm.

Pian: dor

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